Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 52
Samba Lusitano - parte 10


Notas iniciais do capítulo

Noite regada a vinho...
Este capítulo contém trechos de três fados: Chuva – Mariza, Há palavras que nos beijam – Cristina Branco, Primeira Vez – Ana Moura.



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Niko ficou pensativo depois da minha proposta de abrir o vinho para brindarmos à nossa viagem. Sei não... Mas, acho que o carneirinho tem outros planos...

– Félix... – Quando ele me chamou, eu tive certeza. – E se, ao invés de brindarmos aqui sozinhos, nós fossemos hoje mesmo conhecer a noite de Lisboa?!

– Por que assim já hoje, criatura? Não íamos amanhã?

– Ora, Félix, poderemos experimentar bebidas típicas, andar pelo Bairro Alto, ver as luzes da cidade...

Fiquei olhando para ele tentando fazê-lo mudar de ideia, mas é ele quem sempre consegue me convencer a fazer tudo que ele quer!

– Vai, Félix... Hoje nós voltamos cedo para o hotel, nem estamos cansados! Pra quê ficar aqui dentro se tem uma cidade linda lá fora?! Vamos...

Eu tenho que aprender a resistir a essa carinha de carneirinho pidão!

...

– Ok, vamos! – Eu sabia que o convenceria. – Agora, presta atenção, Niko... Quando voltarmos, nem venha me dizer que está cansado, não! Sabe que eu gosto de festa, badalação, mas sinceramente, carneirinho, eu prefiro mil vezes ficar com você... Só nós dois!

Ah Félix... Às vezes ele consegue ser um fofo! Tinha que dar um beijinho nele antes de sairmos.

– Ah Félix... Você sabe que também gosto de ficar sozinho com você! Não se preocupe, eu não vou estar cansado de jeito nenhum quando voltarmos, tá! E você também, trate de não estar!

– Claro, carneirinho! Imagina se eu sou de cansar fácil! Grava o que eu vou dizer... – Ele segurou no meu queixo e me olhou nos olhos. – Hoje a noite é nossa!

Ah, esse olhar sensual que ele tem...

– Pode deixar, Félix, já gravei! Hoje a noite é nossa!

Hoje a noite é nossa... Isso ficou ecoando em minha mente!

Quando íamos sair do hotel, percebemos...

– Está começando a chover... Não acredito!

– Taí, carneirinho... Isso é um sinal para ficarmos aqui no quarto!

– Ah não, Félix, não seja estraga prazer! Parece uma nuvem passageira...

– Eu? Estraga prazer? Pensei que fosse exatamente o contrário...

Ah como ele é cínico...

– Palhaço!

...

Óbvio que o carneirinho não ia desistir de sair. Ele não desiste tão fácil. Se desistisse, não teria me conquistado!

– Félix, eu botei na mala dois casacos com capuz pra gente! É uma chuvinha fraca, logo passa, você vai ver!

– Casacos com capuz? – Essa eu quero ver... – Mas, nem tá frio, Niko, só começou a chover!

– Eu sei, mas... Por isso mesmo, o capuz vai nos proteger da chuva... Ah, vai Félix, coloca logo!

Ele tirou os casacos da mala e me entregou meu casaco preto e vestiu o dele...

– Eu fico elegantérrimo de preto, aliás, fico elegante com qualquer cor de roupa... Mas, ah carneirinho, você tinha que trazer logo esse seu casaco prata?!

– O que tem meu casaco?

– Digamos que ele parece ter saído de um cantor de rock dos anos oitenta!

– Ai Félix... Sem graça! Eu estava nascendo nos anos oitenta, tá! E, também, acho super confortável esse casaco, e, se o senhor não lembra, ele me dá sorte!

– Sorte? Por quê?! Não me diga que já tentaram te assaltar, mas esse casaco é blindado e te salvou?!

...

Definitivamente, ele não se cansa de ser cínico...

– Não Félix! Não lembra que eu o estava usando quando você dormiu comigo pela primeira vez?!

– Ah... Então é isso... Olha, sinceramente, Niko, eu não lembrava! – Ele veio andando na minha direção e me pegou pela cintura, com aquela pegada que eu gosto! – Você acha que eu ia me lembrar da sua roupa depois de você tirá-la?!

É nessas horas que eu gosto de ele ser tão cínico assim...

O beijei como resposta, e já o sentia me puxar para longe da porta do quarto... Mas, não, nós íamos sair sim! Fiz o Félix largar minha cintura e o puxei pela mão.

Finalmente, saímos...

...

Pois é, o carneirinho não me deu chances... Acabamos saindo!

Caminhamos pelas ruas empedradas. Só o caminhar abraçados já estava de bom tamanho para mim, mas, claro que o carneirinho queria ver tudo que pudesse.

Nossa primeira parada foi em uma casa de fados.

Não pensei que ele fosse se emocionar tanto!

...

Uma fadista cantava alguns dos mais belos fados que eu já ouvi, vários, de várias cantoras... Como poderia não me emocionar?! O primeiro foi tão conveniente... Lá fora a chuva já passava, mas não lá dentro, com o cantar suave do fado chamado Chuva...

As coisas vulgares que há na vida

Não deixam saudades

Só as lembranças que doem

Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história

Da história da gente

E outras de quem nem o nome

Lembramos ouvir...

Realmente... As lembranças que fazem sorrir são a verdadeira saudade...

Um verso me emocionou em especial... “Há gente que fica na história da história da gente...”... Sei bem como é...

...

Niko olhou para mim... O que ele estava pensando? Não sei... Mas, ouvir aquelas letras tão belas e profundas e aquelas melodias e olhar para ele, e senti-lo pegar na minha mão, era como se eu pudesse tocar o céu!

Outro fado começou... E como ele adivinhou a hora certa para falar a coisa certa?!

...

Ele pegava na minha mão e me olhava de um jeito tão encantador que eu só podia dizer-lhe três palavras:

– Eu te amo!

Falei baixinho só para ele ouvir... E ele não precisou me responder naquela hora... A primeira estrofe daquele fado que começava a ser cantado respondeu...

Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca

Palavras de amor de esperança

Imenso amor, esperança louca...

...

O que mais poderia responder ao carneirinho senão...

– Também te amo!

Falei baixinho!

Engraçado... E mágico... Como eu tenho tanta dificuldade para expressar meus sentimentos em palavras e, às vezes, tudo sai tão naturalmente! É tão simples dizer eu te amo para o carneirinho! Amá-lo é tão natural quanto respirar... E tão essencial quanto!

...

Ali, então, nos olhando... Com tanto amor e magia... Nossos olhos se encontravam mesmo que tentássemos desviar... Num misto de paixão e alegria... Sem que nos déssemos conta, as horas passavam... E aumentava a emoção em cada verso que cantavam...

Nossa... Acho que já estava ficando inspirado demais pelos fados...

O último que ouvimos foi o que mais me fez lembrar tudo que já vivi com o Félix. Sei que ele também lembrou. Foi como se um filme passasse na minha cabeça... Um filme que conta nossa história desde a nossa primeira vez...

Primeiro foi um sorriso

Depois quase sem aviso

É que o beijo aconteceu

Nesse infinito segundo

Fora de mim e do mundo

Minha voz emudeceu...

Ficaram gestos suspensos

E os desejos imensos

Como poemas calados

Teceram a melodia

Enquanto a lua vestia

Nossos corpos desnudados...

...

Parecia nossa história, em versos, sendo cantada... Comecei a lembrar dos nossos momentos na praia...

Duas estrelas no meu peito

No teu meu anjo perfeito

A voz do búzio escondido

Os lençóis ondas de mar

Onde fomos naufragar

Como dois barcos perdidos...

Os lençóis ondas de mar

Onde fomos naufragar

Todos os nossos sentidos.

Parecia um poema à nossa história... Ou, nossa história em poema!

Foi lindo passarmos algumas horas juntos ali.

Depois saímos e fomos a outro lugar. Agora, um local um pouco mais agitado...

...

– Nossa, Félix, esses bares de Lisboa são demais! Vamos ficar um tempinho nesse?

– Sim, claro... Gostei do local! Sabe que eu nunca provei as variedades de vinhos e licores portugueses?!

– Ótimo, então é nossa oportunidade! Ah, só não me deixa beber muito tá, Félix, porque lembra como eu fiquei naquela vez que a Márcia nos convidou pra aquela festa e...

– Eu sei, lembro muito bem que te procurei feito um louco, e lembro mais ainda onde o senhor estava... Mas, enfim, prefiro nem lembrar, carneirinho!

É... Era melhor ele não lembrar mesmo... Enfim... Pedimos alguns drinks, começamos a provar algumas bebidas típicas, ouvimos música, conversamos e brindamos várias vezes...

...

Algum tempo passou e eu percebi que o carneirinho já estava ficando mais alegrinho. E nós dois tínhamos bebido as mesmas coisas, mas ele é bem menos acostumado a beber, então, o efeito é bem mais rápido...

O bar-man nos servia mais um licor e explicava...

– Este se chama ginginha, é obtido através da maceração da fruta da ginga, fruto semelhante à cereja...

– Hum... – Niko me olhou com um sorrisinho malicioso. – Olha, Félix, cereja...

Sinceramente, não entendi...

– É, Niko, cereja, E... Daí?!

– Podemos fazer o mesmo que fizemos com os morangos, lembra?! Cerejas com chocolate também é uma delícia...

Ele disse mesmo isso?! Realmente, o carneirinho está alegrinho demais!

O bar-man ia nos servir e perguntou: – Com elas ou sem elas?

– Elas, quem? – Não acredito que o Niko perguntou isso!

– Niko, não seja burro...

– Eu estou perguntando se querem a bebida pura ou com fruta partida no fundo do copo! – O bar-man completou.

O carneirinho começou a rir. O álcool faz mesmo um efeito surpreendente nele!

– Ah! Então eu quero com elas! Apesar de não gostar delas! Né, Félix?!

Niko continuou rindo. O bar-man nos serviu e saiu, acho que pela primeira vez fui eu que fiquei vermelho e não o Niko.

– Carneirinho, acho melhor esse ser o último brinde, aí nós voltamos para o hotel, tá!

– Ah, por quê?! Tá tão bom... Você sabia disso Félix?!

– Sabia de quê?!

– Das bebidas, das frutas... – Ele tomou tudo e pegou a fruta no fundo do copo e a mordeu, olhando fixamente para mim.

– Bom... Isso eu sabia, sim!

Ele voltou a rir. – Olha... E diz que eu é que fico interessado na cultura...

– Engraçadinho... – Acho que estávamos invertendo os papeis. – Não tenho culpa de ser tão inteligente!

– Oh... Você é mesmo... Inteligente e lindo! Félix... – Ele me chamou com um pedaço de fruta na boca, se aproximando para que eu mordesse a fruta e nós acabássemos nos beijando... Estava tão óbvio!

– Niko, aqui não tá! Deixa chegarmos ao hotel!

Aí, ele protestou...

– Ah não! Você não disse que hoje a noite é nossa?!

Ah não digo eu! Ele tá fazendo aquela carinha de carneirinho pidão que eu não resisto...

– Ai, tá bom, carneirinho, me dá isso logo!

– Hum hum... Vai ter que pegar!

Ele segurou de novo a fruta com os dentes e se aproximou. Já sei o que vou fazer...

Mordi a fruta, fui me aproximando e vi um sorrisinho surgir no canto da boca daquele carneirinho travesso quando pensou que eu ia beijá-lo. Mas, eu tirei o pedaço com os dentes e me afastei!

Ele ficou surpreso e fez aquela carinha de emburrado...

...

Ah não, Félix, isso não é justo! Você vai me beijar, nem que eu tenha que fazer chantagem! Se bem que eu sei fazer chantagem muito bem...

Fiz cara de emburrado... Cruzei os braços... Percebi que ele olhou, mas fingiu que não... Suspirei alto para ele ouvir... Ele estava fingindo que não estava nem aí, mas eu sei que ele não resiste por muito tempo...

Suspirei alto de novo e fiz como se fosse chorar... Ele não aguentou...

...

Não tinha como eu aguentar aquele carneirinho chantagista! Acabei tomando o último copo que nos serviram e o beijei como ele queria.

– Que delícia, meu amor! Beijo doce!

– Sua boca também tá doce, carneirinho! Adorei!

Ele ficou todo sorridente...

– Agora, eu vou chamar um táxi, nós vamos voltar ao hotel, porque você já passou um pouquinho da conta...

– Eu, Félix?!

– Você, sim senhor! Espera aqui um pouquinho que eu vou ao banheiro e depois vou chamar um táxi!

Ele deu outro sorrisinho que eu não compreendi e disse:

– Tudo bem, vai lá!

...

Ah... Eu tive uma ótima ideia! Pedi mais um drink rápido e fui ao banheiro também...

...

Estava lavando as mãos quando vi Niko no banheiro me olhando pelo espelho.

– Carneirinho, tá fazendo o que aqui?

– Ué, tive vontade de vir ao banheiro também...

Ele ia se aproximando de mim com um sorrisinho nada inocente...

– Ah... Então, vai logo, enquanto isso eu vou pagar a conta e ver um táxi...

...

Eu o prendi contra a pia... Você não vai escapar tão fácil, Félix!

– Por que sair tão rápido, amor?!

– É... Carneirinho... Calma, tá! Aqui não...

– Por que não?! Ainda lembro alguém dizendo que a noite era nossa...

...

Ótimo! Agora ele está usando o que eu disse contra mim! Mas, querer me agarrar no banheiro do bar já é demais...

– Niko, querido, se alguém entrar...

– Então, vamos para um lugar mais discreto...

– É o que eu estou tentando, se você me deixar chamar um táxi para voltarmos ao hotel!

– Ah, Félix... Sabe que eu gosto da adrenalina quando estou com você...

...

Claro que ele não estava indiferente... Pude sentir quando minha mão começou a passear pelas coxas dele e subindo cada vez mais...

Ah... Eu adoro provocar o Félix...

...

Ah, Niko, assim não dá... Se eu não fugir agora, não resisto...

– Ca-carneirinho...

Tive que segurar a mão dele pra fazê-lo parar...

– Chega, tá! Guarda essa energia pra quando chegarmos ao hotel! Ok?!

– Ok, Félix!

Parece que ele se conformou e se aquietou... O esperei para sairmos juntos, afinal, do jeito que o carneirinho estava, vai que ele se perdia... Só que eu não esperava que esse safadinho ainda tivesse um truque...

– Félix, não consigo fechar o zíper da calça...

– Como não consegue, criatura?!

– Acho que emperrou... Me ajuda!

Olhei para os lados para ver se ninguém ia entrando e fui ajudá-lo... Apesar de que meu sexto sentido apuradíssimo estava me dizendo que o que o carneirinho precisava não era da minha ajuda exatamente...

– Vai, segura a calça que eu puxo o zíper... Ah, mas primeiro puxa a cueca né, carneirinho...

Eu mesmo arrumei a roupa dele, mas ele não tinha bebido tanto que não conseguisse... Eu sabia muito bem o que o meu carneirinho queria. Mas, não é que a porcaria do zíper emperrou mesmo!

Me abaixei para ficar melhor para puxar o zíper, não deu para puxar de uma só vez, então fui conseguindo fechar aos poucos. Olhei para cima e o carneirinho estava rindo da situação... Que coisa viu!

– Pronto, consegui!

Quando estava para me levantar, um cara entrou no banheiro... Me levantei num pulo, mas, não é preciso ser um gênio pra saber o que ele pensou! Ficou nos olhando desconfiado... Acho que fiquei vermelho outra vez! Tanto faz! Eu peguei Niko pela mão e fomos embora!

...

Que pena que meu plano não deu certo...

Pagamos a conta, chamamos um táxi e fomos para o hotel. O Félix que nem vá pensando que eu esqueci uma coisinha que ele deixou pra nós...

– Félix... Agora podemos abrir essa garrafa de vinho!

– Ah, mas será que eu fiz pole dance no mastro da caravela de Cabral?!

– O que foi?!

– Agora você quer abrir esse vinho! Não acha que já bebeu o suficiente?!

Bobinho... Não sabe de nada... Eu tenho meus segredos...

– E quem disse que vamos beber este vinho?!

– Não?!

– Tsc tsc... Eu tenho outros planos...

...

Sinceramente, aquele sorriso do carneirinho agora estava até me assustando!

Ele veio em minha direção com o vinho... O que será que está pensando em fazer?! Sussurrou ao meu ouvido, pedindo:

– Prepara a banheira pra nós dois!

Gostei... Mas, ainda não sei o que tem o vinho a ver com isso...

Fui, enchi a banheira, fiz muita espuma... Ele me esperava na porta do banheiro...

– Tá pronta, carneirinho... E agora?

Ele voltou a dar aquele sorrisinho assustadoramente malicioso. Deixou a garrafa de lado e me puxou pelo cós da minha calça.

...

Nossas bocas se encontraram num beijo voraz... Comecei a desabotoar sua camisa enquanto ele tentava puxar a minha. Eu só levantei os braços para ele tirá-la quando terminei de desabotoar a dele.

Parei quando necessitamos de fôlego, mas aquilo estava longe de acabar...

...

Eu ainda não estava sacando o que o carneirinho queria exatamente... Ele estava com um olhar estranho... Talvez consequência do álcool ou, simplesmente, muitas ideias libidinosas naquela cabecinha de cachinhos dourados...

– Tira a calça... Vai pra banheira... E eu vou te ensinar uma coisa ótima pra sua pele!

– Pra minha pele, carneirinho?

– É, meu amor, você vai gostar...

Obedeci. Entrei na banheira e ele pegou a garrafa de vinho. Fiquei esperando seus próximos movimentos. Ele saiu e voltou com duas taças, também tirou o resto da roupa e entrou na banheira comigo e com o vinho. Abrimos a garrafa, nos servimos, mas ele continuava com aquele olhar...

– Vamos brindar mais uma vez, Félix?

– Claro! Pelo que agora?

– Por tudo que já brindamos antes... Nós, nossa família, nossos filhos lindos, nossas bodas, nossa casa, nossos restaurantes...

– Então... À vida!

– À vida! À nossa vida!

Brindamos. Finalmente eu estava degustando aquele delicioso vinho ao lado do meu carneirinho delicioso... Sozinhos... Ele e eu!

Sua mão direita segurava a taça de vinho, mas senti sua mão esquerda escorregando em minhas pernas por baixo da água...

– Você tem uma pele tão gostosa, Félix!

– Eu sei...

– Sabe qual o tratamento de SPA que promete que deixa a pele muito mais gostosa?

– Ah, tem tantos... Qual é?

Ele voltou a dar aquele sorriso safado e até lambeu os lábios...

– É... O banho de vinho!

Derramou o resto do vinho da taça no meu corpo, me surpreendendo... Ah agora eu sei que fantasia estava se passando por essa cabecinha!

E ele ainda completou...

– Ai Félix, derramou... Que pena! Vinho em Portugal não pode ser desperdiçado!

E piscou pra mim logo antes de começar a lamber o vinho que derramara em meu peito. Claro que ele achou pouco e ainda derramou mais da garrafa que deixara ao lado.

Continuamos aquela brincadeirinha com o vinho na banheira, intercalando entre beber e derramar um no outro... Até acabar... Claro que só o Niko gastou mais da metade da garrafa sozinho... Eu deixei porque o carneirinho já é fogo e com álcool então, vira um incêndio incontrolável! Eu só não imaginava que esse incêndio não seria apagado tão facilmente... Durou a noite toda!

...

...

No dia seguinte...

Acordei... Notei que Félix não estava ao meu lado na cama...

– Félix... – Chamei baixinho, ainda com sono e uma dor de cabeça terrível.

Olhei para o relógio. Levantei num pulo, mas minha cabeça latejou...

– Ai... Como já é tarde!

– Bom dia, carneirinho dorminhoco!

Félix saía do banheiro e veio em minha direção... Estava estranhamente sério... Ficou de pé ao lado da cama...

– Já tomou o café?

– Não, carneirinho, acordei há pouco tempo... É melhor pedirmos logo o almoço, a essa hora...

– É, tem razão... Senta aqui...

– É... Depois...

Olhei para a boca dele, tinha um machucadinho, meio vermelho, como se tivesse tirado um pedaço...

– Amor, você mordeu a boca?

Ele virou para mim como se eu tivesse dito uma coisa errada...

– Eu?! Pelas contas do rosário, Niko... Você foi quem virou o carneirinho canibal!

– E-eu?! Eu fiz isso?!

– Isso aqui na minha boquinha não é nada! Nunca imaginei que carneirinhos gostassem tanto de carne... Acompanhada de vinho!

Algumas imagens um tanto desconexas vieram a minha cabeça, mas eu não lembrava mesmo de muita coisa...

– Félix... O que... O que foi que eu fiz?

Ele me olhou de novo daquele jeito... Já estava me sentindo culpado...

– Quer dizer que o senhor não lembra?

– N-não m-muito...

Ele apenas riu. Virou de costas e tirou a camisa, dizendo:

– Dizem que as coisas que deixam marcas a gente nunca esquece, né carneirinho?! Eu tenho certeza que nunca vou esquecer essa noite em Portugal!

As costas dele estavam ligeiramente arranhadas e com uma mistura de marcas vermelhas e arroxeadas...

Agora tô me sentindo mais culpado ainda...

– Err... E-eu fiz isso?

– O que você acha, carneirinho fofo?

– Ai Félix... Desculpa... Eu bebi demais não foi?!

– Olha pra adega!

Eu olhei... Ele tinha tirado apenas uma garrafa no dia anterior, mas faltavam duas...

– E-eu peguei outra g-garrafa?

– É... Digamos que uma nós bebemos, você mais que eu... E a outra desceu pelo ralo da banheira...

– Ah... – Comecei a lembrar de umas coisas. – Eu te dei um banho de vinho, não foi?

– Ah, muito bem... Lembrou?!

– Mais ou menos...

Ele voltou a rir...

– Vem cá, Niko, de onde você tira essas ideias, hein?!

– Ah, sei lá, Félix... Acho que eu sempre tive vontade de fazer umas loucuras assim, mas nunca tive oportunidade...

– Óbvio, você nunca teve um homem como eu!

– Ah, isso é verdade! – Agora eu disse exatamente o que pensava.

– só não sei como você pôde esquecer o que fez... Pois eu não vou esquecer, poderia até fazer uma tatuagem em sua homenagem!

Até que achei bonitinho... Mas, tive a ligeira impressão de que ele estava sendo sarcástico...

– Uma tatuagem em minha homenagem, amor?! Que lindinho...

– É... Não é nada lindinho, tá! – É, eu tinha razão, ele foi sarcástico. – Minha pele que o diga! Você disse que ia deixá-la melhor com o vinho, mas agora tá toda marcada! Você fica muito agressivo quando bebe!

Ele não parava de me fazer sentir culpado... Ah, mas só por aquelas marcas nas costas não é pra tanto...

– Desculpa, Félix, mas também não exagera!

– Exagerar? Você acha isso um exagero?

Ele virou de costas e abaixou a calça e a cueca junto. Agora eu sei por que ele ficou de pé!

– É exagero, Niko, quando eu digo que poderia até fazer uma tatuagem da sua mandíbula na minha nádega direita?! Eu estava vendo no espelho do banheiro, tem cada dente seu bem desenhadinho aqui... Isso aqui deixa marcas, sabia?!

Eu não sabia se pedia desculpas ou se tinha um ataque de risos! Fiquei olhando para ele, sem saber o que dizer...

...

Ele olhou para mim segurando o riso e eu tentei ficar sério, mas não dava, nós dois começamos a rir muito...

– Tudo bem, carneirinho... Eu te perdoo... Até porque, a noite foi maravilhosa... Apesar dessa sua agressividade enrustida... Mas, tá tudo bem, o amor deixa marcas, né?! E logo eu que crio um carneirinho selvagem... Mas, olha, vamos almoçar aqui mesmo, tá! Nada de restaurantes, a não ser que seja um japonês!

– Ué, porquê?! Saudades do nosso restaurante?

– Não, carneirinho... É que se for um japonês a gente pode sentar naquelas almofadinhas macias...

Saí e fiquei olhando pela janela, esperando ele entender. Carneirinho é meio lento, mas entendeu. Deitou de novo na cama, morrendo de rir, e todo vermelhinho.

...

Tive vontade de me enfiar no travesseiro para parar de rir de toda aquela situação... Tadinho do Félix... Apesar de eu não lembrar muitos detalhes dessa noite, tenho certeza que não foi só eu que fui meio agressivo. Quando fui ao banheiro, vi que minhas costas também estavam bem vermelhas, apesar de não ter nenhuma mordida... Enfim, nós dois nos divertimos, só disso que tenho certeza!

Me vesti e ele continuava olhando pela janela. Fui até ele e o abracei. Ficamos os dois contemplando a vista da capital de Portugal. Belas ruas, belas casas, belas construções...

...

– Mais tarde, vamos retomar nosso roteiro de viagem né, Félix?!

– Sim, ainda tem muito para vermos... E temos que comprar os presentes dos meninos...

– É, e lembre-se que nosso último dia aqui é reservado para irmos a Fátima!

– Eu sei! Também tenho ainda que procurar bem o presente que eu planejei para o Jayme!

– O que você planejou levar para ele?

– Ah, eu tenho meus segredos, carneirinho!

– Tá bom...

– Quando você se recuperar dessa ressaca, nós saímos, ok?!

– Não estou de ressaca, é só um pouco de dor de cabeça!

– Sei... Escovou bem os dentes? Viu se não tinha vestígios de pele humana entre eles?

– Ai, Félix, para!

– Agora você me pede pra parar? Eu pedi pra você parar e nada...

– Félix para!

É lindo quando ele fica todo vermelhinho, envergonhado...

O abracei de novo, puxando-o para mais perto de mim... Ficamos olhando pela janela, pensando onde passaríamos os próximos momentos inesquecíveis... Se bem que, cada segundo com meu carneirinho é inesquecível.

...


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Notas finais do capítulo

Esta foi a penúltima parte...



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