Falcão Dú Mon escrita por Gjoo


Capítulo 7
Capítulo 7 Constantine




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— Que besteira! — falou Elisa, pareceu que tudo aquilo foi inventado — Isso só pode ser uma piada. Aposto que é do Jazer.

— Acreditando ou não, você é a Falcão Dú Mon — disse o falcão com a mesma expressão observadora, sem mover o bico.

— Isso não pode ser verdade...

— Então diga, você não esteve diferente estes últimos dias?

Aquela pergunta surpreendeu ela, "como ele sabe?".

— Eu sei disso — continuou ele como se tivesse lido sua mente — por causa da sua marca. Ela não aparece em qualquer um sem algum sintoma, como dor ou força. Sinto cheiro do queimado da sua cama, ela deve ter se incendiado, não?

— S-sim...não... eh... mas... como você? — perguntou Elisa assustada.

— Como eu sei? Pois todos como você sentiram isso. O fogo foi só o começo. Depois você sentirá frio, ou calor, ficará forte e quando menos perceber já terá congelado coisas ou queimado elas. Será veloz e ágil, terá visões como um falcão, e poderá ver até o mais longínquo ponto fora da Terra. Será capaz de voar, derreter, destruir e salvar. Você será a nova esperança do universo e, se possível, a última quando derrotar o maior mal que já existiu. — falou o falcão.

Perplexa, ela se levantou, olhou de relance para a cama com fuligem e destroços da lateral de madeira. Se lembrou da ida até a enfermaria e dos sintomas que sentiu. Se lembrou do sonho. "Elisa, a Falcão Dú Mon" dizia alguém, e complementou esse pensamento com o que o falcão dissera.

— Eu — começou ela, depois de um momento longo de silêncio — não... não posso ser.

— E por que não? — falou o falcão inclinando a cabeça.

— Porque... porque... porque não, oras — disse ela — isso tudo... não pertence a mim... minha família e... — se lembrou da família malévola que tinha e que podiam tê-la escutado no andar abaixo.

— Continue — incentivou o falcão.

— Eu não posso ser, minha família toda é... — tentou pensar em alguma palavra que pudesse descrever tudo que sentia por isso — do mal, de verdade... Eu sou... também, eu acho.

— Bem... É uma pena, tinha te escolhido porque seu coração ainda era bom, mas não vou tardar por hoje, pense bem e te encontrarei num lugar em que possa estar sozinha. Até mais — disse ele, voando para fora na janela num jato de fogo tão rápido que pareceu um raio saindo do seu quarto. Elisa ficou boquiaberta com aquilo e não soube o que pensar, a não ser:

— Crilda.

...

O dia estava radiantemente feliz, acreditava Gustavo. Era um dia muito feliz para sua família. Aquele dia não poderia ser estragado por nada. Aliás, estava no poder agora.

— Querida! Sabe o quanto te amo? — disse quando chegou em casa estupefato de cansado, mas era uma canseira feliz.

Seus filhos vieram. Júnior, Kellen, Kelvin, Marcos, Tairone e Enya. O pai estava muito feliz de vê-los, estava feliz de tudo.

— Pai, o senhor está bem? — perguntou o mais velho, Kelvin que entreolhou com Júnior e Kellen.

— Claro! E por que não estaria? — disse segurando a Enya pelos lados e girando-a no ar. Depois deixou-a no chão, pois seu braço feliz doía de modo feliz.

— Querido! Seu braço! — apontou horrorizada para o ponto em que seu terno preto tinha rasgado, deixando amostra sua pele sangrenta com um pano improvisado. Era feliz.

— Ah, isso? Não é nada! O importante é o que vai se suceder a partir de hoje.

— O que aconteceu? — perguntou Kellen e Kelvin ao mesmo tempo.

— Bem, pegue o vinho querida que hoje vamos comemorar! E vocês também crianças — falava crianças de propósito, mesmo que elas já estejam adultas e Enya adolescente.

— O quê? Não posso tomar isso! — disse ela.

— Hoje pode! Hoje pode tudo!

Sua esposa pegara o vinho hesitante, mas quando voltou estava mais perturbada do que antes de ele chegar.

— Hoje é um grande dia! — disse Gustavo quando serviu o vinho no seu copo e colocando nos dos outros alegremente.

— Conta logo! — falou Enya.

— É! — falaram os outros.

— Hoje — continuou Gustavo — é um dia para celebrar, pois os Constantines não irão mais servir — ergueu seu copo — William morreu!

— O quê? — disseram os outros absortos.

— Como? — perguntou a esposa.

— Explicarei depois. Esperem, esperem. Enquanto isso comemorem! — ergueu mais alto seu copo — e vamos brindar ao novo Chefe, o novo comandante, o novo presidente e rei. Eu!

Todos brindaram ainda duvidosos.

— Tá... Agora explica! — falou Kellen.

— Está bem. Já que é o único jeito de ficarem felizes também — deu uma risada leve e prosseguiu — Hoje de manhã fui no intuito de acertar as contas com ele. Levei Jared e Hoff comigo, caso aconteça algo inesperado, e realmente aconteceu. Félix estava bêbado e mal humorado. Ele levou uma arma na mão e seus homens, aí ele chegou no escritório do William antes de mim. Quando cheguei, havia uma discussão. Não tinha tiroteio nem nada disso, ainda. Mas aí o chef... quero dizer, ex-chefe, foi me atender não dando ouvidos ao Félix, e então ele ficou com raiva, e muita, se atirou encima de um dos homens dele e o expulsaram da sala, não sei se o executaram quando saiu, mas não ouvi tiros. Mas esse não é o que quero falar, bem... — tomou um gole de vinho — parecia que ele soube que o cargo dele estava indo para o lixo, e tentou resolver com o William, mas aí ele me promoveu como seu sucessor, e isso deixou um dos Falcões perplexo — começou a rir — vocês tinha que ver a cara dele, aí ele saiu, e aí, o ex-chefe assinou o contrato que me garantia o lugar do Ernest, pois ele morreu ontem. Não sei como, mas mesmo assim o William me garantiu seu lugar, por ser o mais confiável. Ele sabia o que eu ia fazer lá e se não fosse o bêbado do Félix, eu teria acreditado. E naquele mesmo instante veio o Roger Toman, não consigo falar o nome dele sem dizer o sobrenome, enfim, ele veio com uns rapazes para acertar com o ex-chefe e começou o tiroteio antes mesmo de uma conversa. Fui acertado no braço como vocês viram e na perna também — ergueu a perna para mostrá-los a ferida perfurada num risco vermelho — e um dos homens dele acertou William em cheio e Jared matou seus seguranças. Roger Toman ficou satisfeito com isso, depois que tudo se tranquilizou. E com a morte dele eu sou agora, pelo contrato daquela hora, o chefe.

Todos ficaram perplexos, mas felizes como o pai. Os Constantines agora não só fazem parte do comando, como mandarão em tudo. A notícia foi recebida por aplausos e sua esposa o abraçou e beijou-o tão forte que foi como a primeira vez, mas com vinho.

— Então, somos donos do quê, exatamente?

— Bem, se os Toman vão me ajudar como me ajudaram hoje, teremos o mercado de alimentos do Sul da Califórnia até Denver. Posso fazer um tratado com Marty para renunciarem a autonomia da fazenda lá do Kansas. Aquilo nem era deles, para começo de conversa. E os Johnsons têm uma ligação com as empresas que nunca vi antes. Ainda tem muita coisa para ver, mas antes vou ter que colocá-los sob segurança para que não ocorra novamente um assassinato.

Aquilo pareceu espantar sua família.

— Calma! Os Falcões não vão mais sair de seus ninhos — e sorriu.

...

— Isso é um absurdo! — falou Michael quando viu o jornal que falava do assassinato de William. Disseram que foi um golpe de uma empresa insatisfeita, que agora será processada quando encontrada. "Reembolsada, isso sim" pensou Michael.

— Mas... Os Constantines... Não pode ser... por que eles? — disse Ella, quase não acreditando no que via.

— O tabaco é claro! — gritou Michael de tanta raiva — Eles contrabandearam do Renoir, tudo vinha dele, nada foi fabricado, tudo emprestado, TUDO ROUBADO!

Hugo não estava ligando para os pais, Michael notara, mesmo em sua raiva. Parecia que tinha algo em mente, e confirmou isso quando ele disse, movimentando a caneca de café:

— Não tem com o que se preocupar. Eles não vão aguentar por muito tempo. É óbvio que ninguém os viu como inimigos e muito menos como traidores. Mas eles foram espertos em vender tabaco numa época em que todo mundo fumava e ainda rendem até hoje. Agora terão de cuidar dos outros tipos de produtos e só irão estabilizar as vendas quando alguém se intervir para ajudá-los. Infelizmente só os Falcões têm uma raiva eterna por eles — e era verdade, os Falcões e os Constantines lutaram pela supremacia desde os primórdios da aparição das duas famílias na América e a rivalidade continuou — mas felizmente os Falcões são perigosos.

— Do que você está falando? — perguntou Michael.

— Edgar e eu previmos que algo aconteceria com William, pois não estava satisfazendo muita coisa. E seu "kit de química" estava acabando, já que assassinou os Martins até a última descendência quando se encontraram em Nova Jersey. Aquilo foi um desastre e foi uma oportunidade para mim e Edgar planejarmos uma vingança aos Constantines e à William. A polícia ainda vai estar bem longe quando o fizermos e só precisaremos do momento oportuno.

Michael sorriu de orgulho do filho e Ella o abraçou, quase fazendo a caneca do café cair. Nunca sentiu tanto orgulho antes, e agora queria ajudar no plano que fará cair os Constantines, faria a qualquer custo. Já Henry não ia parecer muito feliz com isso. Se lembrou do filho que tanto lhe trouxera vergonha. Desde pequeno querendo fazer o bem. Às vezes estragava até seus planos, pois não eram boas ações, como nas palavras que lhe dissera uma vez, "más ações só irá trazer más consequências", dizia o filho. Mas agora não era aquele momento vergonhoso, agora era o momento da vingança.

— Filho, me conta todo o plano — e os dois sorriram de malícia.

...

Quando chegou a noite, Elisa subiu para o sótão pequeno e muito sujo de sua casa. Pensara que seria o momento que não seria perturbada, sua família estava lá embaixo, bagunçando ou criando mais confusões. Todos eram maus, inclusive as crianças. Se lembrara disso no momento que subiu as escadas. Toda, com exceção dela mesma, mas toda mesmo, toda sua família era maligna. De bebês e crianças até na velhice, eram maus, e sua família era um mau especial. Elisa sentia isso quando fez um pouco de esforço para não fazer barulho, fechando a entrada do sótão, era uma das coisas que estava no sangue: o silêncio. Toda a família tinha essa habilidade que outras não tinha por completo. Somente a sua herda algo de maligno, pois o silêncio era para fugir, era para manter segredos, era para ninguém ouvir falar do lado ruim dos Falcões. Havia também o roubo, fluindo no sangue de seu pulso que roubara a chave da porta do sótão, que estava no bolso da calça do pai, e furtivamente não se foi percebido a perda. Todos os Falcões conseguiam pegar alguma coisa sem serem notados. Como na vez que tirou o cinto da calça de Jazer. Ele não viu quando ela tirara, mas sabia como.

Elisa por um instante se assustou e soltou um grito abafado. Tinha visto um par de pontos de luz que apareceram a dois metros dela, sem iluminar nada. A luz não tinha se apagado e aumentara, flutuando no ar e depois diminuiu mostrando que eram dois olhos brilhantes. Era o Dú Mon.

— Que susto! Você não pode avisar quando chega?

— Você teria a mesma reação — disse ele no canto escuro em que estava e Elisa acendeu a luz mais próxima para iluminar o sótão. Estava piscando por uns instantes e iluminou sem interrupção, mas não se via tudo que tinha ali — Estava distraída em pensamentos, talvez refletindo sobre algo importante.

— Sim, sobre minha família. Ainda não acredito em tudo que você falou.

— Mas acreditou em parte.

— Também — disse Elisa, que não queria demonstrar ou surpresa ou orgulho ferido — ainda me deve explicações melhores do que eu ser perseguida por um maníaco que mata falcões.

Dú Mon riu, sem abrir o bico, mas olhava sério para ela. Tinha o olhar profundo de um falcão, que para Elisa pareceu que ela era uma presa, esse pensamento a fez ter um pouco de medo.

— O que mais quer saber? — perguntou Dú Mon.

— Tudo! O que é que eu sou agora, o que vai ser de mim, por quanto tempo vou ser... esse negócio do Falcão que você me disse, e ainda tem que me especificar o porquê de ter sido eu.

— Só isso? — pareceu que ele levantou uma sobrancelha.

— Sim, por enquanto.

— Tudo bem. Em primeiro lugar, tenho que te dizer que de agora em diante você tem que ser forte e destemida, não pode se deixar influenciar mais pela sua família. O caso de você ter a necessidade de ser a primeira pessoa boa em várias gerações do nome Falcão, me chamou atenção da qual poderia se perder na família e se tornar um deles. Você é a salvação dela mesma, quer queira ou não.

— Como assim? — perguntou Elisa.

— Bom... Sua família não vai ser maligna para sempre. Foi uma escolha sua na verdade. Mas essa parte não posso dizer mais nada.

— E por que não?

— Não posso. Os celestes decidiram que a partir desse ponto não poderá ser falado. É algo complexo que mudará sua vida totalmente e desviará de sua missão. Mas um dia saberá.

— Ok.

— Agora, quanto ao tempo que você irá ser, isso não posso te dizer especificamente. Provavelmente quando derrotar o Louco e destruir o ser mais mau de todo o universo, você estará livre disso. Mas quanto a que você vai ser, será uma esperança. Será aquela que lutará pelo bem e a inspiração para muitos heróis. E agora você treinará para encarar o destino que irá vir.

— E se eu não quiser lutar? — perguntou Elisa, um pouco indignada com a ideia de lutar.

— Assim terei de procurar um novo Falcão que se aprimore ao que eu quero.

— Então... eu... posso desistir agora? Não serei mais Falcão Dú Mon? — lhe surgiu um pouco de esperança para terminar logo com isso.

— Sim. Ainda será Falcão Dú Mon até que eu ache outro, e já tenho as opções. Mas a responsabilidade que lhes vão cair não será mais minha, e sim sua, da escolha que fez, passando para outro.

— Isso é injusto! — falou aborrecida — eu nunca pedi pra ser isso! Não pode ser culpa minha se você escolheu a pessoa errada!

— Eu não escolhi a pessoa errada — disse ele calmamente — eu escolhi a pessoa justa. Pensei que seria mais forte e ajudaria a acabar com o caos que vem perseguindo a todos.

— Não vejo nenhum caos acontecendo! Até agora o único caos foi você aparecer na minha vida — e tentou não olhar mais para ele.

— Então tudo bem. Vou escolher um outro — disse suspirando, sem mover o bico — e tentarei fazer com que não te afete em mais nada. Mas pense bem enquanto eu estiver fora. Sua vida não vai mais ser a mesma.

Elisa não encontrou palavras rápido o suficiente para se defender, mas quando pensou em algo para dizer, ele já tinha ido embora, sem fogo ou alguma coisa com efeitos surpreendentes. Ele só sumira. Então ela desligou a luz e antes que abrisse a porta do sótão, ficou sentada por um momento perto da saída. Pensou no que ele dissera "sua vida não vai ser a mesma". Sua vida sempre foi monótona, indo e vindo de um lugar para outro, mas não como uma aventura ou algo do tipo, e sim como uma fuga, em que seu pai ou a família inteira se metia em algo que denunciasse eles. Ela nunca fora igual a eles. "Tenho o sangue dos Falcões. Eu sou um deles!". "Não!", pensou uma outra voz na sua cabeça, a voz que contrariava a tudo aquilo, a voz que sempre a trouxera para um lado diferente, mas nunca normal. "Viva, e seja uma Falcão, uma Falcão Dú Mon!" pensou ela com essa voz. "Minha vida não vai ser a mesma". "Minha vida não vai ser a mesma" repetiu em sua mente.

— Eu sou Elisa, a Falcão Dú Mon! — "mas tarde demais. Você perdeu a oportunidade" e imaginou o Dú Mon voando a muitos quilômetros dela. Indo para uma direção diferente. "Não adianta mais. Agora vou voltar ao que era", e pela primeira vez não quis ser normal.

...

— Você nunca vai conseguir nada de mim — disse Galactus.

— Que bom — riu a voz do Louco.

Não via nada, somente uma sombra verde no meio da escuridão. Seus olhos estavam cegos para tudo à sua volta, mas sabia que havia alguém na sua frente rindo e se divertindo de cada desgraça que lhe ocorria. Era a pior risada que se podia ouvir, não porque era ruim, e sim porque a pessoa que ria era, e só tinha uma em todo o universo que conseguia paralisar a espinha de qualquer um com uma risada.

Sentiu as grades novamente em suas mãos. Estava preso, deduziu. "Em uma gaiola, talvez".

— Não tem saída — falou o Louco rindo — só tem a morte e você. Mas lembre-se que você pode não ser tão legal, então prefiro a morte.

— Então por que não me mata logo? — desfiou Galactus.

— Simples! Porque é divertido te ver sofrer — e soltou uma risada horripilante e maquiavélica — não gosto de você, fala pouco e grita muito! Meus tímpanos estariam estourados, se eu tivesse um — e gargalhou como um palhaço.

— Você não tem vergonha de estar na sua pele?

— Claro que sim, mas a vergonha não me trouxe a glória, e sim eu mesmo. Mas tive ajuda para chegar tão alto. Uma delas foi você e a outra é seu filho — não o via, mas sabia que sorria de sua desgraça.


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