O barulho que a grade fazia ao ser atingida pela pá era ensurdecedor.

Eu tinha medo que alguém os ouvisse. Mas eu não podia arriscar essa chance.

–- Falta pouco. Falou Brandon tentando tomar fôlego.

A grade não estava trancada. Só estava presa por fora por algum metal fundido. Demorou mais Brandon conseguiu. Eu estava fraca, mal-cheirosa e suja ,Brandon teve a consideração de me carregar o que eu acho que irritou Suzie.

–- Quem te prendeu? Era a pergunta que constantemente eles faziam. Mas eu não podia contar, ainda. Eu não tinha provas para acusar minha mãe.

O caminho até as pedreiras era íngrime e tortuoso e longe da casa mais próxima. A volta não foi fácil. Estava escuro e só enxergávamos as luzes da cidade a frente.

–- Nossa você esta fedendo muito. Falava Suzie a cada curva.

–- O que ela pode fazer? Respondia Brandon instantaneamente.

Teve um momento que eu desmaiei. E não sei se foi por causa do ar, que há muito tempo eu não sentia tão puro, ou o frio. Mas quando acordei estava no sofá da casa do meu avô e ele estava debruçado em mim, chorando.

A sorte que eu tive é que a casa do meu avô é mais próxima à pedreira do que a dos meus pais.

Suzie e Brandon estavam observando de longe.

–- Charlie?! Falou meu avô quando percebeu que eu estava acordando.

A luz artificial estava machucando meus olhos.

–- Quem fez isso com você?

–- Não adianta perguntar vovô, ela não esta falando nada com nada.

–- Suzie, por favor, vá chamar os seus pais!

Não! Não! Por favor, não chamem eles.

–- Não! Eu disse com alta entonação.

–- Charlie! O que aconteceu! Você desapareceu! Sua mãe disse que você tinha fugido para fazer faculdade! E você me aparece depois de três meses nesse estado.

–- Ah, entendi. Suzie e Brandon vão para casa e não falem nada para ninguém esqueçam que vocês encontraram a Charlie.

–- Mas vovô. Mamãe e papai têm que saber. Papai está inquieto e preocupado desde que ela desapareceu.

–- Suzie, minha querida neta. Não era você que estava feliz? Por que a Charlie tinha ido embora?

A única pessoa que minha irmã ouvia e obedecia era meu avô. Ele sempre transmitiu um senso de autoridade militar que a assustava.

–- Vovô, mas o que vai acontecer com a Charlie?

Fiz um esforço e pedi para meu avô para que Suzie se aproximasse.

–- Suzie eu prometo que não vou mais atrapalhar a sua vida. Sei que eu sou um empecilho para que você fique com Brandon. Sem mim, a família dele vai te aceitar.

Vovô me interrompeu

–- Ela vai embora daqui. E você pode continuar com a sua vida. E Brandon me prometa que você não vai falar nada com ninguém.

–- Sim senhor, isso não tem nada haver comigo. Não vou me intrometer em assuntos de família.

Brandon, apesar de tudo, não gosta de se envolver em problemas. Provavelmente ele ignorou tudo o que fez naquela noite.

Quando eles foram embora, meu avô pediu a Marta para me dar um banho.

Aquele banho foi significamente o mais importante da minha vida. Normalmente as pessoas não prezam tanto por momentos como esse. Mas para mim, foi como se lavassem minha alma. O cheiro que estava impregnado a minha pele desapareceu e aquela sensação boa de banho tomado me fez chorar. Marta estava sendo muito compreensiva, me dando tempo para aproveitar. Sempre fui muito tímida com o meu corpo, mas não me importei com Marta naquele momento. Quando terminei, notei a sujeira que havia ficado para trás, bem como a minha vida nessa cidade. Marta aparou meu cabelo e cortou minhas unhas. Tratou dos meus machucados e me fez comida de verdade. Foi umas das esquisitices que ela prepara, mas foi a melhor coisa que eu já comi. Vovô me observava comer. Ele estava tenso. E assim comecei a conversar com ele.

Contei tudo o que aconteceu ao meu avô, que não permitiu que Marta ouvisse.

No começo escondi as tentativas de suicídio, mas Marta havia contado do corte mal cicatrizado em um dos meus pulsos.

–- Charlie, por favor, não me esconda nada! Eles te machucaram bem mais do que você diz.

Eu não entendia por que ele dizia eles quando se referia a ela. Mas não perguntei o por quê.

Quando eu disse, ele ficou furioso. Mais até que hoje, quando eu cheguei.

Ele não me contou, mas eu percebi que ele sabia mais do que parecia.

Demorou uma semana inteira para eu consegui me mover sozinha. Ninguém havia descoberto que eu estava lá. E Suzie e Brandon aparentemente não falaram nada.

Vovô dizia que eu precisava sair da cidade e nunca mais voltar. Ele me fez prometer, quando soubemos que ainda dava tempo para me matricular na Universidade de Nova York.

–- Não é longe o bastante. Mas a cidade e suficientemente grande para você se esconder. Não se sobressaia muito e viva tranqüila. Vou te visitar quando puder.

Por isso eu nunca pude mostrar minhas verdadeiras habilidades na faculdade. E nem arranjar um emprego melhor. Acho que não te espanta eu recorrer a caçar criminosos. É difícil ganhar dinheiro em Nova York

Foi fácil sair de Tornville. Mas voltar tem sido difícil.