Falcão Dú Mon escrita por Gjoo


Capítulo 6
Capítulo 6 Entre segredos e revelações




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Oton nunca deixou de fazer um de seus comentários superiores: "mas você é burro?", "Que burrice", "não sei o que é mais burro, a coisa que você falou ou você mesmo", "sua burrice é tão burra quanto você" e coisas assim. Hugo já se acostumara com isso, só ainda não sabia se aquilo era mania dele ou falava de propósito. Mas uma coisa não se enganava: aquele era o velho mais inteligente do mundo.

— Grande saudação — disse o pai, e estendeu a mão para cumprimentar o velho.

— Não disse que não era agradável ver vocês, mas é pura burrice, isso sim! — Hugo notara que usava um manto preto por sobre os ombros e seus cabelos já estavam quase totalmente brancos. Observou também que haviam pessoas atrás da casa. Pareciam oficiais de exército.

— Olá, sou Srta. Halley, prazer em conhecer o senhor — ele olhou-a sério.

— Eu sei quem você é e sei também que tinha ouvido falar de mim. Também não é novidade que tenham vindo pelo Devor, mas já o encaminharam para um hospital. Seria melhor para um cemitério, não sabiam que ele estava morto.

— Como foi que você deixou ele morrer? — deixou escapar Hugo, que o que mais atormentava a todos ali era que Oton não fez nada para salvar Devor.

— Acha que sou burro? Se me arriscasse tentando salvá-lo o Louco teria me capturado antes mesmo de eu ter feito algum movimento. Você simplesmente acha que é só lançar feitiços nele que o afugentará? Eu não tenho poder algum pra amaldiçoá-lo e não sou forte o suficiente para enfrentá-lo — Hugo ficou reprimido pelo que disse, o velho pareceu furioso, detestava perguntas tolas — Devo esclarecer a vocês que Devor sabia muito menos do que eu e ele era menos valioso.

A diretora pareceu inquieta, estava ultrajando a esperança de todos.

— Mas eu não tive tempo para ter esperanças nele — continuou o velho como se conseguisse ler a mente de todos ali — se vocês não sabem ele não era o último Falcão, haverá outro e já tinha sido planejado, seus burros! Podem ao menos pensar um pouco antes de se surpreenderem?

— Desculpe-nos. Foi tolice nossa pensar mal de você — disse o pai.

— Pare de desculpar e entre logo na casa, é provável que o Louco volte e mate todos esses militares.

Andaram até lá com o vento batendo nas roupas deles, subiram as escadas de madeira. Chegaram na porta preta que cheirava a óleo e queimado, e se depararam com uma bagunça na casa. O lado de dentro também era negro, mas era mais escuro que o lado de fora, até Oton achar uma lâmpada quebrada e conseguir ascender em uma máquina estranha.

— Não teremos energia e não ascenderemos fogo algum até eu arrumar essa casa.

A casa toda estava com móveis de cabeça para baixo, porcelanas quebradas, velas derretidas nas paredes, cacos de vidro espalhados, papéis rasgados e queimados, chão sujo e rachado com água e óleo, e por fim, sangue.

— Eles acharam alguma coisa? — perguntou o pai.

— Claro que não! Eu não sou burro de me esconder e deixar o resto à mostra! O Louco ficou insatisfeito quando não achou nada e nem por ter me encontrado, mas ouviu o som do burro do Devor e se escondeu para que ele entrasse. E quando ele se virou o Louco já tinha atirado nele com um raio verde que acertou em cheio no peito de Devor fazendo com que ele morresse naquele instante. O garoto não achou nada.

— Disse na carta que ele veio depois do Louco.

— Sim, mas estavam juntos. Parece que ele arranjou um novo comparsa, e deve ser dos bons para que o aceitasse — falou Oton da cozinha ao lado da sala que estavam, parecia o lugar menos negro da casa. Parecia que estava cozinhando algo para os "convidados".

— O Galactus esteve aqui? — perguntou a diretora antes de Hugo.

— Não. Já deve estar morto a essa hora — respondeu Oton.

— Que falta de esperança — resmungou Hugo.

— Ainda assim, Galactus não era uma esperança — continuou Oton como se tivesse ouvido Hugo — e sim, o Falcão Dú Mon.

— Não é sensato da sua parte acreditar nisso depois de ter deixado Devor morrer — falou a diretora.

Oton pareceu irritado quando saiu da cozinha, a pergunta deve tê-lo perturbado. Parecia que para ele a contra argumentação seria inútil e em vão. Falar o óbvio era desnecessário a Oton, por isso detestava falas bestas como "ele morreu", "ela está triste", "o céu está bem azul hoje", "olha! Uma nuvem", "isso é errado" ou "isso é certo", entre outros. A pior coisa era falar do tempo, pois ele sabia como estava quando via o céu, e perguntas tolas o faziam gritar sempre. Para aquela afirmação da diretora ele simplesmente a olhou e não disse nada, mas sua expressão era a de quem está se esforçando para não se irritar.

— Bem... não viemos até aqui para falar de esperanças. Queremos somente saber a verdade e salvar Galactus de algo horrível — disse Hugo por fim.

— Esse garoto está certo quanto a vir aqui para ouvir a verdade, mas ir atrás de Galactus é burrice. Como eu já disse, ele já deve estar morto.

— Como sabe? — perguntou o pai e a diretora juntos.

— Como sei? Como sei? — se aborreceu Oton — vocês não têm um mínimo de bom senso ou estupidez suficiente para pensar? O cérebro de vocês é de enfeite? — aquilo irritou a diretora e aborreceu um pouco o pai, Hugo simplesmente ouvia um pouco cansado dos insultos — Eu vi o rosto do Louco quando se viu satisfeito de ter matado o Falcão. Eu sei que não era tudo que ele queria, só tinha realizado algo que planejava a muito tempo e quando teve a oportunidade fora do plano ele simplesmente o fez. Mas o plano não alternativo era me encontrar e me forçar a dizer a verdade do Falcão e dos guardiões — "guardiões" pensou Hugo — e somente eu e Galactus tinha um mínimo de informação para dar caminho para o Louco encontrar as pedras de poder. O problema é que não sei onde e com quem está o que sobrou delas e o porquê delas estarem ainda na Terra. Só tenho teorias agora.

"E agora tem joias" Hugo já ouvira o suficiente de velho, mas agora pareceu que ele endoidou. Havia muito coisa sem nexo nas palavras e o som delas juntas parecia que fazia sentido para ele. "O universo está perdido", Baknor estava próximo a chegar em Capsilypson e manifestar a guerra até os outros mundos, o Louco estava escondido e agora aparece matando o Falcão, Galactus poderia estar morto e agora vem joias que podem fazer algum efeito nessa história toda. A conversa toda estavam de pé, pois os móveis estavam revirados como a casa toda, Oton lhes deu pequenos bancos que ainda não se partiram e se sentaram. Ele voltou para a cozinha e trouxe chá. Deveria ser uma das poucas coisas que sobrara lá.

— Lamento pela sua casa — disse a diretora aceitando o chá.

— Eu não. Detestava metade das coisas que estavam aqui e quando previ a vinda do Louco pus tudo que não me agradava para ele destruir — Hugo sorriu, achara aquilo inteligentemente engraçado.

— Você não é muito esperto — disse o pai.

— Mas é claro! Por que acha que estou vivo? — todos riram menos Oton, nunca o vira rir.

O dia já se foi em Denver e ali o sol acabou de se pôr deixando o céu escuro com algumas estrelas à vista. Seus irmãos deveriam estar em casa pensando o que tinha acontecido ao pai... e Hugo. O chá tinha gosto amargo, mas achou que estaria sendo insensível ao dizer isso a Oton, mesmo que ele seja o maior deles.

— Você realmente acredita que o Galactus não sobreviverá? — disse Hugo tristemente.

— É claro que não! Ele vai perder tempo tentando despistar o Louco e máximo que pude fazer foi ter enviado o falcão pra anunciar a vocês que teriam o bom senso de não segui-lo.

— E por que acha que o Louco voltaria? — perguntou a diretora.

— Não é óbvio? O jornal!

— Que jornal? — mas antes que respondesse sua pergunta com insultos, Hugo se lembrou daquela manhã — Ah, sim! Aquele que mostrou o Devor morto!

— Foram uns tolos em anunciar a morte dele muito cedo! O falcão teria sido em vão se eles explicassem a situação toda. Mas ainda tem o próximo.

Desta vez foi difícil de saber do que ele falava. "Que próximo?", talvez ele estaria falando do Falcão Dú Mon, agora que morreu iria ter um próximo. Ou ele estaria de um outro falcão que enviara. Não sabia o que era, mas Hugo não queria ficar sem saber mesmo que tivesse que ouvir insultos do velho.

— Do que você está falando agora?

— Ora! Do Falcão Dú Mon! Toda vez que morre um o outro renasce. É assim o ciclo.

— E você sabe quem é? — perguntou a diretora.

— Mas você é burra? Claro que não. Ninguém pode saber. Somente o Dú Mon — ela ficara explicitamente ofendida, mas seu pai e Hugo a seguraram.

— Pode nos explicar tudo que sabe? — falou o pai pacientemente.

— Não — todos se surpreenderam com a resposta —, mas posso lhes falar o que é necessário vocês saberem. Não pensem que sou o único que guarda segredos! Sou só um que lutou e teve a experiência de aprender, porém os outros não foram tão inteligentes assim e o Louco os mataram.

Hugo entendeu que ele não queria expor eles a um perigo maior que estavam naquela casa. Tudo agora podia mudar se soubessem do segredo. Inclinaram para a frente para ouvir melhor, e Hugo quase soltara a caneca de chá. Oton olhou para a janela com cortinas rasgadas de pontas negras da queima de parte dela. O céu lá fora estava mais negro que a fuligem da cortina. As pequenas estrelas que mal iluminavam o negrume, davam a impressão de que o mundo lá fora ainda existia, pois estava tão negro que a dúvida de a casa ser a única existência ali era constante e perturbadora. Ele se virou para vê-los novamente e disse:

— O que vocês precisam saber é que o Louco está a procura de Falcão Dú Mons pelos poderes que eles têm. Não sei como exatamente ele tira os poderes deles. Mas como existe somente um ele tem que esperar crescerem e se amadurecerem para que os poderes se tornem maiores. Ele relacionou isso com a Guerra e foi muito inteligente. A pressão que a Guerra de Baknor faz nas pessoas seria insuportável em Capsilypson, e ele soube que podia juntar o conceito da profecia do Falcão com a profecia da salvação do universo. "Aquele que derrotar o mais poderoso do mundo é aquele que salva o universo" diziam os Gautos. — naquela época de desespero das guerras houve um monte de profecias falando sobre tudo de mais absurdo — Bem... As pessoas são burras e acreditam em tudo que dá esperança. Assim quando acreditaram que somente o Falcão Dú Mon salvaria o mundo, Devor teve a responsabilidade de enfrentar Baknor.

"Já entendi" pensou Hugo, esperança era um conceito básico para fazer com que o Falcão se expusesse. Talvez seria verdade que o Falcão não resolveria a Guerra. O Louco não era ameaça para o mundo. Ele só queria poder. "Então por que escolher somente os falcões? Por que não um mago ou fontes diferentes de poder?" Havia algo nos Falcões que interessou Hugo agora. Uma fonte ilimitada de poder poderia fazer com que crescesse e comandasse o universo. A malícia o atacara novamente.

— E ainda existe outra. "Só um Falcão Dú Mon pode destruir o Louco" — continuou Oton — essa não sei bem quem inventou. Mas a princípio isso seria verdade. Depois do surgimento do Louco, os Falcões entraram em perigo. Ele matava todos sem perdão, às vezes nem tirava os poderes deles. No entanto, as coisas foram de mau pra pior. Galactus soube da história dele como eu também, e o Louco descobriu de algum modo que ainda não posso lhes afirmar. Ele andou por trás de todos que se opusessem a ele e matou-os sem piedade — parou por um momento para olhar a janela — Sim... — e virou-se mais uma vez para vê-los — continuando, as pedras de poder ou pedras dos guardiões estão salvas.

— Mas o que são elas? — perguntou seu pai, impaciente.

— Ora, essa! São as pedras que fazem os protetores do Falcão.

— Ele tem protetores? — perguntou Hugo.

— Mas é claro! — disse Oton depois de um tempo aborrecido — não acredito que a maioria das pessoas que o conhecem não saiba o que são. Elas têm todos os poderes que um Falcão Dú Mon pode ter, e só são dadas a quem ele confiar. Se vocês não conheciam muito menos vão conhecer, pois elas já foram lançadas no espaço por Devor a meu pedido. O Louco o procurou por anos para achar essas pedras, mas nunca conseguiu até hoje. Mas ele foi tolo de pensar que poderia me encontrar aqui. Sim, eu estava aqui, só não estive tão à mostra para ele. Se estão curiosos, eu estive o tempo todo atrás das paredes e no chão. Tem uma entrada secreta pela janela falsa ali — apontou para a janela oposta à outra, na qual ficava à frente do velho — Ela é uma janela comum, só pus umas engrenagens nos cantos com cabos para que ela se movesse. Ninguém suspeitaria de uma janela secreta — seu pai, a diretora e Hugo ficaram boquiabertos com aquilo, aquele velho era surpreendente — parem de olhar seus bestas! Continuando... o Louco suspeitou do chão falso e quebrou-o como podem ver — estava todo rachado — e também do fogão e geladeira. Quando tudo estava revirado e queimado, e depois que ele matou Devor e seu companheiro foi embora, eu saí e soube que ele iria voltar. Então mandei Dú Mon ir até Henry. Se vocês não sabem, Dú Mon é o falcão que enviei, ele quem escolhe o Falcão Dú Mon.

A diretora cuspiu o último gole de chá, seu pai deixou cair a xícara e Hugo disse um "O QUÊ?" em alto e bom som. Aquilo irritou o velho mais que nunca. Além do barulho o "o quê?" era uma das perguntas que mais o irritava.

— Seus burros! Parem com isso! Estão querendo matar todos nós?

— Mas como assim? Aquele... aquele falcão do Henry? — disse Hugo. O falcão nunca pareceu nada além de um animal que vinha atrás do Henry que o cuidava quando estava por perto.

— Por que acham que ele sempre vinha com mensagens e avisos?

— Então era você? — perguntou o pai — Todas as mensagens eram suas?

— Não, só a maioria delas.

O velho olhou para a janela verdadeira mais uma vez e desta vez não teve paciência.

— É melhor vocês irem! Já têm informações suficiente para refletirem no que vai acontecer. Vão embora! — gritou, e imediatamente eles se levantaram e correram para a porta — Vejo vocês daqui a alguns dias, e Hugo! — se virou com a surpresa do seu nome mencionado — Venha aqui mais vezes, preciso tratar de um assunto sério a seu respeito.

Assim Oton fechou a porta na frente deles e desligou a luz. Eles ficaram assustados por um momento.

— Vamos! — disse o pai, que soltou um bafo frio na gélida noite. Do mesmo modo como vieram, eles se foram.

...

Seria umas cinco horas da manhã. Elisa se penteou de novo para mais um dia e desta vez com uma franja. "Não fica legal" pensou, mas teria de ir assim. Teve de se arrumar antes de todos para que ninguém notasse as confusões que fizera. Parecia que quando dormia seu corpo esquentava e sua cama ficava com cheiro de queimado. E quando sonhava ela tinha sonos mais esquisitos que o normal. Agora vinha um falcão nos sonhos. Acordara a noite toda e desta vez ficou sem sono. Se arrumou para ir mais uma vez. Seu pai a levou até lá e encontrou Shanna no caminho. Nas aulas conversava com os outros até o professor notar ela falando.

No final da aula, quando a sineta tocou a última aula do dia, o falcão apareceu na janela bicando. Aquilo a assustou, e muito. Depois o falcão subiu e voou para longe.

— Você viu aquilo? — perguntou Mark.

— Você também viu? — perguntou Elisa, surpresa.

— Sim... Parecia um pombo grande!

— Acho que era um falcão.

— Falcão? O que um falcão faria aqui na escola? — a pergunta de Mark só acumulava as de Elisa. Ignorou o tempo inteiro aquele falcão durante o dia no colégio. Mas pareceu que ninguém havia visto a não ser eles, pois todos já tinham saída da sala.

Foram junto e encontrou Shanna novamente no lado de fora. Hoje eles conheceram Petir e Peter, que estranhamente não eram irmãos, apesar de serem iguais. Eles também eram novos, e tinham vindo de Nova York. Henry apareceu pouco naquele dia, andava um pouco afastado e seus amigos andavam com os novos amigos que conheceu. Elisa olhou para o céu e viu o falcão circulando a área do colégio. Muitos alunos começaram a apontar e admirar.

Seu pai tinha chegado um pouco atrasado, já haviam poucos alunos esperando os pais ou a carona. Seu pai pareceu tenso e inflexível, mal notara a filha o tempo inteiro no carro. Elisa preocupou-se com aquilo.

— Pai, está tudo bem?

— S-sim, minha filha — gaguejou ele. "Não está nada bem mesmo" e começou a temer um atropelamento por falta de atenção do pai. Seus olhos estavam vazios com pensamentos em outro mundo. Mas de repente ele começou a acelerar e seu rosto ficava vermelho "de raiva".

— Pai! Cuidado! — ele freou perto de casa. Ficou vislumbrando o nada enquanto Elisa estava perturbada com muitas coisas. Percebeu que o falcão estava atrás do carro e quando parou no meio da rua, ele se sentou num galho de uma árvore próxima.

— Estou bem — disse o pai, mais para si mesmo do que para a filha, suspirou e andou um pouco mais perto de casa.

Elisa saiu sem parecer apressada e olhou de relance para ver se o pai estava notando os movimentos furtivos dela. Assim que entraram sua mãe tinha abraçado o pai e beijou-o, isso pareceu reanimá-lo. Subiu deixando os pais a sóis no andar debaixo. Quando chegou no quarto, pegou suas roupas e foi para o banheiro tomar banho, mas antes olhou a janela para ver se o falcão ainda a perseguia. Não viu nada exceto o vizinho andando com seu cachorro e um pássaro negro voar para longe de um gato amarelo alaranjado.

Depois do banho, pareceu que sua mente acalmou-se e voltou para o quarto deixando a toalha encima da cama e descendo a casa para ir à lavanderia colocar as roupas sujas. Foi para a cozinha e almoçou com os irmãos, nem todos estavam ali, mas seus pais os acompanharam também.

O almoço tinha a enchido e voltou para o quarto depois de ter lavado a louça de todo mundo, porque Carlos e Júnior brigaram. César resolveu colocar Elisa no meio e Francine aprovou fazendo todos aprovarem. Não ficou com raiva disso e sim do Jazer que sujou os pratos limpos da prateleira para ela ficar mais tempo ali. Elisa se vingou tirando o cinto dele e antes que percebesse ele já estava com as calças nos joelhos xingando ela. Todos riram.

A vingança a fez esquecer do falcão, e quando se lembrou dele virou-se para a janela e viu. Bicando na janela e batendo as asas depressa. Elisa não queria ser chamada de louca de novo, então pegou o travesseiro e tentou assustar a ave. Mas continuou ali, só tinha parado de bater e bicar. Mais uma vez ela tentou e o falcão disse novamente:

— Abra! — seu coração quase pulou fora, mas suportou e fingiu que não tinha acontecido — Abra! Pare com isso, Elisa!

Aquilo realmente a assustara, ia chamar sua mãe ou o pai, mas o falcão já teria ido embora quando eles chegassem. "O que eu faço?" pensou quase choramingando de medo. De repente houve um súbito sentimento de coragem e ela bateu no vidro para afastá-lo. A janela se quebrou voando cacos para todo lado. "Essa não". Antes que a ave voasse ela segurou a perna dele e puxou-o. Charlie estava chorando de novo, "Que sorte", mas não soube do porquê aquilo seria uma sorte, ninguém a ouviria se o falcão a atacasse. A casa virou um caos.

— Me largue! Eles vão ver! — falou o falcão.

— Não!

Então ele parou de bater as asas e ficou laranja e depois vermelho, quando Elisa se deu conta o falcão tinha virado chamas e escapara de suas mãos. O fogo voara pelo teto do quarto e pousou na escrivaninha velha que estava cheia de caixas. O fogo não se espalhara, mas se extinguiu mostrando o falcão de novo. Apesar de não ter incendiado a casa, deixara fuligem no teto e na mesa.

— O que é você? — perguntou Elisa apontando um sapato que encontrara por perto.

— Olá! Me chamo Dú Mon! — e surpreendentemente ele se curvou fazendo uma reverência — Sei que é assustador à primeira vista, mas não era hora menos oportuna de eu ter aparecido — não abria o bico quando saía sua voz, "isso é muito estranho".

— V-você... você... você existe?

— Ora! Claro! E por que não existiria? Só por que eu falo?

— Bem... — tentou falar Elisa, dominando o pavor que a tinha dominado — nunca vi u-um animal falar.

— Também nunca viu o oxigênio, mas ele está na sua frente esperando você respirá-lo. Como eu que estou na sua frente esperando você se acalmar.

Elisa respirou fundo lentamente.

— Está bem. Já estou calma.

— Agora largue esse sapato. É ridículo isso, não vai se proteger do Louco com isso — Elisa não sabia quem era o Louco, mas tentou não parecer surpresa a mais nada.

— Ok... Mas quero saber — veio o pensamento de seus pais subindo as escadas e vê-la com um falcão falante, isso determinaria que não era louca, então planejou deixá-lo falando até que alguém visse — Mas me diga... Por que você fala? Os outros animais também fazem isso?

— Hum... para a segunda pergunta não posso generalizar, não conheço todos os animais para dizer que não falam, além de você ter se surpreendido comigo. Mas para a primeira pergunta digo que falo porque não sou um falcão comum. Se você perceber, falcão algum solta fogo, ou fala. Na verdade sou um "espírito", por assim dizer. Não sou totalmente imaterial, pois uso essa vestimenta de penas, garras, escamas e bico. Mas posso fazer muitas coisas com essa "roupa", com ela eu vôo, e com ela eu nado, e com ela sopro fogo e me transformo nele também.

— Tudo bem, agora sei quem você é — disse Elisa se sentando — Dú que?

— Dú Mon.

— Dú Mon — repetiu ela — você... eh... Por que esteve me perseguindo?

— Porque, como deve ter notado pela sua marca, você é a escolhida. Escolhida para ser a Falcão Dú Mon.

— Falcão Dú Mon? O que...

— Isso é difícil de explicar, mas vou tentar mesmo assim. Há muito tempo, antes mesmo de Cristo, eu nasci na Terra pela última vez. Quando morri cumpri minha tarefa na qual não faz parte de sua história agora. Com minhas tarefas cumpridas na Terra eu tive a oportunidade de escolher entre ficar como espírito ou vagar mundos afora. Eu pensava ter todas as tarefas prontas, mas houve uma dívida antiga na qual paguei sem precisar encarnar. Tinha de ajudar mais de um milhão de pessoas que prejudiquei. Não precisavam ser elas, mas eu tinha que pagar mesmo assim. Fui concedido a dar poderes a quem eu quisesse e assim começou o Falcão Dú Mon. Eu tinha de me responsabilizar por essas pessoas a quem eu dava poderes e tive a ordem de serem somente humanos terráqueos. E desde 400 depois de Cristo o Falcão Dú Mon perdurou. A cada vez que morria um eu tinha de dar os poderes à outro. E continuou assim até o Louco conhecer os poderes do Falcão e querer para si. Ele matou muitos dos seus ancestrais e agora quer vingança por minha causa. O último falcão morreu ontem e nesse mesmo dia você se tornara a Falcão Dú Mon.

Elisa já tinha se esquecido do mundo ao redor quando ouviu aquelas palavras. Não poderia ter acontecido isso com ela, pois era simplesmente... Elisa.


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