Luas de Sangue escrita por Fallen


Capítulo 11
Capítulo 10




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Naquela manhã, Thunder e eu acordamos com um barulho de alguma coisa batendo, como um cassetete ou talvez a bengala de alguém.Meu coração disparou, mas Thunder estava desorientado

— Luna... — ele resmungou.

—Só para lembrar, nós estamos em nosso lar doce... presídio— disse e dei uma mordidinha de leve nele. — Acorda! Eu preciso de você aqui, cara!

Segurei a respiração ao ver a maçaneta girar lentamente. Quando Thunder começou a reconhecer onde estava, alguns centímetros da porta já tinham sido abertos, mas eu só conseguia enxergar a luz fraca do corredor entrando pela fresta.

Uma voz fria finalmente veio de trás da porta.

— Obrigado, enfermeira-chefe. — Aquela frieza do mal quase fez meu coração parar. — Pode deixar comigo agora, se me permite.

— Tome cuidado — disse a enfermeira-chefe. — Esses demônios são perigosos.

— Agradeço a preocupação, mas acho que está tudo bem.

A porta se abriu mais e uma figura esquelética e alta, desumanamente alta, entrou em nossa cela. Parecia a própria Morte, mas em roupas modernas. Um terno cinza ficava pendurado nele como se fosse feito de cabides. Sua pele era de uma palidez pavorosa e nada saudável, como a de uma planta esquecida em meio as pedras. Por anos.

Instintivamente, dei uns passos para trás. Então, como uma cobra dando o bote, um chicote de couro preto açoitou o ar com um assobio e bateu em mim com força.

— Ei!- Rosnei.

A chicotada era gelada, mas depois começou a queimar.

— Ah, mas isso você não vai fazer, loba! — A figura da Morte comandou. — Seus dias de controlar pessoas com seus dentes malignos chegaram ao fim. Agora, estou aqui. Eu sou o seu visitante.

Quando aquele maluco acertou a pata de Thunder com o chicote, que mais parecia uma cobra, quase pulei em cima dele. Eu estava pronta para lutar até a morte, não estava nem aí. Ninguém bate em um amigo meu.

Thunder, corajoso, só protegeu a pata e olhou para ele, com o maxilar travado.

Fiquei encarando aquele visitante estranho, tentando distrair o cara.

— Vou tentar adivinhar. Ninguém te amou quando era criança. Ou adulto. Poisé, a vida é difícil.. - E então... pá! Perdi o ar quando o chicote atingiu meu rosto com tudo, abrindo um talho na minha pele que queimava como uma brasa. Um monte de sangue começou a escorrer pela minha bochecha.

— Este é o seu primeiro dia inteiro no Hospital, loba— disse o visitante. — Então, serei gentil com você. Mas você não rosnará para mim nem para a enfermeira-chefe dessa maneira novamente. Nós somos as únicas pessoas entre vocês e um destino muito pior que a morte.

— Ah, então tem coisa pior que ser sequestrado no meio da noite, levado para a prisão, condenado à morte em uma rinha e, então, ser trancafiado em um Hospital veterinário com dois loucos? Vai ficar pior? - Rosnei para ele, demonstrando que não iria me render facilmente.

— Vai continuar rosnando? — ele perguntou com toda a calma.

Estava tentando decidir o que fazer em seguida quando o chicote apareceu do nada e me pegou na orelha esquerda, e então na direita, e então na ponta do meu focinho.

— Vai ficar pior. — disse o visitante. — Sua ficha diz que você não era a loba mais obediente da alcateia. No entanto, faria bem a você aprender algo. — E ele suspirou e mostrou nossa cela fria, úmida e nojenta. — Isso aqui é o seu novo lar. Temos guardas armados, câmeras de segurança, perímetros eletrônicos e vários dispositivos de segurança letais que não tenho permissão para revelar. Além disso, vocês não conseguirão desarmar esses sistemas com os seus truques. O prédio inteiro foi alterado para conter vocês, e vocês verão que não têm força alguma aqui. Em poucas palavras, depois de passarem por aquela porta, vocês efetivamente se tornaram cãezinhos de madame.

Thunder e eu trocamos um olhar rápido como quem diz “a não ser pelo brilho da coleira”. Juro que às vezes conseguíamos ler os pensamentos um do outro, e ultimamente mais ainda.

— Quanto aos detalhes desta cela, por favor, notem que a única janela externa está voltada para o oeste e através dela vocês podem ver a escuridão de um poço de ventilação de dez andares de profundidade. No fundo dele, há uma turbina que poderia transformar uma baleia-azul em purê em menos de dez segundos. Fiquem à vontade para se jogar lá embaixo quando quiserem. Ele continuou falando como um porteiro de hotel ao descrever uma suíte executiva.

— Vocês também têm seu próprio banheiro semi privativo, completo, com nosso papel higiênico de edição especial que parece tão leve que você pode jurar que não está usando nada.

O visitante olhou para nós, apontando seu nariz comprido em forma de gancho na nossa direção.

— Voltarei periodicamente para ver como vocês estão — ele disse com uma voz profunda de zumbi. — E se vocês se comportarem mal... bom... — ele fez uma pausa e deu um sorriso que faria um crocodilo parecer seu melhor amigo — ... daí, providenciarei a punição.

SSSSST!

O chicote cortou o ar e por pouco não acertou meu olho.

— Vejo vocês em breve... Prometo.

Em seguida, ele foi embora e a porta foi fechada.

— Não gostei muito dele —Thunder Murmurou. — E você?

Resumi nossa situação com a sinceridade e a simplicidade de sempre.

— Isso aqui é um saco! — eu disse.

Fiquei pensando naquilo. Com tantos machucados, parecia que tínhamos acabado de lutar numa jaula com um urso.

— Otimista demais — Thunder disse. — Você sempre vê o lado positivo das coisas, né?

Fiquei analisando todos os cantos da cela para tentar me distrair da dor dos machucados. Estavam queimando. Mas eu estava tendo dificuldade em elaborar pensamentos... a não ser pensamentos torturantes sobre carne de alces. Nunca tinha sentido tanta fome na minha vida.

— Você está falando sozinha? — Thunder perguntou.

— E por que não?— Eu sorri e depois fiquei meio sem graça. — Na verdade, se você quer saber, estou tentando fazer um plano. Sabe, para nos tirar daqui. Se sou uma loba, posso muito bem mecher aqui e fazer a porta abrir.

— Mas eles falaram que não temos poder nenhum aqui. Você não prestou atenção no cara com o Chicote?

— Jura? Então será que minha coleira radioativa foi só um sonho estranho? —perguntei.

— Tá bom, você venceu, loba-neon! — Thunder disse. — Se você acha que esse lance de mecher ai vai funcionar, vai fundo!

Cheguei perto da porta, me apoiei nas duas patas traseiras e usei a boca para mecher na maçaneta.

Téc! A porta fez um barulhinho e se abriu.


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