Fazia uma hora que estávamos na estrada. E ele apenas dirigia concentrado. Havia colocado as direções no gps. E desde então ele não disse nada. Olhava pela janela e eu via nos distanciando da grande metrópole e entrando em uma área montanhosa. A cidade da onde eu vim ficava em um grande vale no oeste.

–- Então, por que você fugiu de lá? A pergunta dele me pegou de surpresa.

Não respondi.

–- Se você não quiser falar é um direito seu. Mas eu acho que vou ficar sabendo mais cedo ou mais tarde. Disse ele sem tirar o olho

–- Problemas com a minha mãe. Disse eu sem pestanejar.

Ele coçou o queixo e ficou quieto. Mas eu resolvi continuar.

–- Bem, ela não me aceita do jeito que eu sou.

–- Problemas de gente normal. Disse ele rispidamente.

–- Quem dera fosse só isso. Fiquei calada novamente.

Paramos em um posto de gasolina para abastecer.

–- Quer alguma coisa do bar?

–- Não obrigada. Mas vou ao banheiro.

O banheiro era nojento, mas eu não estava disposta a reclamar. Só queria da uma olhada no meu rosto. Eu estava com os mesmos óculos de dois anos atrás e eu não havia mudado quase nada. Será que eu tenho a coragem de voltar? Depois de tudo o que aconteceu? Será que eu os perdoei? Essas perguntas ficam vagando pela minha mente.

Sai e Oliver já estava abastecendo.

–- Pensa rápido. E ele me jogou uma lata de refrigerante.

–- Eu disse que não queria nada.

–- Ainda faltam algumas horas. Pode ter certeza que você terá sede.

–- Tudo bem então. Obrigada.

De volta ao carro. Oliver colocou uma musica que eu não conhecia para tocar. Ele ia cantando enquanto dirigia. E ele cantava bem.

–- O que foi? Disse ele quando me viu rindo.

–- Nada não. E que você canta bem.

–- Ah. Isso. Se você quiser, eu paro.

–- Não! Por favor, continue.

E ele continuou. E acabei adormecendo.

–- Charlotte? Charlotte?

–- Já chegamos? Falei meio grogue

–- De acordo com o GPS ,falta meia hora.

Olhei pela janela e reconheci o local. Lá estava a placa.

Tornville entrada há 20 minutos.

–- Sim estamos perto. Disse confirmando o obvio.

–- Não sei como será a partir de agora. Sei que eu precisava de você para entrar na cidade. Mas você não precisa ir atrás do suspeito comigo. Pode ficar na casa de seus pais até eu terminar.

–- Não! Eu faço questão de te ajudar nisso. Falei com raiva e confiança.

–- Humm. Certo, mas não posso garantir sua segurança.

–- Eu me cuido. Não se preocupe. Não vou atrapalhar.

Depois de algum tempo passamos por outra placa .

Tornville há 5 km

Cidade-solo, caso não tenha autorização

Espere no acostamento.

–- Pode seguir direto. Eu disso o obvio de novo.

–- Pode deixar. Mas tenho que combinar uma coisa com você antes.

–- O que seria?

–- Você pensou em uma desculpa para eu te acompanhar até lá?

Nossa é verdade, eu posso entrar numa boa, mas e ele? Nem pensei nisso. Um colega da faculdade conhecendo minha família? Não isso não vai convencer.

–- Não, ainda não.

–- Eu acabei pensando em uma desculpa que não levantará suspeita.

–- E qual seria essa desculpa?

–- Abre o porta-luvas. Disse ele apontando.

Abri e havia uma pequena caixa preta.

–- Abre a caixa.

Abri e lá havia um anel com um pequeno solitário incrustado. Olhei para ele. Ainda não sabendo o que significava.

–- Para não levantar suspeita nós seremos noivos. E você me levou para conhecer sua família.

O que ele disse? Noivos o que? Ainda não entendi.

–- O que?

–- Você não entendeu ainda? Já tenho uma historia formada. Eu e você nos conhecemos em um café. O que é meia verdade. E descobrimos gostos parecidos. E começamos a namorar a mais de um ano, e eu te pedi em casamento mês passado. O que acha?

Sim, eu tive uma crise de risos. Eu com esse meu cabelo esquisito, a personificação do nerd noiva de uma cara que parece ter saído de um filme de ação? Não, ele não pode ta falando serio.

–- Qual é a graça? Ele diz tentando não rir também.

–- É serio isso? Acho que ninguém acreditaria que uma pessoa como você fosse se apaixonar por uma pessoa como eu.

Ele parou subitamente. E se não fosse pelo cinto de segurança eu estaria longe.

–- Por que você fez isso? Falei assustada.

Ele olhou para mim, colocou a mão no meu queixo e meu coração disparou.

–- Por que você acha que uma pessoa como eu não me apaixonaria por você?

Fiquei sem fala. Podia ouvir meu coração batendo. Ele estava me olhando nos olhos.

–- Não se subestime. As outras pessoas já fazem isso. Ele falou tão serio que um arrepio subiu pela minha espinha.

–- Agora coloque o anel e vamos com nosso objetivo.

Rapidamente o obedeci. O anel coube perfeitamente. Foi como se fosse feito sob medida.

Sou muito lerda para algumas coisas. Que não entendi por que ele fez isso.