Wish List escrita por Zoe


Capítulo 14
Confusão


Notas iniciais do capítulo

Olá! O que estão achando da história, personagens e etc? Deixem suas opiniões! :*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/476910/chapter/14

— Como assim você está namorando e não me conta nada? – perguntei exasperada enquanto relembrava aquele constrangedor recreio.

Graças a deus, Caleb manteve a educação e apertou a mão do garoto, apesar de seu olhar dizer que arrancaria a cabeça dele se pudesse. Mas quando o tal de Will falou “prazer em conhecê-lo”, Caleb só respondeu um “uhum”. Já eu, fiquei imóvel o tempo inteiro. E foi aquele silêncio. Só Johanna falava: o quanto William Goldman era maravilhoso, como ele já estava no terceiro ano e era do time de basquete, provavelmente conseguiria uma bolsa numa universidade por isso, ele era muito bom mesmo.

— Ah, eu ia te contar ontem. Mas é que você estava tão tristinha com o negócio do Tyler, que eu achei melhor não mostrar o quanto eu estava feliz com o Will. – Johanna contou casualmente enquanto abria a geladeira e pegava uma jarra de suco de laranja.

— Bom, você devia ter me contado mesmo assim. Aliás, quem é este tal de Will, que eu nunca havia ouvido falar?

Johanna sentou-se ao meu lado na mesa da cozinha e começou o relatório.

— William Goldman. 18 anos. Astro do time de basquete do colégio. Lindo. – ela fez uma pausa enquanto fazia uma cara sonhadora, relembrando sua beleza. – Rico. – ela disse por fim, o que explicou tudo.

— Rico? É por isso que você está com ele??

— Credo, não! O que você acha que eu sou? – Johanna perguntou ofendida com a mão no peito. Resolvi não comentar nada a respeito dos planos dela, que geralmente envolviam um cara rico. – Ele é legal, é por isso que eu estou com ele.

— Ta. E quando foi que você conheceu este cara?

— Helloooou?! Ele é superpopular! Todo mundo conhece ele! Astro do time, lembra?

— Ok, isso eu consigo entender. Mas como de uma hora para a outra vocês viraram namorados??

— Bom. Foi no sábado. Eu meio que fugi de casa e fui numa junção do terceiro ano. E daí ele estava lá. E nós começamos a conversar depois de eu ter xingado ele por ter derrubado refrigerante nos meus sapatos novos. E então ele me beijou. E domingo nós nos vimos de novo e ele me pediu em namoro. É isso. Fim da história.

— Rápido assim? Você mal conhece este cara, Johanna! Que falta de cautela é essa? Vai que ele é um pedófilo ou um serial killer, sei lá? – cruzei os braços emburrada.

— Eu sei, eu sei. – Johanna se levantou e me abraçou. – E é por isso que eu estou te convidando para ir até o sítio dele comigo amanhã. Ou você quer que eu vá sozinha...?

 

—-----

 

Quarta-feira de tarde, eu e Johanna saímos com nossas leggings e os melhores tênis para caminhadas que tínhamos. Will havia dito que o sítio era tão grande que tinha até uma trilha. Quando chegamos lá (que nem era muito longe da cidade), fomos recebidas por um longo mugido, que fez Johanna saltar de susto.

— Joh, você tem medo de vacas? – perguntei a ela, que rapidamente tratou de soltar meu braço.

— Eu, hein, Liv. Não é desse tipo de vaca que nós temos que ter medo. Agora vamos achar meu lindo namorado.

No caminho para a casa, vimos vacas, galinhas, cavalos, cabras, cachorros, gatos, e a julgar pelo cheiro, devia ter porcos em algum lugar por ali. Quando chegamos, um senhor gordo e mal-humorado foi até a porta nos receber.

— Quem de vocês é a “namoradinha” do Will? – ele perguntou, com certo nojo na voz.

— Ahn, eu. – Johanna levantou a mão, um pouco nervosa. O senhor olhou-a dos pés a cabeça.

— Humpf. – ele disse por fim. – Eu sou o pai dele.

— Oh, prazer em conhecê-lo, senhor Goldman! – Johanna sorriu animada e estendeu a mão para cumprimentá-lo.

O homem levantou as sobrancelhas, como se surpreso com o gesto e ignorou a mão de Johanna que pairava no ar.

— Entrem. – foi tudo o que ele disse.

Johanna e eu nos olhamos, mas o seguimos para dentro da casa. A casa era muito bonita, grande e rústica. O Senhor Goldman chamou Will, que veio rapidamente com um sorriso no rosto.

— Oi! – ele beijou o rosto de Johanna, mas me ignorou completamente. Ficamos todos num silêncio meio desagradável, até que ele resolveu notar minha presença. – Ah, oi, Liv. – ele disse bem menos animado. Será que ele tinha “planos” com a Johanna e pensava que eu iria atrapalhar? Resolvi não ficar pensando nisso.

— Seu sítio é muito bonito. – falei, porque tinha achado mesmo.

— É. Vocês têm que ver os últimos cachorrinhos que nasceram! – já estava soltando um “Awnnnn” quando ele completou: – Vamos ganhar uma fortuna com eles. – e meu sorriso se esvaiu.

— Como assim? Você vai vender os cachorrinhos?

— Claro. – ele falou como se fosse a única coisa a se fazer. – Eles são de raça, puros.

— Então você acha certo colocar um preço numa vida? – comecei, mas fui interrompida.

— Eu estou com uma fome! – Johanna falou rápido, antes que a discussão começasse. Ela já sabia da minha opinião sobre o assunto, e certamente queria evitar um confronto entre sua melhor amiga e seu namorado recém-adquirido. Resolvi me calar por enquanto. Principalmente porque eu estava com fome. Vai que eu brigo com o dono da casa e ele não me dá comida? Melhor não arriscar.

— Bem, então vamos comer! – Will sorriu e nos levou até uma sala com uma grande mesa, coberta por uma toalha. E então num gesto só, ele revelou o que havia por baixo da toalha. Uma grande quantidade de pães caseiros, queijos, leite, e (bléh) linguiças.

Não tinha percebido o quanto estava com fome até que comecei a salivar e fui me servindo como se já fosse de casa. Johanna fez o mesmo, e Will e o pai dele se juntaram a nós.

— E sua mãe, Will? – Johanna perguntou.

— Está onde deveria estar, oras. Na cozinha. – ele respondeu e os homens Goldman sorriram.

Olhei estagnada para Johanna, que havia congelado um pão a meio caminho da boca. Ela defendia a todo custo a causa feminista, mas ficou sem reação diante daquilo. Respirei fundo. Vai que é só um mal-entendido. Forcei um sorriso e perguntei inocente:

— Como assim? Ela é cozinheira? – Johanna relaxou, concebendo esta ideia.

— Hein? Não. – Will respondeu confuso.

— Ela está na cozinha porque o lugar da mulher é na cozinha. – o senhor Goldman completou, como se fosse algo óbvio.

Automaticamente contraí o maxilar. Olhei para Johanna, que sorria sarcástica para o chão, não acreditando no que acabara de ouvir. Os nós dos dedos estavam brancos, tamanha a força com que ela segurava sua xícara, fazendo um esforço enorme para não se descontrolar.

— Você tem patos, não tem? Vamos ver os patos. – Johanna disse por fim, se levantando da mesa.

— Mas você não estava com fome?

— Passou. Você vem, Liv?

— É claro, respondi.

Fomos andando até um laguinho, e Will nos seguiu. Ficamos observando os animais até a raiva passar.

— Vocês querem conhecer os outros animais? Ou nós podemos ir lá para dentro. – Will dirigiu a última parte somente à Johanna e se abraçou nela mostrando um sorriso malicioso. Graças a deus ninguém viu a careta que eu fiz. Eles se conhecem há quatro dias. Quatro dias! Alguém além de mim percebeu isso também? Parecia que não, mas Johanna só respondeu com um sorrisinho desconfortável.

— Você tem tartarugas? – perguntei.

— Sim, tenho uma.

— Podemos ver? – perguntei com o maior sorriso do mundo.

Fui bem feliz atrás do casal até uma parte do sítio que eu não havia visto antes. Havia uma parede de gaiolas pequenas contendo uma grande variedade de pássaros, uma gaiola um pouco maior com dois coelhos enormes, e outra com uma tartaruguinha. Abri minha boca de espanto.

— Lindos, não? – Will falou enquanto batia nas gaiolas de alguns pássaros coloridos. – Ah, aqui está ela. – ele pegou a gaiola com a tartaruga. – Conheçam o Esquilo.

— Esquilo? Onde? – Johanna perguntou olhando para os lados.

— Ah, não. – William riu. – Esquilo é o nome da tartaruga.

Bem, é melhor do que “Tartaruga”, pelo menos, pensei.

— Por que ela está numa gaiola? – perguntei.

— Ah... – Will não soube explicar. – E por que não? – ele deu de ombros.

Olhei para Johanna e senti que ela estava pensando o mesmo que eu. Mas eu me enganei, porque Johanna tem uma mente muito mais mirabolante que a minha.

— Oh, Will! Como ela é linda! – Johanna falou de uma forma afetada, que pareceu agradar a William. – Eu gostaria tanto de tirar uma foto dela!

Johanna revirou um pouco sua mochila, que ainda estava nas suas costas. Mas tudo era encenado demais, tinha algo errado ali. Só que só alguém que conhecesse muito bem Johanna perceberia, portanto William permanecia perfeitamente satisfeito. E se mostrou devidamente preocupado quando Johanna fez uma carinha triste.

— Ah, droga.

— O que foi, Joh? – ele perguntou solícito.

— Minha câmera não está aqui.

— Será que você não deixou na sua casa?

— Não. Eu tenho certeza de que trouxe. Eu até tirei foto de uma vaca quando cheguei aqui. Devo ter deixado dentro da sua casa. Você pode pegar para mim? Eu realmente queria tirar algumas fotos...

— Claro. Eu já volto.

— Obrigada, querido. – Johanna sorriu. – Mas procure bem, pode estar em qualquer lugar lá dentro! – ela acrescentou enquanto ele ia em direção a casa.

Esperei até Will estar numa considerável distância e perguntei baixinho.

— Não tem câmera nenhuma. Qual é o plano?

— Ele entra na casa. Nós salvamos o que pudermos e corremos.

Concordei com a cabeça. Will finalmente entrou na casa e nós fomos abrindo o máximo de gaiolas que conseguimos. Os pássaros cantaram e voaram, nos deixando preocupadas que o barulho que eles estavam fazendo pudesse chamar a atenção, mas ninguém saiu da casa para verificar se estava acontecendo algo com os bichos.

— E a tartaruga? – perguntei. – Não podemos só soltá-la. Ela não vai sair voando por aí. Eles vão prendê-la de novo.

Johanna pensou por um instante.

— Vamos levar. – Johanna abriu a gaiola que continha a tartaruguinha e tentou pegá-la, mas a criaturinha mordeu seu dedo e Johanna soltou um grito. Olhamos ao mesmo tempo para a casa e não vimos ninguém, mas tínhamos pouco tempo. – Toma esse bicho. – ela me alcançou o Esquilo e eu tomei o cuidado de segurá-lo de um jeito que sua boca não alcançasse nenhum pedaço da minha pele.

— Os coelhos! – gritei. Já dava para notar uma movimentação dentro da casa. Provavelmente era Will voltando para avisar que não havia encontrado câmera nenhuma.

— Ai, droga. – Johanna colocou um coelho debaixo de cada braço enquanto eu me erguia na ponta dos pés para soltar os últimos pássaros que ainda restavam nas gaiolas. Feito isso, corremos para um mato e nos escondemos. Will estava a caminho das gaiolas.

Observamos cuidadosamente e fazendo o maior silêncio possível Will chamar por nós meio perdido e então ficar vermelho de raiva ao perceber que seus animais haviam sumido. Felizmente ele não pensou em procurar no meio do mato. Em vez disso ele correu de volta para a casa chamando o pai. Aproveitamos este momento para entrar mais no mato e contornar o sítio. Chegamos à estrada e não havia sinal dos Goldman. Também não ficamos esperando por eles. Johanna ajeitou melhor os coelhos debaixo dos braços e corremos. Corremos sem dizer uma palavra até chegar de volta à cidade. Cansadas, começamos a caminhar num ritmo moderado em silêncio, até que caiu a minha ficha e eu parei.

— Eu roubei uma tartaruga. – sussurrei.

— O quê? Vem, anda, Liv.

— Eu acabei de roubar alguém! – gritei desta vez e as pessoas em volta olharam para mim. Johanna se aproximou nervosa.

— Você não roubou ninguém. O Will não é ninguém. Além disso, você salvou a vida destes animaizinhos! Ou você acha que seria melhor deixá-los lá?

Voltei a andar, tentando manter o pensamento “você ajudou, não roubou”, mas Johanna não estava ajudando.

— Devíamos ter posto isso na lista. Ei! Será que você não realizou nada da sua Wish List com isso?

— Bem, eu tenho plena certeza de que roubar não estava na minha lista de desejos.

— Bom, mas agora você vai poder fazer cócegas numa tartaruga. Ei, e ter um animal de estimação selvagem!

— Johanna, não sei se você percebeu, mas eu roubei uma tartaruga, não um jacaré.

— Mas isso aí é selvagem!! – ela gritou e me mostrou o dedo, que ainda sangrava por causa da mordida. Ponderei com a cabeça.

— E esses coelhos aí, o que você vai fazer com eles?

— Uma sopa. – olhei para ela que sorriu. – Ei, é só uma piada!

— Não sei como você ainda está de bom humor.

— Por que eu não deveria estar? Só porque o meu namorado e a família dele são uns idiotas machistas que não cuidam dos seus animais? Ou porque eu provavelmente vou apanhar por ter soltado pássaros raros? Ou porque meu namoro durou três dias? Ou porque eu vou ficar com tendinite de ficar carregando esses coelhos obesos? Ou... – ela foi enumerando, mas nós começamos a gargalhar na metade. Com tudo o que tinha acontecido, só o que nos restava era rir a respeito.

— Ai, droga! Eu ainda vou ter que ir para a Academia agora! – falei quando me dei conta disso.

— Mas e a tartaruga? – Johanna perguntou e eu olhei para ela. – Ah, sem chance! Eu já estou com dois coelhos pesados e fedorentos, não tem como eu levar uma tartaruga-esquilo assassina também. Por que você não falta ao treino hoje?

— Eu já não fui na segunda. Vai que eu não vou hoje de novo e eles ligam para a minha mãe? Aí eu vou ter problemas maiores do que uma tartaruga-esquilo e um William Goldman furioso.

— Não se esqueça dos coelhos. – ela acrescentou.

Ficamos em silêncio novamente até chegarmos ao centro da cidade, quando Johanna comentou:

— Esse foi possivelmente o namoro mais curto da história. – e nós voltamos a rir, enquanto caminhávamos suadas, fedidas e carregando animais “selvagens” por aí.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Detalhe: tartarugas são sim animais selvagens. (Não contem para a Liv)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wish List" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.