Lembra quando nos conhecemos, Charles? Você estava tão concentrado como se estivesse desarmando uma bomba. Mas não estava. Você olhava fixamente para um quadro que eu não lembro direito. Era uma exposição sobre filmes antigos. E você amava aquilo, Charles. E eu estava lá também. Você ficava encantado a cada pedaço daquele lugar que seus olhos se fixavam, como se quisesse sugar tudo aquilo para si. E eu te observava, porque você brilhava. Azul. Verde. Vermelho; Você tinha cores maravilhosas, e me impediu de cair em cima de uma peça de arte. Porque você amava aquilo tudo, e eu estava bêbada. E aquela porta parecia tão convidativa que eu entrei. Não estava sendo uma festa legal em minha mente, mas você era bonito e eu fiquei. E você cuidou de mim porque eu estava rindo muito alto, esbarrando em tudo e procurando mais bebida. Que tipo de festa não tem bebidas, Charles? Você riu quando eu te perguntei isso, porque eu cantarolava o seu nome e tinha um halito-alcoólico. E você tinha gosto de menta, café e cigarro quando eu te beijei porque você tinha cores muito legais. E você correspondeu um pouco e chamou um táxi porque “você não deve beijar garotos desconhecidos por ai” mas você tinha cores e gostos tão legais, Charles. E você me levou para casa, porque o taxista deu uma risada feia quando você ia me mandar sozinha. Já era a milésima vez só naquele dia que você cuidava de mim.

E eu dava risada a toa te fazendo rir também. Porque nós eramos um casal-não-casal estranho segundo o outro taxista. E eu bati o pé dizendo que éramos um casal lindo, mesmo você dizendo que não. E eu dizia que te amava, e você dizia que a ressaca no outro dia ia acabar comigo. Mas você me levou para casa, e não voltou. Eu adormeci nos seus braços com lágrimas silenciosas, e você dormiu comigo. Cuidando de mim. Só.

Porque nós eramos um casal estranho. De uma garota bêbada e um cara que gostava de filmes antigos.

Dominika Barllet