O que não se Pode Tocar escrita por mikablazt


Capítulo 3
Rápido demais




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Diário,

Receber a notícia de que você matou o seu pai é bem pior do que saber que você vai morrer, com certeza.

Sabe? eu amava o meu pai, e nunca deixei nada separar a gente, nunca.

Minha mãe, sempre foi contra a nossa relação de pai e filha, sempre quis que eu me separasse dele, porque ela o odiava, mas daí eu penso:

Se ela o odiava tanto, porque se casou com ele ?

Eu nunca cogitei na possibilidade de ter o meu pai morto. Nunca. Meu pai sempre foi tudo pra mim, ele foi aquela pessoa que me defendeu nos momentos em que eu precisei, me amou nos momentos em que eu me sentia um lixo e me deu atenção quando eu falava coisas idiotas e sem sentido, e em vez de retribuir isso eu simplesmente matei ele. Com todas as letras E U  M A T E I  O  M E U  P A I.

O Bruno veio me visitar aqui no hospital e eu falei com a Cassie, quer dizer, sobre a carta. Ela preferiu que eu abrisse, como sempre a Cassie cedeu algo pra mim. Nós choramos muito quando eu li a carta pra ela, mas ao mesmo tempo ficamos felizes porque ele nos disse que sempre estaria com a gente. SEMPRE. Mas isso não diminui o que eu fiz.

O Bruno apareceu chapado aqui no hospital e quando ele me viu ficou desesperado...

As enfermeiras estão arrumando as coisas pra eu ir pra casa, afinal, já faz dois dias. Mas eu ainda preferia ter dado minha vida pela dele, e ao invés disso eu tenho um braço e uma perna quebrados, e machucados por todo o canto. Porque Deus é tão injusto?

Que bom, agora eu estou chorando...

O Bruno me disse que sentia muito pelo meu pai, mas isso não vai trazer ele de volta.

Até logo, pequeno,

Danielle Jean”

 

 

Dois meses depois...

 

-Dani, me passa esse envelope aí do seu lado. – eu estava numa festa com o Bruno quando ele me pediu, era a primeira vez que eu saia de casa nesses últimos dois meses. Ele me levou para uma festa do Mosquito e do Menor, bom, era no complexo do alemão, mas eu vivia lá com o Bruno, não era nenhuma novidade.

Bruno me chamou num canto pra gente conversar, quando os meninos saíram:

-Cara, você tá estranha... – ele pegou na minha mão e me olhou vagamente, como se visse algo atrás de mim. – eu posso tá chapado, mas daí a ser burro tem uma diferença. Eu te conheço Danielle, pode ir falando. O que tá havendo ? Ainda é a história do seu pai ?

Eu assenti.

-Putz, eu.. não sei mais o que fazer... eu preciso ficar sozinha, eu não tenho mais forças pra agüentar isso sem ele, Bruno. – chorei – ele era tudo que eu tinha e nada no mundo era mais importante do que o amor dele, entende ? eu quero meu pai de volta. – e essas palavras arranharam o meu coração e pareceram arrancar um pedaço dele a sangue frio.

Eu me sentia um monstro.

-Olha, Jean, meu amor, eu... tenho algo que pode te ajudar...  – ele tirou do bolso um saquinho cheio de pó branco. – eu vou preparar pra você.

-Não. Bruno, eu não gosto disso... – sussurrei.

-Olha, você quer se sentir melhor, não quer ? Então, cara, isso vai te fazer esquecer tudo...

 

 

Tudo na minha cabeça começou a rodar, um segundo era como uma hora, tudo parecia distante, eu sentia muito frio e muito calor, tudo ao mesmo tempo, e era bom, era muito bom, eu me sentia tão relaxada, tão feliz... meu pai não importava naquele instante, eu só queria sentir aquilo, desfrutar daquilo, e tudo o mais... meu deus eu me sentia completa. Como se eu estivesse anestesiada completamente, não sentia nada, se você tentasse me arrancar uma perna com uma peixeira eu não iria nem notar

 

Depois disso foi a vez do crack, da cocaína, da heroína...

 

 

 

 

 

Era comum eu matar aula com o Bruno pra gente cheirar um pouco... ele me pegava de carro na esquina da escola e nós íamos pra um parque que ficava dentro de um condomínio gigante, mas que era praticamente abandonado, ninguém passava por ali, então, nós chegávamos, nos sentávamos, e na mochila dele, ao invés de livros tinha drogas. Drogas, cerveja, uísque, camisinhas...

Nós parecíamos dois drogados deitados ali, cheirando... peraí, nós éramos drogados !

HHAHHAHAHAHHAHAHHAHHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHHAHAHA’

 

Ríamos como dois anormais, e era tão bom...

 

 

E eu chegava em casa me sentindo poderosa... eu me sentia a rainha do mundo, a pessoa mais importante do universo...

-Jean, onde é que você estava ? – Cassie me perguntou e então a piranha gorda da minha mãe chegou na porta do quarto.

-Por aí... – eu falei e me joguei na cama.

-Rosana ! – a P.G. gritou. – você está imunda, saia dessa cama agora.

Aquilo me deu raiva. Ela foi a culpada por eu ter saído, por eu ter matado o meu pai... meus olhos se encheram de raiva, eu estava possuída... eu peguei o meu abajur e taquei em cima dela.

Sem querer eu acertei Cassie que estava do lado dela, bem na cabeça...

-Você está louca, Rosana ? – minha mãe gritou, mas eu mal ouvi.

-Quem é você e o que fez com a minha irmã ? – o olhar de decepção dela me desmontaria se eu não estivesse tão chapada

A piranha gorda saiu do quarto correndo e a minha irmã ficou horrorizada com aquela cara de vaca que ela fazia sempre que achava que eu estava errada. Menos uma pra encher o saco, falei. foi quando a Cassie saiu.

Os dias passavam e eu nem percebia... era só aquela sensação: PODER, PODER, PODER.

Eu posso. Eu sou. Eu não preciso de ninguém..

 

Cada dia eu afundava mais, me drogava mais... eu tomava o cuidado de usar blusas de manga comprida pra que ninguém visse os furos nos meus braços. Eu ficava com os olhos muito vermelhos, mas valia à pena, era tão bom... me fazia tão bem.

Eu só consigo me lembrar dos momentos em que eu estava sóbria, mas fora isso, só lapsos, momentos e sentimentos... tudo que eu sentia quando estava chapada, isso sim eu me lembrava.

 

 

 

Longe dali...

 

As vezes, nos sentimos perdidos e sem direção e precisamos de alguém pra nos mostrar o caminho certo. Era assim que ele se sentia..

-Bill. – Tom bateu na porta.

-Oi, entra.

-Cara, eu não sei o que está havendo...

-Eu também to meio assim... – completou o irmão.

-Sabe eu estou me sentindo meio “o que eu estou fazendo aqui?”...

-Calma, vai dar tudo certo... – ele abraçou o irmão. Mas ele também se sentia assim, algo lhe faltava, algo que ele não conseguia saber o que era, mas algo definitivamente lhe faltava, uma parte dele.

-Eu sei que isso é só uma crise, mas... ah, sei lá. Acho que devíamos dar um tempo e passar uns meses em Leipzig. a gente aluga uma casa por lá, e quando a gente for, nós aproveitamos pra visitar a mamãe, o que você acha ?

-É uma boa, mas vamos esperar a turnê acabar, tá certo ?

Em Leipzig...

-Hannah ? – Dia desceu as escadas com a bandeja na mão. A menininha loira de cabelo curto e desfiado foi ajudar a mãe.

-Eu não to com fome, já tá tarde... vamos que a gente come alguma coisa por lá mesmo. Eu tenho que terminar de fazer as coisas por lá antes de ir pra faculdade. – ela pensou por um instante – vamos, vamos, vamos ! Já estamos atrasadas !

 


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Notas finais do capítulo

gente, por favor... reviews !



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