Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 63
Dia dos Papis Soberanos 2015 - O Dia - parte I


Notas iniciais do capítulo

Domingo, 9 de Agosto de 2015



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Acordei numa manhã de domingo maravilhosa. Tudo ficava melhor quando eu acordava e já via o olhar de ébano do meu amor para mim. Estes eram os dias de nossas vidas agora... Sempre, pela manhã, o prazer de um acordar com o olhar do outro para si. Um sorriso, um carinho e um beijo de bom dia.

Hoje, porém, Félix se esqueceu do beijo. Ele já estava de pé e acho que sei por quê... Ele estava ansioso para viver esse dia. Eu também. Hoje é dia dos pais. E agora ele tem muitos motivos para comemorar... Quatro para ser mais exato: os três filhos e o pai.

Como era bom saber que doutor César estava de bem com o filho. Como é bom ver meu amor tão de bem com a vida logo de manhã. E ainda era bem cedo. Levantamos logo, pois Jonathan estava para chegar para passar o dia conosco.

...

...

Niko e eu fomos para a cozinha. Enquanto tomávamos um café para acordar, o friozinho da manhã nos serviu de desculpa para chegarmos mais perto um do outro. Nos encostamos no balcão e ficamos coladinhos, abraçados. Como ficaríamos quietos muito tempo assim? Somos apaixonados ué! Não conseguimos ficar um sem o outro.

Brindamos com as xícaras de café. Enlaçamos os braços como se bebêssemos champanhe. Depois ele largou a xícara e enlaçou minha cintura, e eu só podia enroscar em seu pescoço. Fazer o quê? Adoro fazer isso!

Estávamos aos beijos quase cogitando a ideia de voltar ao nosso quarto quando ouvimos o barulho de um carro estacionando e deduzimos ser o Jonathan. Paramos, rimos um para o outro da nossa mania de nos “aquecermos” em qualquer lugar e fomos para fora recebê-lo.

...

...

– Jonathan! Filho, que bom que já chegou!

Félix e sua mania de falar alto. Estou ouvindo daqui do meu quarto, afinal já estou acordado há um bom tempo.

Hoje é dia dos pais. Era de se esperar que o Jonathan viesse. Provavelmente vai passar o dia aqui. Provavelmente Félix vai se divertir com o filho... Com ele e os outros dois meninos também. Ele se diverte muito ultimamente. Desde que veio para cá ele é outro.

Suspirei como todas as manhãs, deitado, esperando a hora de ele vir daquele jeito dele. Que venha... Com seus trejeitos, com seu jeito, com sua voz alta, com suas piadinhas, com qualquer coisa... Que venha.

Ah, eu só queria agora... A única coisa que ainda quero nessa vida... É ter um jeito de sumir da vida de todo mundo, deixá-los em paz, deixá-los viver suas vidas em paz. E quando falo no plural, não me refiro só a meus filhos... A Paloma está se saindo muito bem no San Magno, o Félix está vivendo muito bem aqui... Sendo um pai de família, quem diria... E por isso mesmo, quando falo no plural me refiro também... A todos! A esta família que ele formou. Seja como for. Por mais que eu não encontre explicações para esse tipo de família, por mais que não entre na minha cabeça como um homem pode viver assim, com outro homem, com dois filhos que nem são dele... É o que ele construiu. A única coisa que ele construiu na vida, já que antes vivia empenhado em destruir... E já que construiu, que pelo menos agora que constrói uma coisa boa, que seja feliz. Eu quero isso! Por mais que eu tenha sido um péssimo pai eu quero, sempre quis que o Félix fosse feliz.

Nesse dia dos pais eu desejo que meu filho seja feliz.

...

...

Pouco tempo depois de Jonathan chegar nós tomávamos o café da manhã, completo agora, afinal, ninguém aqui é maluco de perder as delícias que meu carneirinho prepara.

Jayminho e Fabrício também acabaram de acordar... Morrendo de fome pra variar. Eu adoro ficar com meus três filhos e o carneirinho assim desde a manhã, e saber que vou passar o dia inteiro com eles me dá um ânimo inigualável. Nós já havíamos combinado, mas eu fiz o Niko prometer que não ia nem pensar em trabalho hoje. Hoje é meu primeiro dia dos pais como pai dos filhos dele e eu quero aproveitar cada minuto com essa família que ele me deu e que eu amo tanto. Por que só ele me fez amar como jamais pensei que amaria. E não minto quando digo que já não posso viver sem eles. É a mais pura verdade, da ponta do meu cabelo até o recanto mais profundo de minha alma.

Hoje sei o que é felicidade graças a tudo que o carneirinho me proporcionou, me ensinou e me faz viver cada dia.

Nesse dia dos pais eu desejo que o Niko, esse loirinho que é meu grande amor, seja feliz. Ele merece! Merece demais!

...

...

Nós acabávamos de tomar nosso café quando comecei a preparar o do doutor César. Já sei bem de tudo que ele gosta, pena que ele ainda só não goste de mim. Eu teria todo prazer em levar para ele, ajudá-lo, só para deixar o Félix mais um pouquinho aqui curtindo os filhos. Meu amor está tão contente está manhã, tão entusiasmado, tão radiante. Como me faz feliz vê-lo assim. É ótimo ver toda a família reunida, em harmonia... Pena que falta alguém... Pena que esse alguém só queira ficar trancado no quarto pelo simples fato de não aceitar essa família que o filho construiu.

Ah, como eu queria ter uma ideia para fazer o seu César curtir um pouco mais o filho maravilhoso que tem, passar mais tempo com ele, sem brigas, sem discussões... Queria dar um jeito de os dois terem um bom dia hoje. Principalmente pelo dia de hoje.

E se eu tentasse? E se arriscasse? E se... Bom, quem não arrisca, não petisca, então...

Peguei a bandeja do café do seu César e fui levando para o quarto dele enquanto Félix estava distraído com os meninos. Quem sabe não seria nossa chance de ter uma conversa franca e pôr um fim nas diferenças?! Porém, Félix é rápido para perceber as coisas... Quando fui saindo da cozinha ele me impediu. Levantou e logo se pôs na minha frente.

– Ei! Aonde pensa que vai, carneirinho?

– Ora Félix, eu... Só ia levar o café do seu pai!

– Niko, tá... Maluco? Você quer estragar meu dia logo agora cedo?

Nossa! Como fiquei triste ao ouvi-lo falar isso. Mas, não o culpo, pelo contrário, compreendo...

– Mas, amor... Eu só queria ajudar... Você estava brincando com os meninos, eu só...

– Eu sei, eu sei, carneirinho! Eu sei que você só quer ajudar, desculpa, mas... É melhor não! Vai que o papi briga com você e acaba ficando você triste de um lado, ele soltando raios e trovões do outro... Não! É melhor eu mesmo levar, assim a gente não arrisca né?!

Eu te compreendo, meu amor. E que lindo quando ele, numa tentativa de não estragar a felicidade desse começo de dia, pegou gentilmente a bandeja de minhas mãos e me deu um beijo na bochecha. Me olhou como quem pede compreensão e foi, então, para o quarto do pai. E eu, fiquei torcendo para que eles não brigassem, para que doutor César estivesse de bom humor e para que os dois se entendam cada vez mais. Eu queria, realmente queria muito tentar me aproximar mais do meu sogro, mas já que o Félix acha mais “seguro” eu não ter muito contato com ele... Bom, fazer o quê?! Só espero que hoje seja um bom dia para eles, para todos nós. Mesmo que seja difícil para o doutor César entender minha relação com o filho dele, a família que formamos, entender que o Félix também é pai dos meus filhos, e que assim sendo, nossos filhos são seus netos... Ai, eu desejo de todo coração que ele tenha um bom dia.

Nesse dia dos pais eu desejo que o seu César seja feliz. E o Félix também. Meu amor merece!

Eu sei que sonhos podem se tornar reais. Como quando eu sonhava com o Félix, fantasiava com ele sendo meu namorado, meu companheiro, fazendo parte da minha família... E olha agora. É tudo real! Eu sei que muito mais pode se realizar... E, às vezes, o que parece impossível pode acontecer... Por que não?! Eu não perco a fé!

...

...

Félix entrou no meu quarto trazendo meu café como todas as manhãs.

– Bom dia, papi! O Jonathan tá aí! O senhor quer sair um pouquinho depois do café ou quer que ele venha aqui conversar um pouco com o senhor?

– Tanto faz, Félix...

– Papi, pelas contas do rosário, por que não sai? Está um dia tão lindo hoje! Meio frio, mas o sol está brilhando, o céu não tem uma nuvem... Estou até pensando em ficar na piscina depois...

– Só você... Ou... Todo mundo?

Como se eu não soubesse que vão todos se divertir... Como sempre... Sempre ouço os quatro rindo e vivendo suas vidas...

– Ah... Todos né, papi?! Os meninos vão querer ficar na piscina com certeza e... Acho que o Niko também...

– Esse... Esse rapaz não vai trabalhar hoje?

Já não me importo tanto quando o Félix fala desse rapaz... Mas ainda é difícil para mim... Pronunciar o nome do cara que... Que dorme com meu filho todas as noites.

...

...

Tenho que aprender a não me surpreender tanto quando o papi pergunta sobre o Niko... Apesar de nunca pronunciar o nome dele.

– Não... Nós deixamos o assistente no restaurante hoje... Ainda bem que nenhum dos assistentes do carneirinho tem filhos, senão estaríamos com problemas!

Tentei fazer graça, falar em tom de brincadeira... Mas, o papi nunca acha graça em nada que faço mesmo. Nem sei por que ainda tento. Ah, não! Agora que me toquei porque ele ficou tão sério... Também tenho que aprender a controlar quando chamo o Niko de carneirinho!

Permaneci calado para não piorar a situação. Vai que ele ficava de mau-humor de repente, e hoje, mais que nunca, eu não estou com a mínima vontade de aguentar os chiliques do papi soberano.

.. Ele me pegou de surpresa...

...

...

– Félix... Quando forem lá pra fora... Venha me buscar!

– H-hein?!

– Não ouviu?! Quando forem ficar lá fora, venha me ajudar a ir! Eu quero ir lá fora hoje, nem que seja uns poucos minutos apenas!

Eu precisava. Hoje, mais que tomar um banho de sol, eu precisava de um banho na alma... E eu queria ficar um pouco com eles. Eles foram, no final das contas, a coisa mais agradável que me aconteceu... A única opção que me restou... Ou talvez devesse dizer... A única família que me restou. É muito difícil para eu ver todos eles como uma família, pra mim é mais uma casa cheia de gente que o Félix trouxe com ele, mas... Não posso negar que... Enfim... Me fizeram um bem... Um gesto de solidariedade eu acho. Podiam ter me largado em um asilo qualquer... Podiam estar cuidando de suas próprias vidas sem ter o mínimo de trabalho com esse velho imprestável e, no entanto, estão aqui... Comigo. Eles aceitaram alguém que nunca soube lhes aceitar. Não tenho mais direito nenhum de reclamar da vida... A pouca vida que me resta que seja utilizada para, pelo menos, não prejudicar a vida de mais ninguém.

...

...

Eu mal acreditei no que o papi estava me pedindo. Que coisa maravilhosa. Ah papi... Não sabe como me faz bem ouvir isso. Você, querer sair, querer ficar uns minutos com minha família... Agora sei que este será o primeiro grande dia dos pais da minha vida.

– S-sim, papi! Quando sairmos eu venho te buscar e nós ficamos na beira da piscina, que tal?!

– Acho que eu atrapalharia na beira da piscina! Eu fico na varanda mesmo... Pego um pouco de sol, respiro o ar puro daqui... Esse quarto fica muito gélido nas manhãs de agosto!

– Ai papi, eu acho que o senhor devia pegar mais sol, sabe?! O senhor já foi mais bronzeado, agora só fica aqui nesse quarto... Está ficando branco e pálido... Assim não dá, fica parecendo ser mais velho! E já imaginou logo o senhor que sempre foi vaidoso, embora não admitisse, mas era sim, ficar parecendo um velhinho...

O papi me interrompeu sério.

– Félix! Sem piadinhas, por favor... Ou não vou mais!

– Tá, tá bem, papi! Desculpa! Eu venho daqui a pouco, tá?! Antes que o senhor pense em mudar de opinião... – Era melhor eu não ter dito isso, vai que ele muda. – É... Já venho, viu?!

Saí do quarto muito contente e esperando que o papi não mude mesmo de opinião e queira ficar um pouco com a gente.

...

...

Jonathan e eu estávamos pasmos com o que Félix chegou nos contando. Pasmos e contentes.

– Seu César quer mesmo ficar com a gente, Félix?! Que bom!

– Pois é, carneirinho! Eu nem dei a sugestão, não assim diretamente... Eu disse que estava um dia lindo lá fora, que ele deveria sair um pouquinho... Perguntei se ele queria vir conversar com o Jonathan, e até comentei que a gente ia ficar na piscina depois... Aí ele pediu pra vir! Simples assim! Eu não falei nada, não pedi, não briguei, não chantageei... A ideia foi dele!

– Tá vendo, pai! Acho que o meu avô já tá amolecendo o coração...

– Ah, o coração talvez, Jonathan... O problema do papi é a cabeça que é mais dura que os diamantes da rainha de Sabá!

Nós três rimos, afinal, o senso de humor do Félix sempre alegra qualquer ambiente. E fora a alegria que já estávamos sentido pela atitude positiva do doutor César. Tudo estava indo as mil maravilhas.

– Mesmo assim, pai... Olha, lembra o que te falei ano passado quando te dei o relógio?

– Claro que lembro, Jonathan! Você disse para eu aproveitar todo o tempo... Disse umas coisas lindas...

– Então?! O tempo muda tudo, pai... E o tempo está tratando do vô César! Lembre-se que com o tempo até as rochas mais duras se desgastam e se moldam conforme as circunstâncias! Tanto o meu avô quanto você são o maior exemplo disso! E eu tenho certeza que ainda vou ver você, ele e o Niko conversando e rindo!

– Jonathan... Meu filho, às vezes, você diz cada coisa... – Félix falou isso sorrindo, mas notei certa incredulidade na sua voz.

Esse Jonathan é mesmo um garoto maduro para a idade dele. Puxou a inteligência do Félix.

– Que lindo isso que você disse sobre o tempo, Jonathan! É a mais pura verdade! E sabe... Eu também espero que um dia o doutor César se aproxime mais de nós! Ele já aceitou seu pai e isso foi um grande passo para os dois... E tenho fé que ele ainda vai me aceitar também!

– Ah, vocês dois... Acreditem ou não eu tenho esperança de ver o papi de bem com a gente... Sei lá... Convivendo conosco e até, quem sabe... Conversando com você, carneirinho! Embora eu ache que isso já é sonhar alto demais... – Félix baixou o olhar, sorrindo, mas um tanto triste. – Que belo sogro você foi arrumar hein, Niko?!

Eu sei que o Félix gostaria muito que tudo fosse diferente. Mais tarde, os meninos lhe darão presentes pelo dia dos pais, mas o maior presente que ele poderia receber hoje seria uma relação de paz entre nós, o seu César, ele e eu. Era o que eu queria muito também. Para mim também seria o melhor presente.

Peguei na mão dele e olhei em seus olhos.

– Amor, eu nunca perco nem vou perder a esperança de seu pai gostar de mim um dia! Nós ainda vamos nos dar bem! E quando nós acreditamos muito em algo, esse algo pode se realizar! Acredite! E hoje Félix, nós, os três pais daqui, vamos ter um dia inesquecível, você vai ver!

Ele também pegou na minha mão e a apertou com esperança renovada. Eu podia ver isso através de seus olhos.

– Tomara, carneirinho! Tomara! Vamos fazer desse dia... Um dia inesquecível!

...

...

Algum tempo depois...

– Prontinho, papi! Para a varanda né?!

– Sim! Deixe-me lá e pode ir ficar com eles!

Félix estava me tirando do quarto, me levando na cadeira de rodas para a varanda. Chegando perto da porta já pude ver que o céu estava azul e o sol brilhando. Chegando mais perto, ouvi risos e o barulho da água da piscina. Por um momento pensei em desistir de ficar lá fora. Provavelmente estavam se divertindo. Não queria estragar aquele momento. Mas, se voltasse agora talvez fosse pior, poderiam pensar que estou de má vontade, e acabar tirando do rosto do Félix este sorriso que ele está. Não posso ver direito, mas estou vendo o quanto ele está feliz. Pois bem, ficarei aqui. Vamos ver como esse dia vai ser.

Só não sei por que... Tenho a impressão de que hoje será um dia inesquecível.

...

...

Félix chegou com o pai. Os meninos e eu estávamos na piscina. Como eu ainda não tinha me molhado, pensei em ajudá-los. Fui indo em direção a eles, mas logo que Félix me viu fez sinal para eu não ir. Preferi não contrariá-lo, pois poderia acabar contrariando o doutor César e ele acabar desistindo de ficar aqui. Fiquei na minha, então.

Félix o ajeitou na cadeira num lugar da varanda com sombra e fazia tudo para o pai ficar o mais confortável possível. Eu os observava... E como me dava orgulho de vê-los se dando bem... Bom, do jeito deles, mas se dando bem.

...

...

– Tá bom aqui, papi? Precisa de mais alguma coisa?

– Não, não Félix, estou bem aqui! Pode ir!

– É... Tá! Eu vou pra lá pra piscina, e se o senhor quiser alguma coisa ou quiser entrar, é só chamar, viu?!

– Sim! Vá! Não precisa ficar aqui!

O papi às vezes me surpreende mesmo. Estou gostando de ver que pelo menos ele está calmo hoje, e espero que essa calma dure o dia todo. Fui indo para a piscina enquanto Jonathan saiu para conversar um pouco com ele. Na beira da piscina, meu carneirinho olhava para mim, me esperando com um sorriso lindo e... Eu sei... Ansioso para eu falar sobre o papi, sobre como ele está, se está de bom humor... Esse meu carneirinho curioso, como se eu não soubesse quando ele me chama com os olhos. Pisquei para ele e ele me respondeu abrindo o sorriso. Sentei ao seu lado na beira da piscina e foi inevitável nós dois olharmos para o papi ligeiramente.

– E aí, Félix? Como ele está hoje? – Sabia que ele perguntaria.

– Por enquanto... Está ótimo, carneirinho! Espero que continue assim!

...

...

Ficamos nos divertindo por horas, e o meu sogro só nos observava. Observava o Félix, os meninos, a mim... Observava nossa interação e, algums momentos em que me atrevi a olhar de relance para a varanda, vi poucas vezes, mas vi um meio sorriso no seu rosto.

Passava das dez, e o sol estava quente para continuarmos na piscina. Todos fomos para a área coberta, para a sombra, e eu entrei para preparar o almoço. Claro que eu já tinha deixado boa parte das coisas preparadas no dia anterior. Eu não ia ficar trabalhando no dia dos pais né?! Queria aproveitar cada instante com minha família.

Para entrar, passei por doutor César na varanda, e senti seu olhar de relance para mim. Era como se ele tivesse vontade de falar comigo, porém não tivesse coragem.

Poucos minutos depois, chamei todos para um lanche. Eu sabia que meus filhotes estavam com fome àquela hora. Todos entraram. Jayme foi o primeiro a chegar, correndo. Ouvi lá fora Félix gritando:

– Não corre, menino! Você vai escorregar assim todo molhado!

– Tá, pai Félix! – Ele respondeu, mas não adiantou. Entrou correndo. Lá dentro lhe dei uma bronca.

– Jayme, filho! Você correu, mesmo seu pai mandando não correr!

– Eu tô com fome, pai Niko!

– Eu sei, mas obedeça! Eu vou levar o lanche pra a mesa lá fora, me ajuda?!

– Sim! – Jayme pegou a jarra de suco e levou... Correndo de novo. Ouvi outra vez Félix reclamar lá fora:

– Olha aí, Jayminho! Você vai derramar isso! Menino, só sabe correr! Parece que vai salvar Judas da forca! Que coisa!

– Desculpa, pai!

Ai, esse Jayminho! Bem capaz de ele ter derramado suco no chão quando saiu correndo. Vou já ver...

E o Félix que não vem! Ah, deve estar com o seu César...

...

...

Ficar aqui, para mim foi... Diferente... Inesperado... Não sei, não sei com que palavras explicar, se é que tem explicação para o que eu senti...

Eu que sempre fui um homem de negócios, a vida inteira enfiado naquele hospital, sempre tentando passar a imagem do pai de família exemplar... Quando poderia imaginar estar vendo uma cena familiar assim?! Uma cena tão doméstica... Uma cena até... Até... Bonita! Sim, bonita! Eu ainda gostaria que o Félix não fosse gay, ainda gostaria que ele tivesse outro tipo de família, mas... É assim que ele é... E é assim que ele é feliz! E, mesmo sendo dois homens criando duas crianças... Eu achei bonito o que vi... Eu achei mesmo bonita essa família que meu filho formou e... Preciso admitir... Ele está fazendo isso parecer tão fácil... Ele se tornou um melhor pai de família que eu. Ele é bom nisso! E... Ele é meu filho... E mesmo sem saber como dizer-lhe isto, eu me sinto orgulhoso dele.

Agora esse rapaz entra e chama todos para comer e eu penso na mesma hora: fico com eles ou volto para meu quarto? O único lugar que um velho inútil como eu merece. Mas, e se eu ficar com eles... Como vai ser? Esse rapaz... E eu... Poucas vezes trocamos algumas palavras. E se ele puxar algum assunto? Não sei como lidar com eles. Pra mim já não é mais novidade tampouco surpresa ver o Félix mudado, mas essa história de namorado, companheiro, ou sei lá o quê, ainda me é estranha e sempre será!

E hoje que é um dia festivo, eu quis vir aqui para fora... Só para observá-los silenciosamente... E não foi perda de tempo, pelo contrário, pude comprovar o que já pensava: o Félix é outro quando está com esse rapaz e com esses meninos que ele adotou como filhos. Foram incontáveis as vezes que, enquanto estou aqui, vi o Félix sorrir, rir e dar gargalhadas... Por outro lado, quando recordo o passado, posso contar nos dedos de minha mão boa quantas vezes vi o Félix assim... E, com pesar eu sei, não usaria um só dedo nesta contagem.

Esse lugar... Essas pessoas... Essa nova vida. Tudo isso faz um bem para o Félix que eu nunca pude lhe fazer. E, mesmo tendo tudo isso agora... Ele ainda perde algumas horas do seu tempo todo dia cuidando desse velho infeliz.

Ah, César Khoury... Que porcaria que você se tornou! Já está mais que na hora de deixar os resquícios do que já foi de lado e dar um pouco mais de valor ao filho que tem... E... Talvez... Só talvez... Aos que o fazem ser o homem que é hoje... Por que não?!

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... ...


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Notas finais do capítulo

...Continua...



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