Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 4
Réveillon Hot


Notas iniciais do capítulo

Ano Novo sempre é tempo de recomeçar...
César tem lembranças que o fazem ter uma longa conversa com Félix...
Félix tem um desejo de ano novo, qual será?!...



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Depois de passarem um natal inesquecível na casa de Pilar, Niko, Félix e os filhos já haviam voltado, com César. Félix e Paloma o convenceram de ficar na casa em Angra por essa última semana do ano. Depois, do réveillon César voltaria para a casa de repouso como ele mesmo queria. Como Félix já tinha transformado o quarto em que César ficava em um pequeno escritório, ele arrumou outro quarto de hóspedes para o pai. Apesar de ter aceitado aquela situação, César ainda não gostava nem nunca iria gostar da vida que Félix levava. Se ele pudesse mudar tudo, mudaria, mas, ele não sentia mais raiva de Félix, só de si próprio quando se lembrava do passado. O que Félix não sabia, era que aquele novo quarto trazia muitas lembranças ao seu pai. Mas, havia uma coisa que César gostava em estar naquela casa com Félix, embora jamais fosse admitir, ele gostava quando Félix o levava para ver o pôr do sol na praia.

Os dias passavam e, incrivelmente, seguiam em paz.

Dia 30 de dezembro.

Niko preparava o café da manhã na cozinha. De repente, sentiu os braços quentes de Félix envolverem sua cintura, e seu hálito fresco da manhã de quem havia acabado de escovar os dentes sussurrar em seu ouvido:

– Bom dia, amor!

– Bom dia, amor! – Niko respondeu. – Você estava dormindo tão bem que eu não quis te acordar, ainda mais depois de tudo que você passou!

– Ah, é mesmo, carneirinho... Ainda bem que aquele dieta horrível já acabou, estou louco para saborear suas gostosuras...

Niko permanecia de costas, quando Félix lhe deu um beijo no pescoço.

– Sabia que você também é muito gostoso carneirinho?!

Niko, finalmente, virou para ele.

– Félix! Você já pode fazer algumas coisas... Outras não!

– Como assim?! Eu já estou bom, estou ótimo!

– Acho melhor você se recuperar mais Félix! Sua cirurgia não foi tão simples...

– Ah, carneirinho! Eu devo ter feito luzes nos cabelos de Sansão para você me deixar assim... Parece até que eu dei a luz e estou de resguardo, poxa!

Niko começou a rir compulsivamente.

– Que foi que eu disse de tão engraçado, Niko?!

– Eu me lembrei de uma piada que o Jonathan disse quando você estava passando mal... Ah Félix, aquele garoto às vezes mostra que puxou o seu senso de humor...

– Foi quando vocês dois estavam rindo de mim lá no meu quarto não foi?! O que ele disse?

– Ele disse que, pelo jeito que você estava, se você tivesse útero, estaria grávido de mim!

Niko não parava de rir. Félix o olhava com cara de bravo, mas com um sorrisinho de canto.

– Olha carneirinho, me aguarde! E o Jonathan também, quando ele vier amanhã, vai ver! Onde já se viu...

A conversa foi interrompida quando Jayminho surgiu, ainda com carinha de sono.

– Pai, tô com fome!

– Primeiro vai lavar o rosto, meu filho, depois vem tomar café! – Niko pediu: - Ah, Jayminho vê se seu irmão tá acordado e me avisa!

Jayminho foi ver e gritou de lá do quarto de Fabrício: - Tá acordado sim!

– É ele avisou pra todo mundo ouvir! Félix, pode ir dar a mamadeira do Fabrício enquanto eu acabo de preparar o café?!

– Claro que vou né Niko! Você foi dar folga para a Adriana justo agora!

– Ah Félix, coitada, ela merecia passar o fim de ano com os parentes dela!

– Eu sei... Eu vou até porque o Fabrício se diverte mais comigo do que com você! – Falou então em tom malicioso. – Você que não quer mais se divertir comigo!

Félix deu um tapinha na bunda de Niko antes de sair da cozinha. Niko apenas balançou a cabeça com um sorrisinho.

Após dar a mamadeira para Fabrício, Félix ficou brincando com ele, trocou a fralda, a roupinha e desceu com ele. Niko já estava acabando de pôr a mesa e Félix, com o menino nos braços, começou a falar provocando Niko.

– Pelo menos o carneirinho bebê gosta de ficar com o Félix aqui não é... – Conversava com Fabrício. – Olha como sorri para mim... O carneirinho bebê ama o papai Félix... Já o papai carneirão está evitando o papai Félix...

Niko sorria olhando para eles. – Ah, Félix... Deixa disso, você sabe que não pode... E já chega de falar nisso que o Jayminho já vem! Ah, será que hoje seu pai vai querer tomar café aqui na mesa?!

Félix ficou sério. – Provavelmente não, nem vou perguntar! Ele está mais manso, mas continua com o gênio de sempre, sabe como ele é! Eu vou ver se ele quer o café agora e venho buscar tá?!

Félix colocou Fabrício na cadeirinha de bebê e foi para o quarto do pai.

– Pai, dormiu bem?!

– Na medida do possível...

– Você já está sentado na cama, isso é bom!

– Eu melhorei muito minha coordenação motora nesses últimos tempos! A fisioterapia me ajuda bastante! E eu sempre tive muita força de vontade!

– Isso é! Pai... Porque a janela está aberta?!

César ficou calado.

...

Horas antes, César já havia acordado. Ele acordou muito cedo e se apoiou para ficar sentado na cama. Ele já conseguia até mesmo ir da cama para a cadeira de rodas, encostada ao lado da cama. Ele fez isso. A cadeira era uma nova, motorizada, que Paloma o havia dado de presente de natal. Facilitaria muito a vida de César que, já que tinha melhorado os movimentos da mão esquerda, podia ter mais liberdade para ir para onde quisesse com a cadeira sem precisar de ninguém empurrando. Naquela manhã, César foi na cadeira até a janela e a abriu para ver o nascer do sol.

Mas, quando Félix chegou, César já estava na cama, com a cadeira encostada ao lado e, a janela ainda aberta. Félix estranhou, pois, ele mesmo havia fechado a janela à noite.

...

– Pai... Porque a janela está aberta?!

– Eu... Não sei! Você deve não ter fechado direito ontem!

Félix ficou desconfiado. Ele havia fechado muito bem. Mas, quem mais teria aberto? Ele só pôde aceitar.

– É... Talvez eu não tenha fechado direito... Ah, pai, você quer que eu traga o café agora?!

Outra vez, César ficou calado.

...

Enquanto olhava o nascer do sol difuso pela sua visão que pouco havia melhorado durante esse tempo, César pensava. Pensava em tudo que acontecia naquela casa. Nas pessoas que lá viviam. Lembranças longínquas vieram a sua mente. Ele lembrou quando ele e Pilar eram jovens, poucos anos de casados. Tinham apenas um filho: Cristiano, que era muito pequeno. O casal havia acabado de adquirir aquela casa em Angra dos Reis. Como eles já haviam brigado na época pela desconfiança de Pilar de que César poderia estar se encontrando com outra mulher, César decidiu levá-la para aquela casa. Lá eles passaram momentos inesquecíveis, de muito amor, muita paixão. Então, César lembrou que agora, quem vivia feliz naquela casa era Félix, o filho que ele tanto desprezou. E o destino tinha acertado em levar Félix para aquela casa...

...

– Pai, pai, vai querer o café agora ou não?!

– Hã... Sim, sim, Félix!

– Você está bem, pai?! Está tão distraído!

– Não... Não é nada! Traga esse café de uma vez!

Félix foi buscar o café de César na cozinha.

Na mesa, Niko tomava o café brincando com os filhos, Félix preparou o café do pai numa bandeja e foi saindo.

– Já vai levar o café do seu pai?

– Vou carneirinho! Sabe, achei o papi tão estranho hoje...

– Mas, ele está se sentindo bem?

– Acho que sim, carneirinho! Ele quase não falou comigo... Como sempre... Mas, ele estava tão distraído, com o pensamento longe...

– Será que ele está incomodado em ficar aqui? Ele não te disse que já tinha se acostumado com a casa de repouso?!

– Sim, ele disse que até gostava, da fisioterapia principalmente, mas, não sei... Enfim, vou levar o café para ele e depois venho tomar o meu...

– Não precisa mais trazer, Félix!

Eles ouviram a voz de César, e quando Félix se virou quase derrubou a bandeja que levava. César estava vindo em sua direção, na cadeira de rodas motorizada.

– Nunca gostei de café da manhã no quarto! Posso comer na mesa... Se tiver lugar, claro!

Todos se surpreenderam. Niko se pronunciou: - Claro, claro que tem lugar, senhor César! – Ele levantou, afastando as cadeiras de Jayminho e de Fabrício mais para perto dele e deixando um espaço na mesa para César.

Félix colocou a bandeja com o café na mesa no espaço que Niko havia aberto, olhou surpreso para Niko, e foi dar um abraço no pai.

– Papi, que bom que você já consegue ir para a cadeira sozinho... Eu não sabia...

– Tem muita coisa que você não sabe, Félix! Chega de me abraçar, vamos comer logo!

– Tá, tá pai, vem... – Félix foi instintivamente empurrar a cadeira e César reclamou: - Você não viu que eu vim só, vou só até ali, ora!

César posicionou a cadeira. Quando ia começar a comer, notou os olhares para ele.

– O que estão olhando? Não estão com fome? Pois, eu estou!

Félix e Niko se olharam outra vez. Nenhuma palavra era dita naquela mesa até que o curioso Jayminho perguntou:

– O senhor é mesmo o pai do meu pai?!

Todos olharam com medo de que César dissesse alguma grosseria com o menino. Mas, sério, ele respondeu:

– Se está falando do Félix, menino, sim, sou o pai dele!

– Então, o senhor é meu avô?

– Não... Não gosto de ser chamado de avô!

– Porque o senhor não gosta do papai Félix?!

Félix tossiu na hora.

César surpreendeu ao dizer: - Quem disse que eu não gosto?!

Félix tossiu mais, mas agora havia se engasgado mesmo com o que o pai disse.

Niko pediu para o menino: - Jayminho, meu filho, não incomoda o seu César... Porque você não termina seu café lá na sala?!

César interrompeu: - Não é bom para as crianças deixar que elas comam na sala! Atrapalha a postura e a educação!

Félix já havia parado de tossir e olhou para Niko que também olhou para ele, ambos sem saberem o que dizer. Ainda estavam tomados pelo susto, afinal, era uma das primeiras vezes que César falava com Niko, assim, de espontânea vontade. César continuou comendo, até que Félix recobrou as palavras.

– P-pai... Você está bem mesmo?!

– Já disse... Na medida do possível!

Todos permaneceram calados e um tanto incrédulos. Jayminho acabou.

– Acabei pai! Posso ir lá pra fora?!

Niko respondeu: - Pode meu filho! Vai lá! Cuidado com a piscina, viu!

Félix notou que seu pai levantou a cabeça quando Niko falou sobre a piscina e ficou olhando para Jayminho enquanto o menino saía correndo para o jardim. Depois, Fabrício derrubou o resto de um pedaço de fruta que comia com gosto. O pequeno estendeu os bracinhos para avisar ao pai. Niko viu e disse carinhosamente:

– Ah, meu filho, caiu... Papai pega outro! - Niko levantou-se e foi cortar outro pedaço de fruta para o filho. Félix continuava observando o pai que olhava, agora, para Fabrício.

Niko voltou com outros pedacinhos de frutas para o filho. O menino gostava muito e comia com a ajuda do pai. Niko até esqueceu por um momento que quem estava sentado à mesa era César e comentou num impulso: - O Fabrício adora fruta, mas sempre deixa cair os pedaços!

Ele se calou quando lembrou que César não o responderia. Mas, ambos se surpreenderam de novo, quando o papi soberano falou:

– O Félix sempre deixava a comida cair!

Os dois ficaram olhando para César. Niko, emotivo, não pôde evitar que seus olhos se enchessem de lágrimas. Ele, sempre otimista, quis saber mais.

– E o Félix sujava muito a casa?

Félix segurou no braço de Niko para que ele não falasse mais nada. Ele tinha medo de que o pai respondesse algo que magoasse seu companheiro. Mas, César comentou depois de um tempo:

– Sim! Sujava... O Félix sempre foi um bagunceiro! – César pegou o guardanapo e limpou a boca. Imediatamente, começou a manobrar a cadeira, saindo dali. – Vou para o quarto!

Félix não conseguia falar nada. César havia tido uma conversa com Niko?! Assim, sério, mas, sem grosserias?! Félix, simplesmente, não entendia o que estava acontecendo com o pai. Niko, por outro lado, ficou radiante. Aquelas poucas palavras eram a primeira conversa que ele tinha com o sogro. Para ele isso era uma esperança de que César, finalmente, aceitaria os dois.

Félix terminou imediatamente seu café e foi para o quarto do pai.

– Pai... – Félix não sabia como lhe perguntar o que estava acontecendo com ele. – Pai... Você... O que você... – Félix suspirou. – Pai, eu não estou entendendo nada!

De costas para Félix, olhando pela janela, César perguntou:

– O que você não entende?

Félix entrou no quarto, deixando a porta aberta, sentou-se na cama.

– Pai, porque hoje você resolveu ir comer na mesa? E até falou com o Niko...

César, olhando para a janela, lembrava...

...

– Félix, meu filho, você derrubou tudo... Deixa que a mamãe pega outro! – Falava Pilar para o bebê de cabelos negros sentado na cadeirinha ao seu lado.

– Você vai mimar demais esse menino, Pilar! – Reclamava César na ponta da mesa.

– Que mimar o que César?! Ele é muito pequeno e ainda derruba a comida! Eu tenho que dedicar todos os meus cuidados e meu carinho para o meu filho! Você sabe muito bem que preciso fazer isso para me sentir bem!

– Eu sei disso... – Pilar saiu da mesa de jantar até a cozinha para pegar outra comidinha para o bebê e César continuou com um tom de voz baixo: - Mas, um filho não substitui a perda do outro!

...

– Pai, não vai me responder?! – Perguntou Félix.

César, acordando de suas lembranças, respondeu:

– O que você quer que eu diga Félix?! Tenho direito de tomar o café da manhã onde eu quiser não?!

– Claro que tem pai, mas... Eu não entendo porque decidiu isso assim...

– Esse quarto...

– Pai, se não gostou do quarto era só ter dito, eu arrumaria o outro quarto de hóspedes pra você...

– Lembro-me que, eu gostava de trazer a Pilar a esse quarto! A janela é maior que as outras, dá para ver o mar, o sol...

– Então, é isso?! Você não gosta desse quarto porque tem recordações com a mami?!

– Recordações... As recordações, muitas vezes, estão mais vivas do que se imagina!

– O que quer dizer, doutor César?!

Quando Félix o chamou assim, César teve mais uma lembrança.

...

– O que quer dizer, doutor César?! – Perguntava Pilar, em tom malicioso, sorrindo para o marido que a deitava na cama do quarto de hóspedes.

– Quero dizer, meu amor, que quero ficar com você aqui, agora, agora mesmo, nesse instante... – Dizia César beijando a esposa.

– Eu te amo tanto, César... – Dizia Pilar se entregando aos beijos e carícias do marido.

...

– Papi... Não aguento quando você fica assim pensativo...

– Félix... - César suspirou profundamente e falou: - Foi nesta casa que você foi gerado!

Félix arregalou os olhos, ele nunca soube disso. César continuou:

– Foi neste quarto... Eu e a Pilar ficávamos aqui olhando o céu estrelado, o mar, por essa janela... Algum tempo depois, menos de dois meses, ela descobriu que estava grávida de você!

Félix titubeou para falar alguma coisa, mas acabou perguntando:

– Por... Por que nunca me disseram isso?

– Não tinha pra quê!

– E... E como... Como você recebeu a notícia da gravidez, pai?!

– Foi o segundo dia mais feliz da minha vida! O primeiro foi quando eu soube que ela estava grávida do Cristiano!

Félix levou as mãos ao rosto e começou a chorar. Estava surpreso por o pai ter dito que saber que ele viria ao mundo fora o segundo dia mais feliz de sua vida, mas, o dia realmente mais feliz fora quando soube do primeiro filho.

César continuou:

– Só que, depois, ela teve uma gravidez difícil... A sua! Você sempre foi problemático! Depois... Veio aquela tragédia...

– Você ainda me acha culpado pela morte do Cristiano, pai?! – Félix perguntava confuso.

– Você derrubava a comida igual esse bebê desse seu sei lá o quê, companheiro, e eu ficava com raiva daquilo porque a Pilar sempre ia lá e parava tudo pra dar atenção a você! Ela só te defendia, sempre fazia todas as suas vontades, achando que você poderia substituir o Cristiano! Você é você, ele era ele...

– E você ainda me acha culpado pela morte dele ou não?!

– Félix, se acontecesse algum acidente com aquele garoto, o maiorzinho, Jayme, não é?...

– Sim, é Jayminho...

– ... E se o menor estivesse por perto... Se acontecesse algo e o menor estivesse perto, o que você acharia?!

– Eu... Eu acharia pai... - Félix ganhou confiança na hora. - Não, eu SABERIA que o Fabrício não teria feito nada para prejudicar o irmão e eu CONFIARIA no MEU filho!

– Seu?

– É! Aqueles dois meninos são meus filhos e do Niko!

– Que seja... Mas, eu nunca confiei em você, Félix! A Pilar conseguiu passar tudo que ela sentia pelo Cristiano para você, mas eu... Eu sentia tanto pelo Cristiano que nunca consegui sentir o mesmo por você!

– Você... Você está dizendo que nunca me amou, porque amava o Cristiano demais?! - Perguntou soluçando.

– Estou dizendo que, ao contrário da Pilar, eu nunca quis que você substituísse o Cristiano! Eu queria que fosse você mesmo, meu segundo filho... Só não gosto do que você se tornou! Só isso! Mas, não queria que você fosse o segundo Cristiano, só queria que fosse o Félix...

– Eu sei pai, que você nunca vai me aceitar do jeito que eu sou... Mas, ninguém pode mudar ninguém, só a própria pessoa se muda, se transforma... Foi o que, com muito esforço, eu fiz... Depois de passar por muita coisa que eu jamais imaginei que passaria na vida... Eu dormi numa pensão cheia de insetos, eu vendi hot-dog com uma flor na cabeça, eu comi hot-dog no café, no almoço e na janta, porque não tinha outra coisa... Eu apanhei... Mas, eu aprendi muito com tudo isso pai! E, sabe o que me faz rir quando eu lembro pela dificuldade que eu passei? O que me faz rir é saber que eu passei tudo isso porque eu mereci... Eu fiz muito mal e mereci levar uma surra da vida pra aprender a viver... E hoje, pai, mesmo que você não me entenda, eu sou feliz, sou imensamente feliz vivendo com o Niko e com os meus filhos, porque eu os amo!

Félix chorava sem parar, mas sentia sua alma se elevar depois de dizer tudo isso para o pai.

César voltou a virar sua cadeira para a janela e viu Niko correndo atrás de Jayminho no jardim, com Fabrício no colo. Ele brincava com os dois. Davam risadas, estavam felizes. César teve uma última lembrança.

...

– Pilar, não corre assim com esses meninos, você pode se machucar... O Félix ainda é muito novinho... - Gritava César da janela.

– Mas, César, eu estou bem! Só estamos brincando, não é Cristiano?!

– É mesmo Cristiano?! Já está brincando com seu irmãozinho?!

– Tô... Tô brincando com o Félix, papai...

– É que você gosta do seu irmão, não é, meu filho? - Perguntou Pilar.

– Eu amo o Félix, mamãe!

...

Félix se aproximou do pai, quando percebeu que o mesmo chorava e observava Niko correndo com os meninos lá fora.

– Pai...

– Eu te amava, meu filho!

Félix ficou surpreso com a declaração repentina do pai.

– Eu te amava tanto quanto amava seu irmão... Mas, quando ele morreu, eu não consegui mais...

Félix segurou a mão direita do pai com força.

– Você pode não sentir... Não pode apertar minha mão tanto quanto estou apertando a sua... Mas, eu já disse... Eu te amo, pai!

– Seu irmão... Também te amava, Félix!

Félix chorou mais uma vez. – Mesmo, mesmo sem me lembrar dele pai, eu... Eu sei que, se o Cristiano fosse vivo, nós seríamos grandes amigos!

– Seriam... Nossa vida seria completamente diferente! - Após um suspiro profundo, César perguntou: - Félix, você seria capaz de pôr a mão no fogo por aqueles meninos?!

Félix olhou para Niko e os filhos pela janela e respondeu com convicção: - E eu me jogaria de corpo inteiro numa fogueira se fosse preciso!

Félix respondeu tão categoricamente, que César só pôde pedir:

– Me deixe sozinho, agora! Quero voltar a dormir...

Antes de sair do quarto, Félix ainda ouviu seu pai dizer-lhe:

– Félix... Quero que saiba que... Eu estou feliz por você ter nascido! Depois de amanhã começa um ano novo, mas você já tem uma vida nova! Não a desperdice como eu fiz!

Félix, depois de ouvir aquelas palavras, saiu do quarto, com as pernas trêmulas. Confuso. Chorando, mas, sorrindo. Ele não sabia como nem porque, mas, sentia um conforto enorme. Uma paz, como sentiu na primeira vez que seu pai disse que o amava e o chamou de filho. Ele estava triste, mas, ao mesmo tempo, feliz. Ele e o pai haviam desabafado sobre o que sentiam. Ele se sentia pleno, pronto para começar um novo ano, realmente novo.

____

No dia seguinte...

Já passava das quatro da tarde, quando a família começou a chegar. No natal, todos haviam combinado de passar o réveillon na praia. Niko já havia preparado várias delícias para a noite. Ele estava na cozinha quando sentiu Félix envolver sua cintura num abraço.

– Oi?! Já deixei o Fabrício arrumadinho no berço, o Jayminho tomando banho, o papi tá lá no quarto dele, e nós estamos sozinhos na cozinha...

– Que bom Félix... Então, me ajuda a terminar esses salgadinhos...

– Que salgadinhos o quê Niko?! – Félix já ficou com a voz alterada. – Será que eu pichei os hieróglifos para você nem dar bola... Não vê que eu tenho segundas intenções...

– Eu sei muito bem suas intenções Félix! Ontem à noite, depois que você me contou sobre sua conversa com seu pai você ficou todo dengoso, tentando me agarrar, mas não é assim não!

– Como não? É assim sim! Nós somos casados, tenho meus direitos...

– Ah ah... Mas, você passou por uma cirurgia moço...

– Carneirinho, já faz mais de duas semanas... Eu estou bem!

– Hum Hum... Só vou acreditar quando o doutor Lutero disser que você pode!

– Não acredito! Eu acho que fiz saltos ornamentais no dilúvio pra ouvir uma coisa dessas! Eu vou ter que perguntar para o Lutero se já posso ter alguma coisa com você?!

Mais tarde...

– Vovô Lutero!

– Félix, quando você vem assim, você quer alguma coisa!

– Você me conhece tão bem... Quero perguntar uma coisa sobre minha cirurgia!

– Pergunte!

– Bem, é que, eu sei que tem um período de recuperação, mas sei também que não foi uma coisa tão grave assim, então, quanto tempo preciso esperar para, como dizer, é, fazer esforço repetitivo?!

– Esforço repetitivo?! Você nunca foi de fazer exercícios... Bom, seja pelo que for não é recomendado...

– Tá, tá Lutero... Esforço repetitivo não, mas, e, tipo, carregar peso?!

– Carregar peso?! Pra quê você vai carregar peso, Félix?! Do que você está falando exatamente?!

– Ah, eu devo ter podado os ramos de oliveira pra... Enfim, pra ver se você entende... O Niko é bem pesadinho sabe...

– Hein?! Ah... É isso que você quer saber... Sempre foi tão direto Félix, porque não falou logo?!

– Porque não vou ficar aqui lhe confidenciando minhas intimidades, velho gagá, por favor, vai me responder ou não?!

– Hum... Não! Só porque você me chamou de velho gagá!

– Mas... Mas... Lutero volta aqui!

Lutero se misturou ao resto da família que festejavam no jardim. Niko ia saindo e Félix o segurou.

– Carneirinho... Eu já perguntei ao Lutero, ele disse... Que eu estou totalmente recuperado, posso até dar cambalhotas! - Disfarçou.

– Awn, sério amor?! – Félix confirmou com a cabeça e Niko continuou: - Deixa de ser mentiroso, Félix, eu já falei com o Lutero tá! E eu sei muito bem o que você já pode e o que não pode fazer!

– Ah carneirinho, será que eu vou acabar o ano assim?!

Niko se misturou ao resto da família no jardim. Félix ficou sentado na varanda, com os braços cruzados. Ele olhava para Niko e nem notou César vindo com a cadeira de rodas.

– No que está pensando, Félix?

– Ah papi, teve essa cirurgia, e agora eu tô aqui nessa recuperação sem fim, e... - Se tocou que estava falando demais. - Deixa, deixa pra lá, eu não vou te contar certas coisas, até porque o senhor não quer saber...

– Você nunca foi de meias palavras, Félix... Também não era burro!

– Burro?!

– Burro! Por acaso, não sabe que uma cirurgia como a que você fez, não leva mais que poucos dias para recuperar completamente?! Você já pode fazer qualquer coisa que quiser!

Félix ficou desconfiado. – Pai... Você ouviu alguma coisa?!

– Não sei se você lembra que quando eu fiquei cego eu fiquei com os outros sentidos bem mais apurados! Minha visão continua ruim, mas minha audição é ótima, Félix! E eu já te disse, não desperdice sua vida, aproveite!

Félix ficou pensando no que o pai lhe disse. Não era só impressão, César, indiretamente, havia lhe dado um conselho. Dito o que Félix queria ouvir. Foi quando Paloma foi onde estavam e levou o pai para o jardim, dizendo que todos já iam para a praia. Passariam os últimos minutos do ano à beira-mar.

Foram.

Minutos depois...

– Um minuto... – Félix olhou no relógio. Agarrou o braço de Niko e o puxou em direção a casa.

– Félix, pra onde a gente vai? Não vai ver a queima de fogos?

– Ah, eu vou ver fogos, carneirinho, vou sim...

Na praia, todos começam a contagem regressiva...

Cinco...

A porta do quarto se fecha...

Quatro...

As roupas vão ao chão...

Três...

Félix e Niko caem na cama...

Dois...

Trocam beijos quentes...

Um...

Na praia, todos se abraçam compartilhando o clima de confraternização. Os casais se beijam aproveitando o momento e as crianças ficam maravilhadas com os fogos estourando no céu e refletindo no mar.

Da janela do quarto, Félix e Niko, abraçados e ofegantes, contemplam o visual dos fogos no céu.

– Temos que voltar para a praia, Félix... Vou dar por nossa falta...

– Só queria realizar meu desejo de Ano Novo, carneirinho!

– Eu adorei... Mas, vamos antes que procurem por nós...

– Ah... Só mais um pouquinho... – Félix sorriu pedindo o que pedia a seu carneirinho todos os dias. – Pelo meu desejo de Ano Novo!

– Félix... O Ano Novo só tem poucos minutos, acabou de começar... Nós temos a vida inteira para ficar mais um pouquinho!

Eles trocaram mais alguns beijos e carícias, mas conseguiram se recompor para voltar para a praia e brindar o novo ano ao lado das pessoas que amavam.

Os fogos cessaram revelando um céu lindamente estrelado.

Aqueles dias jamais esquecerão. E aquela noite, especialmente, também se tornou inesquecível.


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Notas finais do capítulo

Bem, não sei o que dizer... Comentem, por favor!



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