Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 68
Bastardo sobrenatural




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Assim que consigo sair do estado catatônico provocado pela noticia, pego o note no Dodge e tento acessar a Internet. A conexão está surpreendemente boa para o fim do mundo.

— A coisa é pior que parece. — Comento em voz alta, sem me dirigir a ninguém em específico, mas sei que todos estão prestando atenção. — Algo daquela escala... Um continente inteiro arrasado. Parece que criou alguns maremotos. A Nova Zelândia está sendo evacuada, parece que já foi atingida por cinco ondas gigantes, que devastaram toda a região costeira e já atingiram metade do país. Mas a Indonésia está pior. Além dos tsunamis, risco de contaminação pela radiação.

— Resumindo... Ruim. — Jenne opina.

— Resumindo... Apocalipse. — Respondo.

— O que vamos fazer agora? — Megan pergunta, a voz tremula.

Passo a mão pelo cabelo, tentando pensar em alguma coisa.

— Não sei. Não sei se podemos fazer alguma coisa. — Faço o maior esforço possível para anular o desespero na voz, mas não sei se me saí muito bem. — Isso é mais do que pegar uma espingarda carregada com sal e atirar nuns fantasmas ou resmungar em latim para exorcizar alguém. — Olho para Robert, que parece estar tentando se afogar em cerveja. — Você não poderia fazer alguma coisa?

— O que espera que eu faça? — Ele pergunta, revistando os bolsos, procurando alguma coisa.

Dou os ombros.

— Você era parte do meu plano B. Sabe, seu meio-irmão mudou a forma de pensar de um povo e iniciou a queda de um Império. Não poderia fazer algum truque de Cristo e parar com a guerra?

Robert me olha cético.

— O que quer que eu faça? Ressuscite o Bin Laden?

— Não, isso só iria causar mais problemas. Ele iria querer participar da guerra. — Respondo, antes de perceber o sarcasmo na voz de Robert. Ok, eu não estou detectando uma piada. Definitivamente há algo errado. Preciso dormir algumas horas.

— Não poderíamos, sei lá, pedir ajuda para alguém? — Joe pergunta, hesitante.

— Quem? Toda criatura poderosa o bastante para conseguir parar a guerra quer a guerra. — Solto um suspiro longo. — Por que não poderia ser o Croatoan? Eu preferiria uma infecção de um vírus. Mesmo que fosse um zumbi.

— Por falar em Croatoan... O que houve com Sam e Dean? — Jenne pergunta.

Balanço a cabeça.

— Não faço ideia. Perdemos o contato com eles. Mas suponho que sobreviveram, já que nós também. — Faço uma pausa e franzo o cenho, me lembrando de uma coisa. — Por falar nisso, o que atacou vocês?

— Uns daevas. Exorcizamos o demônio, mas ele tinha um presentinho. — Jenne responde. — E vocês?

Conto a história sobre Lúcifer, editando algumas partes. Megan parece entediada enquanto conto. Robert parece finalmente achar o que estava procurando. Um cigarro, muito mal enrolado, por sinal, e se não me engano, o cheiro é maconha. Decido não criticar. Fim dos tempos, certo?

Jenne assovia baixinho quando termino.

— É, peixe grande.

— Que seja. O que fazemos agora? — Posso ver por suas expressões que não esperavam que eu fizesse essa pergunta.

— Há um jeito. — Chuck comenta. Ele esteve tão silencioso que quase me esqueci que estava num canto do trailer. — Para parar tudo isso. Mas vai ser complicado. Quase suicídio.

— Estou aberto a ideias. — Respondo na hora. — Desembucha.

Ele parece desconfortável com todos nós o fitando.

— Há uma lenda no Inferno... Não posso dizer se é verdade, mas... Se for, pode ser a única solução.

— Desembucha. — Eu repito. — Antes que eu pegue a água benta.

Chuck me lança um olhar cético.

— Alguns séculos atrás... Aconteceu algo. Algo inesperado, surpreendente, todos consideravam impossível... Na verdade ninguém nunca tinha pensado nisso. Uma nova ideia. — Ele faz uma pausa. O bastardo desgraçado está fazendo mistério de propósito. — Resumindo tudo, um anjo engravidou um demônio.

Ficamos olhando para Chuck em silêncio por cinco segundos inteiros. Então eu caio na gargalhada, e Megan me segue. Os outros olham para nós, sem entender.

— Uma nova ideia, algo inesperado? Por favor, é o maior clichê de todos! — Eu reclamo. — Um anjo, um súcubos, eles trepam, bingo! Um bichinho novo na parada. Mais forte que Deus e todo aquele papo dramático.

— Essa é a lenda. — Chuck admite, pouco à vontade. — Se for verdade, ele pode ser poderoso o bastante para reescrever a história, apagar tudo que aconteceu.

— Me diga uma coisa — eu o interrompo. — Onde a lenda diz que ele está?

— Hã, bom, é... Preso no Inferno, no ponto mais profundo, mais fundo que a jaula de Lúcifer.

Megan e eu nos entreolhamos. Por que não estou surpreso com isso?

— Ok, eu quero um mapa e a localização da principal entrada.

— Principal entrada do que? — Jenne pergunta confusa. Então a ficha cai. — Ah, não, nem pensar. Você não vai fazer isso, seu maluco.

Megan apenas me observa, conformada, talvez um pouco triste. Ela já sabia que eu iria fazer isso. E sabe que não adianta discutir. Eu vou fazer o que eu quero, como sempre.

— Tem alguma ideia melhor? — Pergunto para Jenne.

— Sim, centenas, todas elas não envolvem pular de cabeça no Inferno.

Massageio a ponte do nariz.

— Olhe, eu estou com tanta vontade de fazer isso quanto você, mas alguém tem que fazer. Dentro de umas duas semanas nossos queridos compatriotas humanos vão transformar a Terra num deserto envolvido por um inverno nuclear, e se alguém sobreviver, ainda teremos os exércitos do Céu e do Inferno, sem falar de todo o pessoalzinho do Purgatório, prontos para uma guerra. Fim do mundo, vamos todos morrer igual, é a hora das ideias suicidas.

— O que garante que ele vai te escutar? — Robert pergunta. — O cara pode muito bem gostar da ideia de um Apocalipse.

— Vamos ter que pagar pra ver. Primeiro preciso chegar até ele, depois penso em como convencê-lo. — Olho para eles, cansado. — Vamos ser realista. Eu posso muito bem morrer. Tenho quase certeza que não vou sobreviver, mas... Precisamos fazer isso.

Megan olha para mim, em silêncio. Posso ver em seus olhos que está pensando o mesmo que eu, uma esperança tênue de que tenhamos interpretado os sinais corretamente. Agora nada é certo, é tudo uma questão de continuar blefando e apostar alto. Temos uma chance em um milhão, mas talvez dê certo.

Sabe, é estranho estar discutindo nossos planos para deter o Apocalipse dentro de um trailer fedendo a maconha e bebida, com um demônio nos aconselhando à que medida tomar e Cristo sendo o curandeiro particular.

E eu achando que já tinha visto de tudo...

Jenne abre a boca para discutir, provavelmente ainda tentando me convencer a não fazer isso, mas Joe estende a mão e segura o braço dela. Ele balança a cabeça uma vez, olhando para o chão. Uma série de emoções passa por seu rosto. Primeiro raiva, depois tristeza, e por fim conformismo.

— Que seja, então. Vê se sobrevive, ok?

— Vou fazer meu melhor. — Respondo, com um sorriso confiante. — Que tal começar os preparativos? Não temos muito tempo.


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