Falcão Dú Mon escrita por Gjoo


Capítulo 8
Capítulo 8 Missões




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Era mais uma manhã e o dia iluminava triste como Henry. Sabia que algo ruim estava acontecendo em algum lugar. Provavelmente com Galactus, ou com sua família, ou com ele mesmo. Assim se levantou da cama e deparou-se com Hugo sorrindo maliciosamente para ele.

— Bom dia! — disse Hugo.

— Ahn... Bom dia! — respondeu Henry.

— O quê? — disse Hugo, como se acordasse de um sonho — não estava falando com você!

Henry olhou para o quarto todo, não tinha ninguém, ou não havia ninguém visível.

— Então com quem está falando?

— Não é da sua conta — e saiu do quarto, ainda com o olhar sonhador.

Henry saiu depois dele, foi para o banheiro, escovou os dentes e, sonolento, foi tomar seu café. Edgar, Nana e Lana estavam sentados também. Sua mãe fazia o café dos outros enquanto eles não saíram do quarto.

— Bom dia, tia!

— Dia — respondeu ela de mal humor quando viu que era Henry, mas mesmo assim se via a insônia no seu rosto, que era o principal motivo de estar aborrecida com algo tão cedo. Mas ele também estava, não aborrecido e sim triste, com algo que não tinha certeza do que era.

O falcão que lhe dera a notícia não apareceu de novo. Normalmente não aparecia no café, mas sempre se lembrara da manhã em que penas apareceram nas xícaras de chá que a mãe servia. O falcão não era de Henry, mas sentia que o ligava do algum modo.

— Como está em Denver, tia? — perguntou Edgar.

— Tudo bem... Sono — falou ela, Nana riu.

Franco, Fred, Viktor, Átila e Bryan saíram de seus quartos. Estavam mais sonolentos que Henry, e pareciam desconfortáveis. Nenhum dos seus irmãos parecia saber algo que deixara Hugo tão feliz naquela manhã infeliz. Henry percebeu que sua torrada estava fria e sem querer queimou-a toda colocando fogo nela.

— Não devia usar seus poderes pra isso — falou Viktor.

— Bem, no campeonato vamos ver se repetirá isso — disse Henry, o campeonato dos trinta não estava próximo, mas o treino ia começar na outra semana e o Troféu dos Mestres estaria mais bonito com sua foto do lado, rindo para o irmão. Viktor sorriu.

— Ainda está muito longe, e isso não é treino — falou de olhos fechados. Se não fosse ele falando, Henry pensaria que estivesse dormindo.

— A tia tá aqui? — perguntou Fred, também de olhos fechados observando mundos além do que se podia enxergar.

— Estou do seu lado.

— Ah! Bom dia!

Quando Henry foi pegar sua mochila, viu que na sua janela estava o falcão. Não foi um susto, pois ele nunca avisava quando chegava.

— Olá — disse quando abriu a janela — estou um pouco apressado pra ir pra escola, mas se quiser passo na cozinha e te dou o que sobrou do porco de ontem.

— Não obrigado — falou ele. Henry se espantara. De todas as coisas que o falcão fizera, falar nunca foi uma delas. Mas não se assustou tanto, já viu muitos animais falarem.

— Você fala?

— Sim, e faço mais que isso — percebeu que seu bico não se movia quando saía som — preciso de sua ajuda, mais do que nunca precisei.

— Uau! Nunca vi você pedindo ajuda sem ser enviado por alguém.

— Sim, mas desta vez eu estou tentando controlar a situação. Me desculpe nunca ter falado algo antes ou dar um mínimo sinal do que eu era, mas na situação em que estou tive que ceder a algumas coisas. E para te responder bem a uma pergunta do que sou, eu falo que sou Dú Mon, O Falcão!

Aquilo impressionara Henry, e desta vez ficou realmente espantado, mais do que em todas as aparições que fizera. Esteve sempre tão perto do Falcão Dú Mon. O tempo todo, em que ia e vinha com mensagens e avisos, era ele!

— Devor?

— Me desculpe, mas ele morreu como a mensagem que Oton enviou tinha dito. Eu sou aquele quem escolhe os Falcões. Aquele quem deverá dar os poderes ao próximo.

Atordoado com o que o falcão disse, Henry permaneceu sem falar. Quando pensou na possibilidade de ele ser o próximo Falcão Dú Mon, se sentiu com o peso da responsabilidade que lhe caíra. Era pesado como carregar um prédio nas costas, pensou ele.

— Como assim? — perguntou, não entendendo muito bem o que o falcão lhe dissera.

— Muitos não sabem, mas o Falcão é escolhido por mim. Eu sou o espírito que criou o Falcão Dú Mon, sendo eu o primeiro deles.

— Então... — Henry queria dizer o que pensava sobre aquilo — você me escolheu para ser o próximo?

— Na verdade, não — respondeu o falcão, deixando-o com mais dúvidas.

— Então por quê quer minha ajuda?

— Preciso que você treine o próximo — falou ele, sem mover o bico. Normalmente espíritos de animais materializados moviam a boca, mas não todos. Henry já vira muitos nas aventuras que teve. Talvez essa seria a próxima, e a mais perigosa, podendo ser a última.

— Mas eu nem o conheço! Ou conheço?

— Sim, você conhece. Só não notara ainda que seria ela.

Ao ouvir ela, Henry pensou em todas as garotas que poderiam ser. Não podia ser óbvio, pois já teria notado. Então lhe veio o raciocínio de ser a garota que foi para a enfermaria no primeiro dia. "Qual era o nome dela?" tentava se lembrar.

— É... é... aquela garota... esqueci o nome... Lisa... Elisa! Sim! É ela?

— Acertou! Mas tem um problema em ser ela.

— Qual?

— Ela não quer.

"Como?", pensou Henry, "Pode fazer isso?". Não entendia como funcionava a escolha, mas nunca ouviu falar de um Falcão querer desistir.

— Isso pode?

— Sempre! Mas raramente desistem. Somente um em vários não quiseram ser mais. Concedi-lhes o desejo, mas agora isso é fatal, pois a cada momento o Louco está querendo descobrir o próximo e tentar destruí-los.

— O que quer que eu faça? — Henry decidiu que iria ajudá-lo. Sempre o ajudara quando mais precisava, mesmo que ele tenha escondido esse segredo por anos.

— Treine ela. Ajude ela. Faça com que não tema mais nada. É preciso que ela saiba lutar antes de enfrentar o Louco. Você aceita essa missão?

— Mas é claro! — disse Henry animado.

...

Eram sete horas da noite, e Mantris estava entrando no banco. Eddie estava o observando do prédio ao lado, no térreo, com um binóculos e um cigarro na boca. Brad chegou na entrada e o outro Eddie vigiava a rua. Não podiam falhar.

O carro chegou na hora. Estava em frente do banco, estacionando, enquanto o caminhão se deslocava com seus "funcionários". A polícia não estava perto. Os guardas estavam postos, mas não desconfiaram de nada até agora.

O Gordo comia mais um hambúrguer em frente da lanchonete. "Mas será que ele não enche?", pensou Karl. No momento ele era só um homem comum, em frente ao banco. Todos os relógios já estavam sincronizados. Não podiam nem se adiantarem e nem se atrasarem. A noite estava favorecendo-os. O chefe não ia gostar se falhassem.

O banco ia fechar em alguns minutos. Era o único que permanecia aberto essa hora. Marty os ajudara. Forneceu os horários e a quantia que estaria lá até a transição. Ninguém suspeitou.

Havia muitas pessoas ainda, mas não era problema. Todas iriam embora na hora certa, se o plano funcionasse. E lá foi Mantris com a maleta, cumprimentando os funcionários e clientes que chegavam. Ninguém notara nada de suspeito, pareceu formal adequadamente. Foi até o balcão. Karl tirou o boné, e todos viram seu sinal. Eddie, o que estava perto do banco, esfregou seus braços como se estivesse com frio. Sinal de que estavam bem, não havia perigo algum. "Somente nós" pensou Karl. O caminhão parara em frente do banco, agora ninguém os veriam da rua, somente da calçada do lado do caminhão e em frente do banco.

A polícia não aparecera. Karl foi para perto do Gordo. Entrou na lanchonete com uma área ao ar livre e se sentou do lado dele.

— Sinal da polícia? — perguntou o Gordo.

— Não. Estamos com sorte.

— Eu também, peguei o último hambúrguer.

— Você só pensa em comer?

— Não é isso. É que penso melhor quando como — respondeu ele e deu mais uma mordida enorme no pedaço que sobrara.

— E o que esteve pensando agora?

— Que os Falcões são espertos. Mas muito maus.

— Como assim? — Karl suspeitava dos Falcões, mas nunca achou que eles eram infiéis, até a morte de William.

— Você não vê? Olhe para essa cena — apontou para a rua em que o plano estava acontecendo — têm muitas testemunhas que não percebem nada de estranho à sua volta. E quando começar o caos, ninguém vai se olhar da mesma forma aqui.

— E o que isto tem a ver com o plano? — não viu aonde ele queria chegar.

— Simples! Percebi isso quando vi que paguei pelo meu hambúrguer com o dinheiro que ainda pertencia a mim. Pensei numa forma diferente, olhe para esse sulco — mostrou o sulco que parecia de laranja — você vê que ele é meu porque estou bebendo nele. Agora, olhe para os garçons que trazem a comida e pense de onde eles tiraram isto.

— Dos cozinheiros — falou em tom de dúvida, tentava entender o que isto tinha a ver com toda a situação.

— Sim! Agora pense como eu. Quem fez o hambúrguer?

— O cozinheiro.

— E quem entregou o sulco e o hambúrguer?

— O garçom — Karl respondia como uma criança treinada.

— E quem tinha comprado o lanche todo antes de eles fazerem tudo isso?

— Você.

— Isso! — disse ele como um professor animado — entenda, que a partir da venda o produto não passa a ser deles, e sim meu.

— Isso se compara a? — perguntou Karl, ainda duvidoso, se era uma conversa inteligente ou uma conversa de gordo faminto.

— À tudo! Não vê? Os Constantines são como eu, compraram tudo e por isso pertence a eles. Os Falcões que fizeram tudo, mas só se mobilizaram quando os Constantines fizeram algo. O meio, que seria o garçom na minha comparação, somos nós. Estamos servindo o prato dos Falcões para os Constantines.

— Hum... entendo — o carro parou na calçada perto, Eddie entrou no banco e o outro ainda observava encima do prédio — esse plano não é dos Constantines, e sim dos Falcões, só está no nome deles agora — o Gordo acenou com a cabeça de que estava certo.

— Isso!

— Então o você se sentiu satisfeito com o hambúrguer? — perguntou Karl, continuando a metáfora.

— Muito, mesmo que eu queira outro, mas estou tentando me conter. E acho que o cozinheiro não gostou da ideia de eu ter comprado seu hambúrguer.

— Ele vai se vingar?

— Já está se vingando. Sabia que eu queria emagrecer, então me trouxe uma bomba calórica — disse o Gordo, dando ênfase no bomba.

— A culpa vai ser sua! Foi você quem decidiu comer, mas não sabia! Entendi.

Agora estava tudo claro. Marty tinha dado uma informação valiosa, mas não para os Constantines e sim para os Falcões. Os rivais estavam guerreando, e ele fazia parte do exército. "Mas de que lado estou?". O Gordo deu um tapa no seu braço.

— Presta atenção! Tem que continuar sua missão! Vigie! Porque minha comida acabou e parei de pensar.

Sem polícia, menos pessoas, Eddie de cima pegando um rifle enquanto o Eddie de baixo começava o assalto.

— É agora!

— Fique de olho. Os idiotas vão se esquecer do alarme! — alertou o Gordo.

Colocou sua mão no bolso e segurou a arma. Na lanchonete pareceu que ninguém notara o assalto. Já eram sete e vinte, estava na hora, como planejado. Se afastou do Gordo e andou até a outra ponta da rua, para ver se a polícia não viria do sentido contrário. Ninguém. Olhou para o outro lado e foi a mesma coisa. Ouviu a voz de uma mulher gritar e depois silenciou-se. "Já mataram alguém". Um outro homem entrara no banco e apontou a arma para os outros. Mantris já deveria ter chegado nos cofres, e colocaria o detonador neles e então...

Se ouviu o barulho a dois quarteirões daquela rua longa de prédios longos. Na lanchonete pessoas se levantavam e gritaram de susto.

BUM. BAM.

Mais dois cofres explodiram. Pegou sua arma e se pôs em frente do banco. O caminhão se abriu e saiu vários homens dali, a maioria encapuzados, e duas mulheres que também estavam no plano, todos com armas. A polícia estava chegando, dava para ouvir a som da sirene da outra ponta da rua. Assim que o carro apareceu, fazendo uma curva no prédio, todos atiraram no carro. Do outro lado da rua estava o carro com mais munições e uma bomba. O Gordo conseguiu manter mais reféns na lanchonete.

Eddie saiu do banco com uma maleta estufada de dinheiro.

— Precisamos de uma bolsa, e bem grande — disse ele, e deram-lhe uma bolsa e uma sacola enorme.

Mantris saiu carregando bolsas tiradas do banco. O outro homem que entrara estava mantendo as pessoas agachadas com as mãos atrás da cabeça. Tiros se ouviam na rua e Karl disparava atrás do caminhão, se protegendo. Atrás entravam bolsas de dinheiro e saíam mais homens com armas. Uma das mulheres acertara a cabeça de um policial.

— Vamos precisar de mais pessoas aqui pra carregar — disse Eddie.

O Eddie de cima atirava com o rifle nos carros da polícia que passavam e freavam bruscamente na zona de tiro. Quando todas as bolsas e sacolas já estavam cheias e uma parte de dentro do caminhão entulhada de dinheiro, os assaltantes entraram no caminhão e o motorista, que se escondia nos assentos, ergueu-se e dirigiu o mais rápido possível para fora da área do crime. Tudo ocorrera como planejado e não houve mortes dos assaltantes, só haviam alguns feridos.

O Gordo fugiu no carro, e Eddie de cima estava pulando de prédio em prédio para escapar da polícia.

— AÊ! Deu certo! — disse um dos homens comemorando, o caminhão estava uma euforia.

— Não deixamos ninguém para trás, não é? — disse um outro.

— Acho que não — respondeu Karl — o único que corre perigo é o Eddie que estava encima dos prédios, mas não acho que policial algum o alcança.

Os policiais ainda os perseguiam, mas como no plano, iriam despistá-los, havia outro caminhão idêntico ao que estavam, e com marcas das balas como achavam que iria estar, mas nenhum policial ia decorar onde as balas deles acertaram. O pneu do caminhão era reforçado, pois não furara durante o tiroteio, e Karl estranhou, pois foi dada pelos Falcões também, de um deles pelo que soube.

Num momento, estavam em perseguição, e no outro andavam tranquilo. Os policiais já foram.

— Idiotas — riu Eddie.

Mas naquele momento houve um distúrbio na trajetória do caminhão e começou a balançar. Havia acelerado.

— O que está acontecendo aí, Matt? — perguntou uma das mulheres mais perto da parte da frente do caminhão. E naquele momento ouviram um barulho num dos lados e uma turbulência. Todos se calaram quando aquilo aconteceu, e no momento seguinte se sentiram empurrados dentro de uma caixa.

— Matt? — perguntou alguém.

Ouviu-se derrapagem e mais empurrões. Não parecia ser a polícia, parecia mais um monstro gigantesco. Ouvia-se também o som chutes nos pneus, o que parecia fazer o caminhão balançar e derrapar, quase se desequilibrando. Sentiam os impactos do lado de dentro e quase voavam quando o veículo fazia uma curva muito fechada numa velocidade muito rápida. Karl sabia que não fazia parte do plano, alguma coisa deve tê-los visto e agora tentava derrubá-los literalmente.

Achavam que estavam numa situação ruim, mas naquele mesmo instante um empurrão ultrapassou os limites do caminhão, fazendo com que um dos lados amassasse e o veículo caísse no chão, fazendo todos de dentro caírem uns sobre os outros num impacto muito forte e todo o mundo estivesse girando. Alguém abriu as portas de trás, Karl não sabia em que direção ficava. Alguns fugiram com as bolsas e sacolas, mas não corriam devagar porque estavam tão tontos que nem sabiam andar em linha reta.

Karl passou a mão no rosto e seu cérebro estava voltando ao normal, e então ouviu:

— Hoje vocês estão com sorte! Vão levar uma viagem grátis para a prisão! — disse um garoto que estava nas portas invertidas e amassadas, ele estava fantasiado com roupa azul e capa.


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