Eu não tenho ideia de como cheguei até a minha cama. Lembro apenas vagamente de algumas coisas que aconteceram. Da cara surpresa de Tyler C eu lembro totalmente. Acho que eu preferia esquecer. Por que eu fui seguir o conselho de Johanna e beber tanto? Eu não estava acostumada com bebida nenhuma. É óbvio que isso ia dar errado. E deu. Deu muito errado.

 Não lembro o que Tyler fez, ou mesmo o que eu fiz. Só lembro que Tyler A chegou alguns segundos depois e disse que ia chamar o táxi. E daí em diante eu não tenho ideia do que aconteceu. Mas pelo gosto terrível da minha boca, eu não devo ter escovado os dentes antes de dormir. É, a situação está ruim mesmo.

Só levantei para escovar os dentes e tomar um pouco de água e aspirina, antes de voltar para a cama. Quando acordei, cinco horas depois, chequei meu celular e havia 13 chamadas perdidas: oito de Johanna e cinco de Tyler A. Nenhuma de Tyler C. Não sei dizer se isso me deixou feliz ou triste.

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Não importa o quanto se esteja de ressaca, a aula na segunda-feira continua lá. Então eu fui e tive que aguentar dois períodos de física. Mas isso não foi pior do que o recreio.

Estávamos num grupo bem seleto: eu, Johanna, Tyler A, Caleb, Chad e Carlos (Mike não tinha ido à aula). Isso nunca havia acontecido antes. Eu normalmente ficava na biblioteca ou com Johanna e alguns colegas dela. Eu não tenho ideia do que Caleb estava fazendo ali ou porque Johanna estava permitindo isso, mas ele até fez questão de trazer seus inseparáveis amigos, com quem eu só havia falado uma vez na vida. E Tyler! Tyler nem mesmo estuda no mesmo colégio que nós, mas veio até aqui para ver como eu estava, já que eu não havia retornado as ligações.

— O que aconteceu na festa? – Johanna perguntou lutando para manter a calma.

— Deve ter acontecido alguma coisa muito louca, para até o Tyler estar aqui. – Caleb, que já tinha sido colega do Tyler A, supôs.

— E aconteceu mesmo. – Tyler disse de braços cruzados. – Como você está? Eu fiquei preocupado. Por que não retornou as minhas ligações?

Johanna pegou nos meus ombros e perguntou, olhando bem nos meus olhos:

— O. Que. Aconteceu. Na. Festa?

— Bem, o Tyler estava lá...

— Eu sei que o Tyler estava lá! Agora me conta o que...

— Não, você não está entendendo. O Tyler C estava lá. Não o Tyler A. – falei com cuidado e apontei para o Tyler do meu lado no final.

— Quem é Tyler C? E o A? – Caleb perguntou perdido.

— Tyler C é o colega de academia da Liv. – Johanna explicou impaciente. – O cara por quem ela é apaixonada.

— Ah. – Caleb disse.

— Peraí, então eu sou o “Tyler A”? – Tyler perguntou confuso e eu e Johanna assentimos com a cabeça. – Por quê?? Meu sobrenome nem é com A! É Eckert. Com E! – mas ninguém deu atenção ou explicações para ele.

— Ta, e aí? O que aconteceu? Ele te beijou? Você beijou ele? – Johanna perguntava afobada.

— Eu o beijei. – concordei meio envergonhada e Johanna deu um gritinho de excitação.

— E aí? – ela perguntou sorrindo, mas então viu a minha cara. – O que foi??

— Conta o resto, Liv. – Tyler falou e eu o fuzilei com o olhar. Ela sabia ser bem desagradável às vezes.

— Bem, eu...

— O quê?? – Johanna, Caleb, Chad e Carlos perguntaram ao mesmo tempo.

— Eu meio que vomitei em cima dele logo depois. – falei olhando para o chão, as bochechas ardendo.

Houve um momento tenso de silêncio, enquanto eles absorviam a ideia. E então Caleb e seus amigos explodiram em risadas.

— Você vomitou em cima do cara? – Carlos perguntou entre risos. – Desculpe dizer, mas acho que você acabou com qualquer chance.

— Cala a boca, Carlos! Aliás, todos vocês. – Johanna, que tinha ficado quieta até agora explodiu furiosa. – Eu nem sei o que vocês estão fazendo aqui! Mas se vieram para rir da Liv, podem ir embora. – todos ficaram quietos. – Agora eu vou conversar com a Liv. Sozinha.

— Ei, eu quero falar com a Liv também! – Tyler disse e Johanna pensou a respeito.

— Tudo bem, você pode. Agora, todos os outros, tchau.

Fomos para uma parte mais isolada do pátio da escola e começamos a conversar. Johanna me consolava, dizendo que nada estava perdido e Tyler me dizia que não foi tão ruim assim.

— Ele nem parecia estar muito assustado. – mas não adiantou.

— Ah, nada a ver, Liv. Pensa pelo lado bom, você realizou um desejo da sua lista: ficar bêbada. E não se fica realmente bêbada sem fazer algo que você se arrepende depois. – Johanna disse e todos ponderamos a respeito.

— Pensa pelo lado bom... – Tyler A disse. – ...ele nunca mais vai esquecer você. Pelo resto da vida.

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Apesar de Johanna e Tyler A ficarem me convencendo do contrário, não tinha jeito de eu ir à AAM lutar hoje. Por isso, ocupei minha tarde fazendo planos. E tomei o cuidado de não incluir Tyler C em nenhum deles. Havia muita coisa da minha lista que eu não tinha realizado ainda, então era bom eu começar a planejar. Anotei num papel os desejos que faltavam e como eu iria realizá-los.

— Dar o melhor beijo da vida de alguém e receber o melhor beijo da minha vida – para isso acontecer eu preciso de uma coisa: treino. Então tenho que achar alguém para praticar. Tyler C está fora de cogitação.

— Aprender a dar mortal – eu posso perguntar se alguém da academia sabe dar mortal, e se quer me ajudar com isso.

— Brigar com alguém – tenho que me desentender com alguém. Mas com quem? Pode ser alguém da academia. Mas eu me dou bem com todo mundo lá. Além disso, eu com certeza iria apanhar. Humm, se o Tyler C ficar me humilhando ou algo assim por causa do beijo e todo o resto, eu poderia bater nele. Vai ser uma pena socar aquele rostinho lindo.

— Ir num show de rock – vou ficar ligada na programação cultural da cidade.

— Ficar famosa – eu posso, sei lá, invadir o palco do show de rock e cantar alguma coisa. Vai ser terrível, mas com certeza terá repercussão.

— Fazer cócegas numa tartaruga e – Ter um animal de estimação selvagem – eu posso sair por aí perguntando às pessoas se elas não têm nenhum dos dois e se por acaso elas não querem doá-los a mim.

Agora, como eu iria fazer uma tatuagem, ser uma super-heroína, e o que eu escreveria numa história, eu não tenho ideia. Mas tinha outro desejo que não estava na lista e que eu gostaria de realizar: juntar Johanna e Caleb. E isso eu fiquei planejando o resto da tarde. Haviam muitas possibilidades, e eu pretendia pôr alguma em prática amanhã mesmo.

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Quando o sinal do recreio tocou na terça-feira, eu corri para o pátio, procurando por Caleb. Encontrei-o parado sozinho, provavelmente esperando por Chad, Carlos e Mike, e comecei a explicar meu plano para ele.

— Caleb, eu tive uma ideia para juntar você com a Joh. – falei rápido, antes mesmo de dar oi.

— Que ideia? – ele perguntou interessado.

— Assim: ela vai me procurar no recreio, mas quando ela chegar, você a puxa pelo braço e leva ela para algum lugar onde vocês fiquem sozinhos. Pode dizer que quer pedir desculpa por ter rido ontem, ou que você está preocupado e quer ajudar, ou qualquer coisa assim, que ela vai te ouvir. – fiz uma pausa para respirar. Eu estava falando muito rápido, antes que Johanna chegasse.

Caleb fez um sinal com a cabeça, e eu olhei para onde ele olhava. Johanna estava vindo à nossa direção, com um garoto. Não me preocupei com ele, provavelmente era um colega dela, e não iria estragar o plano. Comecei a falar mais rápido, mas me perdi um pouco nos pensamentos.

— Daí você diz que... Não, você a bei... Ah, não, não era isso. Ah, lembrei. Você... – comecei, mas era tarde demais, Johanna já estava ali.

— Ah, oi, gente! – ela falou muito animada. E então se enroscou no braço do garoto moreno e alto ao seu lado. – Que bom que vocês estão aí!

Apertei os olhos. Tinha algo de errado.

— Bom, Liv, Caleb, conheçam o Will... – eu já estava estendendo a mão, quando ela completou a sentença, e minha mão congelou no meio do caminho. – ...meu namorado.

E qualquer plano que eu tivesse foi por água abaixo.