Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 62
Dia dos Papis Soberanos 2014 - O Dia


Notas iniciais do capítulo

Domingo, 10 de agosto de 2014



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Acordei... Apesar do friozinho que está lá fora eu estou sentindo um calor maravilhoso... Calor que sempre sinto quando estou nos braços do meu carneirinho. Não suportei a saudade ontem e vim ficar à noite com ele.

Acordamos juntos. Descolei meu corpo do dele e deitei ao seu lado. Ele me olhou com aqueles olhos de jade e o sorriso mais lindo do mundo.

– Bom dia, Félix!

– Bom dia, carneirinho!

Demos o primeiro beijo do dia. Giramos na cama até que eu me sentei e ele se recostou em mim.

– Estou tão feliz que você está aqui comigo!

Dei-lhe um beijo na cabeça como resposta. Palavras não eram necessárias... Nem encontraria o bastante no dicionário para expressar o que sinto por esse loiro lindo.

...

...

Ah... Eu ficaria um dia inteiro assim nos braços dele... Uma vida inteira... A eternidade... Mas, hoje quero levantar e comemorar o dia dos pais!

– Vamos levantar, amor?!

– Quando você quiser, carneirinho...

Espera... Eu conheço esse tom de voz...

– Ei! Eu estou falando levantar da cama, Félix!

E conheço esse sorrisinho cínico...

– Eu sei, Niko! Ora... Você que pensou maldade, eu não disse nada!

– Sei... Vamos que eu estou ansioso pra passar o dia todo com meus filhos!

– Ah é... Hoje é dia dos pais... Acredita que eu já havia esquecido de novo...

Félix, Félix... Eu te conheço melhor que você imagina...

– Tinha mesmo esquecido, Félix?

Ele suspirou e me falou a verdade.

– Não... Pra ser sincero, carneirinho, eu... Eu não queria lembrar, sabe...

– Mas por quê?

– O que você acha?! – Não preciso achar nada... Sei bem o porquê. Ah amor... Preciso fazer com que você passe um bom dia dos pais.

Não lhe disse mais nada. Dei-lhe um beijo e levantamos da cama.

Durante o café da manhã, eu dei a notícia para Jayminho que ficou muito feliz.

– Filho, hoje eu não vou trabalhar! Vou passar o dia todo com você e seu irmão!

– Oba! – Ele se alegrou e pulou em mim, me abraçando.

...

...

Foi lindo ver aquilo. O entusiasmo e alegria do Jayminho quando Niko disse que ia ficar com eles não tem preço. Me veio nem sei de onde uma saudade do Jonathan. Nossa... Queria ter passado algum momento assim com ele quando ele tinha essa idade... Agora ele já é um homem, tem sua própria vida... Sua infância passou e eu a desperdicei e a desprezei... Tudo por que tentava ser igual ao meu pai. Mas, é melhor deixar pra lá... Fico feliz demais ao lado do carneirinho para me entregar a tristeza.

– Carneirinho... Como que você vai fazer isso, hein?!

– Isso o quê?

– Como o quê?! Deixar o restaurante fechado num dia festivo!

– Ah não, mas não vai ficar fechado, o Edgar cuida de tudo! Eu combinei tudo com ele! Ele não tem filhos, disse que não teria problema, e vai ganhar um extra por isso... Além de que é uma boa oportunidade para ele provar que pode tocar esse restaurante pra frente caso eu abra outro... Em outro lugar, né?! – Piscou para mim.

Esse meu carneirinho... Parece que enxerga dentro de mim... Na minha alma. Tá bom que nós já conversamos sobre os planos de morarmos juntos em Angra dos Reis, abrirmos um restaurante na praia, mas... Será que ele desconfia que eu já estou vendo um lugar para isso?!

Não, acho que não... Além de que não tem nada certo ainda. Preciso fazer tudo direitinho pra dar tudo certo. Pra fazer com que os sonhos do meu carneirinho se realizem. Para que eu possa dar um futuro digno a ele e a esses meninos lindos que desejo tanto que se tornem minha família.

Será que posso fazer dar certo?

Será que posso ser digno de ser pai do Fabrício e do Jayminho?

É tão difícil saber se o que estou planejando é o melhor... Eu nunca fiz nada certo na vida! Ou melhor, fiz... Uma única coisa... Aceitar o amor do Niko!

...

...

Por todo amor que tenho pelo Félix quero fazer com que esse dia dos pais dele seja o primeiro e mais feliz da sua vida. Pra isso preciso ligar para certo alguém... Já tenho umas ideias...

– Félix, você não vai pra casa agora né?!

– Não Niko, eu vou ficar mais um pouquinho... Depois vou pra ver o papi, ver se ele pelo menos conversa um pouco comigo hoje...

– Tá! Fica aqui na sala um pouquinho com o os meninos que eu já volto...

– Aonde você vai, criatura?

– Vou... Ligar para o Edgar... Ver se ele já foi abrir o restaurante...

– Por que não liga daqui mesmo?

– Não... O celular ficou lá no quarto! Eu já volto!

– Ok...

Ele ficou... Ainda bem. Aposto que desconfia que eu menti, mas ele vai gostar dos motivos.

No quarto, dei meu telefonema...

– Alô?! Jonathan...

...

...

Fiquei esperando na sala, brincando com os meus possíveis futuros filhos, ainda imaginando – como imagino há meses – se serei realmente apto a ser pai. Se nem com meu filho de verdade fui bom, será que serei bom para os filhos do meu carneirinho? Nem sei como o Jonathan gosta de mim sendo eu o pai que sou... Ou que fui... Sim, que fui! Não sou mais. Nem quero ser.

Pensando nele, eis que ele aparece... Jonathan de repente ligou para meu celular.

– Pai...

– Fala Jonathan!

– Você poderia sair agora? É que estou aqui de frente da casa do Niko...

– Você está aqui de frente? Por que? – Me dirigi à porta e o vi do outro lado da rua... Num dos carros de mami.

Fiz sinal para que ele esperasse e entrei. Niko tinha acabado de sair do quarto.

– Carneirinho, eu vou ter que sair!

...

...

– Sério?! Por que já tão cedo, Félix? – Como se eu não soubesse... Eu estava rindo por dentro, e tinha que disfarçar muito bem senão o Félix descobre... Ele é muito esperto.

– O Jonathan veio me buscar! Não sei por quê... Será que foi alguma coisa com o papi?!

– Não Félix, não foi nada disso...

– Como você sabe?! – Ele quase me pega nessa...

– Não, não sei... Só estou dizendo pra você não pensar no pior... Olha, por falar nisso, não sabia que o Jonathan já estava dirigindo... – Tentei mudar de assunto.

– Não, ele ainda não tirou a carteira, está aprendendo... Mas, eu ainda não sei por que ele veio, carneirinho! Deve ser algo urgente pra ele vir assim...

– Mas, não se preocupa! Vai lá saber o que foi, vai! Vai com ele que eu vou ficar aqui com meus filhotes! Mais tarde você passa aqui né?! Hoje vai ter a super lua, Félix, quero que a gente veja isso juntos!

– Ai carneirinho, ficar vendo a lua?! Só você, criatura... Um poço de romantismo! Tá, já vou! Tchau! – Ele me deu um beijo na bochecha e saiu.

Ai ai ai... Espero que ele goste da surpresa!

...

...

Atravessei a rua e entrei preocupado no carro. Fui logo entrando no lado do motorista.

– Que foi Jonathan? O que veio fazer aqui? Aconteceu alguma coisa?

– Não, pai, calma! Não aconteceu nada! Primeiro vamos fazer uma coisa?

– Que coisa, criatura? Não enrola, pelas contas do rosário!

– Calma, pai! Primeiro, troca de lugar comigo!

– Mas... Ai que coisa... – Trocamos de lugar. – Pronto! Agora quer me dizer por que veio me buscar aqui? Você não devia nem estar dirigindo pra começar...

– Eu sei... Por isso que eu vim!

– Como?!

– Pai... – Olha só, ele também sabe fazer cara de pidão. – Você é o melhor motorista que eu conheço... Você não quer me ensinar um pouco?

– Espera aí... O quê?! Você veio até aqui agora de manhã só pra eu te ensinar a dirigir?

– É...

– Não... Ah não... Eu devo ter trocado a Arca de Noé por um fusca pra ouvir uma coisa dessas!

– Mas pai...

– Mas, pai, nada! Jonathan... Você me tirou da casa do carneirinho pra te ensinar a dirigir, criatura?!

– Eu... Só queria passar um tempinho com você no dia dos pais!

Aquilo me apertou o coração. Mesmo estando claro que ele está fazendo chantagem emocional, eu me senti tão pequeno e insignificante que só pude ter um gesto naquele momento... Abraçar meu filho e lhe pedir desculpas.

– D-desculpa... Desculpa, filho, eu... Eu sou um insensível mesmo...

– Pode ser insensível, mas... Ainda é meu pai...

– Ah Jonathan...

– E ainda pode me ensinar a dirigir...

Só podia rir. – Ok! Eu ensino! Mas, vamos primeiro para um lugar melhor, com mais espaço...

– Tá, pai!

Antes de irmos, eu tinha que dizer-lhe o que ficara entalado na minha garganta.

– Ah... Filho... Me perdoa por não ter passado nenhum dia dos pais com você?! É que... Hoje... O Niko deixou de ir ao restaurante para ficar com os filhos dele e... Eu nunca fiz algo assim por nós...

É nessas horas que esse garoto mostra que, graças aos céus, não puxou nem a mim nem a louca da mãe... Ele é tão maduro e compreensivo que só pode ter puxado a vovotrix.

– Tudo bem, pai! Nunca é tarde pra tentar de novo, ou tentar o que nunca tentou!

– Sabe Jonathan... Às vezes eu queria que você ainda tivesse oito anos, como o Jayminho... Você tinha que ver a comemoração dele quando o Niko contou que não ia trabalhar hoje...

– O que ele fez?

– Ah, ele pulou em cima do carneirinho, abraçando ele, gritando “oba”! Só vendo...

– Ah pai, eu tenho dez anos a mais que ele né?! Mas... Me diz... Você vai me ensinar a dirigir ou não?

Esse Jonathan... Me convenceu! – Tá bom, eu vou, eu te ensino... – E me surpreendeu... Me emocionando ao pular para meu lado em um abraço, agradecendo-me e comemorando... – Oba! Valeu, pai! – Igualzinho a como o Jayminho fez...

Ah meu filho... Você está me dando meu melhor presente de dia dos pais: a satisfação de ter você!

– Ah meu filho...

– Viu, pai... Nunca é tarde! Não há idade para se demonstrar alegria e afeto!

Fiz o possível para as lágrimas não embaçarem minha visão. Respirei profundamente e nos soltamos do abraço.

– Ah Jonathan, só você... Mesmo assim, queria que você fosse pequeno ainda pra fazer coisas que eu não fiz, tipo te levar pra passear, pra o cinema, comprar um balde de pipoca...

– Ei, quem disse que eu sou velho pra essas coisas, hein?! Adoro cinema e adoro pipoca!

– Ah, mas agora você vai com sua namorada...

– Sim, mas posso curtir um filme com meu pai uma vez ou outra...

Que garoto incrível!

– Obrigado, filho!

– De nada, pai! E, se você quiser me levar ao cinema hoje, eu tô livre...

Eu tinha que brincar senão eu mesmo me estranho...

– Mas, nem pensar... Hoje é dia dos pais, não dia dos filhos, então se alguém aqui tem que levar alguém ao cinema não sou eu! E também o balde de pipoca não sou eu quem paga!

– Eu sabia... – Rimos de novo. - E aí, vamos?

– Vamos, meu filho... Vai, tira esse carro daqui que eu quero ver como você dirige...

...

...

Havia acordado... Sozinho... Como sempre...

Nem ele veio me ver...

Onde estará?

O que o Félix estará fazendo agora?

A Pilar trouxe meu café da manhã e saiu logo em seguida... Claro... O único que fica aqui é o Félix...

Quem diria que eu sentiria sua falta!

Talvez, pela primeira vez, eu esteja realmente pensando no significado do dia de hoje... Dia dos pais.

Tive três filhos e, no entanto, acho que nunca soube o que é ser pai...

É mais que trazer um filho ao mundo...

Mas, o que é?

Será que terei tempo de descobrir um dia?! Não sei... Só sei que nunca fui um pai de verdade... E agora meus filhos têm seus próprios filhos e eu... Não tenho mais nada... Não sei nem porque ainda tenho vida... Não tenho por que viver...

Eu poderia muito bem ter morrido meses atrás depois desse AVC... Se não, anos atrás quando enfartei... Não faria falta a ninguém... Pelo contrário, tiraria um peso das costas de todos... Pouparia tanta coisa...

Por que será que sobrevivi?! Será que tenho algum objetivo ainda a cumprir nessa vida?!

Se for assim, seja qual for... Quero cumprir logo para poder deixar todos em paz de uma vez por todas.

Mas, onde estará o Félix? ... Ah, claro... Como não pensei nisso antes?! Só pode estar na casa daquele tal namorado dele... Só pode... Passa lá, praticamente, noite sim noite não... Isso me faz pensar cada coisa... Que prefiro nem pensar...

O melhor é voltar a dormir, ou pelo menos tentar... Dormindo é a forma que tenho para não atrapalhar a vida de ninguém...

Quem dera eu pudesse dormir para sempre...

...

...

Jonathan e eu passamos uma manhã maravilhosamente divertida. Depois de eu dar-lhe várias dicas sobre como ser um motorista tão bom quanto eu, fomos ao shopping já que era muito cedo para o cinema.

No shopping, Jonathan me disse que já havia comprado meu presente, mas que só iria me dar mais tarde. Fiquei curioso. E foi quando ele me perguntou se eu iria dar alguma coisa para o papi que eu me toquei da realidade.

– Jonathan! E o papi?! Eu nem falei com ele hoje!

– Ih, foi mesmo né?! Calma, pai, ele deve estar como sempre, lá no quarto dele...

– Mas, será que levaram tudo pra ele certo?! Será que ele tomou café da manhã?! E o remédio?! Eu tenho que ir pra casa...

– Pai, a vó Pilar e os empregados sabem muito bem o que fazer! Relaxa!

– Tá, tá bem... Vou relaxar! Vamos continuar... E tomara que esteja tudo normal mesmo, senão hoje ele vai estar com o humor péssimo... Quer dizer, pior que sempre...

– Vai estar tudo bem, você vai ver! Agora... O que você vai dar a ele?

– Ah Jonathan, não faço ideia! Não comprei nada... O que eu poderia dar ao papi?! Ele nunca gosta de nada que vem de mim mesmo!

– Pai, não seja tão pessimista...

– Não sou pessimista, sou realista...

– Deveria ser um pouco mais otimista, então!

– Jonathan, o papi nunca gostou de nada que veio de mim! Até dos cartõezinhos que a gente fazia na escola pra o dia dos pais ele não gostava, achava os meus ridículos... E olha que eram muito mais bonitos que os da sua tia! E agora?! Me diz, o que eu posso dar para um homem que não gosta de mim e que ainda está com a visão parcialmente comprometida e um lado do corpo quase sem movimento?!

– É... É difícil, pai... Mas, talvez haja alguma coisa que preste pra ele...

– Vou ter que mandar fabricar alguma coisa que eu ainda não faço ideia do que seja!

– Não é pra tanto, pai... Sabe o que dizem, os melhores perfumes vêm nos menores frascos...

– O que isso tem a ver?

– Não sei, mas é uma frase legal! – Rimos os dois. Acho uma graça quando o Jonathan prova que pelo menos no senso de humor puxou a mim. – Mas, tem uma frase mais bonita, pai, é assim... Do mais vulgar dos carvões é que se forma o mais puro diamante!

Também não entendi muito o porquê dessa frase agora, mas gostei... Gostei muito.

– O que quer dizer com isso, Jonathan?

– Que não é preciso pensar no mais caro dos presentes, enquanto que o gesto mais simples pode ser o que o doutor César realmente precise! – Agora, estou começando a entender. – Acho que ainda não tem nada a ver com as frases, mas, sei lá, são legais... E aí, você vai procurar alguma coisa pra dar ao meu avô?

Esse meu filho também puxou meu poder de persuasão. – Bom... Estamos num shopping né?! Vamos ver se eu encontro alguma coisa...

Continuamos o passeio até que ele se lembrou de alguma coisa ao olhar no relógio e me pediu para esperar. Ele saiu por um dos corredores do shopping e eu fiquei zanzando por algumas lojinhas ali por perto. Foi quando, pensando no que o Jonathan havia me dito e no que poderia dar para o papi, eu vi uma lojinha que nunca havia reparado... Talvez pela simplicidade... Ficava fora do shopping... Claro, antes eu nunca olharia para um lugar simples assim, mas agora... Algo me chamou a atenção.

Será que esse seria o presente ideal para o papi? Bom, ele não pode ver direito então não poderia lhe dar um livro ou algo assim... Também não anda mais sozinho... Talvez isto seja um bom presente, afinal, dizem que a música é capaz de acalmar até as feras mais selvagens... Pode ser que funcione com o doutor César...

Algum tempo depois Jonathan voltou com uma sacola. Eu também já estava com outra.

– Ué, pai, comprou alguma coisa?

– Comprei... Só não sei se o papi soberano vai gostar do meu presente ou se vai jogá-lo na minha cara!

– Não seja assim... O que você comprou?

– Olha... – Mostrei a ele. Acho que gostou, ele pareceu surpreso.

– Pai, que ótima ideia!

– Você acha, Jonathan?

– Claro!

– E... Nessa sacola aí, o que tem?

– O seu presente... Mas você não quer recebê-lo aqui no shopping, quer?

– Não, vamos...

Fomos para o carro e eu fui dirigindo dessa vez. Assim que chegamos na casa de mami, antes de entrarmos ele e eu sentamos na calçada e ele me deu meu presente.

– Pai... Eu tenho que te contar que essa ideia de a gente passar umas horas juntos não foi minha... Foi do Niko!

Ah... Meu carneirinho... Não acredito...

– Sério?! Ah Niko...

– É, e eu gostei muito...

– Também gostei, meu filho!

– E sabe, pai, eu também gosto muito do Niko e gosto de como ele te faz feliz... Então, eu tive a ideia de te dar uma coisa importante... – Ele pegou uma caixinha da sacola e me entregou. Era um relógio lindo.

– Ah filho... Obrigado...

– Ano passado, no natal, o Niko te deu sapatos para que você desse seus primeiros passos na sua nova vida... Hoje pai, eu quero te dar esse relógio, para que você não perca mais tempo sofrendo com o passado, e viva cada minuto do presente... E marque as horas para um grande futuro que eu sei que você terá... E que, a cada segundo, você tenha a certeza que tem gente que te ama e que quer te ver feliz!

... Agora sim ele acabou de vez comigo! Não poderia nem queria prender as lágrimas de felicidade... Abracei meu filho, chorando... Feliz.

– O-obrigado... Obrigado... E-eu te amo, meu filho... Muito, muito obrigado por você existir!

...

...

Eu estava em casa me divertindo com meus filhos quando meu celular tocou. Deixei meus filhotes na sala e fui atender no quarto. Enchi-me de mais alegria quando vi a foto do meu amado Félix...

– Alô?!

– Meu amado carneirinho!

Pela voz ele estava contente...

– Oi, querido! E essa alegria toda?

– Ah carneirinho, eu já sei que foi você o responsável pelo Jonathan ter ido me buscar hoje, tá?! Obrigado!

– Ah Félix... De nada! Mas, olha, eu não dei a ideia sozinho, eu e o Jonathan pensamos juntos nisso! Eu só disse que ele deveria passar um tempo com você hoje e ele teve a ideia de dar a desculpa de te pedir pra ensiná-lo a dirigir!

– E quanto a esse relógio maravilhoso que ele me deu?

– Relógio? Que chique! Eu não estava sabendo disso!

– Pois é... O Jonathan me surpreendeu, carneirinho... Esse garoto é demais, adorei passar essa manhã com ele!

– Fico feliz por você estar feliz, meu amor!

Ele ficou calado por um instante. No que estaria pensando?

– Félix?!

– Oi?

– Que foi que você ficou calado?

– Não nada... Estava pensando numa coisa...

– Em quê?

– Não interessa carneirinho, mas saiba que quando me fazem uma boa surpresa eu gosto de retribuir... Entendeu?!

Reconheço esse tom de voz...

– Entendi Félix... Você vem à noite, não vem?

– Claro que vou, meu carneirinho, mas... Você não quer vir com os meninos jantar aqui?

Agora ele me pegou de surpresa!

– Sério, Félix?!

– Claro que é sério! Eu adoraria! Sei que mami também, ela adora fofocar com você!

– Eu também adoro conversar com a Pilar, e nós não fofocamos tá!

– Ah não... Vocês comem, vivem de fofoca...

– Não é verdade, seu bobo... E... Seu pai, Félix?

– Ah Niko, eu ainda não falei com ele hoje... Não está vendo como estou contente?!

Ele sempre tenta mascarar a tristeza com um foco de alegria. Mas, estou feliz que esteja mesmo contente.

– Ah amor, espero que ele esteja de bem e vocês se deem bem hoje!

– Também espero! Beijo, carneirinho!

– Beijo!

...

...

Fui finalmente para o quarto do papi soberano. Levei seu almoço e seu presente.

– Papi...

– Hum... Félix?! Que horas são?!

Ele parecia estar acordando.

– Papi, já é quase meio-dia... O senhor não estava dormindo até agora, estava?

– Claro que não... Dormi pelo tédio...

– Ah... – Sinceramente não sei mais quando ele está sendo sarcástico ou está só com seu mau-humor de rotina. – Papi, eu trouxe o almoço e... O senhor quer comer aqui mesmo ou quer ir para a mesa hoje? É domingo e...

– Já trouxe, não foi?! Então, fico aqui mesmo... Ainda mais por ser domingo, todos vão para a mesa e eu não tenho a mínima vontade de ficar com ninguém!

– Sim... – Ajudei-o e arrumei tudo para ele ficar confortável para comer. Fiquei lá com ele criando coragem para tomar a iniciativa. – É... Papi... Você sabe que dia é hoje, não sabe?!

...

...

É claro que sei, Félix... Mas, não quero saber...

– Domingo... Por quê?

...

...

Será que papi não sabe mesmo ou está fingindo?

– Não papi, pelas contas do rosário... H-hoje é... É dia dos pais!

...

...

Por que será que ele tocou nesse assunto? O que ele quer? Por que lembrar disso se só agora veio me ver?

– Eu sei, Félix! E?

– C-como assim, e?! Pai, eu... E-eu sei que... Eu sei que o senhor nunca gosta como nunca vai gostar de nada do que eu faço, mas... Eu... Eu comprei uma coisa... Pra você... Pra você, papi soberano!

Fiquei surpreso com isso...

...

...

Não sei o que esperar, mas respirei fundo e falei tudo de uma vez. Foi melhor assim... Eu acho...

Pelo menos se ele jogar o presente na minha cara eu já estou anestesiado e não vai doer tanto...

...

...

Ele me deu o presente... Era algo que não esperaria nunca dele...

– O que... O que é isso, Félix?

– É uma... Uma caixinha de música, pai!

– Uma caixinha de música?! Não acha que é um presente feminino demais não?!

– Não papi, nada a ver... Olha, essa caixinha é bem masculina, não tem florzinhas, nem bailarina, nada disso... Ele só toca uma sinfonia linda, além de ser assim toda dourada digna de um papi soberano!

Isso foi totalmente inesperado pra mim... Mas, ainda tem um porém...

– Félix... por que você resolveu me dar uma caixinha de música? Você nunca ligou para coisas assim...

– Nem você, né papi?! Mas, nunca é tarde para tentar...

...

...

Repeti meio sem querer querendo o que o Jonathan havia me dito mais cedo.

– Se eu também nunca liguei para essas coisinhas, porque me deu isso, Félix?

– Por que... Ah pai, eu achei bonitinha e... Ah quer a verdade? Eu não ia lhe dar nada! – Achei que fosse melhor ser sincero. Quão enganado eu estava. – Não ia, mas o Jonathan me deu um presente e eu quis comprar algo pra você também! Só não sabia o quê, porque você desse jeito e com a visão ruim, é o apocalipse...

– Não devia ter me dado nada!

– Como é?!

– O que você ouviu, Félix! Se me deu isso por pena era melhor ter esquecido que dia é hoje!

Quando ouvi isso senti como se faltasse o chão abaixo dos meus pés.

– E-eu... Eu até tentei esquecer, pai... – Agora tinha que extravasar tudo que ficou martelando meu peito. – Não ache que pra mim é agradável lembrar o dia de hoje! Eu nunca soube de verdade o que era o dia dos pais porque nunca tive um pai de verdade! Eu queria nem lembrar desse dia, fazer de conta que não existe, mas não pude, todo mundo me lembrou, primeiro o Niko, depois o Jonathan e...

– Ah claro... Tinha que ter o seu namoradinho no meio disso! Foi ele quem te deu a brilhante ideia de me dar uma caixinha de música?!

Não sei se o “brilhante ideia” dele saiu irônico ou sério, só sei que respirei fundo reunindo todas as forças para sair dali. Já não estava aguentando mais...

– Não pai! Pra o seu governo o Niko teve a ideia mais que brilhante de fazer com que o Jonathan e eu passássemos uma manhã juntos! Esse foi o primeiro dia dos pais que eu me senti um pai... Por que eu estava ao lado do meu filho! E quer saber pai? Nós nos divertimos, nós passamos bons momentos juntos como o senhor nunca foi capaz porque nunca esteve ao meu lado! Quem teve a brilhante, a genial ideia de te dar alguma coisa fui eu! Mas, eu fui um idiota mesmo, porque o senhor não merece nada!

...

...

Ele saiu batendo a porta... E eu fiquei com aquela caixinha nas mãos... Apertava-a como se meu coração batesse ali ao ritmo daquele melodia que ouvi quando a abri...

...

...

Eu saí sem olhar para trás. Apesar de parecer forte, eu estava tremendo... Talvez os nervos... Nem sei se ainda tenho nervos para suportar isso...

Eu não aguento mais ficar aqui...

Só tem um ser capaz de me trazer paz essa hora... Preciso vê-lo... Preciso dele, do seu abraço, do seu colo...

...

...

Eu e meus filhos havíamos acabado de almoçar. Fabrício pegou no sono e Jayminho e eu íamos jogar videogame quando bateram na porta.

Quando abri, me deparei com meu amor banhado em lágrimas...

– Félix?! O que houve?!

– Niko... – Ele me abraçou forte. – Preciso de você!

Sua voz embargada denunciava que algo havia acontecido... Algo muito ruim para ele ter passado de uma alegria como a que estava há poucas horas atrás para essa tristeza tão grande.

– Félix... O que houve? Me fala?

– Ah carneirinho... E-eu... Eu sou um imbecil...

– Por que diz isso?

Ele não conseguia parar de chorar para falar. – Q-quando eu e-estava no shopping... C-com o Jonathan... E-eu...

– Calma, Félix, se acalma e fala...

Ele respirou. –Eu fiz a burrice de comprar um presente para o papi... Mas... Ah carneirinho...

– O que ele fez? Ele reclamou com você? Ele não gostou?

– Não, não... Ele nunca gostou de nada que venha de mim...

– Mas o que você deu pra ele?

– Uma caixinha de música, carneirinho... Achei que... Sei lá o que achei...

– Mas, uma caixinha de música é um presente tão singelo e tão lindo, Félix! Ele nem te agradeceu?

– Hum, o papi agradecer algo que eu fiz, carneirinho?! Quando esse dia acontecer aí sim eu saberei que o apocalipse está próximo...

Jayminho estava se aproximando deles e ouviu uma parte da conversa.

Félix continuava me falando quando Jayminho nos chamou a atenção.

– O meu pai nunca vai me agradecer por nada, Niko! Por mais que eu faça... Nada... Nem um obrigado...

– Félix, não chora!

– J-Jayminho! O-oi...

Félix enxugou rapidamente as lágrimas tentando disfarçar um pouco a tristeza, mas o Jayminho é um menino esperto...

– Não fica assim não...

– Ah Jayminho... Sabe o que é... – Ele me olhou de relance e continuou a falar com Jayme. – É que... Nem todo mundo tem a sorte de ter um pai tão maravilhoso quanto o seu papi carneirinho! – Me senti tão bem com aquilo, embora me sentisse mal por ver o Félix daquele jeito.

– Seu pai não gosta de você?

– N-n-não... N-não Jayminho... – Vi que Félix estava fazendo todo o esforço possível para não cair em prantos diante de uma criança. Mas, ele não conseguiu mais conter a emoção quando meu filho o abraçou... Eu também não...

– Fica triste não, tio Félix! A gente gosta de você!

Félix se agachou para abraça-lo e ele apertava os olhos para não chorar mais, mas era em vão... As lágrimas minavam.

– O-obrigado... Jayminho... Eu t-também gosto muito de vocês... – Mas, como sempre ele tem que usar o bom humor para sair de uma situação difícil. – Mas, não me chama mais te tio, tá?! Eu não gosto, me faz parecer mais velho...

– Tá bom... – Eu também tive que abraça-los, emocionadíssimo, quando o Jayminho falou o que para mim foi meu maior presente... – Até por que se você for ser meu pai também, aí eu vou te chamar de pai!

Senti que Félix estremeceu com essas palavras. A emoção foi tamanha que ele nos abraçou e pareceu que não ia mais nos soltar. Eu também fiquei extasiado, abraçando aqueles dois amores da minha vida... O outro estava dormindo no berço.

...

...

Ouvir aquilo e sentir o amor que a família do meu carneirinho podia me dar foi como voltar à vida depois de ter morrido sozinho num deserto infinito.

...

...

Agora era melhor fazer com que Félix descansasse um pouco depois de tanta tensão para voltar a ter a alegria que sentira antes quando realmente estava vivendo um dia de pai.

– Jayminho, filho, fica jogando um pouquinho que eu vou falar com o Félix lá no quarto... Eu volto logo, tá?!

– Tá, pai! Não chora mais não viu, Félix!

Finalmente um sorriso. – Tá, Jayminho! Não choro mais! Pronto, já parei! – Então ele me falou baixinho. – Ai Niko, eu não quero mesmo mais chorar, já estou com dor de cabeça...

– Dor de cabeça? Quer um remédio, Félix?

– Não, não gosto de remédio... – Ele falou feito um menininho...

– Ai Félix, não seja manhoso, vai... Vem comigo!

Levei-o para o quarto e lhe dei o remédio para dor de cabeça.

Fechei a porta e o fiz deitar na minha cama.

– Tá se sentindo melhor?

– Como não se sentir, carneirinho?! Estou aqui com você! – Lhe dei um selinho de agradecimento e comecei a lhe fazer um cafuné. – E o Jayminho, hein?! Que garoto...

– Ele é um fofo não é?! Ele gosta muito de você, Félix!

– Eu também gosto muito dos seus filhos, carneirinho... E... Espero de todo coração que... Se um dia se realizar essa... Essa história de eu me tornar pai deles também... Que... Eu possa fazer vocês felizes...

– Félix... Eu não tenho dúvidas que seremos imensamente felizes com você ao nosso lado!

– Obrigado... – Ele sussurrou e nos beijamos.

Ficamos nos beijando por uns minutos, eu quase deitado em cima dele lhe fazendo um suave cafuné quando percebi que ele estava um tanto sonolento, provavelmente por causa do remédio.

– Amor... Fica aqui, descansa um pouco... Dorme... Eu vou ficar com o Jayminho, depois venho aqui te ver, tá?!

Ele sorriu pra mim e concordou com a cabeça. Dei-lhe outro beijo antes de sair do quarto. Antes fiquei olhando-o da porta... Ele estava tão lindo começando a dormir deitado na minha cama... Nas outras vezes que o vi assim havíamos acabado de fazer amor, mas agora, ele simplesmente dormira rodeado pelo amor da minha família, com a certeza de que conosco encontrará sempre o aconchego e a paz que necessitar.

...

...

Algum tempo depois...

Acordei sentindo uma paz descomunal. Óbvio... Estava na cama do meu carneirinho.

A dor de cabeça havia passado, mas mais do que o remédio foi o cafuné dele que fez efeito. E seus beijos... Seus beijos sempre me curam de tudo.

E lá vem ele... Até parece que adivinha...

...

...

Entrei no quarto e ele já estava acordado. Parece estar melhor, que bom!

– Oi dorminhoco...

– Carneirinho... Que preguiça!

– Percebi... Você dormiu mais de duas horas...

– Quê?! – Ele levantou rapidamente. – Tanto assim?

– É, acho que esse remédio que te dei foi um pouco forte pra você!

– Não... Acho que seu cafuné que é poderoso...

– Ah Félix...

...

...

Mas é verdade meu carneirinho fofo, você tem poderes sobre mim!

Passei o resto da tarde com ele e com os meninos, até que Jonathan ligou. Niko atendeu e me passou o telefone...

Entre algumas gracinhas meu filho disse que já sabia onde me encontrar... Engraçadinho!

Disse também que mami poderosa queria me ver em casa para o jantar. Reclamei um pouco, pois queria ficar na casa do carneirinho, mas a própria mami pegou o telefone e praticamente me obrigou a ir para casa para o jantar especial de dia dos pais que ele preparara... Ai, mami e suas ideias...

– Carneirinho, mami praticamente me mandou ir para casa e levar você!

– Me levar?

– É, ela disse que fez um jantar mais requintado para os pais da família! Acha muito difícil o papi querer ir para a mesa, mas ela vai convidar o tio Amadeu, o bofe de ouro da minha irmãzinha e está te convidando também!

– Ah Félix... Eu adoraria! Me sinto honrado que a Pilar me veja como parte da família!

– Você pode vir a ser... – Nossa, o Niko fez uma cara quando lhe disse isso... Mas, também nem notei que fiz praticamente um pedido de casamento...

– Ah Félix... Quando você fala assim, até perco o fôlego! Eu vou, mas, tenho que levar os meninos... Será que não vão se incomodar?

– Não, imagina, Niko! Vamos?

... Algum tempo depois...

O jantar correu bem. Os meninos se comportaram e todos, como sempre, adoraram a presença do meu carneirinho, a simpatia em pessoa.

A Paloma foi dar um presente para o papi também. Uma camisa nova... Minha irmãzinha e seu “bom gosto”... Enfim... Pelo menos com ela ele não grita!

Depois fomos para o jardim. Fabrício não queria sair do meu colo, e o carneirinho ao meu lado o mimava... E a mim também. Enquanto os adultos estavam do lado de fora os garotos estavam um tanto entediados. Jonathan teve a ideia de mostrar um livrinho de jogos para o Jayme e os dois entraram. Mas, a namorada do Jonathan chegou e ele saiu... Espero que o Jayme esteja entretido lá dentro.

...

...

Jayme acabou de fazer a atividade do livro que Jonathan lhe dera e saiu para procurá-lo. Chegou na porta e viu ao longe que ele estava com a namorada, então voltou.

Andando pela casa, viu a porta de um quarto fechada. Tudo escuro, apenas uma música bem baixinha tocava lá dentro. O menino entrou curioso. Do canto da porta ficou vendo aquele senhor com uma caixinha de música nas mãos ouvindo a suave melodia.

Quando eu percebi, fechei a caixinha de música.

– Quem é você?

– E-eu? Eu sou o Jayminho!

Mesmo não enxergando bem e com o escuro do quarto tornando pior, pela voz vi que se tratava de uma criança.

– E... Quem é você, Jayminho? O que faz aqui? Como entrou?

– Eu vim com meu pai e com o tio Félix!

– Tio Félix? – Achei muito estranho. – Por que chama o Félix de tio?

– Por que... – Notei que ele não sabia muito bem o que responder. – Ah... É que ele vai sempre pra casa do meu pai e eu, às vezes, chamo ele de tio, mas ele não gosta muito! Ele e meu pai são muito amigos e o tio Félix vai muitas vezes tomar o café da manhã lá em casa e às vezes ele fica pra dormir lá!

Acho que estava começando a entender... Pelo que esse menino estava dizendo só podia ser uma coisa...

– O Félix... E seu pai? Qual o nome do seu pai?

– Niko!

Sim, era o que eu suspeitava. É esse o nome daquele tal namoradinho do Félix. Quer dizer que esse garoto é filho dele?!

– É... É melhor você sair daqui agora, garoto!

– Sim senhor... – Ele parecia ter concordado, mas voltou. – Ei, essa caixinha de música é a que o Félix deu pra o pai dele?

– É sim...

Parece que ele entendeu...

– Então... O senhor é o pai do tio Félix?

Apesar de não merecer... – Sou!

– Ah... – Ele ficou calado. O que esse menino estará pensando? O que terá o Félix dito de mim?

– O que foi? Não vai mais sair?

– Vou! Mas... Posso pedir uma coisa?

– Eu nem o conheço, menino! Como que você vai me pedir uma coisa?

– Eu não já disse que meu nome é Jayminho?!

– Mas, para se conhecer uma pessoa não basta saber o nome...

– Não? E o que mais tem que saber?

Esse garoto já está me deixando nervoso.

– Tem... Tem que saber muitas coisas... Tem que saber como ela realmente é...

– E como se sabe como uma pessoa realmente é?

– P-pelo que ela demonstra ser... Pelo que ela faz para os outros... Pelo que ela tem por dentro...

– Ah...

– Menino, você não vai sair? Será que eu vou ter que mandar alguém te tirar daqui?!

– Não, eu já vou...

Ele ia abrindo a porta, mas minha curiosidade falou mais alto.

– Ei, menino... O que você ia me pedir?

– Eu só ia pedir pra agradecer pelo presente que o tio Félix lhe deu!

– O quê?! Mas...

– É que o tio Félix foi hoje lá pra casa e eu vi quando meu pai ficou pedindo pra ele não chorar porque um dia o senhor ia agradecer tudo que ele faz pelo senhor!

Agora entendo. Não sei nem o que pensar...

– E-então... O Félix foi... Foi chorar na sua casa?

– Sempre vejo o tio Félix triste e o meu pai disse que era por que ele tinha problemas com o pai! Se o pai dele é o senhor...

– Sim! Ele tem problemas comigo!

– Mas... – Não sei por que ele pareceu ficar triste de repente.

– Que houve, garoto?

– N-nada... É que eu ia dizer que se o senhor é o pai dele, devia amar seu filho! Mas... Não são todos os pais que amam os filhos!

– N-não... Não são... – Aquilo me doeu a alma. – Quantos anos você tem?

– Oito!

– E porque você, tão novinho, diz isso?

– É que o meu pai Niko me ama, mas, eu só conheci ele há pouco tempo...

– Há pouco tempo?

– É! Só depois que ele foi lá no abrigo onde eu vivia e virou meu pai! Meus pais de verdade eu não conheci! – Agora sim entendo porque esse menino tem certa maturidade no jeito de falar. Quer dizer que esse rapaz com o qual o Félix se relaciona adotou uma criança de um abrigo?! Eu nunca adotaria, mas... É um gesto nobre, afinal de contas...

Eu não falei mais nada, deixei que o menino falasse, até ele mesmo decidir se retirar do meu quarto. No fundo eu estava até apreciando a companhia naquela tarde solitária... É bom de vez em quando ter uma companhia inocente.

– O tio Félix perguntou uma vez se eu ia gostar se ele se tornasse meu pai também...

– O... O Félix... Perguntou isso?

Então ele deseja mesmo formar uma família com esse rapaz?! Se é que isso pode ser chamado de família...

Mas, se ele se for... Me pergunto o que será de mim... Seja como for, o Félix tem feito muito por mim agora que eu já não posso fazer mais nada por mim mesmo.

– Foi... Ele perguntou! Eu gostaria que ele se tornasse meu pai!

Simplesmente não sabia o que dizer diante disso...

– Ei, o senhor tá bem?

– S-sim... Saia daqui, garoto! Por favor...

– Tá! Tchau!

...

...

Deixei Fabrício com o pai e fui procurar Jayminho pela casa quando me surpreendi com ele saindo do quarto de papi.

– Jayminho?! O que estava fazendo aí?!

– Eu estava conversando com seu pai, Félix!

Por essa eu não esperava...

– Com... C-com o papi... Com meu pai? Você e ele conversando?! Conversando o quê, criatura?!

Antes que Jayme me respondesse qualquer coisa o papi gritou lá de dentro me chamando. Estávamos bem perto da porta, ele devia estar ouvindo.

Entrei sem saber o que me esperava... Como sempre quando entro no quarto do papi soberano.

– P-pai... Espera só um minuto... – Voltei a Jayme e pedi: - Vai lá pra fora, Jayme, seu pai tá te esperando...

– Tá, tchau Félix! – Ele me deu um abraço e foi. Eu entrei no quarto de papi, mas quando ia fechar a porta, ele me disse:

– Não precisa fechar, você não vai ficar aqui...

– P-por quê?

– Eles já vão? Você não tem que ir com eles?

– Com quem, papi?

– Com sua nova família, Félix!

– M-minha... O quê?

– Eu sei que você pretende se tornar uma espécie de pai para esse garoto que acabou de sair... Qual vai ser o próximo passo? Casar com seu namorado?

Eu estava mesmo ouvindo isso da boca de papi?

Simplesmente não sabia o que dizer diante disso...

– Félix... Esse menino me contou o quanto gosta de você... Eu não sei como você está fazendo para conquistar as pessoas desse modo quando antes só conseguia criar ódio, decepção...

– E-eu estou tentando mudar, pai...

– Não, Félix... Você não está tentando... – Me entristeci, mas ele continuou. – Você... Conseguiu! Por isso... Vá! Faça o que achar melhor da sua vida!

– E-está falando sério, papi?

– Quando você não me viu falar sério, Félix?! Vá...

Ainda estava pasmo, mas eu queria mesmo sair... Mas, continuava pasmo...

– V-você... Você quer mesmo que eu vá, papi? Não precisa de nada?

– Não... Mas... Sei que se precisasse... Você viria me ajudar...

Aquilo me trouxe uma emoção tão boa! Papi continuou...

– Vá, Félix! Me deixe... Seja feliz!

– Pai... – Não conseguia pronunciar mais nada além disso. Queria lhe dar um abraço, mas ele podia se chatear, então fui apenas saindo do seu quarto. Mas, quando pus um pé para fora, ele me surpreendeu de uma maneira que me fez sair em estado de graça de lá...

– Félix... Obrigado... Pelo presente... Por tudo que tem feito... Obrigado!

...

...

Na minha casa, quando meus filhos foram dormir, eu e Félix fomos para a calçada. Nos sentamos e fomos observar a lua... E claro, namorar um pouquinho. Encostamos a cabeça observando a lua que hoje está mais brilhante, maior, mais bonita. Acho, porém, que só não brilha mais que os olhos do meu amado Félix. Estava feliz pela manhã, ficou tão triste à tarde e agora, está radiante de novo. Ele já me contou o porquê. Que bom... Finalmente o pai o agradeceu. Era tudo que ele precisava. Mais nada. Também, não teria presente mais valioso... Não há nada mais valioso que o amor de pai e filho. E, com toda a fé e esperança, eu sei que esses dois ainda vão descobrir o quanto se amam. Sei que ainda vão ser bons amigos.

Tudo que peço e rezo, agora, olhando para essa lua super linda, é que meu amor sinta-se amado por seu pai por quem tanto se dedica agora. Que todos os erros do passado dos dois sejam perdoados. Que as ofensas sejam esquecidas. E que... Um dia, quem sabe... O doutor César diga para o Félix que o ama, como um pai deve amar seu filho. E que lhe dê o prazer de ouvi-lo chamá-lo assim. Eu creio nisso. Milagres são reais. E, quem sabe um dia, o Félix não tem coragem de dizer um “Te amo, pai!” e seu César lhe responderá sem grosserias, de todo coração... “Te amo, meu filho”!

...


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Notas finais do capítulo

FIM do dia dos pais 2014.



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