Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 60
Dia dos Papis Soberanos 2014 - A véspera...


Notas iniciais do capítulo

Sábado, 9 de Agosto de 2014



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Acordei na casa de mami poderosa. Ao contrário de tantas vezes na minha vida em que já havia acordado indisposto e sem vontade de levantar, nem de viver, nesse dia eu me sentia como me sentira em quase todos os dias dos últimos meses: feliz, disposto, forte e pronto para começar um novo dia.

Quem diria que logo eu teria tanta vontade de viver, de ver o sol logo de manhã... De acordar cedo, de sentir luz e calor, de me sentir amado... Bom, sentir-se amado sempre foi o que eu sempre quis. Agora... Eu sinto isso! Por mami, por vovotrix, pelo Jonathan, meu filho querido... Até pela Paloma que tantos motivos teve para me odiar... Pela minha sobrinha de quem tentei me livrar... Até pelo Lutero, aquele velho gagá, que no fundo eu adoro... E, principalmente, pela pessoa que me faz ter esse sorriso abestalhado logo de manhã... Ele... Aquele loiro lindo e extraordinário! Nossa! Quando me olho no espelho e me vejo com uma cara tão boa essas horas da matina nem acredito que sou eu... Às vezes nem me reconheço... Ou... Será que antes eu nunca me conheci de verdade? Não sei... Só sei que agora eu me sinto mais eu, me sinto eu como nunca me senti... E sei que se não fosse ele eu não seria tão eu! E que se danem as dúvidas, quero é ser feliz... E sou! Mesmo que a pessoa que eu mais quero que me ame, não me ame... Meu próprio pai. Como meu peito dói ao pensar nisso...

Mas, como já disse que se danem as dúvidas, as mágoas, a tristeza, eu quero é ser feliz! Pra ser mais feliz eu só preciso ligar para a pessoa que esteve em meus sonhos esta noite – como em tantas noites – e como em outras noites esteve comigo na realidade... ... Adoro...

Ah, adoro sonhar com ele... Sonhos... Tão fantásticos... Tão reais... Ah, esse ser irreal que é tão real... Que é tão meu... Todo meu... Meu amado carneirinho!

...

– Alô... Félix?! Que horas são?

– Oi, carneirinho! Desculpa... Te acordei?

Niko suspirou e olhou no relógio. – Não, não, eu já ia acordar, já tá na hora... Mas, Félix, por que você tá acordado tão cedo?

– Acabei de acordar... Sonhei com você... Resolvi te ligar!

– Ah, que lindo...

– Lindo é você, meu carneirinho gostoso!

Mesmo por telefone, eu sabia que isso deixava meu carneirinho ruborizado e me deixava louco de paixão só de imaginar em como ele estava... Deitado em sua cama, com as bochechas rosadas, sorrindo enquanto ouvia minha voz...

– Acordou romântico hoje foi?

– Eh... Digamos que sim... Deve ser ainda o efeito da noite de ontem...

Pude ouvi-lo sorrindo.

– Awn Félix, queria tanto que você tivesse ficado pra dormir aqui comigo!

Ele falou de um jeitinho tão manhoso que me apertou o coração de desejo para estar com ele.

– Ah, eu também queria, meu carneirinho! Mas, você sabe que mami me pediu pra voltar pra casa cedo, por causa do papi... Aliás, vou já descer pra ver se ele já acordou, se precisa de alguma coisa, tenho que dar o remédio...

– Estou tão orgulhoso de você, amor! Está sendo um filho tão dedicado!

Me senti enobrecido de certa forma e ao mesmo tempo, triste.

– É... Pelo menos você sente orgulho de mim, Niko! Já meu pai...

– Não fica triste, meu amor! Olha, eu tenho certeza que seu pai ainda vai reconhecer tudo que você está fazendo por ele! Ele vai mudar, você vai ver!

– Hum! O papi mudar... – Ri com tal ilusão. Ri para não chorar. – Ah carneirinho, só você para acreditar em tais milagres!

– Félix... Milagres existem! Eu acredito nisso! Sempre acreditei... E olha só o que me aconteceu na história do Fabrício! Milagres são reais!

Ao ouvir isso, fiquei incrédulo, ao mesmo tempo esse ser tem o dom de me trazer a esperança. Ele sempre fala a coisa certa. Não sabia o que lhe responder... Ah, falar mais o quê?!

– Félix...

– Sim, carneirinho?

– Então, o seu César tá melhor da gripe?

– Sim, o papi melhorou um pouco, ontem o Lutero disse que não devia ser gripe mesmo, era só um resfriado mais forte e que passa logo! A Paloma também disse o mesmo... Acontece que o papi não se alimenta bem e fica fraco, sabe como é, e ele que precisa de atenção constante...

– Não fica tão preocupado, amor! Seu pai é forte, e você tá fazendo tudo que pode pra cuidar dele da melhor forma possível!

– Eu sei carneirinho... O problema é o papi se deixar ser cuidado! Aquele lá é mais teimoso que uma mula empacada...

– Mas, amanhã pode ser um bom dia pra vocês, quem sabe, vocês não têm a oportunidade de ter um tempo de pai pra filho...

– Ah! Um tempo de pai pra filho, eu e o papi soberano, carneirinho?! É mais fácil todas as pragas do Egito descerem sobre São Paulo do que o papi querer passar um tempo comigo!

– Mas, Félix, talvez, sei lá, pode ser que ele amoleça o coração depois de tudo que você está fazendo por ele! Ainda mais pelo dia de amanhã!

– Pelas contas do rosário, que dia é amanhã, criatura?

– Félix! Amanhã é dia dos pais! – Quando o carneirinho me lembrou isso, meu coração pulou. Não sei se foi um pulo bom ou ruim, mas sei que disparou. Fiquei ansioso... E receoso. Pensei em como nunca comemorei o dia dos pais... Nem eu com o papi soberano... Nem o Jonathan comigo. Eu sei que fui um péssimo pai e um péssimo filho... Mas, quero, com todo esse coração disparado, recuperar o tempo perdido. Nem que seja uma única vez... Essa vez! Amanhã é minha chance! Era só nisso que eu pensava enquanto meu carneirinho continuava falando todo entusiasmado...

...

...

Eu estava tão entusiasmado! Era a primeira vez que ia comemorar o dia dos pais sendo o pai. Eu tinha meu Fabrício e meu Jayminho. Eu tinha tudo que queria. Tinha meus filhos e o homem da minha vida. E ele, tadinho, nem lembrava... Pudera... Imagino que nunca passou um dia dos pais com seu filho, muito menos com seu pai que nunca o amou. Mas, pra isso que eu estou aqui, para amá-lo como ele nunca foi amado. Para mostrá-lo como é bom, gostoso e divertido amar.

– Félix! Amanhã é dia dos pais! Não me diga que não lembrava?! Ah eu tô tão ansioso por isso... É meu primeiro dia dos pais, sendo o pai né?! Estou tão feliz, Félix, que acho que nem vou ao restaurante amanhã, mesmo sendo um dia de grande movimento... Ai, eu quero ficar o dia inteiro com meus filhotes! Quero passear com eles, brincar com eles, quero curtir muito esse dia...

Eu falava, falava, mas não sabia mais se Félix continuava me ouvindo. Ele ficou tão calado... De repente veio à minha cabeça a razão pela qual ele poderia ter ficado assim... Ele nunca teve um verdadeiro dia dos pais. Provavelmente foi isso... Quando lembrei que era dia dos pais ele deve ter ficado magoado... Ah não! Tudo que menos quero é deixar o homem que amo triste!

– Félix? Você ainda está aí?

– S-sim... Sim, Niko...

– Tudo bem? Você ficou tão calado...

Pude ouvi-lo suspirar.

– Não, carneirinho... É... Estou bem! Eu só... Ah fiquei pensando numas coisas... Nada não...

– Félix... Foi por que eu disse que amanhã é dia dos pais? Desculpa, amor, eu esqueci que você... Eu não queria te magoar...

– Imagina, carneirinho! Você nunca me magoaria, pelo contrário, você que tira minhas mágoas... Nem sei como me aguenta... Se bem que você que prefere ficar por cima né?! Então eu que tenho que aguentar, se é que me entende...

Lá vem ele não levando as coisas a sério... Como se eu não soubesse que esse seu jeito é só uma tentativa de fuga da realidade... Eu o conheço bem... Bem mais do que ele mesmo se conhece... Sempre que ele tentar transformar tudo numa piada, falarei mais sério e mais sincero. Se ele é assim, eu sou mais eu... E já não seria tão eu se não fosse ele.

– Seu bobo! Você tem que transformar tudo numa piada?!

– Ah, eu sou assim...

– Eu sei... E eu te aguento mesmo assim! Por que eu te amo, Félix!

Ele se calou. Sentiu o que eu disse. Eu sei! Félix é um homem bom e sensível, apesar de usar uma máscara de forte. Mas, tem uma coisa que ele não sabe lidar, porque nunca aprendeu a conviver com tal: amor sincero. É isso que eu quero lhe dar, e ele – maravilhosamente – está aprendendo aos poucos a receber.

Meu coração, porém, disparou feito louco quando ele sussurrou algumas palavras mágicas ao telefone.

– Eu... – Pude ouvi-lo sorrir. – Meu amado, carneirinho...

Tudo bem... Ele pode não ter dito “Eu te amo” literalmente, mas disse que me ama... É o que me importa. Eu sei que ele me ama.

– Você vem mais tarde?

– Ah, meu carneirinho... Não sei, mas vou fazer de tudo pra ir tá?!

– Tá bom, amor! Beijo!

– Beijo...

...

...

– Beijo... – Como queria falar algo mais... Mas, travo! – Também te amo, carneirinho! – Pronto, falei! Mas, quando consigo que minhas cordas vocais destravem e expressem o que se passa em meu coração... Ele já desligou o telefone! Por quê? Por quê? Por que sou tão... Sei lá... Não consigo nem explicar... Até parece que não tenho sentimento, mas os tenho, estão aqui, posso senti-los... Mas, não consigo expressá-los! Isso me revolta, porque o carneirinho merece ser amado! Eu sei, sei que o Niko já me disse que sentimento não é explicado, que só existe, mas eu queria saber falar pra ele o que sinto como ele faz comigo... Ser sincero... Falar com o coração... Mas, não consigo... Não consigo! Quando vou conseguir? Fico aflito com isso! Quando vou falar com a voz o que se passa na minha alma? Quando?

Ah... Deixa pra lá... É melhor não pensar nisso agora... Já vou ficar angustiado estando um dia tão lindo lá fora... Hum... Dia lindo... Eu nunca ligava antes pra ver como o dia estava e agora... Olha só... Parece até que o sol brilha mais! E brilha... Por que antes eu tinha uma nuvem negra na minha cabeça, agora, tenho quem me ilumine!

Dei um profundo suspiro conformado e levantei da cama. Agora tenho que me arrumar e descer e... Ver o papi... Ai ai, já estou ficando com medo de daqui a pouco esse céu azul se cobrir com uma tempestade apocalíptica... Como estará o humor do papi hoje?!

...

...

Hoje acordei um pouco melhor... Me sinto melhor... Pelo menos melhor daquela maldita gripe, ou resfriado, ou sei lá o quê... Já não tenho nem vontade de saber o que tenho, ou o que sinto... Se é que ainda sinto alguma coisa...

Acho que não sou capaz de sentir mais nada...

Tudo que eu tinha pra sentir na vida já senti... E, por querer sentir demais, me enganei... Me enganei amargamente... E agora olha só como estou... Numa cama, inerte... Sendo um inútil... Um peso... Dependendo da pena dos outros... ... Os outros... Esses outros que eu tanto desprezei... Esses outros que são, na verdade, os meus...

– Papi... Está acordado?!

Lá vem ele entrando no quarto com seu jeito e trejeitos. Se ele soubesse como me irrita... Se bem que já nem sei se é o Félix mesmo que me irrita ou se sou eu...

– Também se não estivesse você já teria me acordado com essa sua voz alta e estridente!

– Alta e estridente?! Que exagero, papi soberano! Alta, talvez, mas estridente não... Tenho até um timbre muito bonito por sinal...

– Cala a boca, Félix! O que veio fazer aqui? – Como se eu não soubesse... Ele veio cuidar de mim... Que ironia do destino! O filho que eu nunca cuidei... Cuidando do inútil do pai...

– Ah papi soberano, como se você não soubesse... Eu vim ver se o senhor está precisando de alguma coisa, se quer tomar o café, uma água... Ah e tem que tomar o remédio que a Palominha trouxe...

– Hum Palominha... Você chamando sua irmã de Palominha?! Não seja cínico, Félix!

– Mas... Pelas contas do rosário, papi, porque diz que estou sendo cínico agora?

– Não acha muita ironia você ficar chamando sua irmã de Palominha, assim no diminutivo?! Como se sentisse algum carinho por ela... Por favor, Félix... Além de que esse seu jeitinho de falar é muito gay!

...

...

Papi falava como se tivesse nojo de mim... Como se sentisse asco por eu ser quem sou... Talvez sinta! Mas, não posso fazer nada, não posso mudá-lo... Como também não posso mudar a mim.

Dei um suspiro longo tentando expirar toda dor de meu peito, mas ainda sobrou um pouco de angústia presa na garganta que soltei num pigarro...

– Papi... Pai! Eu vou tentar falar... Um pouco mais... Diferente, se você quiser! Vou tentar não te aborrecer!

...

...

Em casa, com meus filhos, eu pensava no Félix e imaginava se ele teria oportunidade de ter um bom dia dos pais. Coitado... Queria poder fazer algo por ele... Mas, de todas as coisas que posso fazer pelo Félix essa está fora do meu alcance.

Ele mudou muito, é outro homem... Ou o homem que sempre poderia ser e não foi... E, no entanto, seu pai continua lhe desprezando, lhe castigando por, simplesmente, ele ser quem é! Por que tanta crueldade com o próprio filho? Por mais que eu pense não encontro motivos, causas, razões ou desculpas que sejam para tamanha falta de sensibilidade... Falta de afeto... Falta de amor...

Se eu pudesse e se o Félix quisesse eu faria com que ele se tornasse pai dos meus filhos agora mesmo só para ele ter uma família completa para comemorar o dia dos pais! Mas, eu não posso... Não sou uma fada azul que vem de uma estrela realizar um desejo. Sou só um homem... Um homem que quer muito ver a felicidade de outro homem. Daquele que ama.

E hoje, véspera do dia dos pais, tudo que rezo e quero é que Félix possa, amanhã, ou um dia quem sabe, ter um feliz dia dos pais. Tudo que peço, agora, aqui, antes de levantar-me, ajoelhado na beira da minha cama rezando por ele, é que ele se sinta feliz e amado... E que eu possa estar ao lado dele para ser testemunha e objeto de sua felicidade. Por tudo que acredito... Que assim seja... Por todos os dias de sua vida. Amém!

...

...

– Vou tentar não te aborrecer... Pai!

Félix me disse aquilo e saiu do meu quarto... Provavelmente foi pegar meu café ou o meu remédio...

O modo como ele saiu, me fez... Nem sei... Sentir um aperto no peito...

Ele não está fazendo nada demais, afinal... Ele é assim. Tentei mudá-lo a vida toda, em vão... Ele não vai mudar nunca... Mas... Algo está diferente... Ele! Ele mudou... E eu não sou capaz...

Ah Félix... Se você soubesse...

Não é você que me aborrece... Sou eu que me aborreço comigo e desconto em você...

Se você soubesse...

Se soubesse como me sinto péssimo com isso...

Mas, não consigo evitar... Não sei como evitar... Como mudar... Eu sou assim... Assim como você é assim...

Mas... Você está mudando... Está mudado...

E eu?! Sou um velho ranzinza, chato... E imutável!

Mas... No fundo do meu coração... Mesmo que eu tenha minhas razões pra não te amar tanto quanto deveria... Eu... Eu sinto que... Eu posso... Eu devo... E eu...

Eu te amo! Meu filho!

Embora não pareça... Eu... Do meu jeito... Te amo! Por que você é meu filho...

Já perdi um e o outro, provavelmente, nem verei crescer... Então... Só tenho você... Você e sua irmã... E ela tem a família dela... E eu... Sou um estorvo... Me sinto um vaso quebrado e, quem diria que logo você ficaria para recolher meus cacos...

Ah Félix, você é uma surpresa ambulante. Mesmo que não me agrade essas suas surpresas, como quando você contou que tinha um... Namorado...

Mas... Tenho que te aceitar assim. Mesmo que eu estivesse bem e sadio não poderia te mudar, quanto mais estando assim...

Se bem que... Creio que mesmo que eu te mandasse se casar de novo, formar uma família “normal” e pedisse pra voltar a trabalhar no hospital você não iria...

A Paloma já me disse que te propôs voltar e você recusou...

E eu fiquei orgulhoso disso! Você demonstrou dignidade! E mais... Mais alguma coisa que eu não sei explicar...

Tem algum sentimento novo aí dentro de você... Que eu sinceramente não sei o que é... Talvez... Não, você não sentiria isso... Ou talvez sim... Sei que está apaixonado por aquele rapaz, o dono de restaurante. Sei que tem demonstrado que quer ser melhor, não mais aquele mimadinho da mami como chama... Mas... Ainda me custa acreditar que esteja sentindo algo que é maior e mais forte que qualquer coisa...

Será que Félix é capaz de sentir amor?

Tenho minhas dúvidas... Não por ele... Por mim! Ele é meu filho, e apesar de todas as diferenças, somos parecidos...

Mas ele tem um quê especial... E ele tem uma vida inteira pela frente pra descobrir o que tem de especial e sei que vai... Por que nunca o vi tão manso e tão digno... Tão calmo e com esse brilho nos olhos...

Terá sido possível para Félix aprender a amar?

Não sei, mas se aprendeu, me conforta saber que ele será feliz na vida... Embora eu nunca entenda essa vida que ele quer... Mas, se ele for feliz assim, que assim seja...

...

...


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Notas finais do capítulo

...Continua...



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