O que não se Pode Tocar escrita por mikablazt


Capítulo 2
Cartas para você


Notas iniciais do capítulo

enjoy



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Eu abri os olhos, não conseguia sentir o meu corpo, só uma pressão enorme na cabeça, retirei um a um os tubos que estavam presos em mim. eu estava fraca, me sentindo frágil, como se um sopro pudesse me desmontar.

Naquele momento um flash ofuscou a minha vista, me levando de volta para os acontecimentos daquela noite... foi tudo tão rápido. Quando as lembranças se foram, me peguei gritando por meu pai:

-PAI ! - parecia que  não tinha controle. era tão... automático. - PAI !

Eu não conseguia me acalmar e continuei gritando, até duas mulheres e um cara alto, todos vestidos com jalecos brancos entrarem na sala e aplicarem uma injeção em mim.

Adormeci.

 

 

Abri os olhos e minha cabeça girava mais e mais... tudo parecia rodar e meu corpo estava dolorido e eu não conseguia respirar direito, estava completamente entorpecida e a dor agora estava amenizada.

-Danielle ? - podia ouvir minha mãe me chamar, mas eu não queria responder.

-Irmã ? - agora era Cassie.

Virei o rosto pro lado para fitá-las.

-O que...

Cassie começou a chorar e minha mãe me olhava com amargura.

-O que houve ? - disse com a voz tão fraca que quase não saía.

Minha mãe virou a cara e saiu. Cassie me encarava de uma forma... os olhos vermelhos, como se tivesse chorado muito.

Adormeci.

 

Acordei, Cassie agora já mais calma, minha mãe não estava na sala e eu já estava começando a me desesperar, ninguém me contava nada...

-Pode me dizer o que está acontecendo ? - pedi. meu coração já não estava mais aguentando.

-Irmã, o papai... ele ficou muito ferido. - houve uma pausa brusca - e bom, - ela recomeçou - os médicos fizeram todo o possível... - pausa. eu já tinha entendido tudo e foi como se o meu coração pulasse pra fora do meu peito, o silêncio ficou absoluto e eu não ouvia nem mesmo a minha respiração, os momentos que eu passei com o meu pai... vieram todos a minha mente e eu me senti mal, sem chão e sem força nenhuma, as lágrimas vieram até mim na velocidade da luz.

Ele brincando com a gente no parquinho na frente de casa, na minha formatura da oitava série com aquela camisa horrível dele, e eu e ele comendo pipoca e chocolate de panela em casa, assistindo Charmed. E quando a gente foi andar a cavalo na fazenda do vovô...  me lembrei da primeira namorada dele depois da separação, Carla. Ela era demais. Tinha uma filha que era um porre e a gente se divertia enchendo o saco dela... até o meu pai ajudava a gente. Lembrei do meu primeiro dia na escola, ele estava lá segurando a minha mão... e quando a gente ia a praia nas segundas de manhã, quando ele seqüestrava a gente da escola e levava a gente pra búzios e só trazia de volta a noite. Me lembrei das cartinhas, dos “dias dos pais” que a gente alugava filmes ruins e ficava jogando cartas e dos fins de semana quando a gente fazia festa do pijama com muito refrigerante e filmes de desenho... tudo passou pela minha mente, sem parar, e as músicas que a gente gostava, os filmes, os programas, tudo.

-Ele morreu, Dani... - estava ali. a frase que eu mais temia.

Cassie colocou as mãos no rosto, aflita e chateada e chorou, mas sem emitir som. eu fiquei parada, os lábios retorcidos, tentando ser forte, mas parecia impossível.

-Me desculpe. - ela saiu correndo porta afora.

E eu fiquei ali... sem ação... sem ter o que fazer... exânime.

 

 

 

 

Tom foi pro quarto depois da entrevista e deitou lá por um tempo, olhando pro teto. O que ele queria agora era só um pouco de sossego e paz. Mas isso era impossível quando se era um popstar alemão totalmente gostoso e desejado por todas as mulheres que se prezem na Terra, e por alguns homens que se prezem também.

Alguém bateu na porta e ele se demorou na cama antes de abrir. Era mais uma garotinha.

-Oi, ér. Tudo bem ? – ela perguntou em um alemão babaca e ele revirou os olhos.

-Tudo.

-Ér. Eu posso entrar ? eu queria um autógrafo...

-Não. Espera aqui. Eu pego pra você. – e bateu a porta.

Ele se apoiou na parede por um tempo e cedeu aos seus instintos pervos. Foda-se o que eles pensavam sobre ele...

Ele abriu a porta novamente e puxou a garota pra dentro sem pensar muito. Afinal, era o que ela queria mesmo...

 

 

-Foi bom, obrigada. – ela sorriu e ele encarava o teto chateado por ter cedido tão facilmente. Ele se virou pra responder, mas ela estava dormindo e ele olhou pra menininha que ele tinha acabado de pegar. Ele nunca teria mais nada além disso com ela, ela não representava nada pra ele, ele nem ao menos sabia o nome dela.

Putz, pensou, eu estou tendo aquelas merdas de crise existencial de novo.

 O telefone tocou e ele atendeu... era sua mãe.

 

 

 

Olhei pro lado e vi em cima da mesinha do quarto um envelope branco endereçado a mim."Papai" estava escrito no verso. Abri sem pensar duas vezes e respirei bem fundo antes de ler:

 

 

"Queridas Danielle e Cassie,

Eu estou escrevendo essa carta porque eu gostaria de ter certeza que ela vai chegar a vocês, por isso, decidi não esperar mais nem um segundo, porque afinal, não podemos saber quando vai chegar o nosso fim...

Deixo todos os meus bens pra vocês duas dividirem igualmente entre si. A casa de campo em Minas Gerais, a casa de praia em Paraty e o flet em São Paulo. Também são seus os quatro carros e o meu atual apartamento em Copacabana, além dos dois apartamentos do Rio, dividam como quiserem, mas por favor não briguem pela BMW, essa vai ser daquela que passar com maior nota no vestibular.(risos)

A Giovanna, minha secretária, e o Roger irão cuidar de todos os papéis, então, fiquem tranquilas. Cuidem bem do tio Deco, vocês sabem que ele não sabe nem fritar um ovo direito.

Minhas filhas queridas, eu amo vocês mais até do que gostaria, sendo assim um pai que não conseguiu dizer 'não'. Mas por favor, não sejam desonestas e sigam sempre o que o papai costuma dizer: "O amor é todo uma vida, vivam em função dele, e acharão a felicidade."

O tempo que passamos juntos vai durar pra sempre, as brincadeiras e as piadas que só a gente entende. Cuidem bem da mãe de vocês e eu gostaria que vocês se dedicassem a faculdade, mesmo. Danielle, se você tiver alguma dúvida, meu anjo, faça medicina, eu sempre achei que você fosse ser uma boa médica, e Cassie, sem dúvida você tem que sem veterinária, eu nunca vi uma paixão tão grande por animais como a sua... eu amo muito vocês.

Sobre tudo o que aconteceu entre mim e sua mãe, não tem nada a ver com vocês, certo ? Nunca se culpem por isso !De forma alguma. Foi algo que tinha que acontecer, e isso vocês não podiam impedir. Foi o destino.

Eu, de onde estiver, irei torcer pra que vocês achem o que procuram. Seja um amor, um trabalho, uma saída. Mas jamais se esqueçam: Não existe caminho pra felicidade, a felicidade é o caminho. E saibam: eu sempre estarei com vocês

 

Vocês são tudo que eu tenho e mais do que eu mereço.

Eu amo muito vocês,

Para sempre seu,

Pai" 

 

 

Eu já estava aos prantos muito antes de terminar a carta. muito antes de saber do que se tratava, muito antes.. muito antes.

O coração estava apertado e tudo parecia sair do eixo. Eu queria poder fugir dali e voltar no tempo... eu daria minha vida, sem dúvida alguma, por meu pai.

Eu o amava muito... e não queria ter de um dia sentir saudades dele.

O remorso começou a me consumir e eu fiquei remoendo aquela última lembrança.

Eu matei o meu pai e nunca iria me perdoar por isso.

 


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Notas finais do capítulo

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