– Johanna. Eu. Vou. Te. Matar!

Gritei enquanto saía correndo atrás dela, que pulou para dentro do quarto e fechou a porta. Comecei a dar socos na porta e gritar para ela abrir, mas ela não mexeu um músculo. Então resolvi partir para outra tática. Respirei fundo e bati delicadamente na porta.

– Joh, abre, eu não vou fazer nada. – falei docemente.

Ela abriu uma fresta e perguntou:

– Ta mais calma?

E então meu plano foi por água abaixo, porque eu não consegui me controlar e gritei:

– Não! Eu vou te matar!! – e ela fechou a porta rapidamente, antes que eu conseguisse pular em cima dela.

Ainda irritada e decidida a escalpelar Johanna, tive que apelar para o pior dos planos. Peguei uma colher e o pote de Nutella da geladeira.

– Eu adoro Nutella, e você, Joh? – perguntei inocentemente enquanto tirava uma gorda colherada do pote.

– O quê? Minha Nutella não!! – ouvi Johanna meio que gritar antes de sair do quarto, cautelosa.

Este plano sempre dá certo. Ameacei lamber a colher e Johanna deu um passo para frente.

– Liv, larga essa Nutella. Não vá fazer nada que você vá se arrepender depois. – ela disse tentando pegar o pote das minhas mãos, mas eu não deixei.

– Por que eu me arrependeria?

– Porque, hum... Você vai engordar, e a festa é amanhã!

– A festa é amanhã e o meu cabelo está AZUL! – gritei e senti que ia começar a chorar.

– Ta, calma. Me desculpa, Liv, eu si que não devia ter feito isso, mas foi meio sem querer.

– Meio sem querer, Johanna? Como “meio sem querer”?

– Eu não ia pintar seu cabelo de azul! Eu peguei a tinta errada. Eu só vi que era a errada quando eu estava pagando, e eu ia trocar, mas daí eu te imaginei com o cabelo azul e pensei “Ei, por que não?”. Eu sei que eu não devia ter feito isso, mas ficou muito legal!

– Isso não justifica nada e... ficou legal mesmo?

–---*----

Depois de discutir mais um pouco com Johanna, acabei aceitando o cabelo azul (o que mais eu poderia fazer?), mas comi a Nutella do mesmo jeito, como vingança. Mas agora, a gente tinha um problema ainda maior. Uma coisa era eu chegar em casa com algumas mechas loiras no cabelo, e outra bem diferente era eu estar com o cabelo completamente AZUL! É, talvez eu ainda esteja revoltada com isto.

Fomos para a minha casa pensando em que desculpa dar para ela, visto que não havia escapatória. Ela ia ficar sabendo de qualquer jeito.

– A gente podia dizer que foi com papel crepom. – sugeriu Johanna.

– Acho que ela suspeitaria que não fosse quando não saísse com a lavagem.

– Jogamos acidentalmente blueberry na sua cabeça? – Johanna tentou e logo em seguida fez uma careta.

Depois de várias sugestões falhas, resolvemos contar a verdade. Chegamos à minha casa e nos deparamos com a minha mãe. E então a coisa mais estranha do mundo aconteceu.

Minha mãe ignorou completamente a presença de Johanna e foi diretamente na minha direção, pegando uma mecha do meu cabelo.

– Olivia, você pintou o cabelo?

Reuni toda a coragem que tinha (o que não era tanto assim) e falei:

– Sim, eu pintei.

– Mas, minha filha...

Eu estava preparada para ouvir tudo o que ela fosse falar sem protestar e aguentar qualquer que fosse a punição, mas eu nunca esperaria que a reação dela fosse aquela.

– Mas isso aqui ta lindo! Seu cabelo está mais macio do que antes! E azul? Que moderno!

Eu e Johanna nos olhamos e eu juro que devíamos estar com a mesma expressão surpresa. Minha mãe continuou falando sobre o meu cabelo e eu e Johanna não conseguimos reagir. Até que eu consegui falar:

– Mãe, você está bem?

– Claro, Liv, estou ótima.

– E você gostou do meu cabelo? – falei, tentando absorver aquilo.

– Eu não gostei do seu cabelo, Olivia. – ufa, pensei, aquela ainda era minha mãe. – Eu amei! – ou não.

Minha mãe foi tomar banho, mas eu e Johanna ainda estávamos paradas no mesmo lugar, com a mesma careta de antes.

– Me belisca, por favor. – pedi.

Johanna me beliscou e eu a belisquei e comprovamos: aquilo tinha sido real.

– Ta, o que diabos aconteceu aqui? – ela perguntou, também tentando assimilar as coisas.

– Eu não tenho ideia. – balancei a cabeça.

– Tem certeza que aquela era sua mãe? Será que ela foi abduzida? Telessequestrada? Está traindo seu pai e acha que você descobriu?

– Eu não sei de mais nada.

– Vou fazer um teste. – e gritou para minha mãe na porta do banheiro: - Senhora Hawkins, a Olivia pode ir numa festa comigo amanhã?

– Tudo bem, só não voltem tarde. – minha mãe gritou de volta e eu e Johanna nos olhamos novamente chocadas.

– Em que mundo nós estamos? – perguntei atônita.

– Ainda acho que não é real. De repente eu te belisquei errado.

– AI!! – gritei quando ela me beliscou outra vez.

–---*----

No outro dia, fui cedo para a casa de Johanna. A gente ia se arrumar para a festa lá, e depois eu ia dormir na casa dela. Como Johanna já tinha ido a várias outras festas, ela tinha muitos vestidos e sapatos e maquiagens.

– Ai meu deus, adorei este rosa! – falei e Johanna me olhou com a sobrancelha erguida.

– Sério? Cabelo azul com vestido rosa? Vai querer o sapato verde também? – ela falou irônica.

– Tudo bem, mas nenhuma cor vai ficar boa com o cabelo azul!

– Preto vai. – ela disse e me mostrou um vestido preto, muito justo, curto e decotado.

– Ah, não. – falei me distanciando.

– Ah, sim. – Johanna sorriu, enquanto se aproximava.

Um sorriso muito malvado.