Falcão Dú Mon escrita por Gjoo


Capítulo 3
Capítulo 3 A marca




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Sua testa começou a doer quando voltou para a sala. O professor tinha se apresentado dizendo que ia ensinar física. Elisa era boa nisso, mas no assunto do ano passado, agora tudo podia mudar por uma matéria que não entendesse. O professor se chamava Sr. Thor, e havia avisado que não queria alunos comparando seu nome com mitologia nórdica.

Alguns riram quanto ao nome, mas deixaram de fazer isso quando o professor passou o assunto de forma monótona e cansativa. Parecia que nem ele estava ativo para a aula. Mas Elisa conseguiu acompanhar em algumas coisas simples como o comportamento dos elétrons quanto ao tipo de carga, a distribuição das forças num determinado sistema e uma parte de campo magnético e descobertas de William Gilbert.

A próxima aula foi mais divertida, a professora de matemática explicava sobre probabilidade, era mais energética comparada ao professor anterior, e falava rápido. Foi difícil acompanhar a matéria quando ela não falava do assunto, mas era só o primeiro dia.

No intervalo após outras duas aulas deu fome à Elisa, não tinha trazido lanche e por sorte era entregue de graça. Passou na cantina e esperou os alunos passarem para encontrar Irma. Shanna apontou pra ela que estava com mais três pessoas: um garoto alto, magro de cabelos escuros e crespos; outro garoto loiro, baixo e mais gordo; e uma garota ruiva com sardas que estava sorrindo e exibindo os olhos castanhos vivo.

— Oi... Elisa, né? Essa aqui é Valleska — mostrou a garota ruiva — e esse é Bernardo, ele não é daqui, na verdade ele veio do Brasil — o garoto dos cabelos escuros e crespos — e esse é o Mark... é desculpa... não sei o nome dele de verdade...

— Nem ele sabe — riu Bernardo.

— É Jonathan, mas não gosto que me chamem assim, prefiro Mark, é mais legal.

Elisa passou o intervalo inteiro conversando com eles, eram da sala de Irma e aparentemente não eram novos. O garoto do corredor que tinha visto apareceu umas duas vezes, não olhava para ela quando ela o observava, mas sabia que quando parava ele se virava para vê-la. Os amigos dele notaram isso e comentavam em voz alta coisas como "aê Henry! Já tá conquistando a garota", não se importava com aquilo, mas não queria que ele ficasse nervoso por causa dela. Aliás não queria que ninguém ficasse nervoso se alguém soubesse da família dela.

Mark era engraçado e fez Elisa rir tanto que numa das risadas acabou cuspindo o suco que bebia na cara dele. Todos no pátio riram, ela se desculpou mesmo que ele tenha achado engraçado. O garoto, que supunha chamar-se Henry, não estava mais ali. Era um alívio, pois não queria que ele tivesse visto aquilo. Mas aquela situação não foi o pior de tudo, logo depois de todo mundo ter apontado para o grupo e rido muito, a cabeça de Elisa começou a doer. Parecia que enfiavam uma agulha nela e riscavam na testa. Tinha colocado a mão na cabeça e mesmo assim não viu sangue algum. Sentia algo diferente nela.

— Está tudo bem? Sua cabeça está doendo? — perguntou Shanna.

— Ah, não... ai! Só um pouco. — na verdade a dor pareceu insuportável. Não estava aguentando mais, ia cair a qualquer momento daquele jeito.

— É melhor ir pra enfermaria, quer que eu te leve lá? — perguntou Mark.

— Sim... Por favor.

Andaram apressados até a um lado do corredor que tinha duas portas largas e entraram. O espaço era pequeno e Mark a deixou nos bancos próximos e se dirigiu a atendente. Falaram por um tempo até que ela veio e examinou Elisa, depois uma pessoa chegou e a levou para uma maca. Não soube como foi parar lá, se havia andado ou sido carregada, mas perdeu a noção da realidade quando deitou-se. O teto pareceu se dissolver no ar deixando fumaça branca pairando no espaço em volta. Depois viu e ouviu uma ave se aproximando, era rápido e majestoso. Deveria ser o rei ou rainha das aves. Uma aura multicolorida veio e a envolveu deixando ela flutuar no ar. Quando observou, suas mão estavam fortes e seu corpo mais flexível, a ave chegou mais perto e a transpassou. Ela sentiu o poder que a envolvia e uma voz masculina disse:

— Elisa, A Falcão Dú Mon!

Por fim, nas suas costas apareceram asas e seus olhos mais nítidos com a pupila em fenda. Podia destruir um ser num olhar e voar até os confins do Universo.

Quando se deu conta de que estava na maca de novo ela percebeu que havia dormido. Quanto tempo será que se passara? Talvez uma ou duas horas. Não podia ficar ali. Tinha que voltar. Aliás qual foi o sentido de tudo aquilo? Que seria um Dú Mon? Começou a se esquecer do sonho por mais que tentasse se lembrar mais em detalhes. Mas estava perdendo tempo. Naquele momento um médico tinha chegado e notou que Elisa estava acordada e melhor.

— Olá, está se sentindo melhor?

— Sim. Eh, que horas são?

— Agora... é... são dez horas. Dez e vinte pra ser exato.

Elisa esfregou a mão no rosto, não havia sinal algum de tortura ou dor presente ali, parecia que um bom sono era o que precisava.

— Vou fazer seu atestado pra quando você quiser voltar pra aula. Parecia que você teve um simples distúrbio mental ou coisa parecida — "simples distúrbio mental?" pensou Elisa — você tomou café essa manhã?

— Si... não... n-não me lembro.

— Pois bem, de agora em diante o fará. Não pareceu que você estava fraca, porque pelo que eu vi — apontou pra barra de ferro da maca — isso não seria possível nem com uma pessoa em estado normal. — a barra tinha se distorcido, havia formas bem explícitas de dedos que afundaram ali, aquilo foi muito estranho, terá ela feito isso? Estava boquiaberta com a situação e quando percebeu ela disse:

— Oh, me desculpe... Eu não sei c-como... Como eu fiz isso?

— Bem... isso eu não sei, eu a vi simplesmente segurar quando a colocamos aí e retiramos sua mão daí, depois vimos a marca que deixou, ou melhor, eu vi. Não poderia tê-la deixado sob fofoca na escola enquanto estivesse inconsciente. Mas não se preocupe, seu segredo está guardado.

Aquilo era pior do que ela pensava, no primeiro dia já tinha desmaiado e agora guarda segredos com o médico da escola que nem ao menos a diagnosticou como deveria. Ela poderia muito bem estar com alguma doença rara... ou a maca já poderia estar daquele jeito antes mesmo de ter tocado... ou estava tão inconsciente que o sonho pode ter perturbado ela e... não conseguia mais arranjar desculpas para aquilo.

— Eu disse para não se preocupar — disse o médico que pareceu ter lido a mente dela o tempo todo.

— Você pensa que sou anormal? Quer dizer... um monstro ou coisas parecida?

— Eu poderia pensar que você acabou de ganhar poderes como os novos tipos de heróis que vemos hoje em dia. Não vejo uma outra explicação para sua força descomunal e sua temperatura acima do normal — de fato Elisa devia ter explodido algo, estava cheirando a queimado, e quando observou a maca estava um pouco preta da queima dos lençóis. Mas não poderia ter sido ela. Aquilo tinha que ser pegadinha, uma piada sem graça. — ainda vejo que também você sentiu dor por causa da sua testa, por isso gemia e chorava. Deve ter doído muito pra arranjar isso na sua testa.

— Minha test...? — tocou a testa e não sentiu nada de diferença... Mas sentiu algo que não seria o franzir na cabeça, e sim algo como um corte... um não, vários.

O médico olhou na gaveta ao lado da maca procurando algo, mas não encontrou, se levantou de um banco e saiu à procura de alguma coisa, então quando olhou no armário de metal notavelmente recém pintado tirou um espelho dali. Elisa pegou o cabo e girou deixando refletir seu rosto. E acima dos olhos havia uma marca. Não era um "x" ou rabiscos, parecia mais um desenho bem desenhado. Era a forma de um triângulo apontado para baixo sem pontas na base, em vez disso eram retas que ligavam os lados do triângulo e a linha da base onde falta um centímetro para encontrar o suposto vértice. No centro tinha a imagem de uma ave de lado com o olho voltado para o meio, como se observasse a pessoa que a olhasse. Era sinistro ter aquilo na testa. No primeiro momento Elisa se assustou e depois percebeu que não parecia uma cicatriz ou algo assim. Parecia mais uma tatuagem brilhante que refletia a luz de vez em quando. Com certeza não era normal de uma cicatriz refletir colorido nas linhas.

— Juro que ninguém fez isso a você. A menos que não tenhamos visto, mas não tinha ninguém aqui além da equipe da enfermaria e você. Não sei como alguém faria isso em tão pouco tempo. Com certeza não é uma tatuagem e muito menos uma cicatriz. Me desculpe por não ter feito um diagnóstico melhor, mas em todos os meus anos de estudo na faculdade isso não é visto nem hoje em dia.

— Então... Sou anormal?

— Não... Mas mesmo assim não deveria mostrar isso às pessoas. Muita gente interpretaria isso mal. Ainda mais que parece ser um tipo de símbolo.

Elisa pegou uma parte do seu cabelo que era preso para trás e deixou uma franja tampar sua testa.

— Está melhor?

— É... não dá pra notar.

Ainda não se sentia confortável com aquilo, mas o tempo estava passando e provavelmente o doutor não falaria mais nada que pudesse resolver aquilo.

— Bem, já vou fazer o atestado, se quiser descanse mais um pouco e irei ligar para os seus pais a respeito disso.

"Essa não" pensou Elisa. Os pais eram as últimas pessoas que queria que soubessem da situação. Não sabia o que o pai iria dizer quando visse aquela coisa na sua testa. Já havia descansado bastante então foi esperar no atendimento da enfermaria o atestado. Continuava a tocar a testa por debaixo da franja. Não parecia um machucado, mas a fez sentir tanta dor. Por que será que aquilo foi parar justamente na sua cabeça? Que raios de doença seria aquela? Será que seus pais sabem alguma coisa a respeito? Estava ouvindo a atendente conversar com os pais dela, provavelmente seria a mãe, porque o pai estava no trabalho. Não se preocuparia em voltar pra casa mais cedo. Aliás era só o primeiro dia de aula. Seu coração batia rapidamente toda vez que sentia o relevo da marca, temia que aquilo ficasse para sempre ali. Começou a tremer um pouco.

O médico voltou e deu o atestado à ela, então estava liberada para voltar para a sala. Não tinha certeza onde era, mas continuou a andar até achar algo que lhe pareça familiar quando estava no corredores. Viu o garoto Henry no corredor. Ele estava no bebedouro e se surpreendeu ao vê-la.

— Aah... oi!

— Oi — respondeu Elisa sem jeito — ahn... me desculpe... mas, acho que-e... m-me perdi. É... sou da sala 303 eu acho.

— Ah, sim, sei onde é. — ele sorriu — fica bem ali, estava na enfermaria?

— Sim — Elisa tentou tampar um pouco mais sua marca — mas já estou bem.

— Ah, ainda bem.

Elisa sorriu pelo que ele disse, não sabia o porque de ela estar tão desajeitada assim. Ele nem parecia bonito.

— Sou Henry.

— Elisa.

Os dois continuaram a andar até que ele a deixou na porta da sala, e foi embora se despedindo e sem querer bateu de frente com uma das colunas. Elisa riu, mas quando entrou todos a olhavam.

— hummm, danadinha. Matando aula pra se encontrar com um menino — todos repetiram o "hummm" do garoto que disse aquilo e o professor riu um pouco. Elisa corou mesmo que não gostasse da brincadeira.


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