O Cavaleiro dos Lírios escrita por Kuro Neko


Capítulo 11
O cavaleiro perdido


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco para escrever este capítulo devido a grandes turbulências na minha vida. Desculpem-me pela demora...
Por questão de mapeamento lógico, a visão do capítulo se passa no personagem Jin.



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Jin perdera, há dias, a noção de tempo. Passara tempo suficiente naquela cela para isso. Por algum extinto natural, contava que a semana estava praticamente na metade. Era manhã quando ele ouviu tambores, festejos e canções numa língua totalmente desconhecida por ele. O livro que o rapaz de cabelo branco o recomendara naquela ocasião não foi de tanta utilidade. Jin tentava, ávidamente, aderir-se a “religião” élfica, mas sempre falhava. Tentava pensar no que estava dando errado, mas nunca chegava numa resposta. Enquanto questionava-se sobre essas e outras questões que havia ocorrido em sua estadia em cárcere, percebeu, rapidamente, que os sons das batidas de tambores e cantigas evoluíam em timbre e se aproximavam cada vez mais dele. “O que poderei fazer estando aqui?”, pensou Jin, sentando-se na cama feita de galhos de árvores. Manteve a postura e esperou pela recepção, mesmo que usasse as mesmas vestes sujas que usara em Vanel Red: Uma camiseta de algodão negra em combinação a uma calça feita de grama macia. Percebeu também que perdera seus calçados.

Não demorou mais que momentos para que uma vasta multidão aparecesse diante dos seus olhos. Todos os que estavam ali tinham uma característica peculiar: Nenhum tinha um ar real como os indivíduos que ele presenciou em seu julgamento. Todos eram bem variados, sendo uns magros, outros gordos, uns jovens, outros idosos, e assim analogamente. Todos estavam pasmos com a figura que viam, isto é, um humano qualquer. Trocavam palavras, toques e faziam gestos que podia assumir qualquer significado. Jin apenas permaneceu ali, com sua postura, e com um fascínio oculto.

Um longo tempo se passou até que algum evento realmente ocorresse. Até que, detrás da multidão, surgiu um pequeno ser élfico com cabelos negros e lisos arrepiados jogados para trás que inseriu um tipo de graveto serrilhado em alguma abertura que ele mesmo não havia encontrado. Uma abertura naqueles emaranhados de ramos e galhos que delimitava a sua liberdade foi-se aberta. Todos os outros consentiram na ação do pequenino, mas nenhuma palavra a mais, entre eles, fora trocada. Jin levantou-se lentamente da cama que estava sentado e percebeu uma mudança de postura naqueles sujeitos, que ficaram tensos e levaram a mão a uma pequena sacola de couro que tinham nas costas. Que aquilo não significaria liberdade, Jin logo presumiu. Contudo, poderia ser um passo para ela. Após alguns momentos, um élfo apontou em uma direção e esperou alguma ação do humano. Jin, que concluiu que seria melhor parecer rendido, abaixou a cabeça e andou em direção a multidão que abriu seu centro para que o jovem entrasse nele.

Logo que a ação foi feita, uma marcha fora iniciada. Jin, que nunca pôde ver além de sua cela, logo percebeu, sem grande surpresa, que estava sido mantido em uma sequoia que possuía, no mínimo, dez metros de raio. Ainda dentro dela, foi marchando e avançando pelas pontes elevadas que interligavam todas as árvores da região, deixando, finalmente, sua cela e seu cárcere para trás. Na medida em que avançavam, percebia que a altura das árvores decrescia. Agora ficava difícil estar no interior de árvores, e, por isso, passavam por plataformas cobertas sustentadas por quatro flamboiãs do tamanho ordinário. Assim que passaram por uma descida bruta pelas pontes, chegaram ao solo.

Jin logo sentiu-se aliviado por estar no chão outra vez. Estar suspenso sempre o deixava apreensivo. Para a sua tristeza, porém, a caminhada não parou ali e estendeu-se até o pé de um salgueiro que possuía uma altura colossal. O jovem logo observou que havia uma entrada pequena para o interior da árvore. A multidão dispersou-se e todos, simultaneamente, apontaram para a entrada. Em uma voz uníssona e grave, reproduziram:

— Hagnerk.

Como Jin viu-se indisposto a recusar o apontamento dos élfos, adentrou lentamente a árvore. O interior era pequeno demais até para comportar duas pessoas, mas havia uma escada de terra abaixo de si que levava para mais abaixo, num corredor estreito. O jovem prosseguiu com a caminhada.

Quanto mais descia as escadas, mais escuro ficava o corredor e nenhum sinal de iluminação era visto. Por sorte, o corredor era tão estreito a ponto de Jin poder tatear as paredes que estavam ao seu redor. Continuando dessa maneira a caminhada, Jin tocou em várias madeiras grossas que formavam a sustentação dessa passagem subterrânea e conseguiu várias fárpas presas em seus dedos. Cada tatear doia mais e mais ao longo que avançava, mas assim que o tunel ia se estendendo para todas as direções possíveis, Jin apenas deixava de tatear as paredes em um curto período de tempo. Logo após várias curvas, subidas, descidas, idas e vindas, chegou finalmente num lugar mais amplo não mais iluminado do que anteriormente. Pisou em algo de metal que produziu um som que repercutiu seu éco por mais de dez segundos.

— Quem está aí? — Disse uma voz macabramente grave numa intensidade alta. As paredes refletiam as ondas sonoras umas para as outras e prolongavam a duração do som, Jin suspeitou.

— Vim ver Hagnerk — Jin respondeu em alto tom, ainda que sua voz não se comparasse nem em um terço da voz do desconhecido.

Um rugido tão alto foi ouvido que Jin levou ambas as mãos as orelhas. Um barulho de avanço foi ouvido numa frequência muito rápida. O jovem rapaz não fazia ideia de com o quê estava lidando, uma vez que não havia nenhuma iluminação ali. Apenas deu um passo para trás, apanhou o objeto metálico no chão e entrou numa posição de guarda. Quando o barulho de patas (que agora era claro para Jin que eram patas) aproximou-se o suficiente dele para que ele tivesse uma ideia da proximidade do inimigo, Jin fez uma tentativa de esquiva para o seu lado direito em um rolamento improvisado. Como nunca recebeu nenhum treino de esquiva em suas aulas de combate quando era criança, jogou-se ao lado como estivesse atirando-se a uma piscina. Por sorte dele, o ataque da fera que ele não podia ver foi falho, mas o rolamento nada profissional o fez bater a cabeça na parede ao lado dele e o fez cair de barriga ao chão.

Enquanto sua cabeça latejava de uma forma horrível, Jin pôde escutar a fera rugindo em raiva. Percebeu que havia caído em outros objetos metálicos parecido com o que havia pisado, mas em maior proporção agora. Muitos deles eram pontiagudos e causou-lhe certos cortes que ardiam agora. Fez o melhor que pode para levantar-se e tateou o objeto que havia pego antes. Concluiu que era uma adaga. Ficou parado por um momento para prever a ação do inimigo.

Apenas alguns segundos depois, sua suspeita tornou-se fato. Assim como ele, a fera estava cega perante a escuridão, também. Ficou apenas parado, escutando e pensando numa maneira estratégica de se mover dali.

— Você sabe que não pode desaparecer para sempre — Disse a fera num rosnado grave e intimidador — Nem todos os meus truques foram mostrados ainda.

Jin ouviu certas palavras serem proferidas e, logo depois, um estrondo ao chão próximo onde ele deveria ter levado o golpe do terrível oponente. O som ecoou perante muito tempo no ar e, em certo momento, várias colunas de fogo surgiram do chão e atingiam o teto. Tudo estava claro por um instante: O inimigo o olhava Jin e Jin olhava o inimigo. Monstruoso foi a palavra que encontrou para descrevê-lo. A criatura era bípede e erguia-se altiva. O som das patas anteriormente era proveniente de restos mortais de humanos ou élfos já idos que ficavam preso por correntes de ferro ao seu cinturão de ouro. Sua vestimenta era composta por uma placa de bronze arredondada e manchada de terra e sangue no tórax, possuía cota de malha nos ombros até as luvas de couro e usava grevas de pedra. Mas seu elmo e sua arma eram as mais terríveis. O elmo era o crânio de um ser humanoide adornado com três cornos espirais, sendo um disposto na região da testa. Seus olhos, mesmo com o ambiente bem iluminado, era invisível na escuridão dentro do elmo. Já sua arma, era uma espada gigantesca totalmente branca, com buracos retangulares dispostos nos extremos direito e esquerdo da lâmina. O fim da lâmina era estreito como uma agulha que, segundo a visão de Jin, provavelmente poderia perfurar até minérios duros. O chão estava cheio de armas dos mais variados tipos e seus donos, apenas ossos, com elas. A sala em que se encontrava parecia não ter fim, estendendo-se até onde as chamas não podiam iluminar.

Entretanto, as colunas de fogo logo começaram a perecer. Mas, antes que a escuridão retornasse a regência da batalha, a criatura soltou um berro macabro, próximo a uma risada desumana, e, segurando com ambas as mãos a espada, partiu para cima de Jin em um giro que repercutia o som metálico das armas e ossos quebrando abaixo dele. A última visão de Jin foi a criatura partindo para ele em no giro colossal. Já a última visão do oponente foi o rosto do pobre rapaz totalmente pálido e com olhos arregalados.

Os segundos seguintes passaram-se mais rápidos do que Jin desejaria. Não tinha nenhuma estratégia traçada, nenhuma vantagem sobre o oponente, apenas a morte que parecia o tocar. Numa tentativa desesperada de fazer algo, jogou a pequena adaga contra o oponente. Não soube se houve sucesso, mas sentiu uma grande quantidade de vento passando por cima da sua cabeça e um grande estrondo. O ataque da criatura foi falha por apenas alguns centímetros. A espada ficou enterrada na parede de pedra da sala (Jin achava anteriormente que era de terra) e percebeu o fato devido a pequenas rochas caírei sobre sua cabeça que estava totalmente dolorida já. Em desespero, correu para nordeste dali, esperando tomar distância do inimigo brutal.

— Você sabe que não pode se esconder de mim, potro — A criatura voltou a falar. Enquanto Jin corria, tropeçou num objeto cilíndrico que rolou um pouco no evento. Tateou-o e descobriu uma aljava com quatro flechas. Continuou tateando o chão em busca do arco que correspondia a ele — Quero ver você queimando dessa vez. Quero que implore pela graciosidade da minha espada — Jin encontrou o arco bem a tempo. Era um arco longo de ferro, concluiu ele por conta de a arma estar fria. Prendendo a aljava a cintura, que parecia imitar a bainha de uma espada longa qualquer, pegou uma flecha atirou ao vento. Acertou o chão e produziu um barulho metálico — Ah, então aí está você!

A criatura soltou um berro e várias colunas de fogo surgiram na direção de Jin. Por reflexo, conseguiu desviar-se a tempo. Com a sala mais uma vez iluminada, percebeu que a criatura tinha tirado a espada da parede. Ambos se viam novamente. Jin, com uma distância considerável, preparou outra flecha no arco e a atirou contra o inimigo. Nem ele sabia o porquê de fazer isso, uma vez que o inimigo tinha uma armadura impenetrável contra flechas. Mas ficou surpreso com o resultado. O oponente, com toda a sua altura e peso, desviou com grande esforço da flecha. “Por que ele não apenas recebeu a flechada?”, questionou Jin. Quando foi preparar o terceiro disparo, o gigante correu para cima dele com a lâmina em mãos, posta acima do ombro direito planejando um ataque transversal. A recém-descoberta da tentativa de evitar flechas do oponente lhe deu um pouco mais de audácia. Com a postura de um arqueiro que tanto via no castelo de seu pai, tirou outra flecha da aljava, colocou-a no arco, puxou, pelas penas da flecha, a corda da arma e, assim que a luz apagou-se, o disparo foi efetuado e bem-sucedido, atingindo a armadura do oponente. Aquela flecha lhe deu a chance de vitória, já que concluiu algo muito importante com ele. Fora isso, a lâmina do oponente por pouco não o cortou em dois, já que a flechada o desbalanceou de certa forma. Felizmente, e infelizmente, Jin apenas recebeu um grande corte que começava do ombro esquerdo até o canto direito da cintura. O golpe o fez girar um pouco e a cair no chão, mas ainda com o arco na mão esquerda. Pensou no que faria por ouvir que quando a flecha atingiu a armadura do inimigo ela produziu um som oco.

— Agora eu sei onde você está, porquinho — Disse o ser colossal na voz mais grossa que Jin já ouviu. Assim que disse isso, proferiu certas palavras novamente e bateu no chão (Jin não fazia ideia se com as mãos ou com a arma). Várias colunas de fogo surgiram perto de Jin, deixando apenas uma abertura na qual o oponente se aproximava — Você até que durou bastante tempo — E levantou a gigantesca espada.

Jin, num ato de total pânico, tirou a última flecha da aljava. Felizmente, e infelizmente, quando puxou a flecha ela pegou fogo por ficar em contato com uma coluna bem próxima a ele. Sua mão ardia com o calor da chama e não conseguiu uma boa estabilidade com o arco. Não tendo muito tempo a disposição, ele atirou a flecha randomicamente enquanto gritava de pavor. A cena que viu a seguir foi um tanto surrealista.

A flecha que tinha atirado foi enterrada logo abaixo do elmo de ossos e suspeitou ter atingido o pescoço do inimigo. Logo que a armadura inteira foi sendo consumida por dentro pelas chamas, o oponente deixou a grande espada cair e apenas ficou parado, gritando, enquanto produzia um grito que ia afinando aos poucos. Sua suspeita se mostrou correta: Alguém estava controlando a armadura por dentro. Assim que as colunas de fogo foram se esvaindo, a armadura continuava iluminando o local. A última visão que viu até desmaiar foi chamas saindo dos olhos do elmo crânio.

Quando acordou, estava sendo enfaixado e medicado por um homem de armadura de prata com duas orelhas viradas, acima do elmo, para trás. Ele dizia ser Oscar Highwood, guardião das catacumbas.


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Notas finais do capítulo

É isso! Outro Highwood na parada!
Deixem comentários, por favor! Críticas, sugestões, elogios e outras coisas são sempre bem vindas!
Confissão: Preciso de uma pequena dose de motivação pra continuar a história, porque tá meio difícil pra mim com a minha rotina :( . Então, se quiser deixar uma palavra de "Vai em frente", eu agradeceria eternamente :3



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