Sentamos no andar de baixo em uma mesa perto da janela. As outras pessoas se concentravam no fundo da lanchonete.

–- Boa noite! O que vai querer hoje? Falou à moça que não tirava os olhos de Oliver.

Não a reconheci de imediato, mas logo percebi que se tratava da irmã de Dennis. Ela havia mudado muito. A frágil garotinha espinhenta havia mudado. As roupas curtas e provocantes tiravam à atenção de suas cicatrizes decorrentes das espinhas. E seu cabelo que antes era oleoso e escorrido, estava mais volumoso. Eu não consegui me lembrar do nome dela. Sabia que começava com D.

–- Boa noite. Disse eu tentando chamar a atenção dela. Ela me olhou e percebi sua cara de desprezo.

–- Certo você vai querer uma coca-cola também Charlotte?

Ele estava tocando minhas mãos por cima da mesa. Demonstrando um pouco de intimidade que inibiu a moça.

–- Sim, uma coca.

A moça me encarou de novo.

–- Ah, agora me lembro de você. Sou a Daisy! Você e a irmã da Susie. Não é? Aquela que fugiu e abandonou a família!

Essas palavras me deixaram incomodada e inconformada. Não sei o que eles falaram para os nossos conhecidos. Mas isso estava me deixando como a vilã da história.

–- Só isso por enquanto. Pode nos deixar a sós agora? Oliver também parecia incomodado.

Daisy se sentiu constrangida e nos deixou sozinhos.

–- As pessoas dessa cidade são bem intrometidas. Por isso eu não daria certo em cidade pequena!

–- Você é bem discreto não é?

–- Sim, meu trabalho tem que ser discreto.

Enquanto esperávamos nossas bebidas, eu estava brincando com uma mecha do meu cabelo.

–- Por que você não deixa seu cabelo solto?

A pergunta dele me deixou surpresa. Não é ele que reclamava da minha aparência?

–- Aqui estão os refrigerantes. Agora era uma senhora simpática que estava nos servindo, logo a reconheci, era Grace a proprietária da lanchonete.

–- E o que vão comer? Ela estava sendo extremamente simpática, que eu até relevei o que a filha dela disse.

–- Hum, acho que eu vou querer o x burger, o caseiro com mostarda temperada.

–- Eu ainda não esqueci que você sempre pedia isso. Falou ela sorrindo

–- E você rapaz?

–- Acho que vou querer o mesmo que ela.

–- Então saindo 2 x burgers com mostarda.

O barulho que estava no fundo já estava começando a incomodar.

–- Adolescente são barulhentos. Por isso sempre tento evita-los. Disse Oliver.

–- Falou o ancião.

Oliver riu.

–- Agora que eu percebi. Você é a pessoa que mais me faz rir.

Ele está debochando de mim?

–- E você e a pessoa que mais me faz ficar sem graça. Viu como é contraditório?

Não posso acreditar, ele está rindo ainda mais.

–- Aquela não é sua irmã Suzie? Ouvi uma voz ao longe.

Será que ela está aqui? Comecei a tremer involuntariamente.

–- Você está bem?

–- Sim, estou bem.

–- Mas você não parece bem. Você está pálida.

–- Onde? Podia ouvir a voz dela me procurando. A voz irritante que me perturbava todos os dias.

Tentei esconder meu rosto.

–- Viu alguém que você conhece? Ele me perguntou.

–- Ouvi alguém que não queria.

–- É tem uma garota se aproximando da gente.

È ela estava vindo. Não tenho como me esconder com esse meu cabelo. E não imaginaria que ela estaria aqui. Ela sempre achou essa lanchonete nojenta.

Ela continuava loira, seu cabelo havia crescido e as suas roupas diminuído. Possuíamos os mesmos olhos verdes. Só que como minha mãe dizia , era o rascunho e ela a perfeição.

–- Bem que papai falou que você tinha voltado. Não achei que você teria coragem. Não depois do que você me prometeu. Mamãe já te viu?

A ignorei.

–- Não quer falar comigo? E quem é esse? Me apresenta!

Ela estava jogando charme para Oliver. Quem nem a encarava.

A coisa que eu mais queria era ir embora. Tinha perdido a fome. Então Oliver se levantou. Tirou 50 dólares da carteira e colocou sobre a mesa. Pelo braço ele me puxou e deixamos Susanna, vulgo Suzie para trás falando sozinha. Não acho que ela seguiria a gente, ela não deixaria seus amigos sozinhos. Ela gosta de ser o centro das atenções e não rasteja atrás de ninguém.

Me senti melhor, revigorada! Realmente estava confiando nesse cara que eu conheço há quase um mês. Quem é Charlotte e o que aconteceu com ela? Não estava me reconhecendo. A eu do passado nunca iria confiar tão rápido em alguém. Talvez por que eu tivesse nutrindo sentimentos que eu nunca havia sentido, por ele. Mas eu não me iludia, assim que eu fizesse esse trabalho nunca mais iria trabalhar com ele. Pelo menos é o que eu espero.

Voltamos para casa do vovô rápido. Provavelmente ele já estava dormindo, perdi a noção do tempo, já eram mais de onze horas da noite. Nossa cama já estava arrumada. Vovô tinha conseguido montar uma cama de casal. Mas eu iria dormir no chão. Eu ainda tinha a minha dignidade.

Estava arrumando, quando Oliver disse:

–- Você vai dormir na casa. Deixa que eu fico no chão.

–- Mas...

–- Não, eu ainda posso ser um cavalheiro se você quiser acreditar. E não se preocupe, eu acordo cedo, seu avô nem vai saber que nós não dormimos juntos.

–- Ok.

Eu não ia discutir realmente eu quero dormir confortavelmente.

Nos deitamos.

Mas o sono não chegava. Tudo o que eu havia sentido hoje veio à tona nos meus pensamentos. Foi então que eu resolvi falar. Não sei se ele já está dormindo. Mas eu preciso contar tudo isso para alguém.

–- Minha vida mudou completamente a mais de dois anos atrás, quando por acidente eu vi o que ninguém deveria ver.