Clichê escrita por desjeitos


Capítulo 18
Capitulo 18




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Sexta-feira chegou. A semana passou rápido e sem muitas novidades. A única coisa que mudou foi a proximidade de Bruna com Miguel. Muitas vezes ela saia do seu lugar de costume ao meu lado para se sentar próxima a ele. Os dois ficavam rindo e conversando e quando ela voltava era como se nada tivesse acontecido. Aquilo me deixava irritada e com ciúmes, mas eu, ela e Amanda apenas ignorávamos esse assunto e a curiosidade de saber o que eles tanto conversavam.

Quando a aula acabou fomos embora as três juntas, andando. Eu fiquei a maior parte do tempo calada. Estava incomodada com a volta da amizade entre a loira e Miguel e queria que ela falasse logo alguma coisa sobre isso.

– A gente podia sair amanha né? - Bruna disse quando paramos na casa da Amanda.

– Podíamos! Onde você que ir? - Amanda perguntou

– Não sei, talvez algum lugar que dê para dançar um pouco.

– Isso! Eu vou falar com a Gabriela ai vamos as quatro!

– Ótimo! Tudo bem pra você Gi?

Apenas balancei a cabeça concordando. Me despedi da Amanda e segui em direção a minha casa. Bruna me alcançou e me puxou pelo braço:

– Ei!

– Fala.

– Você pode me buscar amanhã? Vamos de taxi juntas!

– Pra que?

– Pra gente conversar um pouco, ai eu mato sua curiosidade, vai que você desemburra um pouco né? Não custa tentar..

– Pode ser...

– Na minha casa, as oito e meia!

Bruna me deu um beijo na bochecha e saiu correndo em direção a sua casa

Ocupei ao máximo meu tempo para que sábado chegasse logo e realmente não demorou pra chegar.

Eu acordei cedo, mal havia dormido, tomei um banho rápido pra acordar e fui ouvir musica para passar o tempo. Logo chegou a hora do almoço, depois eu resolvi ajudar minha mãe com a jardim o que levou a maior parte do meu tempo. Começou a escurecer, quando olhei no meu relógio já era quase seis horas da tarde, precisava me arrumar.

Subi para o meu quarto, liguei o som alto e entrei em baixo do chuveiro. Gastei um tempo para limpar toda a terra que havia em mim graças a jardinagem e depois deixei minha cabeça ser invadida por inúmeros pensamento enquanto a agua caia sobre mim.

Sai do chuveiro e me joguei na cama para descansar por alguns minutos e também pensar sobre a roupa que vestiria. Acabei optando por uma roupa confortável ao invés de me arrumar muito. Coloquei um shorts jeans rasgado, uma blusa um pouco mais arrumada que estava perdida dentro do meu armário e um tênis qualquer. Não coloco salto alto por nada nesse mundo, só quando minha mãe me obriga, claro.

Acabei fazendo uma maquiagem básicas. Não tinha o costume de me maquiar, mas como iria sair acabei me rendendo ao rímel e ao lápis. Depois só passei um batom clarinho e era isso. Estava pronta.

Peguei meu celular e ainda não estava na hora de buscar Bruna. Mesmo enrolando o máximo possível para me arruma ainda faltavam 30 minutos para o horário combinado.

Me joguei na cama de qualquer jeito sem me preocupar em amaçar minha roupa, bagunçar meu cabelo ou qualquer coisa do tipo, só queria que o tempo passasse logo. Acho que um dos meu piores defeitos é ser ansiosa, eu não aguento esperar.

Fiquei na cama por o que parecia ser uma eternidade, mas quando olhei as horas no meu celular havia se passado apenas oito minutos! Meu Deus! O relógio estava de brincadeira comigo.

Resolvi não esperar, afinal faltavam vinte minutos para o horário combinado, até eu chegar lá se passariam mais cinco. Quinze minutos de antecedência não seria muita coisa.

Peguei meu celular, dinheiro e documento e sai de casa. Avisei para os meus pais aonde iria e sai. Em cinco minutos cravados cheguei na casa da Bruna. Toquei a campainha e esperei que alguém me atendesse. Quando a porta se abriu meu queixo quase alcançou meus pés. Miguel estava parado na porta, com o cabelo molhado, sem camisa e um sorriso imenso estampado no rosto:

– Bruna!! - ele gritou - sua amiga sapatão esta aqui!

Eu fiquei totalmente sem reação, estava em estado de choque com o que estava vendo.

– Quer entrar? - ele me perguntou.

– Não! Pra falar a verdade acho que vou pra casa. - me virei para voltar para o lugar que não devia ter saído.

– Ei! - ele me segurou pelo braço - você esta achando legal brincar de casinha com a Bruna? Pois saiba que eu não vou mais deixar isso acontecer. Ela esta passando tempo demais com você e essa sua amiguinha ruiva, mas agora estou de volta então saiba que isso não vai mais acontecer.

– Olha aqui - puxei meu braço da mão dele. - quer ficar com ela? A vontade! Mas não pensa que você vai falar assim de mim e da minha amiga.

– Eu falo o que eu quiser de vocês duas! - lancei minha mãe em direção ao rosto dele para lhe dar um tapa mas ele me segurou - de novo não, gostosinha.

– Eu vou pra casa seu babaca. - puxei minha mão bruscamente.

– Ei! Te espero segunda-feira - ele me lançou um beijo e voltou para dentro de casa.

Eu sai correndo para minha casa. Pude ouvir Bruna me chamando de longe, mas não voltei. Entrei em casa e bati a porta atrás de mim. De repente senti minhas pernas fraquejarem, eu desabei no chão. Apoie minhas costas na parede e voltei ao estado de choque em que me encontrava anteriormente. Eu perdi as palavras, perdi o chão.

Fiquei lá por não sei quando tempo até minha mãe sair da cozinha com um pote de pipoca e me encontrar:

– Você não ia sair, filha? - não respondi - Filha? - balancei a cabeça negando - O que houve? - ela se sentou do meu lado.

– Eu... Eu não sei...

– Não que conversar? - eu deitei minha cabeça no ombro dela e tentei fazer com que minha respiração se estabilizasse.

Logo meu pai apareceu:

– O que vocês duas estão fazendo ai sentadas no chão? - minha mãe fez algum tipo de sinal para ele tentando avisa que havia alguma coisa errada comigo. - Ta, tudo bem, entendi.... Bom... Será que eu posso me juntar então? - eu concordei com a cabeça e ele se sentou do meu outro lado.

Meu pai esticou um dos braços tentando abraçar nos duas e com o outro ele pegou o pote de pipoca.

Eu não sou de chorar, foram poucas as vezes que eu me lembro de ter chorado. Mas quando senti o braço do meu pai pesando sobre mim e o cheiro doce da minha mãe eu não aguentei. Me aconcheguei ainda mais no abraço deles e deixei com que as lagrimas rolassem livremente no meu rosto. Depois disso, eu não lembro de mais nada.

Acordei no meu quarto, mesmo não lembrando de ter ido pra la de noite. Eu não lembrava muito bem do que havia acontecido, mas com certeza lembrava o suficiente.

Minha mãe bateu na porta antes de entrar, ela trazia uma bandeja consigo:

– Trouxe café da manha pra você.

– Obrigada. - disse coçando os olhos - que horas são?

– Umas dez horas mais ou menos...

– Que cedo...

– Mesmo sendo cedo sua amiguinha loira já veio aqui duas vezes.

– Se ela vier de novo é só falar que eu não estou, que eu fugi e não volto mais!

– Já vi que o quer que tenha acontecido ontem tem haver com ela.

– Mais ou menos isso...

– Bom, ela falou que ia te ligar para saber se ela pode vir aqui.

– Nãoooo... - simulei um choro e me escondi de baixo das cobertas.

– Toma logo seu café antes que derrube! - minha mãe sorriu pra mim e saiu do quarto.

Comi uma torrada e tomei uma xicara de chocolate quente que estava naquela bandeja antes de pegar meu celular, nela havia uma dezena de mensagens da mesma pessoa, Bruna. Eu sabia que não conseguiria evitar ela pra sempre mas iria ignora-la pelo máximo de tempo possível.

Resolvi ir para o quarto de Barbara. Minha irmã havia saído ontem então ela ainda estava dormindo. Me deitei ao lado dela e adormeci novamente. Fui acordar novamente junto com ela.

Quando eu peguei meu celular de novo havia mais algumas mensagens e duas ligações perdidas da loira. Amanda também me mandou uma mensagem perguntando porque eu deixei de sair com elas mas eu não respondi nenhuma das duas.

Minha mãe entrou no quarto de Barbara e insistiu em saber o que havia acontecido, mas eu me recusei a falar. Minha irmã também começou a ficar curiosa depois de tantas perguntas feitas por minha mãe, eu disse para ela que depois conversaríamos. Queria passar o resto do meu final de semana mofando na cama sem falar com ninguém, desliguei meu celular e passei horas deitada, só eu e a netflix.

Acabei convencendo meus pais de me deixar faltar na escola segunda e terça. Barbara estava certa, eu realmente era um pouco mimada, mas eu amava isso. Os dois ficaram preocupados comigo mas me deixaram sofrer em paz.

Quarta-feira não escapei da aula. Tive uma conversa bem seria com meu pai de manhã:

– Olha filha, eu não sei o que aconteceu com você, mas sei que o que quer que seja te deixou muito triste, mas sabe, não liga pra isso. Você não pode ficar na cama pra sempre. Não pode ficar trancada dentro de casa por nada nem ninguém. Então vá para aula hoje, quando você chegar passe o dia todo na piscina, não é isso que gosta de fazer? Então faça! Trata de ser feliz por que eu odeio te ver triste. - eu o abracei o mais apertado que pude, ele não poderia estar mais certo - Sábado eu e sua mãe faremos uma surpresa pra você! - ele me deu um beijo na testa e saiu.

Fui pra escola de skate, sozinha com minha musica alta de sempre. Cheguei atrasada, a aula já havia começado. Pedi licença ao professor e entrei. Vi Bruna e Amanda sentadas lado a lado. Não sabia se deveria sentar com elas ou longe delas. Acabei optando por sentar ao lado de Amanda, ela tentou falar comigo durante toda a aula mas eu dei de ombros e fingi prestar a maior atenção do mundo no que o professor falava quando na verdade não estava nem ouvindo as palavras que saiam de sua boca.

O sinal do intervalo bateu e eu sai correndo para a cantina e foi a primeira vez que fiquei feliz ao ver aquela fila imensa de estudantes.

Assim que comprei meu lanche acabei subindo. Amanda me esperava na porta da sala. Ela me puxou pelo braço e meu levou ate o banheiro sem dizer uma palavra, ela só se manifestou quando entramos lá:

– Agora você não escapa, pode me contar o que esta acontecendo. E não quero saber se você quer ou não porque...

– Sábado - a interrompi - depois que a gente te deixou em casa, a Bruna me pediu para busca-la a noite para dividirmos o taxi - mordi meu sanduiche antes de continuar - eu concordei. A noite, tomei banho e me arrumei, eu tentei enrolar o máximo possível, mas mesmo assim fiquei pronta antes do horário. Eu e minha ansiedade não conseguimos e esperar e eu acabei indo pra casa dela mesmo assim.

– Só isso? Ela ficou brava?

– Não. - me apoie na pia - quando eu bati na porta foi Miguel que me atendeu. Ele estava lá sem camisa sorrindo pra mim. Eu me senti uma idiota Amanda. - engoli o choro que ameaçou aparecer.

– Nossa amiga. - ela foi até mim e me abraçou.

– Que droga! Eu estou gostando tanto dela, e eu juro que eu achei que, sei la, no fundo ela também sentia alguma coisa por mim. Burra! Ela gosta dele, é ele que ela quer. - Amanda tentou me acalmar - ele me disse coisas horríveis. Mas quer saber, ele esta certo...

– Caramba Gi, por essa eu não esperava... Eles voltaram?

– Não sei e também nem quero saber. Eu vou esquecer essa menina que é o melhor que eu faço.

– E ela não tentou te explicar nada?

– Ela até foi na minha casa, me ligou, mandou mensagens mas eu ignorei todas essas tentativas.

–Acho que você deveria ouvi-la, serio, deixa ela se explicar.

– Talvez, mas por agora acho melhor não...

Amanda concordou. Saímos do banheiro em direção a sala de braços dados. Bruna vez ou outra tentou falar comigo mas eu continuei a ignora-la. Desse jeito a aula foi passando lentamente.

Fui pra casa mas acabei não nadando como meu pai sugeriu. Eu estava com medo de que Bruna aparecesse de surpresa me obrigando a falar com ela. Acabei comendo rápido para sumir logo de casa. Peguei meu skate e andei por mais de duas horas por São Paulo.

Cheguei muito cansada então só tomei banho e comi antes de voltar a dormir.


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