Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 59
Festas Juninas - parte 4


Notas iniciais do capítulo

A festa junina acaba, mas a festa Feliko não tem fim!



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Quinze minutos depois, na casa de Márcia, ela e Atílio já haviam chegado e Félix andava de um lado para outro, com razão, nervoso.

– Pelas contas do rosário, criatura, como que você deixa o carneirinho sozinho lá, sem ele conhecer ninguém?!

– Mas, Félix, como eu ia saber que ele ia se perder?! Eu saí cinco minutinhos, foi o tempo de me encontrar com o Gentil, vir pra cá... Pensei que ele já ia estar aqui com você há um tempão...

– Mas ele não chegou ainda... Eu estava quase saindo pra procurar os dois, mas não deixaria a Mary Jane dormindo aqui sozinha!

– Calma, menininho... Olha, seu carneirinho estava tão animado, tão contente, vai ver que ele ficou dançando mais um pouquinho...

– Dançando com quem, Márcia?! – O tom de voz de Félix foi claro de ciúme e preocupação.

– Ah... Deixa disso, Félix, ora... Olha pra mim, hoje o Gentil dançou com umas cinco mulheres lá na festa e eu não fiquei assim morrendo de ciúme...

– Não estou morrendo de ciúme! Eu confio no Niko! Em quem eu não confio é em outros que podem se aproveitar dele, como certo mecânico que eu revi hoje e que me disse que está atrás de um loiro... Só de pensar que ele pode ver o meu loiro e ir atrás dele, já me dá... Ai! Eu vou lá...

Félix saiu e voltou para o local da festa, procurando-o por todos os lados, mas não o via em lugar algum.

– Ah Niko, onde você se meteu?! – Pensava consigo enquanto percorria cada canto da rua. Estava passando na calçada ao lado da oficina de Juscelino quando notou que a luz estava acesa e que o mecânico não estava sozinho. Por uma fração de segundo pensou que seus olhos o estavam enganando quando viu de relance uma figura loira bem familiar lá dentro.

Voltou e olhou bem, e notou que havia enxergado muito bem. Era Niko.

– Mas... O quê... C-carneirinho... – Observou pela janela Niko sentado numa cadeira e Juscelino aproximando-se, entregando uma garrafa d’água.

Félix cerrou os punhos, virou de costas para a janela e ajeitou a sobrancelha, respirando forte e repetindo consigo: - Não é o que estou vendo... Não é o que estou vendo... É só minha imaginação... – Mas, virou de novo e viu que era real.

– Não, não, não... O carneirinho não pode ter caído na rede desse daí... Eu... Eu n-nem sei o que faço...

Fechou a mão pronto para esmurrar a janela, mas os dois lá dentro já iam em direção a porta. Deu uns passos, ainda escondendo-se, até a esquina. Antes que soltasse qualquer berro ciumento, decidiu ouvir a conversa dos dois. Maior que todo o ciúme era a confiança que tinha em Niko e a certeza do seu sentimento. Mesmo assim, não sentir ciúme ao ver seu homem trancado com outro, quando sabia que esse outro tinha por lema “tudo que cai na minha rede é peixe”, era praticamente impossível.

– Então... É o mesmo que a Márcia chama de menininho? – Perguntava o mecânico a Niko, já na porta.

– Estão falando de mim?! – Pensou Félix.

– É, o Félix, é esse mesmo... Ele que é meu namorado! – Niko respondeu com seu jeitinho tímido e sorriu. – E você era o mecânico que dava em cima dele, né?! Ele me contou...

– Bom... – Juscelino sorriu. – Nunca tinha visto ninguém tão bonito quanto ele morando nessa rua, então...

– Eu sei... O Félix tem um charme, né?! Eu mesmo o achei charmoso desde o primeiro dia que o vi!

– Olha, mas só pra esclarecer, ele nunca me deu bola, viu! Eu até dei um presente de natal pra ele pra tentar conquistá-lo, sabe... Mas, não deu certo!

– Fico contente em saber... – Deu uma risadinha. – Eu já conhecia o Félix nessa época...

– Quer dizer que vocês já eram namorados desde o ano passado?

– Não, éramos só amigos... Mas, eu já gostava muito dele...

Félix ouvia sem crer no que ouvia. Havia chegado lá se mordendo de ciúmes e preocupações, e agora estava, simplesmente, ouvindo o que seu carneirinho dizia, maravilhado pelo modo como dizia.

– Não é estranho que você não tenha conseguido nada com o Félix naquela época! Ele estava passando por um momento difícil da vida, e, eu também insisti... Também dei um presente de natal pra ele... Mas, o Félix... – Niko riu. – Ele também não caía na minha rede! Mas, a verdade é que eu já gostava mesmo dele desde aquela época...

– Eu também já gostava muito de você naquela época, carneirinho! – Respondeu Félix se revelando. Niko e Juscelino tomaram um susto, mas antes de abrirem a boca pra quaisquer palavras, Félix cruzou os braços e perguntou sério: – Agora, Niko... O senhor pode me responder o que estava fazendo enfiado nesta oficina com esse mecânico de carrinho de feira que não pode ver uma cueca?!

– Félix! Sabe... É que... Eu passei mal, na verdade, ainda estou meio mal, mas, ele me ajudou...

– Te trazendo pra cá?! Que gracinha... – Apesar das palavras ciumentas, Félix falava calmo. - Carneirinho, eu conheço essa peça! Vai me dizer que ele te ajudou sem segundas intenções?!

– É... Bom, na verdade... Ele me paquerou sim, até me deu um beijo, mas...

– Eu sabia! – Bateu o pé no chão. Com essa havia ficado nervoso. – O que mais ele fez, hein?!

– Ei, calma, eu não fiz nada não, ora! – Juscelino se impôs. – Eu paquerei quando ele estava lá na festa... E só dei um beijo na bochecha! Mas, quando ele me disse que estava acompanhado e que era séria a coisa, eu deixei pra lá! Não corro atrás de quem já tem compromisso não!

– E porque trouxe o Niko pra cá?!

– Porque eu misturei as bebidas que eu levei, porque eu ia jogar tudo fora, e ele sem saber acabou tomando e passou mal...

Niko completou: - É mesmo, Félix! Ele me viu quase caindo ali na outra esquina e me trouxe pra cá...

... ... ...

– Calma, calma, se você se sentar e tomar muita água vai se sentir melhor... – Falava Juscelino enquanto ajudava Niko a chegar na oficina. – Vem, pode entrar...

Puxou uma cadeira e o fez sentar.

– Obrigado...

Juscelino pegou uma garrafa de água e lhe entregou.

– Você só bebeu um copo não foi?!

– Só...

– Então, vai ficar melhor logo...

– Espero... – Niko tomou um bom gole de água. – Ai, tô muito enjoado...

– É que foi muita coisa misturada! E seu namorado? Ele estava na festa? Se quiser que eu vá chamá-lo...

– Ele estava, mas já tinha saído!

Juscelino deu um sorriso esperançoso. - Como que ele deixa alguém como você assim sozinho numa festa?! Que desperdício...

Niko ficou claramente envergonhado. Pigarreou e disse: - Eu ia encontrá-lo agora...

– Se fosse eu, não sairia de perto de você! – Sentou perto dele. – Desculpa por quase ter te envenenado com essa bebida maluca que eu fiz...

– Eh... Não é pra tanto... Acho que já estou melhorando! Obrigado por estar me ajudando...

– De nada! Te ajudaria com todo prazer... – Juscelino se aproximou quando Niko ia beber mais água e lhe deu um beijo na bochecha.

Niko levantou surpreso se afastando. – O-olha, valeu por me ajudar, mas eu já disse que tenho namorado e estou muito bem com ele e...

– Tá, tá, eu sei! Desculpa! Não resisti! – Levantou. – Bom... Será que seu namorado está te procurando?!

– Acho que sim... Provavelmente sim! Ai, já tô até imaginando o quanto que o Félix vai reclamar comigo por desaparecer assim...

– Félix?! – Pensou se era o mesmo que conhecia por menininho da Márcia.

– É o nome dele! – Respondeu Niko após tomar mais um gole de água. – Ele deve estar me procurando e com o gênio que tem... – Tomou mais um gole.

– Esse Félix... Por acaso, é aquele que morava com a Márcia uns meses atrás? Sabe, a Márcia, que vendia hot-dog...

– É ele sim! – Niko estranhou primeiramente, mas de repente lembrou sobre o tal do mecânico que a própria Márcia havia lhe comentado certo dia que paquerava Félix a ponto de lhe dar uma cueca vermelha como presente de natal. - Espera... Então, você é o mecânico?! Não acredito... – Juscelino não entendeu, mas antes que Niko continuasse, levou a mão à boca. – Hum... Desculpa... Onde é o banheiro?

– Ah, é ali naquela porta!

Ele apontou e Niko correu para lá...

... ... ...

– E foi isso, Félix! – O loiro deu um sorrisinho envergonhado. – Eu vomitei tudo, e bebi tanta água, sinceramente... Ainda me sinto meio tonto... Se não fosse a ajuda dele, Félix, eu acho que teria desmaiado, sei lá...

– Ele cuidou bem de você? - Félix, com os braços cruzados, permanecia sério, ou pelo menos tentava manter a seriedade para não parecer um namorado tão fácil de perdoar, e também para não rir da situação de Niko, que, apesar de lhe deixar preocupado e de não gostar nada de saber sobre o tal beijinho na bochecha, até achou graça.

– Cuidou... Cuidou muito bem, me ajudou... Juro que foi só isso, meu amor, eu precisava me recuperar da tontura, do enjoo, pra poder ir... – Niko respirou fundo, chegou mais perto e pegou em seus braços cruzados. - Félix... Olha pra mim! – Pôs a mão em seu rosto e o encarou com aqueles olhos verdes irresistíveis. – Meu amor, me desculpa?! Me desculpa por ter exagerado, por ter sumido assim... Por favor?! E também não faz essa carinha de ciúme que não tem por que... Você sabe que eu só amo você! Não ia fazer nenhuma besteira, nem que bebesse tudo da festa, nem que eu passasse a noite aqui...

– Nem fale isso... Se em dez minutos esse aí te deu um beijo no rosto imagine o que não ia fazer numa noite com um carneirinho adormecido!

– Ai, Félix, eu falei por falar... Eu só estou dizendo que... Ai, Félix, você não sabe que eu não faria nada pra chatear você?! É que eu sou assim mesmo... Lembra no final de ano, quando eu comecei a brindar por você na frente de toda sua família, só porque eu tinha bebido duas tacinhas de champanhe a mais?! Então... Eu não posso beber mais um pouquinho, sabe, que... Já viu né?! Amor, eu não quero que você fique com raiva de mim por isso... Você me perdoa?!

Félix deu um longo suspiro e descruzou os braços. – Ai, carneirinho... Eu devo ter vendido hot-dog frio para os apóstolos para não conseguir ficar com raiva de você! Como não te perdoar com essa carinha de carneirinho pidão linda que você tem?! – Félix segurou em seu rosto e lhe deu um selinho. – Te perdoo, mas nunca mais te deixo chegar perto de um copo de bebida alcoólica nenhuma! Até o saquê que você usa no restaurante eu vou confiscar!

– Ai, Félix, que exagero, também não é assim... E de onde você tirou que eu vou beber saquê?!

– Exagero nada! Nunca se sabe... E também tem outra condição...

– Que condição?

– Depois de te conto, mas primeiro me deixa agradecer... - Estendeu a mão para Juscelino. – Obrigado por ter ajudado o Niko... E por não ter tentado se aproveitar dele... Como já fez comigo...

– Eu nunca tentei me aproveitar de você! – Exclamou Juscelino.

– Não que não quisesse, não é, mecânico pescador?! – Félix finalmente sorriu, e eles apertaram as mãos. – Enfim... Você cuidou bem do meu carneirinho, e quem ajuda o Niko me ajuda... E, acho que nunca te agradeci direito por aquele presente de natal, e por todas as investidas em mim, que não foram à toa, pois afinal, sou uma coisa muito boa mesmo...

– Ai, Félix, só você... – Falou Niko, vendo que Félix já havia voltado a ser o de sempre.

– Ué, carneirinho, e não é verdade?! Você não me achou charmoso desde que me conheceu, por acaso?! Foi o que eu ouvi...

– Foi... Desde quando você estava ouvindo nossa conversa, hein?!

– Tempo bastante para ouvir todos os elogios... De ambos! – Virou outra vez para Juscelino. – E eu sei que você me achou lindo desde que me viu pela primeira vez também, viu, mecânico! – Ajeitou a sobrancelha. – Muito obrigado! – Se aproximou do mecânico e lhe deu um beijo na bochecha.

Tanto Juscelino quanto Niko ficaram boquiabertos. Félix, então, passou o braço pela cintura de Niko. – Enfim... Vamos embora agora, carneirinho...

– Espera aí... Que foi isso?! – Perguntou Niko ainda impressionado.

– Quê? Ah! Esse beijinho? Foi só pra agradecer, carneirinho!

– Seu bobo! – Niko balançou a cabeça, sorrindo, entendendo que seu amado só estava dando o troco do jeito dele. Ao darem o primeiro passo, Juscelino gritou:

– Ei, menininho da Márcia!

– O que é?

– Quando voltar por aqui... Vem me visitar?

– Não conte com isso!

– Tá, então... Pelo menos, me conta onde arrumou um loiro desses!

Félix riu e respondeu puxando Niko para mais junto. – É melhor continuar procurando entre os turistas, mecânico... Vai que acha! Por que, pelo menos aqui no Brasil, essa espécie de carneirinho está em extinção!

Niko pôs a mão no rosto todo corado e sorridente com o que Félix disse, e os dois voltaram para a casa de Márcia para contar-lhe o que aconteceu.

Mais tarde...

– Ai, Félix, eu ainda estou um pouco tonto, minha cabeça dói...

– Fica aqui no carro que eu vou pegar os meninos com a mami!

– Eu vou ficar com vergonha! O que você vai dizer pra a Pilar?

– Ah carneirinho, por favor... Mami deve estar no terceiro sono e os meninos também! Eu trago os dois devagarzinho pra não acordá-los, um por um, e levo vocês três pra casa!

– Tá... Mas, você vai ficar com a gente lá em casa não vai?! Ou você vai voltar?

Félix deu um sorrisinho. – Ah carneirinho, eu sei que você não consegue mais dormir sem mim! Eu sei! – Ambos riram. – É claro que eu fico na sua casa! Agora me deixa trazer os meninos!

Félix saiu do carro e Niko ficou lá. Subiu devagar as escadas e foi ao quarto do filho.

– Jonathan! – Chamou baixinho batendo na porta, quando notou que estava aberta. Ao entrar se comoveu com a cena que viu. Alguns brinquedos que Jonathan já não usava há anos estavam espalhados pelo chão, Jayminho dormia profundamente enquanto Jonathan dormia sentado na poltrona ao lado e com os pés na cama, e um console de vídeo game no colo. Provavelmente, cansaram de tanto brincar e pegaram no sono.

Félix se aproximou sem fazer barulho. Achava bonito como seu filho mesmo já sendo um homem, ainda era, às vezes, tão menino. E como se dava bem com Jayminho. – Também como não se dariam bem esses dois?! São tão doces! – Refletia Félix os observando. - Dois garotos maravilhosos! Se fossem irmãos... – Esse pensamento repentino lhe distraiu por um momento. Toda sua imaginação voou mais longe. Se seu filho se tornasse irmão dos filhos do seu carneirinho, ele também teria mais filhos, pois se tornaria pai dos filhos de Niko. Pai dos filhos do homem que mudou sua vida. Seria ele capaz? Era a pergunta que fazia a si mesmo naquele instante, como em muitos outros instantes já o fizera, desde que falara de seus planos para Niko, mas agora observava na prática o que sua imaginação por tantas vezes desenhou: seu filho e seu possível futuro filho. Seria possível? Veio a sua cabeça a lembrança do outro dia, quando Jayminho lhe convidou para sua festinha e agradeceu-lhe por ter aceitado o convite com um abraço e a frase: “É que todo mundo vai com os pais, vai ser como se eu tivesse dois pais!” Um sorriso veio ao seu rosto e uma questão em sua cabeça: - Será que eu poderia ser seu outro pai, Jayminho?!

Enquanto Félix os observava, mergulhado em seus pensamentos, Jonathan acordou.

– Pai...

– Oi, meu filho! Eu chamei, mas vi que estavam dormindo, não quis acordá-los! – Sussurrava.

Jonathan olhou para Jayminho e sorriu.

– A gente fez uma bagunça aqui! Já faz um tempinho que ele dormiu, eu continuei jogando com a TV no mudo, mas acabei vencido pelo sono também!

– Ah... Tenho até pena de mexer nele pra levá-lo pra o carro! Se ele acordar?!

– Por que não o deixa aqui?

– Sério, Jonathan?! Você ficaria cuidando dele essa noite!

– Claro! Eu fico de olho nele! E se ele acordar e perguntar eu digo que o Niko deixou ele ficar aqui essa noite e que de manhã vocês vêm buscá-lo! Só pra não acordá-lo agora né?!

– Tá bom... – Félix sorriu.

– Por falar no Niko... Cadê ele, pai?

– Ficou esperando no carro! Ele bebeu uma coisa que não fez muito bem, e está lá... Tenho até que ir rápido, porque se o carneirinho passar mal de novo e vomitar no meu carro ele vai ver, eu fico um mês sem... Falar com ele!

Jonathan entendeu a pausa na fala do pai e riu. – Tá, falar... Sei...

– Vem cá, e essa bagunça, hein?! Fizeram a guerra dos brinquedos, por acaso?!

– Não... É que eu estava mostrando pra ele esses meus brinquedos antigos e perguntei se ele queria ficar com alguns, por que ainda estão parecendo novos! Sabe o que ele disse?!

– O quê?!

– Que o Niko já tinha comprado muitos brinquedos pra ele, que era melhor a gente dar tudo para as crianças que viviam com ele no abrigo, assim como o pai dele fez no natal! É admirável, né?! Pensar assim, com essa idade...

Félix exibia um sorriso orgulhoso e um olhar brilhante e emocionado.

– É, é sim... Admirável! Sabe, Jonathan... Nem sei como vou poder com tanta doçura dessa família quando, finalmente, entrar para ela!

– Então, você já tá certo disso, pai?

– Cada vez mais! – Suspirou profundamente. – Agora, vai dormir, vai! Boa noite!

Jonathan também deitou na sua cama e antes que Félix saísse do quarto, pediu: - Pai... Pode me cobrir?!

Félix sentiu um nó na garganta. Quantas e quantas vezes não teria deixado de ouvir tal pedido do próprio filho. Mas, não era tarde demais, para nenhum dos dois.

– Q-quer que eu te cubra?! Garoto, não acha que está meio grandinho pra isso, não?! – Tentava se fazer de forte, mas estava derretido por dentro.

– Ah, é... Mas, é que o Jayminho ficou com o cobertor todo... Pode, pelo menos, pegar outro aí no armário?

Félix foi pegar o cobertor sorrindo e ao se aproximar, não o entregou somente, mas cobriu o filho, como se Jonathan tivesse oito anos. Depois, deu-lhe um beijo na testa e na testa de Jayme. Saiu do quarto, sussurrando o mais baixo que podia: - Boa noite... Meus filhos!

Ao fechar a porta se sentiu estranhamente leve por ter dito aquilo não sem querer, mas querendo do fundo do coração.

Foi então, ao quarto do irmãozinho Junior. Ele e Fabrício dividiam o berço. Observando os dois, em seu íntimo, desejou que momentos assim se repetissem mais vezes.

– Ei, Fabrício, assim você vai acordar o Junior! Vem... Vem com o Félix! – Disse bem baixinho, pegando Fabrício do berço, quando notou que ele estava acordado.

– Félix... – Sussurrou Pilar entrando no quarto. – Não acredito que você acordou os bebês!

– Mami... Nem que eu tivesse posto leite no santo graal pra você pensar isto! Eu vi o Fabrício acordado e o tirei do berço pra não acordar o Junior!

– Tá bem, meu filho! Cadê o Niko?

– É... Ele ficou no carro! Não está passando muito bem...

– Por quê? O que houve?

– Nada demais! O carneirinho bebeu uma coisinha a mais que não fez muito bem! Eu disse que vinha buscar os meninos pra levá-los, mas o Jayminho tá dormindo tão bonitinho lá no quarto do Jonathan que achamos melhor deixá-lo aqui! Tem problema?

– Não, filho, problema nenhum... Esse menino é tão fofo... Aliás, os dois! – Fez carinho nas bochechas de Fabrício.

– É, o Jayme é uma doçura por si só, e o Fabrício, com o pai que tem não podia ser diferente né, mami?!

– Pois é... – Pilar sorriu e teve uma ideia. – Olha, já que o Niko não está se sentindo bem e os filhos já estão aqui mesmo, porque não pergunta se ele quer dormir aqui?!

– Mami... A senhora é poderosíssima! Adorei a ideia!

Depressa Félix lhe entregou Fabrício dizendo: - Esse mocinho deve estar com fome, mami! Ele sempre acorda essa hora pra tomar outra mamadeira! Tem outra pronta, não tem?!

Pilar se surpreendeu: - Como?! Você já está sabendo dessas coisas, assim, dessas manhas?!

– Ah... Sabe como é... As noites lá na casa do carneirinho... Eu fui observando esses detalhes... Praticamente, já sei tudo sobre esses meninos!

– Muito bem, filho! Isso mostra que você pode ser um bom pai!

Félix se reaproximou de sua mãe e lhe deu um beijo no rosto, sorrindo.

– Eu estou me convencendo disso, viu!

Saiu e foi até o carro.

Ao olhar pela janela do passageiro que estava aberta, exclamou:

– Não acredito... Ah, não carneirinho! Pode ir acordando porque eu que não aguento te carregar!

Niko havia cochilado no banco.

– Ei, carneirinho! Acorda! – Mexeu nele até que acordou.

– Hein?!

– Carneirinho, vem, sai desse carro! Hoje você vai dormir aqui, é melhor!

– Quê?! Mas, Félix...

– Mas nada! Vem! Os meninos estão dormindo aqui, você fica aqui também! Nada mais lógico! Vem... – Abriu a porta e gentilmente abraçou Niko para entrarem juntos.

Félix lhe contou que Jayminho estava dormindo no quarto de Jonathan e o quanto estavam bonitinhos. No corredor, Pilar dava a mamadeira para Fabrício.

– Oh, meu bebê... – Disse Niko dando um beijinho em seu filho. - Obrigado, Pilar, por cuidar tão bem deles! Espero que não tenha dado muito trabalho...

– Não, Niko, imagina... Eles são tão quietinhos!

Niko riu. – Quietinhos? Então ficaram aqui, por que lá em casa, o Jayminho espalha brinquedos pela casa toda...

Félix interrompeu: - Ah, carneirinho, você ainda não viu como está o quarto do Jonathan, parecendo uma loja de brinquedos! Mas, vamos que o Fabrício já voltou a dormir nos braços de mami... Boa noite, mami... – Félix o puxou para o seu quarto. – É... Boa noite, Pilar! – Assim que entraram no quarto, Félix completou: - O Fabrício dormiu nos braços de mami e você vai dormir nos meus braços, carneirinho!

Félix logo começou a beijar-lhe o pescoço e desabotoar a própria camisa, mas antes que avançasse mais, Niko pediu:

– Espera, Félix, eu ainda não me sinto muito bem...

– Vai se sentir melhor rapidinho... Eu tenho o remédio...

– Félix, espera... Calma! Estamos na casa da sua mãe!

– E daí?! Como se a gente nunca tivesse feito nada aqui...

– Eu sei, mas... Ah, eu queria tomar um banho antes, talvez eu me sinta melhor... Pode ser?!

Félix girou com os olhos, mas sorriu.

– Tá bom, carneirinho, pode ser! Vou pegar uma toalha pra você!

– Obrigado, amor! Você está tão compreensivo, estou gostando de ver! – Niko lhe deu um selinho e foi para o banheiro do quarto de Félix.

Logo Félix pegou uma toalha e lhe entregou. Niko tomou um banho rápido e quando saiu, Félix se aproximou e com um abraço, lhe cheirou o pescoço.

– Hum... Agora sim...

– Usei um pouquinho daquele sabonete líquido que tem lá dentro!

– Hum... Já é gostoso, e cheiroso como eu, então...

Niko riu e Félix teve uma ideia. – Quer saber, vou tomar um banho rápido também, e depois venho e...

– E o quê?

Félix imitou a voz manhosa e infantil que Niko fez no dia anterior, respondendo:

– E a gente vai brincar de uma brincadeirinha que eu gosto muito! Me espera... E não precisa nem tirar a toalha... Fica assim!

Niko riu e ficou lhe esperando na cama.

Cinco minutos depois, Félix voltou, só de toalha e muito entusiasmado. Niko estava deitado em sua cama, ainda só de toalha. Félix foi engatinhando pela cama, abrindo a toalha.

– Carneirinho... – Chamava, quando notou que não obteve resposta. – Ei... Niko... Não é possível que você dormiu antes de eu vir... E ainda por cima fica só de toalha mesmo... É o cúmulo! Carneirinho... – Chamou mais uma vez, mas nada. Niko só se mexeu, mas não acordou. – Não tô podendo com isso! Pois o senhor vai ficar sem toalha, onde já se viu... Na minha cama com toalha molhada, não! – Tirou a toalha dele e puxou o cobertor. - Eu devo ter dado cachaça pra Nero incendiar Roma, não é possível!

Félix levantou, vestiu uma cueca e o robe e saiu do quarto. – Vou pegar uma água gelada, é o melhor que eu faço... – Dizia indo pelo corredor, ajeitando a sobrancelha, quando viu Junior se mexendo no berço. Pilar havia deixado a porta entreaberta para ouvir caso um dos bebês chorasse.

– Ei... Maninho! Que foi? Assim você vai acordar o Fabrício! – Pegou seu irmãozinho no colo e começou a niná-lo. Enquanto isso conversava baixinho com ele. – Ei, Junior... O que você acha do Fabrício, hein?! Gostou dele? Já são amiguinhos? Olha, eu quero que vocês fiquem amigos, porque eu sou muito a fim do papi dele, e... – Respirou fundo antes de continuar. – E pode ser que o Fabrício venha a ser como um filho pra mim! – Apesar de estar conversando com um bebê, Félix falava como se ele entendesse. – Imagina, Junior... Se o seu amiguinho Fabrício chegar a ser meu filho, ele vai ser seu sobrinho! Olha que engraçado! O tio e o sobrinho com a mesma idade! É... Ah, maninho... O que eu mais queria era que nosso papi me aceitasse como sou, sabe... Aceitasse essa nova fase da minha vida, por que... Pra dizer a verdade... Eu nunca fui tão feliz! Mas, quer saber... – Félix levantou devagar seu irmãozinho um pouco para olhar para ele. – Eu tenho certeza que você vai ser feliz como eu nunca fui! Nosso pai te ama! – Voltou a deitar a cabecinha do pequeno em seu ombro. – Você vai ser feliz, maninho! E, mesmo que nosso papi soberano nunca mude, ou vou ser pra você como um pai também! Sempre que você precisar! Espero... – Se emocionou ao olhar para Fabrício dormindo e completou: - Espero poder ser um bom pai dessa vez!

Félix nem imaginava que alguém o espiava pela fresta da porta e ouvira tudo.

Ao ver que seu irmãozinho havia voltado a dormir, Félix o devolveu ao berço e fez um carinho nos dois bebês. Saiu, deixando a porta entreaberta como já estava.

Foi à cozinha, tomou um copo d’água e voltou para seu quarto. Ao entrar, Niko continuava dormindo, mas o cobertor estava quase caindo.

– Ele deve ter se mexido, tá quase descoberto! – Pensou.

– Tá muito frio para ficar assim! Dormir assim no inverno é pedir para ficar resfriado, quero meu carneirinho bem... – Puxou o cobertor para ajeitá-lo e enquanto fazia isso olhou para o corpo de Niko completamente nu em sua cama. – Aliás... Muito bem! Ah, como é linda essa criatura! – Ao falar isso pôde ver um quase sorriso surgir na face de Niko. – Olha... Até parece que me ouviu nos sonhos! – Félix chegou mais perto para lhe dar um selinho e notou que ele tinha o contorno dos olhos e as maças do rosto molhados, como se tivesse chorado. Estranhou, mas mesmo assim lhe deu um selinho terno. Fez um carinho em sua barba macia e outra vez viu o esboço de um sorriso. Então, tirou seu próprio robe e deitou ao seu lado. Puxou o mesmo cobertor para os dois e bem próximo ao ouvido dele, sussurrou: - Ah, meu carneirinho adormecido... Que vontade de me aproveitar de você assim mesmo como está! – Nesse momento notou o peito de Niko mexer com uma respiração mais forte. Félix sorriu. – Será que o príncipe tirou uma casquinha da bela adormecida?! Hum... – Deitou sobre ele e começou a distribuir beijinhos e mordidinhas entre o pescoço e a orelha direita. Félix sabia que aquilo deixava seu carneirinho maluco. Niko soltou um leve gemido e Félix sussurrou em seu ouvido: - Carneirinho, já deu pra notar que você está acordado... Aliás, bem acordado!

Niko abriu um olho e sorriu e abriu o outro.

– Félix... Eu estava fingindo o tempo todo! Eu não dormi, eu fingi!

– Percebi no seu sorrisinho quando te chamei de lindo!

– Eu queria ver o que você ia fazer ao me ver dormindo, mas... Você me surpreendeu mais do que eu imaginei!

– Como assim?

– Quando você saiu do quarto, eu te segui... Eu vesti o outro robe e saí logo depois e te vi com seu irmãozinho... Eu ouvi tudo!

Félix não sabia o que dizer. Niko continuou:

– Amor... Eu achei lindo... Foi emocionante ouvir tudo aquilo! – Levou a mão ao seu peito. – Esse é o Félix por quem eu me apaixonei! Adoro quando você é sincero! Você, às vezes, fala umas coisas sem pensar... Outras vezes, pensa demais! Mas, quando você fala apenas o que sente, você só me faz te amar mais!

Félix olhava profundamente em seus olhos verdes, durante alguns segundos ficou em silêncio, até exclamar com ar sério:

– Eu amo você!

Os olhos verdes se abriram mais e brilharam mais. O loiro sentiu-se arrepiar. Agora, ele havia ficado sem palavras. Mas, Félix falou:

– Por que essa cara de susto? Não era para eu falar o que sinto?

O loiro tentou pronunciar alguma coisa, mas palavras eram em vão. Seus olhos encheram-se de lágrimas de novo e ele o abraçou forte. Félix conseguiu entender a resposta positiva de seu carneirinho sem necessidade de palavras.

Enquanto Niko o abraçava chorando e sorrindo, Félix sussurrou:

– Carneirinho... Lembra que tinha uma condição para te perdoar por você ter sumido hoje?

Niko se afastou um pouco, só o suficiente para lhe olhar.

– Sim... Lembro que você disse...

– Então... Posso falar?

– Pode... Contanto que fale de novo o que sente...

– Não me faça falar o que estou sentindo agora! – Deu um sorriso malicioso olhando para baixo do cobertor.

Ambos riram e Félix continuou: - Sabe qual é a condição?! – Começou a fazer a voz manhosa e infantil outra vez. – Que você brinque comigo de novo como brincou ontem!

Niko deu uma risada e fez de novo a voz manhosa, piscando para o namorado e lhe respondendo. – Tá bom, se você quer brincar, eu brinco! Vou te ensinar umas brincadeirinhas de festa junina...


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Notas finais do capítulo

FIM!!!!
Obrigada a todos os leitores. Dias Inesquecíveis passou dos 7200 acessos!



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