Luas de Sangue escrita por Fallen


Capítulo 9
Capítulo 8




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Naquela noite, meu coração navegou pelos céus, e foi parar em minha alcateia. Eu me perguntava se eles sentiam minha falta como eu sentia a deles.

Meus pensamentos foram interrompidos quando um homem abriu minha jaula e colocou uma coleira e correntes em mim. Sai da jaula como um cão domesticado. Sem resistir. Sem rosnar.

Fui levada novamente para o furgão preto. Logo em seguida, Thunder também foi colocado lá dentro. Fizemos a viagem toda em silêncio. Apenas deitados, descaçando.

Quando o furgão finalmente parou, estava chovendo forte e o vento uivava. Estávamos parados em frente a outro prédio grande, dessa vez com paredes altas de pedra, meio chamuscadas, como se pertencessem a uma fábrica antiga. Manchas acima da entrada revelavam onde letras enormes tinham estado um dia. Ainda podia ser lido “HOSPITAL VETERINÁRIO GENERAL BOWEN”.

“Os médicos vão tomar conta de mim e tudo vai ficar bem de novo.”

Deixei escapar um sorriso involuntário ao pensar nisso tudo. Thunder olhou para mim como se eu fosse, sem nenhuma surpresa para ele, uma louca. Eu estava rezando para ser mesmo.

— O que deu em você? Você sorriu? Por quê? Esse lugar parece saído de um filme de terror!— Ele fez cara feia.

— Bom, e o que você estava esperando? — eu disse com uma risadinha— Um lugar quentinho e aconchegante?

Nós fomos tirados do furgão e entramos no lugar.

— Vamos logo! — O guarda me puxou para um corredor largo e escuro. Uma luz fluorescente fraca brilhava ao final dele, bem distante. Uma luz ao fim do túnel? Até parece.

— Vou receber tratamento aqui? — Eu balancei o rabo e levantei a orelha esquerda— Quando posso falar com o médico?

Thunder virou a cabeça para trás e me lançou outro olhar confuso.

— Isso aqui é onde os vencedores ficam, loba.— um dos guardas disse, mal-educado e nervoso ao mesmo tempo. — Para animais perigosos. Como vocês dois.

Ele nos empurrou para uma escadaria que tinha apenas uma luz bem fraca e que mal iluminava cada patamar entre os andares.

Minhas pernas estavam tremendo, provavelmente porque eu não tinha comido nada de verdade desde o começo daquele pesadelo. Outros dois guardas nos fizeram marchar escada acima, sem parar, até eu me render ao cansaço e parar de contar os andares. Finalmente, entramos em mais um corredor escuro em que havia o que parecia ser uma enfermaria antiga. Uma mulher lá dentro estava debruçada sobre sua mesa, corcunda, distraída com uma revista. Ela devia ser muito alta porque, apesar de estar sentada, ainda conseguia olhar para mim.

— Sim? — ela coaxou como um sapo que fumava cigarros demais.— Posso saber por que você está me incomodando?

Olhos escuros, quase sem a parte branca, por um triz não atravessaram os meus. Ela tinha um nariz torto e um queixo pontudo com uma verruga enorme, cabelos bem pretos e enrolados.

— Mais dois animais desprezíveis para você, enfermeira-chefe — anunciou um dos guardas. — Uma loba e um pitbull.

Senti meu estômago afundar. A fantasia vivida por tão pouco tempo tinha terminado oficialmente.

—Estão procurando animais em cada monte de lixo podre do país — a enfermeira-chefe disse, cínica — e me trazendo esses... vermes para eu ficar de olho.

E com essa introdução animadora, encontramos um novo fundo do poço. Naquele momento, eu estava bem preocupada com Thunder, pois seus olhos estavam ficando assustadoramente vidrados.

A enfermeira-chefe girou em sua cadeira e se afastou para pegar uma pilha bem grossa de arquivos atrás dela. Ela usava um rabo de cavalo oleoso e pesado, que mais parecia uma alga marinha gigante ou uma enguia morta.

— Sim, senhora — o guarda respondeu. — É isso mesmo: vermes, mas talvez a senhora esteja sendo gentil demais, se quer saber.

— Pois não perguntei! — respondeu a enfermeira-chefe, de maneira ríspida. O guarda ficou com medo e fez uma imitação de bonequinho que balança a cabeça no painel do carro.

Então, ela se ergueu sobre os pés gigantes e soltou um grunhido — Vocês sabem por que estão aqui? — ela perguntou.— Cãezinhos engraçadinhos! — Os olhos dela se estreitaram até virarem riscos brilhantes. — Aqui é um lugar perigoso — ela disse. — Para animais perigosos. Mas coloquem uma coisa nessas cabecinhas: seus truques baratos não vão funcionar aqui, meus queridinhos!

“Será que ela acabou de nos chamar de ‘meus queridinhos’? Foi isso mesmo que ouvi?”, pensei. Talvez existisse mesmo um motivo para eu estar em um Hospital veterinário.

— A Rinha Major deixou esse lugar totalmente à prova de fujões. — ela disse toda animada, e então sua expressão mudou e ela começou a sussurrar para si mesma. — Mas não sei o que eles acham que vou fazer com mais lixo como vocês.

A enfermeira-chefe nos mostrou o caminho pelo corredor até uma porta grossa de madeira com uma janelinha de vidro protegida por uma grade. Ela a destrancou e os guardas nos empurraram lá para dentro sem o mínimo de consideração. Eles tiraram nossas correntes.

— Bem-vindos ao corredor da morte — ela disse e bateu a porta, nos trancando lá dentro.


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