Falcão Dú Mon escrita por Gjoo


Capítulo 4
Capítulo 4 Castrum Nubila




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Henry já voltava para casa quando Hugo o viu pelo janela. O ônibus parava na rua à frente e continuava depois que três pessoas saíram se despedindo e sorrindo. Pegou a chave e abriu os portões do jardim. Artie já latia quando seu irmão chegou.

Hugo só estava esperando ele se aprontar pra ir logo ao colégio.

— Artie, larga ele, vamos nos atrasar!

— É Art! Sem "ie"— respondeu Henry.

— Tanto faz... Ninguém sabe o nome dele mesmo. Anda logo, não quero ficar com cara de bobo na frente do Galactus.

— Você já tinha quando nasceu — riu Henry.

Atravessou a cozinha e subiu as escadas para os quartos. Hugo não gostava da demora do seu irmão por causa da escola em Denver. Era chato ficar na Terra. Achava besteira essa briga entre comunismo e capitalismo e potências que querem dominar o mundo. Já bastava Baknor querer dominar o universo, e em Capsilypson tinham medo do Louco voltar. "Sou um dos maiores feiticeiros de lá, deve ser por isso que não me preocupo" pensou Hugo. Rapidamente Henry desceu com a mochila e perguntou pelos outros.

— Eles já foram. Papai levou eles, só eu que quis esperar por você.

— Sei...

— Tá bom! Na verdade Ellie e Wandos brigaram e papai ficou furioso. Então deixou eu aqui pra cuidar de Nana e esperar você. Tia Lana chegou mais cedo hoje, porém depois de todo mundo sair. Então ela me deixou esperar você enquanto cuidava de Nana. Galactus me enviou uma carta dizendo que já nos espera lá, e é por isso que não queria me atrasar. E...

— Vamos logo, se quer tanto ir!

Artie ou Art, o cachorro, pulou neles mais uma vez, Henry teve que dar um filete de carne pra ele, jogando bem longe. Quando saíram de casa e se limparam das marcas de patas, foram caminhando num ritmo rápido e nem parando para se despedir da tia Lana que gritava "adeus, tchau" na janela do segundo andar. Não dava mais tempo pra pegar um atalho, pois já era uma hora da tarde, teriam que esperar meia hora pra abrirem de novo, então decidiram ir pelo Muro.

Não era recomendável ir por ali, pois tinha um monte de mendigos e pessoas estranhas com rostos malignos. Hugo não tinha medo deles, se atacassem ele poderia imobilizá-los com magia, ou só assustar eles com o feitiço dos gritos. O Muro ficava numa viela estreita entre dois prédios. Não tinha saída porque ficava no meio da rua. Não era pintado e só mostrava tijolos construídos a mais tempo que a cidade. O sol não batia naquele lado do Muro e por isso foi difícil enxergar os tijolos certos.

— Xis O Capsilypson — ordenou Hugo apontando para os tijolos da senha.

— Por que Xis O? Ninguém nunca me disse isso — disse Henry.

— Sei lá. Vai que o homem que criou estava apaixonado.

O Muro se abriu com uma luz azul projetando do centro e se abrindo à medida que os tijolos retrocediam para lados opostos. Raios surgiam de dentro do portal e um vento saía de lá fazendo os jornais e papéis do chão voarem para trás. Os mendigos olhavam, sempre observavam quem entrava e quem saía. O plano azul que emitia luz era transparente, mostrando o que havia do outro lado do portal. Os dois irmãos entraram e depois o Muro se fechou lentamente.

Estavam em Capsilypson, a cidade dos portais. O muro dava para uma cidade que se estendia até a parte mais alta dela, em que o horizonte era tampado pelos edifícios longínquos a alguns quilômetros de distância. O Muro da Terra ficava entre dois prédios, o de Capsilypson se estendia até onde não se podia ver mais, ficava acima de um barranco de terra e grama, com algumas pedras pequenas e abaixo tinha uma calçada bege e limpa como a cidade.

— Um dia eu vou morar aqui — disse Hugo.

— Um dia você vai gostar da Terra.

— Tá louco? Aquele lugar é insuportável. Se não fosse nossos pais eu moraria aqui.

— Quando se casar com Andrômeda?

— Sim, aí vamos ter filhos do mau que governarão todas as dimensões que se pode entrar em Capsilypson.

— E eu que sou o louco.

Continuaram a andar pela cidade até o ponto de ônibus. Zelta radiava com seu arco no céu rosado. Na Terra só se via o sol no dia e à noite a lua. Em Capsilypson via-se os sóis do dia e na época da decadência do segundo sol Zelta aparecia rosado e alaranjado na tarde. À noite ela ficava azul escuro e seus anéis azul claro e branco.

O ônibus flutuou até eles e subiram rapidamente. Na Terra os automóveis ainda tinham rodas e tocavam no chão. Em Capsilypson flutuavam até três metros e meio, pois a lei não autorizava mais que isso, depois do acidente de Richard Vilmar ninguém mais viu necessidade de subir mais que aquilo. O carro do próprio inventor perdeu o equilíbrio e caiu no chão do térreo de um prédio, ele sobreviveu com muitos ferimentos e os carros flutuantes foram proibidos até a segunda ordem de mantê-los sob determinada distância do chão e dos veículos à frente e atrás.

Desceram no ponto perto da loja de animais que ficavam em frente de uma praça com duas árvores entrelaçadas como se abraçassem uma à outra. Atravessaram a rua e seguiram para lá. As árvores só se abriam com a senha, mas não precisava tocá-las com magia.

— Colégio Castrum Nubila.

As árvores se soltaram rangendo de forma estranha e o farfalhar das folhas mostrava a dificuldade de soltar os galhos. Mas mesmo assim se abriram e sem luz alguma mostrou o outro lado do portal. Nitidamente, como se fosse o espaço atrás das árvores, apareceu uma estrada no meio de gramas verdes de um jardim.

Se abaixaram para entrar, pois as árvores não eram altas, e andaram pelo jardim. As árvores do outro lado do portal tinham a mesma aparência das outras duas, só eram mais escuras e rígidas.

— Porquê? Porquê? — perguntou Hugo se ajoelhando quando viu o elevador no meio de quatro estradas.

— Para de ser dramático.

— Sabe quanto tempo vai demorar esse elevador? Por que eles não inventam mais outros? — de fato só tinha um elevador que só tinha dois destinos: o solo onde eles estavam e o colégio que não se via nitidamente, pois estava acima das nuvens.

— Pelo menos ninguém entrou recentemente, olha. O elevador está aqui embaixo.

— Está bem, vamos logo — Hugo se levantou do chão e foi direto na porta que se abriu instantaneamente quando apertou o botão de subir.

O elevador passava por um cano branco e redondo, e as portas eram brancas também, menos nas extremidades que eram cromadas. Dentro dele a maior parte eram cromada e espelhada. Subiam e subiam e subiam mais ainda. Parecia eterno mesmo em velocidade super rápida.

— Por que não inventam um portal lá encima? — perguntou Henry.

— Acho que é por causa de intrusos. Vai que Baknor chega e mata todo mundo porque um doido botou um portal lá encima.

— Em vez disso é mais seguro ele vir de elevador matar a gente. — disse Henry, e seu irmão riu.

Quando finalmente chegaram no colégio eles saíram do elevador e correram para o pátio externo atrás do Lago Negro. O castelo era bem alto e extenso, tinha formas variadas, na entrada era feito de tijolos de pedra e com linhas metálicas separando a cada dois metros os andares. O portão era de madeira de carvalho e formava um arco no topo. Do lado de fora tinha algumas salas de aula e salas de funcionários. Havia dois guardiões com elmos pretos e roupas xadrez, roxa e preta, postados em cada porta das salas.

O medo de Baknor era crescente naqueles dias, e o Senhor das Trevas ainda estava escondido no seu escuro reino com Caos desmoronando o mundo dos seres do universo. Não se sabia quem poderia impedir aquilo, mas enquanto estivessem em paz a vida estaria calma como águas acima de placas tectônicas que poderiam criar maremotos a qualquer momento.

A corrida até o pátio interno, um dos cem que tinha lá, foi cansativa, mas chegaram a tempo antes da diretora Halley terminar seu discurso. Procuraram no meio da multidão o pai ou os irmãos, e os encontraram do lado de fora.

— Por que se atrasaram? Os portais já tinham sido fechados.

— O Henry aqui que atrasou. Mas a culpa não foi toda dele, o Artie pulou na gente quando saímos.

— É Arthur — disse Edgar.

— Não é Arts? — perguntou o pai.

— Esse cachorro tem mais nome que a Ravina — disse Hugo.

— Está bem. Só fiquei aqui pra cuidar de vocês e falar com a diretora sobre o Henry. Filho não se esqueça que você não pode expor a verdade dos portais pra ninguém.

— Senão você morre. — disse Edgar de forma sinistra.

— Ninguém morre, de onde você tira essas coisas?

— Hugo você sabe que é verdade a lenda do Zás, ninguém nunca mais ouviu falar nele, lembra?

— Quem é Zás? — perguntaram todos.

— Exatamente — respondeu Edgar sorrindo.

O pai já havia deixado os filhos quando a diretora terminou seu enorme discurso de sempre. Normalmente é para os novatos, e os veteranos nunca prestavam atenção. Na entrada da gigante porta do outro pátio estavam distribuindo jornais. Hugo pegou um e Henry leu com ele. Depois os outros irmãos se reuniram e os amigos também. Parecia que o Falcão Dú Mon tinha morrido. Pelo Louco de novo.

— Quem vocês acham que vai ser agora? — perguntou Grant que lia com dificuldade quando os outros o empurrava para ler também.

— Tomara que não seja um bebê, precisa de alguém experiente pra salvar a Terra agora. Coitados... Devor era muito forte. Quando ele morreu?

— Hoje de manhã, está ali escrito.

— Que jornal rápido em notícias.

— Me deixa ver... Espera, aquele não é Galactus?

— É o filho dele parece, é bem menor, não dá pra ver direito na foto, o cabelo dele está tampando o rosto.

— Quantos anos ele tem?

— Uns dez eu acho.

— Então Galactus não vai vir hoje. — disse Hugo.

Aquilo foi um choque, a morte de mais um Falcão significava que o Louco se fortalecia cada vez mais. Devor era francês e a foto parecia ter sido tirada na Alemanha. O que teria feito ele ir para lá? O mundo contava com ele. Parecia que a pior responsabilidade que existia era ser uma Falcão Dú Mon.

— Ei! Eu sei onde é esse lugar! É na Polônia, não me lembro a cidade, mas já estive aí. — Carlos falou, a foto era de dois homens de vestes pretas carregando um homem morto pelos braços. Estavam num cenário cinzento, mas a qualidade da foto não mostrava nitidamente bem. Mas mesmo assim Hugo notou que não tinha marca alguma na testa do morto, deixara de ser um Falcão. De repente veio na sua mente uma imagem engraçada de um da família Falcão se tornando Falcão Dú Mon.

— Não é Alemanha? — perguntou Hugo.

— Não, é na Polônia mesmo. Visitei ano retrasado. Diz que tinha a casa de um velho que mora no topo daquela montanha ali, olha. — apontava para uma extremidade escura na foto.

— Isso é uma casa?

— Lembrei — disse Hugo.

— Eu também — disse Henry.

— Não acredito nisso — falou Edgar surpreso.

— Vocês conhecem o velho?

— Sim — responderam.

— É um velho muito inteligente, posso dizer — disse Edgar.

— Ou todo mundo é burro — disse Hugo e os irmãos riram.

— Como ele conseguiu escapar?

— Como eu disse, ele é muito inteligente.

O assunto da morte do Falcão Dú Mon se espalhou dando medo nas pessoas que acreditavam que ele podia salvar o universo. As aulas iam começar, e Hugo foi pro treino dele deixando os outros com o jornal. Henry estaria numa encrenca naquele dia, o pai não o salvaria dessa vez. As escolas da Terra eram inferiores ao das outras dimensões humanas. A Castrum Nubila era o melhor no ensino entre seres extra dimensionais, tinha culturas de cada parte de planetas de cada parte de sistemas de cada parte da galáxia. Tudo que colégios terráqueos ensinavam a Castrum já era adiantada. "Aliás... Tudo da Terra em Capsilypson era melhor" pensava Hugo, e, segundo tinham aprendido em história, a Terra era mais velha que Capsilypson e mesmo assim estava atrasada.

Hugo não suportava o atraso, mas o que lhe fazia feliz era ver Andrômeda vindo em sua direção.


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Notas finais do capítulo

Não é comentado aqui, mas o período do dia em Capsilypson é diferente da Terra. Nos próximos capítulos entender-se-á que Capsilypson tem aproximadamente 36 horas, pois fica em outra parte da galáxia.



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