Falcão Dú Mon escrita por Gjoo


Capítulo 13
Capítulo 13 Uma visita ao castelo




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A manhã nascia no vale. Oton pediu que Hugo saísse. Passara uma noite inteira conversando com ele e Hugo a aproveitara bem, pelo menos o necessário para saber o que estava acontecendo. Algumas pessoas usam jornais para procurar informações, mas para ele Oton era uma fonte muito confiável de informação. Não se sabia como as conseguia, já que raramente saía de casa. Apesar das notícias serem ruins, Hugo teve de aguentar vários dias com ele o chamando de burro.

Sempre ia visitar Oton depois do colégio ou numa hora vaga, desde o dia em que o convidara para conversar. E o motivo não era em vão. Tinha designado uma missão para Hugo de guardar os segredos em que se relacionava com o Falcão Dú Mon. Porém não todos. Oton sempre se mantinha em silêncio quando podia, dizendo sempre que não podia contar mais do que o necessário.

— Não pode mais ficar aqui, Hugo — disse Oton — o dia já amanheceu e não quero mais problemas. Seu pai deve estar se perguntando por onde você tem andado esses dias, caso ele tenha se esquecido dos seus compromissos.

— Ele não se esquece. Só vive ocupado demais pra demonstrar atenção em alguma coisa.

— E quando vai acontecer o casamento? — perguntou Oton, mas não de forma curiosa.

— Eu estou esperando que ocorra em novembro. Perto de dezembro. Mas acho que não vai se importar, você não vai ir mesmo — disse Hugo, sabendo que o velho não gostava de ir a eventos como esses.

— Sou mais ocupado que seu pai, mas nunca me esqueceria de um casamento importante como esse. Aliás, a Andrômeda é uma das feiticeiras mais poderosas que tem em Capsilypson. Mas lembre-se do meu aviso: não se apaixone a ponto de se esquecer dos problemas. Você ainda tem muitos. E eu mais ainda. O Louco nunca vai descansar antes de me capturar vivo ou morto.

— Mas você é bem inteligente, vai conseguir fugir — disse Hugo.

— Mas é claro! Não sou burro a ponto de me expor e colocar um alvo em mim para ele me acertar. Trabalho dia e noite para que você esteja vivo. E Dú Mon vai querer saber o que ando fazendo. Você é uma das esperanças de Capsilypson, então não se torne mau antes do Louco ser destruído — isso desanimou as expectativas de Hugo. Seus planos não aconteceriam por causa do Louco. Mas Oton garantira que se mantivesse bom até estarem salvos o suficiente para continuarem a vida como era antes dos ataques.

— Tudo bem. Vejo você amanhã, então. Até — se despediu Hugo.

— Tchau — disse Oton se virando, com mal humor.

Hugo caminhou por entre as rochas da montanha e descia algo que poderia ser chamado de estrada, era coberta de pequenas pedras cinzas e plantas quase negras, misturadas ao marrom.

O ar era frio ali. A névoa subia e Hugo descia. O sol amarelo alaranjado surgia nas extremidades do horizonte e além. As montanhas tampavam seu brilho que alcançava pequenas vilas nas encostas e vales. O lago refletia como um espelho negro e a pedra de portal estava se deslocando nas margens. Tinha o formato de uma estátua de uma múmia, sem rosto e sem contornos exatos.

Seu cabelo estava ficando úmido. O ar ficava mais frio e sentiu na cabeça o vento transpassá-lo. Ajustou seus óculos embaçados e se segurou numa vinha quando quase escorregou. Chegando no fim da "escadaria" Hugo caminhou na estrada verdadeira, na encosta da montanha. Chegou ao cais vazio e andou até a pedra flutuante. Tinha o tamanho de uma criança de dez anos, aproximadamente. Subiu na coluna do cais e fez com que ela boiasse para mais próximo dele. Tocou nela com nojo e disse:

— Haerious, halerious!

Num instante, a pedra encobriu sua mão e o lodo foi junto. No outro, estava voando para longe, passando por vultos de várias cores que se misturavam, até chegar num local fixo. A pedra o soltou e bamboleou no lago congelado. Hugo fez esforço para se manter em pé. Estava na cidade de Meryli, onde há mais inverno do que outra estação. Não respirava muito bem ali, já que a dimensão tinha pouco oxigênio. Mas era suportável até chegar no portal direto para Castrum Nubila.

Falcão Dú Mon tinha sido a questão do momento. Sua diretora fez um velório em honra de Galactus, pelo seu amor e determinação para todos os mundos que ajudou. Hugo se lembrava tristemente dele. O vazio o deixava melancólico, mas Oton tinha sido algo que preenchesse seu lugar mais do que deveria. Precisava de alguém que o ajudasse em planos e projetos futuros em que se empenhava dia-a-dia, usando seu intelecto e determinação ensinada por Galactus.

Ele era mau antes de conhecer o Louco. Teve medo de seu passado repercutir durante toda a sua vida. Contava somente a Hugo seus segredos e planos. O mundo teria sido deles se não fossem os heróis.

O Louco não era nenhum herói, mas atrapalhava os planos de qualquer um que tentasse ficar na sua frente. Henry era uma das pessoas que faziam isso facilmente. Hugo o detestava por isso. E agora o odiava pelo fato de fazê-lo lembrar disso. Nunca teve simpatia com o irmão. Aliás ninguém de sua família teve. Seu pai deixara uma marca de queimado nos seus olhos quando soube que estava detendo os assaltantes do banco e levando-os para a cadeia, e não tinha sido somente os olhos, mas também o braço e parte da boca. Hugo atirou alguns raios nele, mas não tinha dado tanto dano quanto os do pai. Nunca mais falara com Henry e não pretendia falar de novo.

As árvores rosas estavam à volta do lago congelado. Hugo andou pelo caminho azul que brilhava com a cor de violeta, refletindo a luz das Estrelas de Alto. Elas é quem faziam o papel de sol naquele planeta. Achou as escadas tortuosas para um templo branco com detalhes vermelhos e azuis. Os telhados da ala leste eram azuis e para lá foi. O outro lado era vermelho, com dourado no chão quadriculado. Um poço ficava perto da entrada, não havendo ninguém por perto. Chegou no portão arruinado e pulou dentro do buraco que tinha numa das portas. Água entornava no chão e uma estátua de Enovios ficava na parede. Abaixo dele estava uma porta com sete fechaduras e duas maçanetas em lugares aleatórios.

Hugo pegou a varinha que tinha no bolso e conjurou uma magia para abrir a fechadura mais esverdeada do que as outras. Pegou na maçaneta mais acima e a girou no sentido horário, fazendo-a trincar. Puxou-a e a porta desapareceu girando para trás. Na sua frente estava um túnel escuro e esverdeado pela luz que entrava de um teto quebrado e com musgo. Entrou e quando se virou, a porta tinha aparecido, fechado e trincado novamente, depois se deslocou para cima e sumiu num lampejo no meio da escuridão dos cantos do túnel.

Andou mais ainda e saiu para uma floresta com cachoeira barulhenta e sapos cantantes à luz da manhã. Tudo ali era verde de folhas e liquens. O céu era a única coisa azul da paisagem, mas estava tão acima que dentro da floresta não se via isso. Hugo pulou a rocha na qual estava em pé e entrou na água que o teleportou para o lago de Castrum Nubila.

Não tinha se molhado, mas sentia que sim. O Lago Azul era brilhante e lindo, mas não significava que era mais limpo que o Lago Negro. O problema maior eram os monstros que ali viviam. Hugo chegou na margem ainda seco e pulou rapidamente para fora. Grant o tinha visto.

— Hugo! — pegou sua mão e apertou-a bem forte — como vai? Mais uma missão?

— Não, só ordens para fazer nada — sorriu para ele, e Grant sorrira junto.

— Oton tem te dado muito trabalho ultimamente. Daqui a pouco te verei surgindo da privada — Grant olhou-o e percebeu que estava sem machucados — qual é o plano dessa vez?

— Que plano? Não tem plano mais.

— Podíamos nos unir novamente. Me sinto muito parado. E não deveria ter feito aquilo com o Henry, ele precisou de muita magia para tirar aquele vermelho do olho.

— Ele mereceu...

— Ele só fez a parte dele. Se seu plano teve falhas, é porque se esquece de quem está ao seu lado.

— Parece até o Oton falando — percebeu Hugo.

— Nunca o vi. Mas não vou te dar missões todo dia para nada. Sei que Oton está te preparando para algo, e mal posso esperar o quê. Preciso de algo que me movimente, como antigamente — disse Grant.

Grant, Hugo, Maes, Henry, Eva e Larry eram como aventureiros desde crianças. Viviam em várias confusões e eram incluídos em vários assuntos de anormalidade e perigos universais. Salvavam o universo de várias maneiras, mas com o tempo esse trabalho ficava mais difícil. Hugo era do mal, Maes e Eva eram lydias, Larry estava praticamente doente e Grant e Hugo viviam ocupados. As missões que recebiam não eram ordenadas por alguém. Eles a cumpriam por pura vontade, e assim exploraram bastante do mundo que viviam. Andrômeda participava às vezes, como Edgar e Touro Negro. Havia momentos em que precisavam de muita ajuda para salvar o mundo. E muitas vezes precisavam de uma inteligência maior para desvendar alguns mistérios. Oton era o que normalmente usavam para tal coisa.

Hugo e Grant caminharam pelas praças e corredores do colégio. Hugo se lembrara de que não via Henry fazia muitos dias, mas afastou esse pensamento, lhe dava raiva.

— Quando é o casamento? Preciso ver se não estarei ocupado — disse Grant.

— Precisamente para o fim de novembro. É o mais preciso que posso lhe informar. Tenho que ver com Andrômeda. Estaremos recebendo nossos prêmios e graduações ao final do ano e vamos já comemorar perto desses dias para ter tempo do pessoal viajar depois desse período.

— Hum... Mas... quando é novimbo? — perguntou Grant. Hugo se lembrou que ele era de Capsilypson, e não sabia dos meses da Terra.

— É o mês de Fantos. — disse Hugo — Perto das estações das rosas...

— Eu sei quando são as estações das rosas! — argumentou Grant.

Subiram as escadas de uma ala do noroeste do castelo, passaram pelo corredor e viraram à esquerda, subindo uma escada de ferro negro em espiral. Conversaram sobre os meses da Terra e de Capsilypson. Hugo tentou provar para Grant que os anos das duas dimensões têm os mesmos meses, mas este contrariava essa ideia com argumentos históricos culturais de cada lado da dimensão.

Continuaram por um corredor que ia até a base de uma torre num montículo de terra. Viraram à direita e deram a curva no corredor com uma grande fluxo de alunos. Finalmente atravessaram aos empurrões e continuaram na ponte que ligava essa torre à outra na beira do penhasco. Havia um abismo que ninguém nunca ouviu falar de fundo. Alguns diziam que a base do castelo não era um disco perfeito, e que havia um furo nesse disco que seria o abismo em que a ponte passa por cima. Porém isso nunca foi provado. Havia somente névoa e brancura que a visão permitia notar.

Hugo ajustou os óculos depois que tinha espirrado. Apesar de um ótimo feiticeiro, ele não queria interferir na sua visão, a menos que se tornasse cego por completo. Encontraram alguns amigos no caminho e conversaram sobre Galactus, deixando Hugo mais melancólico do que de costume.

Estudava o colégio enquanto caminhava. Os outros estavam tristes e desesperados. Falavam de Baknor destruir o castelo e do filho do Galactus ter sido morto. Havia muitos boatos surgindo no castelo todo e, para Hugo, uns eram mais improváveis que outros. Grant não acreditava nas palavras que saíam da boca das pessoas, sempre deixando sua opinião acima de tudo. Ele era bom em convencer as pessoas pensarem como ele, mas em algumas situações isso não funcionava.

Chegaram na sala cento e dezoito e entraram com o professor dentro, arrumando seu material.

— Olá, pessoal! Sentem-se! Eu só estou... — deixou alguns papéis caírem — estou arrumando os trabalhos dos outros alunos.

Hugo se sentou na carteira mais próxima das janelas altas. Alguns de seus amigos se despediram deles, pois não eram daquela sala ou da matéria. Grant sentara ao seu lado. O professor de Allat e também de quimiomagia era o Dr. Kallin. Era o último período de quimiomagia que se dava aula. Depois de terem estudado as teorias recentes e as aplicações de algumas, sobrou somente o assunto de novas descobertas. Esse ramo não era grande coisa para Hugo. Ainda não se tinha descoberto tudo sobre quimiomagia, mas havia poucas coisas a serem ensinadas com descobertas feitas por ele mesmo.

— Bem, como muitos sabem, a teoria do Hugo é a matéria que vamos ver hoje. Quando receberem a graduação poderão afirmar em teses dos teóricos sobre as categoria subsequentes da mutação da matéria. E pra que serve isso? Muitos dos mágicos usam magia transformando coisas em outras coisas. Algumas delas são consideradas impossíveis, mas ocorrem. Há as leis de mutação que foram rompidas por muitas teorias, ainda existindo as leis básicas. A parte de vocês não é entender por completo e sim formar "bases" que reformulam as antigas leis.

A aula durou por muito tempo. Usaram os cajados e varinhas para estabelecerem uma mudança estável da matéria e tentaram usar, por meio de energia de Flinqhnqor, os raios ultravioletas no aparelho de Flinqhnqor.

Quando saiu da sala, Hugo e Grant viram Obeliets correndo nos corredores, e algumas pessoas tentando pegá-los.

— De onde surgiram todos esses bichos? — perguntou Hugo.

— A Maes soltou um guincho que estremeceu o vidro de sais, deixando cair os ratos da sala. Aí o Sr. Gray estava com uma cabine de transmorfos e saiu todos esses Obeliets — explicou uma menina que pegava cinco entre os braços quase cruzados.

Na Terra, alguns anos luz de Capsilypson, havia uma garotinha que se sentia solitária. Brincava na rua sozinha, somente com sua boneca, Lilly, na qual era sua melhor amiga. Seus vizinhos a achavam linda e graciosa, mas seus filhos pensavam totalmente o contrário. Essa garotinha tinha apenas oito anos e se chamava Emma.

Lilly tinha cabelos encaracolados e dourados. Emma tinha dourados, mas lisos. O que mais gostava em sua boneca era que parecia que a ouvia sempre. Quando estava sozinha ou acompanhada de alguém. Os meninos da rua a chamavam de "Emma estranha" ou de "Esquisita". Isso a fazia chorar e mesmo se chamasse seus pais, eles não resolveriam, sabia disso.

Às vezes brincava com os meninos da rua, mas quando começavam a brigar a coisa ficava feia. Emma não é muito querida entre eles e fazia o máximo de esforço para não bater neles quando a "elogiavam". Sua mãe era quem a impedia disso, pois não a deixava voltar para casa suja. Na primeira vez que ouvira sua mãe falar "não volte suja, mocinha", Emma interpretou ao pé da letra e quando bateu nos meninos da rua, tratou de não se sujar, evitando o máximo as lamas e fuligens dos cantos das casas.

Seu pai trabalhava até tarde, quase não o via. Quando ele chegava, Emma pulava em cima dele e escalava suas costas, amarrotando todo o seu terno, mas isso não o incomodava, sempre sorria. Sua mãe se preocupava sempre com o que fazia. Dizia sempre pra ser "mais menina". Emma nunca entendia isso, já que era uma menina. E confundia mais ao que sua tia falava, que "era quase uma mulherzinha" ou "meninona".

Lilly sorria para ela, quando Billy a pegou e correu. Emma não o tinha visto chegar, sempre fazia isso sem ela perceber. Correu atrás dele com toda a força que suas pernas podiam aguentar. Ele estava rindo até que ela o socou pelas costas. Pegou a boneca e deu mais um soco na cara dele, fazendo-o cair no chão.

Emma tropeçou nele e caiu junto. Quase batera seu rosto na calçada, tinha se protegido com uma das mãos que ralou no concreto. Um gato miou ao lado deles. Roy estava rindo do outro lado da rua. Lilly ainda estava na outra mão. Billy pegou sua perna quando tentou se levantar e caiu novamente.

Sangue surgia por entre seus dedos e na carne da mão. Billy começou a chorar e correu murmurando algo que deveria ser "eu vou contar tudo pra minha mãe", o que era mais provável.

O gato a olhou e se ronronou nas suas pernas. Era um filhote branco e com olhos muito negros. Emma gostou dele e levou-o consigo até sua casa.

Isso ocorreu naquela tarde, em Nova York. No outro dia, em Denver, Elisa acordara sem queimar a cama ou provocar algum acidente no seu quarto. Dormia sozinha, depois que seu pai tentou consertar a janela quebrada. Ele chegara à noite do dia anterior. Ela percebeu que não fora buscá-la na escola, quando estava com Henry em outra dimensão. Estava entusiasmado, porém envergonhado por não tê-la buscado.

Descobriu o que ele andara fazendo quando resolveu contar no jantar. Esteve em reunião com seus comparsas e acharam um lugar em Utah que tem petróleo. Porém ficava numa fazenda já ocupada. Havia um plano para tirar os moradores e instalar os Falcões lá.

No começo pareceu uma boa ideia, segundo o pai, mas ele pensou que seu trabalho não podia se limitar naquela fazenda. Então resolveu colocar o resto da família para cuidar. No entanto havia mais pessoas de olho naquele lugar. Fizeram um trato em que metade ficaria a cada um. Aos olhos de Elisa, aquilo daria errado, pois sabia que o pai era obcecado por dinheiro e riqueza. Não havia ninguém mais obcecado do que ele.

Seu pai perguntara se ela estava brava por ele tê-la esquecido, mas isso não a incomodara. Disse que voltara de ônibus, não contando nada sobre Henry ou Capsilypson.

Estava pronta para sair e seu pai a levou. O dia estava quente, mas sem sol. O clima mudava constantemente desde que ela chegara, parecia que a chegada da família trouxera aquele ambiente. Seus irmãos foram antes dela e Charlie saiu com a mãe. Quando estava chegando na escola algo estava estranho. Apesar de chegar cedo, havia muitas pessoas envolta das portas de entrada. Percebeu que eram funcionários.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou o pai.

— Não sei — disse Elisa, espantada com a cena. O alvoroço que os funcionários faziam a perturbava. Pareceu que uma tragédia aconteceu, pelo que pode ver dos seus rostos.

— Deixa eu ir lá ver — ordenou o pai que a filha ficasse, estava sóbrio.

Quando estacionou por perto, saiu e foi em direção à entrada. Mal conseguiu subir as escadas completamente, quando o diretor abriu as portas e alguns professores correram para ver. Depois fechou as portas na frente de seu pai. Ficara furioso e bateu na porta junto aos outros pais que estavam ali. Uma porta se abriu para surgir a cabeça do diretor e ele disse:

— Só um momento, por favor.

Estava nervoso, e fechou a porta tremendo. Elisa não pode ver o que acontecera nem o que ele falara, pois estava muito longe, mas ouvia o tumulto que os pais faziam. Conversavam entre si e exclamavam, notavelmente nervosos. Com exceção de seu pai, que roubava algumas coisas enquanto todos se distraíam. Elisa não concordava com aquilo.

Após ele correr para o lado da escola, soube o que ele estava fazendo. Estava tentando entrar sem ser visto. As presilhas que pegara serviram para abrir a porta de fundo, os lápis e canetas usou para desligar algum sistema de alarme através daquela porta, colocando as partes isolantes nos fios que ligavam à porta. Naquele momento Elisa soube o quanto ele era inteligente.

Mas ela não quis ficar parada. Sabia que logo os ônibus chegariam. Saiu do carro e correu para a porta. Lembrou-se que Henry tinha dito que algum dia ela teria que enfrentar um ser malvado que destruiria a Terra ou algo parecido. Se falhasse em algo simples como aquilo não seria capaz de enfrentar tal coisa, então entrou assumindo o perigo que aquilo causaria.

Encostou a porta que rangia alto, mas não chamara a atenção de ninguém. Olhou em volta e andou devagar pelo corredor pequeno. Duas portas de cada lado mostravam lugares que não a interessavam. No final desse pequeno corredor havia o corredor ao lado do pátio. Já ali pode ver uma aglomeração de pessoas na enfermaria, no fim do corredor em que estava.

Pessoas suspiravam e se espantavam-se com a cena. O diretor pedia para que todos se afastassem. Elisa não ousou se aproximar mais. Por alguma razão seu coração batia forte e respirava dificilmente. Mesmo longe ela conseguiu ouvir o que diziam.

— E-ele... e... e-está... — dizia uma mulher que não completou o que estava dizendo.

Alguém chorava, outros saíam de perto. Elisa evitou que a vissem.

— Meu Deus! O que está acontecen... O que... O que é isso? — disse um homem que atravessou os funcionários aos empurrões — Um morto!

— Não precisa dizer o que é, todos já sabem! — disse o diretor — não podemos deixar os alunos entrarem se souberem disso.

— Vai mandá-los todos embora? — disse alguém.

— É preciso. Pelo visto alguém matou ele e ainda pode estar aqui.

Todos os funcionários ficaram assustados, percebeu Elisa. Um deles não aguentou ver o morto e foi embora. Outro tentou ver aos empurrões. Ouviu o som de uma porta arrombando. Todos se espantaram. Quando Elisa andou mais alguns passos para ver o que era, pessoas saíram da entrada do colégio e entravam. Seu pai estava entre os funcionários e o diretor ficou vermelho.

Murmúrios chegavam à medida que os pais e alunos entraram. Elisa planejou entrar no meio deles quando chegassem.

— O que está acontecendo? — berrou o diretor — estão destruindo a escola!

— Não destruímos nada! Queremos saber por que a escola está fechada — disse uma mulher, seguida de "é" de alguns outros pais.

Uma mulher gritou e um homem exclamava algo. Depois várias pessoas se aproximaram mesmo aos avisos dos funcionários, mas a curiosidade fez com que vissem o homem morto. Quando a notícia se espalhava, Elisa pode ouvir o que diziam aqueles que estavam mais perto dela.

— É o doutor! Da enfermaria...

— Meu Deus! Ele está todo ensanguentado.

Elisa aproveitou para sair de trás da parede e andou até a redoma de pessoas. Quis ver também se era verdade, mas alguém a puxou.

— Vamos! — disse Henry.

Elisa não hesitou e andaram por entre a multidão e saíram escondidos pela entrada principal da escola. Alguns perguntavam a eles o que aconteceu, mas passavam direto sem falar nada. A cabeça de Elisa estava conturbada. Não soube o que fazer diante às perguntas e ao doutor.

— Henry, espera! — disse, quando chegaram na calçada — não posso sair. O doutor... ele precisa de ajuda.

— Elisa, ele morreu... E não foi em vão.

Ficou perplexa ao ouvir aquilo. O motivo não poderia ser ela, não esteve ali, não tinha feito nada. Mas Henry insistiu em conduzi-la a algum lugar. Desta vez quis ficar, porém não soube como convencê-lo.

— Se não vier comigo haverá outros iguais a ele — disse Henry, em tom de aviso.

Convenceu-a, mas mesmo assim estava relutante por dentro. Parecia covardia deixar o doutor. Quando estavam do outro lado da rua, Elisa pôde ouvir o diretor.

— As aulas estão suspensas!

Seguiram pelo mesmo caminho do outro dia. Quase perderam o ônibus, tiveram que correr para alcançá-lo. Quando estavam sentados no fundo, Elisa quis ouvir o que Henry tinha a dizer.

— O que aquilo tinha a ver comigo?

— Não tenho provas, mas tenho certeza de quem fez. O Louco anda atrás de você. Alguns espiões estavam nos seguindo ontem. Os guardas da cidade não aparecem à toa — Henry parecia estressado, como se tivesse trabalhado o dia inteiro e ninguém o valorizava.

— O que estava nos seguindo? — disse Elisa, séria como se nada mais no mundo importasse. Tentava não demonstrar medo.

— Eu não sei ao certo. Saqueadores... Ladrões... Sequestradores...

— O que essas pessoas querem comigo?

— Nenhuma delas iria te matar — disse Henry, mas ao falar "matar" ficou constrangido — machucá-la... ou algo assim. Eles só serviriam para te levar a alguém. O que aposto que seja o Louco.

Elisa refletiu um pouco, pouco por causa do nervosismo. Olhou para o resto de ônibus e não notara alguém escutando.

— Eles viriam para a Terra?

— Se for preciso, sim.

— E se... não for o Louco? Você disse que pode ser ele, então quem seria a outra possibilidade?

Henry a encarou sério. Guardava algum segredo que não contara a Elisa. Ela socou seu braço.

— Fala!

Henry sorriu pelo soco, mas não pelo motivo a qual diria.

— Ultimamente Baknor andou conquistando territórios e planetas... Ele é um imperador galáctico agora e não deve querer que ninguém entre em seu caminho... Mas não é provável que ele tente te... Ele não teme os Falcões Dú Mons. E também ele não sabe sobre você...

— O que quer dizer com isso? Mais alguém... sabe sobre mim?

— Na Terra somente eu e talvez Oton. Em Capsilypson não tenho certeza. Muitos ainda querem saber quem é o novo Falcão Dú Mon — disse Henry, olhou para a janela do ônibus — chegamos.

Desceram do ônibus e andaram até os dois prédios em que o Muro ficava entre eles. Os mendigos não estavam mais ali. Pareceu que se mudaram ou algo parecido. Elisa olhou em volta e ninguém, exceto um cachorro, estava ali. O cão fazia xixi na parede enquanto Henry abria o portal. Mais uma vez o vento surgiu da luz azul cheia de raios. Passou por ele e chegou em Capsilypson.

— Para onde vamos hoje, então? — perguntou Elisa. Se sentia animada mesmo assim.

— Vamos para Castrum Nubila — respondeu Henry.

Explicou para ela no caminho. O céu estava laranja, seria noite se não fosse um dos sóis ainda descendo do horizonte. O Planeta com anel era visto como se estivesse muito próximo de Capsilypson.

— Então... é um castelo ou uma cidade? — perguntava Elisa enquanto iam para um ponto de ônibus — não pode ser os dois.

— Bem... Verá como pode. É tão gigante que ninguém visitou todos os lugares de lá. Eu nem conheço metade daquilo, mesmo estudando por oito anos.

— Oito anos? Então eu também tenho que estudar lá por oito anos? — perguntou confusa e admirada.

— Não, eu acho. Depende do que você estuda e da sua idade e dos seus conhecimentos — disse Henry — Não há como ter certeza. Existem pessoas que estudam quimiomagia, outras estudam os verbetes orientais, alguns estudam astronomia, e também há aqueles que estudam a vida em geral, normalmente esses demoram muito tempo pra se formar.

— E você estuda o quê? — perguntou Elisa quando avistava um ônibus flutuando até eles. Queria entrar em um deles, mesmo que não fosse o que levava ao destino que queriam.

— Não é este. É um azul — o ônibus que passava era laranja com listras vermelhas enormes — Eu estudo a ciência de tudo, artes marciais e controle dos poderes. Os que eu disse foram generalizados, não são chamados assim, porque são muito complexos e cada um exige algo diferente. Acho que se você estudar vai entender.

Um ônibus azul passava. Era claro com listras escuras e enormes. A noite se aproximava lentamente enquanto andavam de ônibus. Elisa estava curiosa em conhecer aquela cidade-castelo nas alturas. Perguntou-se se aquilo alguma vez caiu, então passou a pergunta para Henry.

— Não, senão existiria um cano de tijolos alto com um elevador que não chega em lugar algum— disse ele, sorrindo. O ônibus estava um pouco cheio, mas eles conseguiram achar dois bancos vazios.

Elisa sentiu o deslizar suave dos ônibus que não balançavam. Achou aquilo muito divertido. Henry pareceu rir da sua diversão, mas ela não se importou. Estava alegre, sem se preocupar com o destino que seguiria.

— Imagina montanha-russa assim! — disse Henry — dizem que estão projetando. Mas o primeiro que testar pode ser o único.

O sol ainda não tinha se posto. Elisa já via aquela paisagem de pôr-do-sol por muito tempo. Não a cansara, mas parecia nunca terminar. Ouvia o que as pessoas do ônibus diziam e percebeu que alguns não falavam sua língua. Havia uma criatura azul de presas enormes surgindo da mandíbula alcançando os seus olhos, suas pernas eram tão longas que uma ficava inclinada enquanto a outra chegava ao segundo banco da sua frente. Um homem de aspecto vampiresco estava lá, tinha sangue na boca e parecia que falava húngaro, as pessoas não chegavam perto dele. Uma mulher tinha dois grandes galhos na cabeça e pele cor de árvore. Siameses ocupavam dois bancos. Um dragão branco com bigodes pretos em cada lado do focinho usava terno e gravata vermelha, nos olhos tinha óculos escuros, carregava um saxofone numa das mãos.

— Que... diferente! — exclamou Elisa.

— O quê? — perguntou Henry.

— Tudo! Aqui, lá fora... Os prédios são diferentes, as pessoas diferentes e criaturas também.

— É... Isso é Capsilypson, a cidade dos portais. Era de se esperar que pra tantos portais haveria tantas criaturas. Alguns ainda preferem viajar de nave.

— Como nos filmes? — perguntou Elisa, curiosa — tipo Star Wars?

— Eu.. não sei. Tem um filme chamado Star Wars? — perguntou Henry, surpreso.

— Sim. Assisti com meu irmão Zack uma vez. Ele adora esse tipo de coisa.

— Isso é estranho. Aqui preferem evitar. Ainda mais que realmente tem uma guerra estelar acontecendo. Há uns mil e quatrocentos anos.

— Minha nossa! — exclamou Elisa — nenhuma guerra pode durar tanto...

— Eu sei, mas é. Bem, depende... É muito relativo. Isso precisa de uma referência espacial para ser analisado corretamente — disse Henry.

— Como assim? — Elisa não entendia muito sobre a relatividade.

— O espaço e tempo são considerados complexos pela falta de argumentos para definir uma semelhança de um e outro. Há várias teorias e até contos. O que eu sei é que se você viaja no espaço você anda no tempo. Mesmo parado o tempo anda. Pode-se voltar no espaço, mas o tempo continua seguindo em frente. Uma vez um duende me contou que me viu caindo num poço. Eu achei aquilo estranho no princípio. Mas quando estava numa busca pelo tesouro de Jogel eu caí no poço para achá-lo. O tesouro é outra história. O que quero dizer é que o duende previu meu futuro, e me questionei sobre isso. Se o tempo sempre continua, como ele viu algo que o tempo não passou? Cheguei a conclusão que o tempo pode mudar qualquer lugar o que pode mudar o espaço também, mas o espaço não pode interferir no tempo.

— Hum... Isso é muito confuso. Ainda não entendi a relação disso com os mil e quatrocentos anos.

— Simples! — disse Henry, sorrindo — primeiro se pergunta: "Mil e quatrocentos anos aonde?". Depende do referencial. Alguns portais podem voltar e avançar no tempo. Até hoje ninguém sabe como. Mas o espaço não interfere no tempo, não?

— Bem, pelo que você disse, não.

— Então por que o tempo muda até numa viagem espacial? A resposta é que você voltou no tempo e no espaço. Logo, se eu disser que a guerra durou mil e quatrocentos anos, devo explicar aonde e a que se refere. Pode ser que a Guerra tenha começado ontem. Talvez vai começar amanhã. Talvez algo interferiu no tempo. Lembra do que eu disse o que interferia o tempo?

— Você não disse — Elisa estava entendendo um pouco daquilo.

— Isso mesmo! Você deve estar toda confusa.

— Na verdade, não muito. Acho que você quer chegar no ponto em que eu tenho que pensar o que interfere o tempo, e que logo interferirá no espaço.

— Exato! — exclamou Henry — Você é bem inteligente, pra poder entender algo assim de súbito, ainda mais do jeito como expliquei, foi muito confuso, não?

— Não achei — disse Elisa, sorrindo — Devo entender que a questão mais preocupante desse mundo seja o que interfere no tempo. Acho que uma das mais difíceis, a menos que já a tenham descoberto.

— Aí que está! Já descobriram. Muito antes de mil e quatrocentos anos atrás. O problema é você descobrir.

— É por isso que você me mandou responder?

— Sim.

Elisa se distraía até que percebeu o quanto se distraiu. Percebeu que pessoas ouviram a última discussão sobre o tempo e espaço, parecendo que realmente era a questão mais questionada por todos ali. Alguns viam de relance e outros até os encaravam, perturbando ela.

— Acho que estamos chegando — disse Henry, quando olhou pela janela.

Mesmo ao longe Elisa notava Castrum Nubila, alta longínqua. Mas agora estava mais alta e muito mais perto. Desceram do ônibus e andaram até um jardim cujo meio tinha quatro caminhos que se cruzavam. No meio do ponto de interseção estava uma torre de tijolos brancos que erguia-se além das nuvens. Notara também que as nuvens eram mais distantes do solo do que na Terra.

— Uau! — exclamou ela. Demorou-se no vislumbre da mais alta torre que já vira e a mais fina também. Parecia que só cabia quinze pessoas dentro — Isso...

— Calma, nem é o começo — ria Henry.

Uma porta metálica e cromada estava a frente deles. Henry apertou um botão e a porta se abriu.

— Agora a pior parte — disse ele — você é claustrofóbica?

— Não. Por que?

— Porque essa é a parte que eu detesto — Henry deixara o bom humor quando entraram. Apertou o único botão — Segure-se.

A porta se fechou lentamente. Um segundo se passou sem algum efeito, mas logo em seguida um súbito empurro surgiu de seus pés. O elevador era muito rápido e Elisa quase caiu no chão se não fosse uma mão segurando a parede e outra segurando Henry. Ele não pareceu se incomodar com o impulso que levara. Ainda estava com tédio daquilo.

O elevador pareceu não acabar. Até Elisa duvidara sobre não ser claustrofóbica. As paredes pareceram se mexer em sua direção e o ar pareceu rarefeito. Henry só se incomodou em levantá-la e mantê-la segura até chegarem.

— Isso não acaba? — perguntou Elisa, mais nervosa do que gostaria.

— Calma, ainda vai demorar alguns minutos — respondeu entediado.

Henry olhava para o relógio e depois parava. O elevador continuava e Elisa sentia a velocidade. Até que finalmente parou subitamente, sem chocar com nada. Não conseguiu se manter no chão no momento do impacto e acabou caindo. Henry a ergueu.

— Finalmente! — suspirou ele.

— Meu Deus! Nunca mais quero entrar aqui! — disse Elisa em tom de brincadeira, mas sua voz saiu trêmula e nervosa.

— Não se preocupe, a descida é mais rápida, porém mais assustadora.

Elisa deu um passo trêmulo para fora do elevador e quando ergueu seu olhar, viu torres, pequenas casas, quadras, grandes árvores, um jardim enorme e muitas, mas muitas pessoas.


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