Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 67
A agenda do fim do mundo


Notas iniciais do capítulo

Percebi que faz exatamente um ano que comecei a postar essa fic... Nunca esperava que fosse durar tanto. Fico orgulhoso disso.

Nesse capítulo eu esculachei. Um vislumbre dessa guerra, para ver o quão Lian está certo de se sentir impotente para mudar o curso do Apocalipse.

PS: Acabei de terminar uma maratona Lord of Rings, e, como sempre, estou em choque. Nunca vou deixar de me impressionar com aquilo. Tolkien é um gênio. Eu escrevo (spoiler de minha vida pessoal) algumas histórias originais, que não planejo postar aqui. Na verdade, cada vez mais vejo que todas são parte de uma única história, uma única mitologia. Um dia planejo publicar aquilo (nas originais que puxo um pouco mais que nas fics, faço mais revisões e coisa do tipo, e realmente minha escrita MELHOROU desde que comecei a escrever Caçador). Espero conseguir fazer algo tão bom quanto Tolkien.

É, estou meio emotivo. Que seja. Só posso dizer que quase não acredito o quanto cresci em um ano, observando o enredo que criei na época. Hoje consigo fazer algo bem mais elaborado e intenso, com mais detalhes e, principalmente, com mais personagens. Posso dizer que no mínimo irei tirar o máximo possível do que comecei meses atrás.

É, eu estou REALMENTE emotivo. Será que foi algo que comi?



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Philips ama de verdade seu trabalho. Mesmo que, sendo o Secretário de Defesa dos Estados Unidos da América, seu trabalho lhe dê uma carga incrivelmente grande de estresse.

E, dessa vez, passou dos limites. Dois ataques. Dois ataques nucleares em menos de duas semanas, junto com uma declaração de guerra. Guerra mundial.

Alguém tem muitas explicações a dar.

Philips passa o olhar pelo pequeno café, um bom lugar para determinados assuntos. O Pentágono possui muitos ouvidos. Você nunca sabe quando está sendo vigiado.

Algumas mesas, janelas enormes, deixando uma ampla quantidade de luz solar entrar, cores claras e clima aconchegante. Uma xícara de café esfria lentamente à sua frente.

Um manto de terror mudo atrapalha a noção de tranquilidade. Refletido nos olhos das pessoas na rua, em seus movimentos rápidos e nervosos, no pouco movimento em estabelecimentos como aquele. Todo mundo está com medo. E todos têm razão de estar.

Um homem com roupas informais, com cerca de vinte e poucos anos, entra no café e vai até a mesa de Philips. O contraste não poderia ser mais gritante com o terno impecável de Philips.

O recém-chegado puxa uma cadeira e se senta de frente à Philips. Eles se entreolham por um momento, sem quebrar o silêncio. Parecem ser conhecidos de longa data.

Philips decide quebrar o silêncio.

— O que vocês estavam pensando? — A pergunta é neutra e fria, mas não poderia ser mais ameaçadora se viesse num sibilar raivoso. O recém-chegado se encolhe.

— Olhe, cara, a culpa não é exatamente nossa...

— Não me venha com desculpas Clark. — Philips corta. — Você é o encarregado do nosso armamento nuclear. Se algum míssil for disparado, foi você que apertou o botão. Diabos, se alguém peidou lá dentro foi culpa sua.

— Não me culpe por gases alheios. — Clark se defende. — Você não prefere outro lugar para discutir isso? Me parece meio... Exposto.

— É mais seguro que meu escritório. — Philips responde. — Aqui estou seguro que não há dezenas de escutas e câmeras escondidas.

— Fico extremamente tranqüilizado. — Clark responde sarcástico. — Que seja, a culpa não foi minha. E havia ordens de um ataque.

— Que deveria devastar metade da Palestina, e não mandar pra estratosfera metade do território do nosso principal aliado na América do Sul! — Philips replica irritado.

Clark ergue as mãos em sinal de rendição.

— Eu sei, acredite, eu sei. Estou tentando descobrir por que o alvo foi alterado sem as minhas ordens. Confie em mim, quando pegar o culpado, ele vai desejar ter estado amarrado no míssil. — Clark olha em volta discretamente, para verificar se estão sozinhos. — mas veja pelo lado bom: não foi uma perda completa. Você sabe que nossa Inteligência descobriu algumas tropas naquela região. Bases e tropas bem equipadas, numa posição estratégica para uma invasão, se condensando em Cuba.

— Foda-se. — Philips devolve. — Não vale a dor de cabeça ou o estrago. E graças a isso, bem vinda Terceira Guerra Mundial.

— Como acha que descobriram? — Clark pergunta, aproveitando o assunto. — Quero dizer, o ataque à Oceania foi bem planejado. Como descobriram nossas alianças?

— E espera que eu saiba? — Philips questiona.

A aliança com os principais países da Oceania foi firmada três anos atrás, e apenas um pequeno círculo interno sabia sobre isso. Nem mesmo o presidente estava ciente da aliança. E segredo, um verdadeiro arsenal tecnológico estava sendo desenvolvido em uma base ultra-secreta no deserto australiano. Um poderio militar suficiente para devastar um país em pouco tempo, num combate por terra. Tecnologia capaz de fazer homens enfrentar tanques de guerra de frente e sobreviver a ataques de qualquer força-área... Tudo isso devastado em questão de segundos por um ataque nuclear.

— O que você planeja fazer agora? — Clark resolve perguntar. — O que eu devo fazer agora?

Philips massageia as têmporas, cansado. Não esperava uma guerra aberta. Se o planejamento original desse certo, conseguiriam incapacitar os principais adversários antes que o mundo tomasse consciência do que estava acontecendo. Mas parece que nada funciona como é esperado. Nesse exato momento, tropas americanas auxiliadas pelo Bloco Europeu estão em combate no Oriente Médio, tentando evitar uma ofensiva oriental por aquele lado. O departamento de relações exteriores tenta conseguir auxilio dos países africanos, para evitar que a força asiática os use como base para avançar pela Europa.

Mas isso é apenas o começo. A Rússia está começando a se mover, e em breve atacará pelo norte. A Europa estará praticamente cercada. Com metade da América do Sul devastada ou em risco de contaminação, não se pode esperar auxilio vindo de lá... E nem refugio para os civis que irão fugir aos montes dos países na linha de frente. No momento, os únicos lugares que não estão ameaçados, que estão neutros na luta pelo poder, são os países africanos. Países sem nenhuma infra-estrutura para receber milhões de pessoas nos próximos dias. Algumas potências, talvez, mas nem todas.

— Siga em frente com o planejado. — Philips se decide, fitando Clark. — Ataque no Oriente Médio. Mas dessa vez, aumente a carga. Quero tudo do leste egípcio até o oeste chinês devastado. Não quero que sobre nada além de poeira ao vento.

Clark se sobressalta assustado.

— Mas... Mas temos tropas lutando naquela região. Elas...

— O contingente principal baseado na região recebeu ordens de bater em retirada, recuar e se reposicionar na Líbia.

— E os civis... Vários naqueles países não se manifestaram... Nem possuem capacidade de entrar em uma guerra!

— É um sacrifício que terá de ser feito. Um continente inteiro foi massacrado. Isso é uma guerra. Não temos tempo de ter misericórdia. — A voz de Philips é dura como aço. — Não importa o que for necessário fazer, eu irei proteger meus país. Nem que para isso precise instalar um inverno nuclear sobre o resto do mundo.

Clark engole em seco, com medo. Nunca esperou que as coisas chegassem àquele ponto, e nem em seu pior dia esperou que estivesse envolvido em uma Guerra Mundial... Ou que fosse obrigado a ordenar um massacre continental.

— Isso irá consumir grande parte de nossas reservas balísticas. — Clark avisa, com a voz sem emoção, um tanto quanto artificial. — Irei lhe passar o número exato que possuímos, junto com seu poder de fogo e destruição, para o senhor poder estimar melhor o alcance e traçar a estratégia de guerra.

Philips assente, satisfeito. Em um movimento conclusivo, se levanta. Dá um último olhar para Clark, o encarregado de gerenciar todos os assuntos que envolva armamento nuclear. Não é exatamente um cargo formal, mas essa é sua obrigação. A responsabilidade por todo o arsenal nuclear do país.

Num movimento fluído, se vira e vai embora. Precisa voltar para seu escritório, para traçar o próximo passo. A vida de milhões de pessoas depende de suas decisões. E ele não deseja tomar as decisões erradas. Uma nação está sob sua responsabilidade, entregou aos seus cuidados a defesa de sua terra e sua vida. E ele nunca irá decepcionar quem confia nele, nunca irá se mostrar indigno dessa confiança.

O próximo passo será definitivo.

Por estar imerso em seus pensamentos, não vê a sombra seguindo-o. Não percebe que está sendo guiado inconscientemente para uma rua vazia, sem testemunhas. Não percebe o homem aproximando-se dele com uma faca erguida, brilhando na luz matinal.

Não percebe o olhar de seu assassino quando sente a lâmina atravessar suas costas, partindo a coluna e entrando no coração. Um palpitar, um grunhido de dor, um esguicho de sangue. Seu corpo tomba, caindo numa possa de seu próprio sangue.

No chão, com a vida se extinguindo rapidamente, consegue um vislumbre rápido de seu agressor.

A única coisa que percebe são os olhos. Olhos profundos, sem piedade, parecendo guardar em si todas as trevas do abismo.

Olhos completamente negros como a noite.


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Notas finais do capítulo

Com isso, fecho 200 páginas no meu arquivo do Word. Times New Roman tamanho 12.



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