Teenage Runaway escrita por Bridget Black


Capítulo 2
If I Go


Notas iniciais do capítulo

Hi guys, outro capítulo reescrito, fresquinho para vocês. Comentem!

Enjoy it!

XOXO

— B.B.



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"Nem todo mundo tem uma história triste, e mesmo que tivesse, isso não é desculpa." — As Vantagens de Ser Invisível

Lexi,

Não consegui acreditar na sua carta. No começo, achei que estivesse brincando e estava prestes a ir em sua casa, para fazer-lhe uma visitinha agradável e te matar. Porém, quando caiu a ficha de que era tudo verdade, eu não sabia o que fazer. E ainda não sei.

Você vai se mudar. Cinco anos que somos amigas, e você vai se mudar. Não acredito que vamos ter que nos separar por causa disso. Que merda seu pai tinha na cabeça? Ele não podia ter encontrado um emprego aqui mesmo não? Eu ainda não me conformei!

E quanto a Cashmere... Bem, você sabe muito bem que eu não gosto daquela loura aguada, porém ela é sua irmã. Acho que, por você, talvez ela vá. Tenta conversar com ela, ou algo do tipo. Ela é sua irmã, não iria te abandonar.

Ruiva, você pode ter certeza de que, não importa se você vai estar em Londres ou na merda — isso soou estranho, mas você entendeu — eu nunca vou me afastar de você. Você é minha melhor amiga, droga, e a gente vai dar um jeito nisso. Isso está soando incrivelmente lésbico, mas cara, nada vai afastar a gente. Eu estou pensando em algumas coisas (por favor, não me pergunte o que), e se der tudo certo, logo você vai saber.

Relaxa, a diva aqui sabe o que faz.

Baisers,

Kayla (Gostosa) Jackson”

Suspirei fundo e sorri. Logo depois da chocante notícia em que eu havia recebido, sobre a mudança, mandei quase imediatamente mandei uma carta a Kayla, minha melhor amiga. Não demorou muito para Elsa — uma coruja da neve, que pertencia a mesma — trazer a resposta. Só minha melhor amiga poderia me dizer que iria dar um jeito, sendo que era impossível.

Conhecia papai bem o suficiente para saber que ele não mudaria de ideia sobre a mudança, e conhecia ainda mais Cashmere para saber que ela dificilmente concordaria em ir para Londres.

Eu precisava fazer alguma coisa, ou pelo menos tentar, como Kayla havia dito. Não podia partir sem minha irmã. A grande verdade era que, por mais que passássemos a maior parte do tempo brigando uma com a outra, eu a amava. Ele era minha única irmã, e por mais fresca, irritante, inútil e arrogante que ela fosse às vezes, eu não conseguiria simplesmente deixa-la para trás.

Levantei da minha cama, deixando Donna na mesma, e me dirigi até a saída do quarto, decidida a mudar essa situação. O quarto da loira ficava bem à frente do meu, o que tornava bem mais simples o meu trajeto. Toquei na maçaneta, formulando todo um script do que dizer à ela, e formando mentalmente vários argumentos para uma futura e provável discursão.

Abri lentamente a porta, e ao contrário do que imaginei, não vi a loira em nenhum lugar. Olhei em volta, melancolicamente, me recordando de todas as vezes em que quanto mais nova, costumava entrar ali correndo e chorando em direção à ela, depois de acordar dos meus roteiros pesadelos — sempre os mesmos pesadelos, geralmente relacionados à minha mãe.

Então eu corria em sua direção, e ela me abraçava e me acalmava, dizendo que estaria sempre ali para mim. E ela sempre esteve.

O quarto não havia mudado muito desde a última vez em que estive lá — que devia ser a uns dois anos atrás. Um lugar miniciosamente decorado, no estilo mais clássico e delicado possível. As paredes todas claros, uma cama de ferro branco, cortinas azuis, um tapete de mesma cor no chão perto da cama. Uma escrivaninha grudada em uma parede, e em cima da mesma vários objetos decorativos delicados. A parede em que ela se encostava era repleta de fotos, do começo ao fim.

Observei atentamente cada uma das fotos — algumas bruxas e outras trouxas. Eu estava em várias, e uma me chamou a atenção: Era eu, na faixa de uns sete anos, num balanço, tendo Cashmere e mamãe em outros dois ao meu lado. Ambas balançando felizes, gargalhando, os loiros cabelos da jovem mulher voando de acordo com o ritmo. Sorri, recordando-me da jovem mulher que, em vida, era a pessoa mais alegre que conheci.

Pisca-piscas, como aqueles de Natal, pendiam nesta parede, dando um ar mais retrô ao ambiente. Um lustre azul no teto, e na parede da cama, vários quadros, incluindo um da torre Eiffel e outro dos The Beatles, banda que minha irmã dizia-se fã.

Voltei ao foco, e logo olhei em direção à janela, que como previ, estava aberta. Os mesmo hábitos de antes, supus. Fui em direção da mesma, puxando um puffe verde que estava ao lado para conseguir subir.

Pisei delicadamente sobre as telhas, tendo uma visão privilegiada de nosso quintal. Um pouco mais abaixo, uma figura loira estava sentada, abraçando as próprias pernas devido ao frio. Sabia de cor e salteado andar pelo telhado, já que era uma mania antiga de Cashmere.

— Havia me esquecido de como a vista daqui de cima era incrível. — murmurei, me aproximando calmamente dela.

— É, é bem legal. — concordou, num tom de voz mais baixa, ainda sem olhar em minha direção. Me sentei ao seu lado, tomando uma pequena distância da mesma. Cash usava um moletom vermelho escuro comprido, nos pés uma pantufa de cano alto cinza. Os cabelos loiros, presos num coque mal feito, deixando-o um pouco desgrenhado. Um estilo único, por assim dizer.

— Então... Vai trabalhar mesmo na loja da família da Hazel? — questionei, numa tentativa de puxar de assunto. Ela continuava com a mesma expressão de antes, olhando atentamente para algum lugar.

— Eu e você sabemos que você não veio até aqui para saber isso. — comentou, agora brincando com um anel. Suspirei. Ela sabia por quê a procurei.

— Você vai mesmo ficar? — Fui direto ao ponto, sabendo que enrolar não ia adiantar em nada. Ela suspirou, sacudindo a cabeça em concordância.

— Sabe que sim, e também sabe que está perdendo o seu tempo agora. — Falou, abraçando ainda mais forte os joelhos.

— Cashmere... — arrisquei, já com medo da resposta — Eu sei que é difícil pra você mas...

— Não. — interrompeu, virando-se bruscamente para mim, finalmente me olhando — Você não sabe. Você não sabe de nada, Lexi. Você não sabe como é difícil se readaptar a um lugar, não sabe como é complicado ignorar todas as pessoas te olhando estranho porque você é diferente delas, não sabe como é ser bombeada de perguntas sobre como certas coisas aconteceram na sua vida. Coisas que você gostaria, todos os dias, de poder esquecer mas não pode, porque até olhar para si mesma no espelho te faz lembrar. Você não sabe como é tudo isso, Lexi, nem nunca vai saber.

— Cash, eu sei que nunca vou conseguir entender certas coisas em você, mas por favor... — sussurrei melancolicamente.

— Você não tem o direito de me pedir isso. — ela retrucou, num fio de voz.

— Tenho sim, porque eu sou sua irmã! — lembrei-lhe, a vendo desviar o olhar e fixar o mesmo em algum ponto mais a frente.

— Está sendo egoísta. — murmurou, pondo uma mecha dos cabelos muitos loiros atrás da orelha.

— O mundo é egoísta, e uma prova disso foi quando ele nos tirou nossa mãe.

— Não fale dela. — vociferou, os olhos cor-de-mel agora fixos em mim.

— Eu falo sim. Você sabe que não foi, ou melhor, é a única a sofrer com isso. Eu sei que pra você foi pior, Cashmere, mas você não pode se prender ao passado. Pare de castigar a si mesma, e siga em frente. — aconselhei, vendo que o que eu estava fazendo era cruel. Torturando-a com lembranças deste tipo. Eu me odiava por isso, mas sabia que era necessário.

— Eu não consigo, ‘tá legal? — desabou, e agora eu via uma lágrima ameaçando cair. — Eu não consigo simplesmente ignorar tudo isso, eu não consigo simplesmente ir embora como se nada tivesse acontecido. Faz quase sete anos, eu sei disso, droga, mas me desculpa se não sou forte como você e não consigo simplesmente mascarar toda a dor que eu ando sentindo durante todos esses anos, como você, e viver feliz para sempre, fingindo que ‘tá tudo legal. Mas quer saber a verdade? Nada ‘tá legal comigo.

Respirei fundo. Agora ela já estava chorando, e não havia nada que eu poderia fazer. Droga, Alexia, como você é idiota!

— Cashmere... Por favor. — supliquei, uma última vez.

— Lexi, não faz isso comigo. Por que você não me deixa aqui, droga? — perguntou, parecendo já cansada de toda essa conversa.

— Porque você é minha irmã. Eu nunca vou deixar você, não importa se você não é mais bruxa ou se você não se parece em absolutamente nada comigo, ou se você me xinga o dia inteiro só pra ter o prazer de iniciar uma briga. Nada disso importa quando eu sei que você é a pessoa mais importante da minha vida, e eu sei que você estaria fazendo a mesma coisa por mim, se fosse ao contrário. — confessei.

O efeito foi quase imediato. Ela olhou para mim, e um pequeno sorriso foi nascendo. Enxugou as lágrimas com as costas da mão, e olhou diretamente para mim.

— Eu odeio você, sabia? — disse, com a voz embargada e os olhos inchados. Sorri quase imediatamente. Olha, parece que a velha Cashmere estava de volta.

— Isso é um sim? — perguntei, vendo-a brincar com uma mexa de cabelo.

— Isso é um talvez. — confessou, já se levantando. — Vamos pra dentro, ‘tá frio aqui fora. — Murmurou, e eu aceitei seu convite, me levantando com todo cuidado, já que o lugar em que estávamos era bem perigoso. — Lembra quando você caiu daqui de cima? — caçoou. Rolei os olhos, e sorri.

— Oh, mas é claro que eu me lembro. Quatro anos atrás, e você começou a chorar que nem um bebê sem saber o que fazer, lembra? — zombei, vendo-a fechar a cara. Eu rii, sabendo que aquilo a irritaria. Começamos a andar em direção à janela.

— E então nossa avó veio correndo pra tentar colar seus ossos, é eu me lembro. — respondeu, já dentro do quarto. Não fiquei para trás, e pulei para lá também.

— Vantagens de ter uma curandeira em casa. — falei, vendo a loira concordar, rindo, e seguir para o closet, provavelmente indo pegar um pijama.

Um tempo depois ela retornou, já com vestida adequadamente, e se dirigiu à cama.

— Então... Acho que já vou indo. — comuniquei, me virando para ir em direção à porta. Porém, antes de tocar na maçaneta, parei bruscamente. — Cash? — chamei.

— Diga. — encorajou, e me virei, vendo a mesma já deitada.

— Posso ficar aqui hoje? Como nos velhos tempos. — pedi, com uma voz falsamente meiga. Ela revirou os olhos.

— Já que a pirralha pediu com essa cara de inocente, quem sou eu pra dizer não, certo? — brincou, e eu fui em sua direção, me deitando ao seu lado.

Depois de alguns poucos minutos, ela soltou uma risada baixa.

— Que foi? — questionei, olhando-a.

— Se lembra de quando você vinha aqui quando menor porque não conseguia dormir? — lembrou, e eu percebi que ela evitou falar dos meus pesadelos. — E a gente ficava jogando xadrez?

— Impossível esquecer. — Gargalhei em seguida — E seria impossível esquecer, já que você mesma fazia questão de me lembrar que sempre ganhava de mim.

— Você sempre foi péssima em xadrez. — afirmou, e sua mão foi em direção ao meu cabelo. Sorri com outra recordação.

— E você lembra o que você fazia pra me acalmar quando eu chegava aqui, chorando? — murmurei, aproveitando o carinho repentino. Pude senti-la sorrir.

— Claro que me lembro. Eu cantava. — recordou.

Hey Jude, especificamente.— murmurei — Você sempre foi fascinada por essa música.

Ela riu, e um silêncio agradável se instalou.

— Hey, Jude, don't make it bad. — começou a cantar, lentamente

— Take a sad song and make it better. — completei, sorrindo. Me lembrando daquela garotinha indefesa que chorava com saudades da mãe, todas as noites, e tinha irmã para fazê-la acreditar que o dia seguinte poderia ser melhor para ambas.

Remember to let her into your heart, then you can start to make it better. — continuou, mexendo delicadamente em meu cabelo.

Hey, Jude, don't be afraid, you were made to go out and get her. — prossegui, me lembrando de todas as vezes que esta mesma música me acalmou.

The minute you let her under your skin, then you begin to make it better. — Sua voz, tão suave continuava com o mesmo dom de me tranquilizar, como se tudo fosse dar certo.

And anytime you feel the pain, hey, Jude, refrain. Don't carry the world upon your shoulders. — Prossegui, e lembranças de tudo que eu já tive que aguentar sozinha, vendo meu pai se isolando de tudo e todos, minha irmã se culpando e chorando todos os dias, e eu sem poder fazer nada. — For well you know that it's a fool, who plays it cool, by making his world a little colder.

— Lexi... — chamou Cashmere, e eu olhei para a mesma. — Tudo bem você venceu. Eu vou para Londres. — Se entregou, e eu sorri de orelha a orelha.

— ‘Tá falando sério? — perguntei, e ela concordou com a cabeça.

— Ai meu Merlin, eu não acredito! — Comemorei, a abraçando forte, coisa que eu não fazia a anos. — Eu não consigo acreditar, isso é realmente sério!

— ‘Tá, tudo bem, Alexia, sai de cima de mim caramba, ‘tá me sufocando. — reclamou, a voz sufocada. Escorreguei para o lado novamente, e a vi respirar fundo, dramaticamente. — Ninguém nunca te disse que ‘tá na hora de fazer uma dietinha não? Tá pesada, hen.

— Cala a boca. — xinguei, mas estava feliz e ela sabia disso. Eu sabia que não seria nada fácil para ela daqui para frente, mas aposto que ela se encaixaria. — Será que Hazel consegue te colocar na loja de Londres?

— Provavelmente. Vou falar com ela, amanhã.

— Aposto que ela vai ir te visitar todos os dias. — murmurei, me referindo a Hazel.

— Aposto que sim. — concordou, e em seguida ergueu o braço em direção ao abajour, para apagar a luz.

— Boa noite, Cash. — sussurrei, já de olhos fechados.

— Boa noite, pirralha.

Você me botou para dormir, apagou a luz, me manteve a salvo durante a noite. Garotinhas precisam de coisas como essas. Escovou meus dentes e penteou meu cabelo, teve que me levar a todo lugar. Você esteve sempre lá quando eu olhei para trás […]E quando eu não conseguia dormir à noite com medo das coisas não darem certo, você estava lá para segurar minha mão e cantar para mim.” — Butterfly Fly Away (Miley Cyrus)


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Notas finais do capítulo

Obs: Baisers é beijos em francês;

A música Hey Jude, cantada por Cashmere e Alexia, pertence aos The Beatles. (http://letras.mus.br/the-beatles/88/traducao.html).

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