O loiro dos cabelos de Maddison contrastavam fortemente com o vermelho escarlate que manchava o rosto e a camiseta branca e puída da garota.

Os passos eram lentos, pareciam sem vontade real de chegar a algum lugar.

Os olhos acompanhavam a estrada que se estendia a sua frente.

E ela apenas continuava com sua missão.

Sem nada.

Sem ninguém.

Daryl, Carl e Glenn esforçavam-se para acompanhar os passos rápidos que Maggie dava dentro da floresta.

Logo atrás vinham Abraham e Joe.

A mulher guiava-os até onde ela havia visto uma placa que mandava-os seguir os trilhos até encontrarem um lugar chamado Terminus.

Um lugar seguro.

Quando conseguiram atravessar a floresta sem muitas interrupções de zumbis, eles avistaram a alguns metros de onde estavam, a tal placa.

Daryl tomou a frente do grupo, caminhando ainda mais rápido que Maggie até o local.

“Santuário para todos. Comunidade para todos.

Aqueles que chegam, sobrevivem.”

Abraham e Glenn leram a placa por cima dos ombros do caipira, estudando cuidadosamente as palavras.

Aquilo era o que eles precisavam, mas havia algo errado. Daryl sentia isso.

Mas naquele momento ele deixou de lado aquela sensação, arrastando-a para o fundo de sua mente.

Talvez o Terminus fosse um recomeço.

– O que você acha? – Glenn indagou para Daryl. O coreano mantinha a voz baixa e uma de suas mãos apertava firmemente a cintura de Maggie, mantendo-a junto de si. – Devemos ir para o Terminus?

Daryl não respondeu, apenas continuou a andar.

Ele estava confuso, precisava da opinião de todos do seu grupo.

Daryl precisava de uma reunião do Conselho.

Mas agora era impossível.

Sem Rick.

Sem Hershel.

Sem Tyreese.

Sem Sasha.

Ele pode sentir um nó na garganta se formando. Pensar realmente naquelas pessoas o deixava quase doente.

Ele sentia saudades.

Principalmente de Rick e Hershel.

Rick era o irmão que Daryl nunca teve.

Hershel era o pai que ele sempre quis.

O aperto no peito do caipira só foi aliviado quando seus olhos encontraram os de Carol.

– "Aqueles que chegam, sobrevivem." – Carol repetiu as palavras que acabará de ouvir de Daryl.

Aquela parecia ser a oportunidade que todos precisavam.

– Nós não temos mais o que procurar, Daryl. – Maggie olhou para o caipira desoladamente. – Precisamos seguir em frente sem essa esperança doentia. Não vamos mais encontrar ninguém.

– Como você sabe? – Daryl estava na defensiva, pensar que não iriam encontrar mais ninguém de sua família o deixava assim. – Nós nos encontramos, porque não encontraríamos os outros?

– Foi pura sorte. – Foi Carl quem respondeu ao caipira. – Apenas isso.

O garoto olhava fixamente para Judith em seu colo. A criança se remexia inquieta.

Depois de saber da morte de Beth, Carl havia ficado triste, claro, mas ele também havia perdido a esperança de reencontrar os outros.

Principalmente Rick.

– Não vejo porque não irmos! – Dan concordou com Tony. – Deveríamos sair amanhã bem cedo. Temos o que? 40KM até o Terminus? Então, quando mais rápido irmos, mais cedo vamos poder descansar.

– Não é assim que as coisas funcionam agora, Dan. – Abraham encarou o homem. – Sequer sabemos se esse lugar ainda existe.

– Mas precisamos tentar. – Rosita que se manteve quieta até certa altura da conversa resolveu falar. – Abraham, não podemos continuar pelas estradas. Precisamos de um lugar seguro.

– No que você está pensando, Daryl? – A voz baixa e calma de Carol fez o caipira virar-se em direção ao som.

– Em nada demais. – Ele deu de ombros, os pensamentos longe demais para formar alguma resposta mais elaborada.

– É sobre o Terminus, não? – Carol o conhecia bem, ele nunca a enganaria.

– É. – Mais uma resposta evasiva.

Carol deu mais alguns passos até estar frente a frente com Daryl; as mãos enroscaram-se com as deles e os olhares se encontraram.

– Eu acho que nós devemos ir! – Ela falou com tanta certeza que naquele momento Daryl se convenceu que aquilo era o certo.

Maddison respirava apenas o suficiente para continuar viva, o ar chegava superficialmente aos pulmões.

Os últimos zumbis mortos por ela haviam dado mais trabalho que o normal. Além do mais, ela estava fraca.

As têmporas doíam, os pés cheios de bolhas a estavam matando.

Ela estava caminhando desde que conseguirá fugir do Terminus.

E ela ainda teria que voltar.

Voltar para buscar as pessoas que a ajudaram a fugir.

– Então nós vamos mesmo? – Carl perguntou enquanto entregava Judith para Maggie.

A mulher agora estava mais calma. As roupas haviam sido trocadas, o rosto estava limpo e os olhos não estavam mais daquele jeito assustador de antes. Só tinham um pouco daquela tristeza, só que isso nunca iria embora.

– Vamos sim! – Maggie informou-o. – Carl, me passe a mamadeira de Judith, por favor.

O garoto apressou-se para atender o pedido de Maggie.

– Você realmente acha que não vamos mais encontrar ninguém? – As palavras saíram relutantes.

Carl tinha medo da resposta.

Por mais que demonstrasse não ter mais esperanças, ele tinha. E a resposta de Maggie poderia ser o que o faria mudar de ideia.

A mulher desviou o olhar de Judith e sustentou o intenso olhar de Carl.

– Eu acho que não.

– Já nos decidimos, nós vamos para o Terminus. – Daryl olhou firmemente para Abraham enquanto falava. – Já quanto a vocês, eu não sei.

– Nós também vamos. – Abraham declarou. – Mas ainda temos a questão do veiculo.

Os dois homens viraram-se quase que instantaneamente para a mesma direção. O ônibus amarelo reluzia ao sol da tarde.

– Podem pegar emprestado, apenas por enquanto. – Daryl murmurou.

Abraham assentiu rapidamente.

– Quando nós vamos? – Abraham perguntou olhando para o céu.

– Em pouco tempo não haverá mais sol, seria bom partirmos amanhã. O mais cedo que pudermos.

– Eu estou apostando todas as minhas fichas nesse tal de Terminus. – Os olhos do homem focaram o caipira a sua frente. – E você?

– É a única coisa na qual me resta acreditar.

Os passos de Maddison eram agora ainda mais arrastados.

A noite chegará e ela estava mais do que exausta.

Já estava pensando em parar, jogar-se em algum lugar na floresta e dormir o quanto precisasse.

Mas ela não podia.

Continuou a vagar, quase como um zumbi.

A respiração ofegante, os olhos semicerrados. Ela iria continuar.

Quando acabou de virar a curva sinuosa que a estrada possuía, pode avistar a vários metros algo grande. No começo ela não identificou o que era, mas poucos metros depois pode perceber que se tratava de um ônibus.

Por algum motivo, os passos da garota tornaram-se mais rápidos.

A respiração agora era entrecortada, o coração pulava freneticamente em seu peito.

Quando estava a apenas alguns metros do grande veiculo, um par de olhos encontrou os seus.

O homem mantinha uma arma apontada na direção da cabeça de Maddison.

A garota quis avisar que não era um zumbi, sequer uma ameaça.

Mas não foi preciso.

– Ela está viva. – Havia surpresa na voz do homem.

– Viva, Daryl? – Uma mulher juntou-se ao homem recém-intitulado Daryl. – Tem certeza?

– Tenho. – Mas por razões desconhecidas para Maddison, ele não baixou a arma.

Antes que a garota pudesse falar algo, suas pernas fraquejaram, fazendo-a cair de joelhos no chão.

A nova dor tomou conta de seu corpo por alguns instantes. Ela mantinha o olhar fixo no chão agora.

– Você está bem? – Novamente a voz da mulher soou nos ouvidos de Maddison.

– Eu preciso – A voz dela saiu rouca, a garganta arranhando ao mínimo movimento – voltar ao Terminus.

Ela pode ver os olhos dos dois arregalados quando levantou o olhar.

– Terminus? – Daryl questionou. – Você estava lá?

– Sim. – Maddison esforçou-se para responder. – Eu preciso voltar. Preciso ajudar eles.

– Eles quem, garota? – O homem parecia estar perdendo a paciência.

– Rick, Michonne, Tyreese, Sasha e Bob. - Falou sofregamente, os nomes saindo com dificuldade por entre seus lábios rachados.

Os olhos de Maddison se fecharam. E a última coisa que ela sentiu foi seu rosto bater contra o asfalto.