A forma como a minha esperança foi esmagada completamente por essa pessoa que diz ser um ser humano, me fez ficar tonta. A voz que eu ouvi no dia em que eu tentei me enforcar de repente fez sentido nos lábios dele. Se eu não fosse tão teimosa e tivesse bom senso eu nunca teria vindo aqui, eu nunca teria ido atrás daquele primeiro cara, e eu nunca teria conhecido o Oliver.

Acho que toda a cor que ainda restava na minha face se escondeu. Eu fiquei gelada de uma vez.

— Sério que foi isso que mais de surpreendeu? O fato de que sua vida foi toda uma mentira planejada não te deixou nem um pouquinho mais assustada que isso? Tudo o que ele falava tinha um tom em que só ele achava graça.

— Richard não é o seu nome verdadeiro?

Não sei por que eu disse isso, da onde veio essa coragem? Ele não sabe o que eu sei sobre ele certo?

Ele riu.

— Você fez seu dever de casa não é? Estou até feliz, há quanto tempo eu não escuto esse nome. Não esperaria menos de você.

Tento conter ás lágrimas que estão brotando nos meus olhos, eu preciso ser forte.

— Então acho que você também sabe que tenho uma extensa ficha criminal. Além de que estou na lista negra de muita gente. Você tem a noção que não pode contra mim, certo?

Fiquei calada

— Posso entender esse silêncio como um sim.

— Continuando. Agora que eu te contei os meus mais íntimos segredos, você tem que me contar quem é Oliver, e o que aconteceu nesse último mês. Você me deixou preocupado e curioso.

Meu primeiro instinto foi mentir. Mas eu não poderia contar àquela história que eu e Oliver havíamos inventado. Mas eu não estava com cabeça para inventar qualquer história, ainda estava processando tudo o que ele havia me dito. Fiquei em silencio por um longo tempo. Pelo menos na minha concepção os segundos viraram minutos, e os minutos viraram horas.

— Querida, se você não quer falar, eu vou ter que perguntar para outra pessoa, e essa pessoa não vai ter o mesmo tratamento que eu estou te dando.

Ele está ameaçando Oliver, tenho certeza.

— Eu estou aqui para me vingar. Não só da minha mãe, mas de todos vocês, Oliver é um mercenário que eu contratei apenas isso.

—Você sabia que você treme os lábios quando mente? Sabe que tenho uma excelente dedução?

Não sei o que fazer.

— Já que você não quer colaborar. Vou deduzir o que você está fazendo aqui.

Ele anda até um dos homens que estão nos observando e fala alguma coisa inaudível. O homem sai do galpão. Com isso eu verifico onde é a saída. Robert volta até mim e sorri.

— Acho que você se esqueceu da sua bolsa.

A bolsa, como eu posso ter esquecido. Ela tem provas que me incriminam contra ele. A pistola de dardos está lá. Uma gota de suor se forma e escorre da minha testa.

O homem entra com a minha bolsa nas mãos. Eu não me lembro de ter saído com ela do banheiro. Provavelmente eu a deixei cair.

Robert pega a minha bolsa, e abre um sorriso malicioso enquanto retira dela a pistola de dardos.

— A menos que você seja uma veterinária, você não tem permissão de portar isso. Sabe quem além dos veterinários pode ter uma dessas? Ele abre a pistola e tira os dardos.

— Isso tem o poder de dopar um cavalo. Ele fala despejando o liquido de um dos dardos no chão.

— Eu sabia que mais cedo ou tarde alguém viria atrás de mim. Só não achei que seriam míseros caçadores. Sabia que no mundo em que eu vivo caçadores de recompensa estão no mais baixo patamar? Eles são a escórias.

— Quem é você para dizer quem é escoria ou não?

— Querida eu não estava falando de você. Eu apenas estou generalizando. Caçadores são pessoas que andam em cima do muro. São piores que os mercenários. O dinheiro é a única coisa que importa para eles.

— E o dinheiro não é a coisa mais importante para você?

— É engraçado você me perguntar isso. Seu pai fez essa mesma pergunta anos atrás.

— Dinheiro é apenas uma garantia. O que importa no meu mundo é o poder e a família. O dinheiro pode comprar o poder, mas não compra a família, na verdade pode até comprar, mas não a lealdade dela.

Robert chamou o outro homem que estava com ele.

— Eles já conseguiram capturar aquele caçador?

— Não senhor, depois da nossa saída, ele desapareceu.

Que alivio eu senti quando ele disse isso.

— Viu só querida, é isso que os caçadores fazem, quando você não é mais útil para eles. Eles te abandonam.

Pelo pouco que eu o conheço sei que Oliver não seria capaz de me abandonar assim. Ele não é covarde.

— Continuem procurando. Não é tão fácil assim sair de Tornville.

— Certo senhor.

Eu comecei a mexer na corda que me prendia novamente. Meu pulso já estava em carne viva, mas eu não podia desistir. Fechei os olhos para me concentrar, preciso sair daqui. Tenho que lutar até o fim, não posso mais ser aquela pessoa que eu era quando estava na pedreira.

— Charlie? Já está cansada? Mas ainda nem começamos.

— O que você vai fazer comigo? Se fosse para me matar acho que você já teria feito.

— Tem razão. Tenho outros propósitos para você. Mas primeiro tenho que tirar algumas fotos.

Ele retirou um celular do bolso e pediu para um dos capangas me fotografar. Fechei os olhos e permaneci assim.

— Muito bem, seu pai biológico ficará feliz em receber essas fotos. A última atualização que ele teve de você foi há dois anos. Ele queria uma prova de que você estivesse viva, assim ele não poderia vir atrás de mim.