Utopia escrita por Renata Salles


Capítulo 15
Emboscada


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas, tudo bem?

Necessidade, medo, curiosidade. O palco está montado e não existe lugar para se esconder. É uma emboscada.



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Sem convite ou aviso, ela adentrou a garagem e se escorou no portão. Incapaz de fitá-la, Jacob seguiu imerso em seu Rabbit, desmontando e remontando peças que já havia concertado.

— Não consigo acreditar que ainda tem essa lata velha — ela disse finalmente.

— Algumas coisas não mudam.

Eles se encararam por um longo minuto, até que ele desviou o olhar.

— Charlie te botou pra fora?

— Ele achou que eu precisava sair um pouco.

Jacob tentou se segurar, mas nos últimos meses deixara de procurar as palavras certas, dizendo apenas o que lhe vinha à cabeça, e ninguém o achava rude ou desagradável por mais que ele tentasse, pois “o coitado está passando por um momento difícil”.

Parece que no fim das contas havia desaprendido a ser sutil, ou ter o mínimo de delicadeza.

— O que está fazendo aqui, Bella?

— Aonde mais eu posso ir?

Ele parou, encarando um ponto inexistente, não esperava uma resposta tão sincera.

Odiava aquele clima constrangedor, odiava não saber o que dizer; independentemente do que passassem Bella sempre seria sua melhor amiga.

— Eu sinto muito.

— Eu sei.

— Você... tem falado com eles?

Ela mordeu o lábio balançando a cabeça.

— Todos os dias.

— E Edward?

Uma dor que há muito tempo Jacob vira nesses mesmos olhos tão mudados a atravessou, e ele se arrependeu profundamente por ter tocado no assunto. Que idiotice. Ele nem queria realmente saber.

— Não atende minhas ligações. Ele quer um tempo... eu acho.

— Vocês vão superar.

— Espero que sim.

Silêncio.

— Me passe aquele pneu, por favor?

Bella sorriu.

Aos poucos as barreiras foram quebradas.

Jacob e Bella eram apenas dois velhos amigos amargurados tentando arrumar coisas que poderiam ser concertadas, dois amigos caminhando à noite pela praia, falando da vida; amigos que procuravam apoio desesperadamente um no outro, na intensa busca de um recomeço.

 

 

Fechei os olhos, tentando acalmar meus pensamentos.

Ciente de mim e das coisas ao meu redor, senti a vibração dos móveis, a textura do tapete... Uma gota de água escorreu de minha nuca para as costas, parando apenas quando penetrou no tecido macio da toalha. Respirei profundamente antes de abrir os olhos, apenas para soltar uma lufada de ar: sobre a cama, ao lado do vestido que escolhi para usar havia uma capa vermelha de veludo cujo fecho era um broxe com o brasão dos Volturi.

O que aquilo significava?

Eu sempre soube que tudo tem um preço, e que a hospitalidade dos Volturi teria um preço muito alto, mas depois de seis meses me deixei levar pela esperança de que não havia nada que pudessem querer de mim, e, no entanto, quando finalmente comecei a me adaptar ao lugar e às pessoas, a dívida foi silenciosamente cobrada.

Os Volturi me deram proteção, um lugar seguro para viver. Era hora de oferecer algo em troca.

Mas o quê?

Andando em círculos pelo quarto, minha resposta às batidas na porta foi automática.

— Entra!

— Uau! Fará sucesso, certamente.

Demorei um minuto para perceber que eu estava apenas de toalha. Fitei-o sem graça. 

— Eric... Vire-se.

Ele sorriu sapecamente antes de obedecer. Comecei a me vestir.

— Sabe, ainda posso vê-la através do espelho...

Corei e ele riu.

— Deixe-me ajuda-la. — Ele se aproximou e pegou a toalha de minhas mãos, fechou o zíper do meu vestido e fez com que eu desse uma volta. — Bonito...

— Obrigada.

Ele sorriu, mas algo chamou sua atenção.

— A tua é um modelo novo! — disse agarrando a capa. — Isto não é justo! Porque a minha tem que ter aquela barra amarela horrível?!

— Você tem uma dessa?

— Mas é claro! A cidade inteira tem. — Encarei-o com a testa vincada. — Amanhã é o Dia de São Marcos, um festival criado pelos Volturi para comemorar a expulsão dos vampiros da cidade. Irônico, não? — Balancei a cabeça de cima para baixo. — Mas é divertido.

Uma lembrança surgiu com um calafrio enquanto ele descrevia o evento: minha mãe mencionou isso em seu diário, essa festa acontecia quando ela veio a Volterra salvar meu pai.

— Na... praça?

O mal-estar me deixou enjoada.

Eric andava pelo cômodo falando sem parar.

— É onde a emoção acontece! Gosto de me misturar aos humanos, acho mais divertido que ficar olhando de longe... E é claro que mais tarde fazemos nossa própria festa aqui no castelo.  — Ele parou, me encarando. — Você está bem?

Esbarrando nos móveis, fui em direção à cama. Minha cabeça parecia estar pulsando, a visão ficando turva.

— Estou. Só preciso dormir um pouco.

 

 

Aro recostou-se em seu trono, encarando a vampira seriamente.

— Diga-me Chelsea, querida, como está seu progresso com a senhorita Cullen?

— Desagradavelmente lento, senhor. Ela segue me evitando, dificilmente consigo me aproximar o suficiente.

— Acha que ela sabe de alguma coisa? — perguntou Caius.

— Receio que sim, meu senhor. Acredito que tenha descoberto ou sido informada a respeito da natureza de meu dom, e por isso me evita.

Aro fez uma careta, estava pensativo.

— E como é sua relação com o restante da guarda?

— Ela parece estar se adaptando ao castelo mesmo sem minha interferência. A princípio rejeitava imediatamente qualquer companhia que não fosse a de Eric, mas nos últimos dias tem cumprimentado alguns guardas, cheguei até a vê-la trocando meia dúzia de palavras com Demetri.

— Ora, essa é uma ótima notícia! — disse Aro com um sorriso. — E quanto à suas relações anteriores?

— Sem a devida aproximação torna-se muito difícil submetê-la ao processo, meu senhor, mas de qualquer forma quando chegou a Volterra seu relacionamento com os familiares já estava afetado, sua lealdade deteriorada, minha investida é apenas para tornar esses fatores cada vez maiores, até que, quem sabe, tais sentimentos desapareçam completamente. Tomo a liberdade de não me preocupar quanto a isso, pois mais cedo ou mais tarde ela terá que ceder. Entretanto, sua relação com o garoto-lobo... É diferente de tudo que já vi. Não muda, não diminui, não importa o quão exposta Renesmee esteja a meus poderes. Receio que não haja nada que eu possa fazer a respeito.

Aro refletiu seriamente.

— Pois não se preocupe com isso minha querida, estamos satisfeitos com seu progresso, continue assim.

— É um prazer servi-los — disse em meio a uma reverência.

Aro sorriu.

— Queira chamar Alec, por gentileza.

— Com licença — ela disse se retirando.

— Muito interessante... — refletiu Aro depois de um minuto.

— Você não acredita realmente no que ela disse, não é? — perguntou Caius.

— Pois sim, irmão, acredito sinceramente.

— Então que seja seguido outro caminho — começou Caius. — Amor nenhum resiste a um amargo rancor. Ela está magoada, faça-a sentir raiva dele, faça-a recordar a cada minuto de sua traição e ela certamente o odiará.

— Talvez seu plano fosse eficaz, meu caro, se o sentimento dela para com o garoto se tratasse apenas de uma paixão tola, um amor de infância — argumentou Marcus com um suspiro entediado. — No entanto, a ligação dos jovens é muito mais profunda. Pude ver no campo de batalha há mais de sete anos, e quando a jovem chegou a Volterra seu sentimento por ele era exatamente o mesmo, apensar do nível de seu relacionamento ter mudado. Chelsea pode fazê-la deixar de amar o garoto, mas a ligação que possuem está tão enraizada em ambos, ainda que se manifeste mais fortemente nele, que um ao outro se faz mais necessário que o instinto de manter-se vivo, independente de haver sentimentos românticos. Suspeito que esta ligação seja tão forte e inquebrável que se um for afetado por um dano irreparável, o outro não sobreviveria por muito mais tempo, não por tristeza, mas porque seu corpo seria capaz de reconhecer a perda, e a aceitaria como a perda de um órgão vital.

— Pois suas observações são valiosíssimas, irmão! — cumprimentou Aro animadamente. — É uma pena que sejam tão raras.

— Mas ainda assim — discordou Caius —, uma vez infiltrada a decepção e o ressentimento em uma relação, depois uma traição tão inaceitável, a raiva cresce como um fungo, não importa o grau de sentimento existente, um relacionamento raramente é capaz de sobreviver.

— Concordo inteiramente, meu irmão — disse Aro —, e pretendo valer-me disso o máximo possível, mas os argumentos de Marcus seguem parecendo ainda mais eficientes a nossos propósitos.

— Não entendo como isso pode ser possível.

— Ao longo de tantos milênios, meu irmão, e apesar de tudo que passamos há algo que você jamais foi capaz de entender: — Aro se aproximou para encará-lo — existe apenas uma coisa mais forte que o ódio, o amor.

 

 

O som do silêncio invadiu minha mente e foi ficando mais alto, o veludo que me cobria se tornava cada vez mais perceptível, macio e quentinho contra minha pele. Abri os olhos.

Confusa, aproximei do rosto a capa preta que estava sobre mim. O cheiro doce e delicioso de chocolate, gelo e flores do campo me cobria inteiramente.

Afastei-a.

Havia uma serie de cortes já cicatrizados em meus braços e pernas, o sangue manchando a pele e os lençóis. Eric havia mencionado que eu estava me agredindo, lesando meu próprio corpo ao passo que tentava atingir outra coisa.

Minhas visões se tornavam mais vivas e consistentes em sua transparência, transmitindo também sabores e cheiros, provocando sensações. Uma ilusão perfeita que influencia e confunde, fazendo acreditar que é real, direcionando a reação do espectador. Um dom “muito interessante”, como dizia Aro, que eu apenas precisava urgentemente conhecer os limites e aprender a controlar, pois estou permitindo que ele assuma o controle sobre mim.

Tentei me mover, estava dolorida.

Quando em meio à escuridão o vi parado ao pé da cama me encarando o ar se prendeu em minha garganta, parecia haver borboletas em meu estômago. Estava desesperada para dizer algo, qualquer coisa, mas as palavras fugiram como se estivessem com medo de serem pronunciadas, e minha cabeça parecia ter sido tomada pelo branco. Eu não conseguia pensar em nada, ao mesmo tempo em que pensava em tudo.

Sua figura era forte e imponente, ele me encarava com um olhar duro e reprobatório, mas havia algo como preocupação em suas feições, ou talvez fosse piedade.

Então ficamos apenas nos encarando.

Com aquele ar frio e misterioso Alec caminhou em direção à porta em frente a minha cama, e voltou para seus aposentos.

 

 

Seth se arrastou pela cozinha, buscando na despensa o saco de amendoins. Lá fora o cheiro do churrasco se misturava à música e às vozes de Jacob e Bella.

O lobo não queria aquela reunião, mas os amigos apareceram em sua porta com todos os aparatos necessários. Ele não quis ser indelicado.

A relação entre Jacob e Bella o deixava em alerta, assim como a todos os outros que conheciam sua história. Talvez estivessem sendo injustos: eles sofreram um golpe muito duro e estavam tentando se reerguer juntos. Que mal teria isso? Mas depois de tudo que aconteceu era impossível não temer que esse apoio de amigos viesse a se tornar algo mais, ao menos era esse caminho que seu relacionamento indicava.

Um lobo e uma vampira. Seria inaceitável.

Além disso, Seth não conseguia se afastar da ideia de que a proximidade deles era um insulto à memória de Renesmee.

Mas como de fato um estava fazendo bem ao outro, restava aos amigos mais próximos e aos familiares apenas observar, prontos para separá-los caso confundissem as coisas mais uma vez.

Seth estava tão cansado que a cada piscadela parecia se esquecer de como abrir os olhos novamente. Dormir no sofá por quatro horas todas as noites, percorrer as oficinas da região para acompanhar o funcionamento de perto, e patrulhar Forks e La Push com a matilha estava acabando com ele, mas Seth precisava estar a todo o momento em seu limite, precisava desesperadamente se manter ocupado. Era a única forma de seguir em frente.

— É uma pena não termos nada para você, Bella — disse Seth voltando à área da piscina.

— Não diga isso — começou Jacob —, vai que ela resolve variar o cardápio.

A vampira riu.

— Talvez fosse uma boa ideia se você não fedesse tanto.

— Você reclama, mas não consegue ficar longe desse cheiro másculo, não é mesmo?!

Bella o empurrou com o ombro.

O telefone tocou e Seth atendeu prontamente, mas tudo que se ouvia do outro lado da linha era uma respiração tensa.

Eles ficaram em silêncio por longos minutos.

— Sophia? — Seth finalmente ousou dizer.

Imediatamente ela desligou.

 

.

Leah caminhava de um lado para outro de sua pequena sala em Forks, os sons que vinham do quarto a faziam se contorcer a todo instante, mas ela se recusava a se afastar, ainda que Lúcio estivesse sob bons cuidados.

— Querida, você precisa comer um pouco — tentou Esme mais uma vez, ela estava sempre ao seu lado.

Leah esticou os lábios em um sorriso de agradecimento. A vida dá voltas inacreditáveis, ela era a melhor prova disso.

De todas as coisas impensáveis que poderiam acontecer, Leah jamais imaginara que um dia pudesse precisar tão desesperadamente da ajuda e da generosidade dos Cullen, jamais imaginou que seu apoio pudesse vir a ser tão fundamental. Estava profundamente envergonhada por um dia ter pensado algo ruim sobre eles.

Carlisle finalmente desceu as escadas, sua expressão era calma e muito séria.

Leah não conseguiu encontrar sua voz.

— Não se preocupe, ele vai ficar bem — Carlisle respondeu à pergunta que não foi feita.

Ela respirou em alívio.

Eles se sentaram frente a frente.

— Felizmente sua doença não é das mais agressivas — continuou o médico —, mas todo Câncer deve ser acompanhado muito de perto. Fico feliz que tenha me ligado Leah, ele foi devidamente medicado e deve permanecer em repouso por alguns dias até que se sinta melhor. Ouso dizer que em geral é sempre assim, há períodos muito bons e outros muito ruins. Preciso que esteja preparada para enfrentar esses muito, muito ruins.

Ela balançou a cabeça de cima para baixo, lágrimas escorriam por seu rosto.

— Ele ficou durante muito tempo sem tomar os medicamentos — disse a loba com a voz embargada.

— Sim, e por esse motivo está enfrentando tudo isso agora, mas ele está firme, você deve saber. Quando me procurou pela primeira vez estava decidido a me persuadir a ser o médico responsável por seu suicídio assistido — Leah arregalou os olhos, Lúcio jamais havia falado sobre isso —, e, no entanto, agora está agarrado a uma intensa esperança de viver muitos longos e felizes anos ao seu lado. Você não imagina o bem que está fazendo a ele.

 

 

Qua, 19 Mar 2014 17:16:00

Assunto: RE: É, aconteceu de novo...

De: sophia.veiron@gmail.com

Para: rcullen@gmail.com

Está tudo bem, não se preocupe comigo. Eu não deveria ter ligado. Apenas precisava ouvir a voz dele... Prometo que nunca mais farei algo assim!

Você precisa deixar de ser preguiçosa e se esforçar para conhecer melhor as mudanças do seu dom, mocinha! Comigo também foi assim, no começo a dor que eu provocava era mais psicológica, eu acho, e depois do fim do meu crescimento acabou se tornando algo físico, entende? Nosso dom também amadurece. Para mim também foi muito difícil aprender a controlá-lo.

Você já pensou que essas visões e sonhos podem ser fruto de seu subconsciente querendo dizer algo?

Honestamente, não acho uma boa ideia você ir a essa festa... E não fique se apoiando nos poderes de Alec! Preciso dizer que ele não é confiável?!

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Qua, 19 Mar 2014 17:38:00

Assunto: RE: RES: É, aconteceu de novo...

De: rcullen@gmail.com

Para: sophia.veiron@gmail.com

Se sente tanta falta de Seth provavelmente deveria mesmo tentar conversar com ele. Sei que é arriscado, mas agora que estou aqui e posso observar os Volturi de perto, posso te dar cobertura. Talvez seja seguro voltar e todo esse sacrifício não tenha propósito.

Eu sei, eu sei... Mas não é tão fácil. Minha mente aprendeu a mentir muito bem! As ilusões estão muito boas, apesar de serem transparentes, e é muito difícil não se convencer de sua veracidade, mesmo que seja uma mentira.

Como posso estar me apoiando quando não estou em meu juízo perfeito quando ele me “dopa”? E ver minha mãe nos braços de Jacob vez após outra pode querer dizer o que além de que estou seriamente traumatizada? E aquela árvore medonha que engole minha família? Que tipo de recado é esse?

Por que não seria uma boa ideia ir para a festa? Todos estarão lá!

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Qua, 19 Mar 2014 18:09:00

Assunto: RE: RES: É, aconteceu de novo...

De: sophia.veiron@gmail.com

Para: rcullen@gmail.com

Eric também está aí e o discurso dele é completamente o oposto. E de qualquer forma, eu não posso voltar para Seth e abandoná-lo de novo, Nessie! Quantas vezes teria que fazer? Quando Aro encontra um dom que deseja mais ou que seja mais elevado do que o de alguém que ele possui, ele reestrutura a guarda. Assim que decidir o que fazer com Jane virá atrás de mim com tudo o que tem, e acredite, estar na guarda não será a pior coisa que poderá acontecer se os Volturi me pegarem. Não posso colocar Seth no meio disso! E em algum momento irá acontecer.

Quanto ao seu dom, você precisa tentar! Você queria entender o motivo de Aro a querer... aí está! Se seu dom puder ser usado para persuadir e manipular, talvez seja útil.

E você pode não estar em seu juízo perfeito quando é domada por Alec, mas está sempre contando que ele a tirará dos pesadelos quando perder o controle. E você gosta disso. Você realmente gosta da sensação de vazio! Eu te conheço e é muito a sua cara, mas Nessie, isso não é um jogo. Ele é perigoso!

E por que você iria querer estar onde todos eles estão? Amiga, tenha cuidado! Nesse lugar nada é o que parece!

Quanto ao “recado", bem, eu sei que é um assunto delicado, que tem sido muito difícil para você, mas talvez seu coração queira perdoar sua família.  

.

Meu coração jamais os deixaria.

 

 

— Alec, querido. Entre, por favor.

Ele obedeceu. Aro estava sozinho na sala do trono.

— Mandou me chamar?

— Oh, sim...

— O que deseja meu senhor?

— Alec, Alec... Você tem sido tão leal a nós, sempre tão prestativo e eficiente! Não sei se posso te pedir mais alguma coisa.

— Seu desejo será sempre uma ordem, mestre.

— Eu sei meu caro, apenas me pergunto se não estou pedindo demais de você.

— Posso perguntar o motivo de tal questionamento, senhor?

— Mas é claro. Na verdade é algo muito simples: excede suas funções supervisionar Renesmee, e agora tenho um pedido tão... — suspirou.

— Minhas funções são as que o senhor decidir, mestre. Qualquer uma será feita com o melhor de mim.

— Estou certo quanto a isso, e por este motivo apenas posso confiar esta missão a você.

— Sinto-me lisonjeado senhor.

— Pois te garanto que não é necessário. Tudo que recebe é o que faz por merecer, e tenho estado muito grato a você desde que se juntou a nós.

— É uma honra servi-los.

Aro sorriu.

— Recebi uma correspondência interessante dos Cullen pela manhã.

— Descobriram que ela está conosco?

— Pelo contrário. É engraçado como acreditamos fielmente no que vemos... Quando nos convencemos de que as evidências indicam os fatos nem mesmo nos perguntamos se pode haver algo mais.

— Isso é bom?

— Talvez, a princípio... — Aro o encarou fixamente. — O que acha de Renesmee?

Alec considerou por um minuto, tentando selecionar com cautela o traço mais forte que observara na personalidade da jovem mestiça.

— Renesmee é demasiadamente frágil, senhor — concluiu.

— Talvez apenas precise aprender a ser forte.

— É possível — concordou apesar de não acreditar nisso.

Alec custa a mudar sua opinião quando a define, e muito raramente algo de fato o impulsiona a fazê-lo. Em relação à Renesmee, ele não conseguia ver de forma alguma sua fragilidade como uma virtude, embora alguns a encarassem como doçura ou ingenuidade.

— E sobre seu dom?

— Receio que sua falta de controle o torne altamente ineficiente e até indesejado, senhor, no entanto, devo admitir possui características interessantes.

— Concordamos então, meu querido.

— É isso que deseja de mim? Que eu a ensine?

— Se me permite, é mais do que isso. É de minha vontade que ela queira estar aqui, que deseje sinceramente ser uma de nós, e para tanto gostaria que você se aproximasse.

— De que forma, mestre?

— Como achar mais eficiente. Apenas não se esqueça de que é da natureza dela ser intensamente sentimental.

— Farei tudo que estiver ao meu alcance, senhor.

— Obrigado, meu querido.

— Ao seu dispor. Com licença.

Ele caminhou em direção à porta.

— Alec...

— Senhor?

— Seja breve. Convença-a nem que para isso precise incitá-la a fugir.

— Como ordenar — respondeu curvando-se.


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Notas finais do capítulo

Comentários?

Aaaah gente só pra falar... Caso vocês queiram uma ideia melhor de como eu imagino os personagens, tem um perfil de cada um deles no meu blog. O endereço é catarse.eu.com.br/utopia ;)

Beijo!
Até mais!



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