Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 27
O Primeiro Dia de Nossas Vidas -- parte 1


Notas iniciais do capítulo

“O amor é o sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função do amor é levar o ser humano à perfeição. _ Aristóteles.”

Os pensamentos de dois apaixonados se misturam em uma ocasião inesquecivelmente especial!



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Depois daquela fatídica conversa com meu pai, tudo que senti foi um aperto profundo e angustiante no peito. Se não saísse dali, com certeza, eu teria infartado. Eu estava carente, precisava de colo, de carinho, afeto, compreensão... Amor... Eu precisava muito de amor... E o que mais me doía era saber que, apesar dos meus esforços, o doutor César não me amava; apesar de eu ser seu filho, ele não me amava, mas, ele ainda amava aquela mulher que tinha lhe feito tanto mal! Como pode?! Não eram só seus olhos que estavam cegos, mas, sua alma! Saber disso, ouvir isso dele próprio, me partia o coração como se fosse um pedaço de carne sendo dilacerado. Ah, como doía... Nem o colo de mami seria suficiente para confortar minha dor, até porque, aquela situação também a afetava. Eu precisava de outro alguém... Outro alguém que era o único capaz de me trazer paz.

Lembrei-me daquele convite que ele me fez e que eu não quis aceitar de imediato. Medo? Não sei... Me sentir indigno dele? Talvez... Só tive certeza que ele era o que eu mais precisava naquele momento.

– Oi... Niko, é... Eu ainda tô muito mal, mas, eu queria saber... Aquele jantar ainda tá de pé?

Falei ouvindo minha própria voz embargada, até um tanto envergonhada de estar ligando para ele para pedir para jantar em sua casa... Que bobo que estava sendo! Mas, não me importava, pois, eu só queria estar ao seu lado. Eu apertava o peito com a mão como se pudesse assim conter a dor que parecia que ia explodir meu coração. Se o carneirinho não quisesse mais jantar comigo, acho que meu coração não aguentaria...

–--

Senti um arrepio quando o meu celular tocou e eu vi que era ele. Não foi um arrepio de espanto, muito longe disso, foi um arrepio extremamente bom, de surpresa, alegria, euforia...

Peguei o telefone como se ele fosse uma barra de chocolate e eu o chocólatra! Atendi! E que voz doce! Nem parecia a mesma voz tantas vezes ácida do Félix que eu conhecia... Parecia mais a voz do Félix que eu REALMENTE conhecia e que existia em minha imaginação... Um homem bom e doce que permeava meus sonhos... Que em mim semeava novos sentimentos...

Não acredito! Ele está mesmo se convidando para jantar aqui?!

– Claro Félix, claro... Olha, vem sim tá! Vem sim, que eu faço um jantar super especial pra nós dois!

Era tudo que eu mais queria! O meu “super especial” saiu como um “super romântico”, “super lindo”, “super maravilhoso”, “super SÓ pra nós dois”... NÓS DOIS... Como era bom dizer, pensar, ouvir, sonhar isso!

Ainda tive fôlego para dizer... – Vem a hora que você puder... – Mas, eu queria que ele viesse o mais rápido possível... Ou, melhor, que ele já estivesse aqui...

Ao desligar, tomei a única atitude que minha ansiedade pedia: gritei para Adriana para pedir para ela cuidar dos meus filhos por aquela noite... Eu não sei por que, mas, senti que, aquela noite seria só minha e do Félix! Mesmo que não fosse nada mais que um jantar...

Se bem que, depois de eu saber que ele havia dispensado o Anjinho e eu ter deixado claro para o Eron que entre nós jamais haveria volta, minha esperança dizia que tudo podia acontecer entre mim e Félix. Eu já havia deixado claro diversas vezes que gostava dele, e ele... Já tive dúvidas se ele gostava de alguém, mas, lembrei aquela noite em que ele tocou daquele jeito no meu braço e disse que queria que eu fosse feliz, então, eu sorri com a certeza: apesar do ciúme que senti do tal Anjinho, Félix gostava sim de mim! Afinal, ele também sentiu ciúme do Eron cada vez que ele chegava perto de mim! A voz do meu coração me dizia que Félix sentia algo maior por mim... Ele só precisava ter coragem para explicar esse sentimento...

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Ele aceitou o convite em cima da hora... Que bom! Meu coração vai sobreviver mais um pouco! Enfim, o convite inicial foi dele mesmo... Enquanto me arrumava, a figura de Niko aparecia a minha frente, no espelho do meu quarto como uma miragem... E que bela miragem! Vesti uma roupa simples, os terninhos pouco me importavam naquele minuto... Eu queria chegar o mais rápido possível em sua casa... Perfumei-me... E, não sei por que, me deparei pensando nele enquanto perfumava meu corpo... No fundo, eu queria que ele sentisse o meu cheiro... Que chegasse mais perto para saborear o meu perfume... Que... Ah! Chega de pensamentos! Peguei as chaves do carro com pressa e desci...

No caminho para a casa dele, parei num sinal e olhei para uma esquina. Havia uma lojinha fechada com porta de vidro e lá dentro uma senhora arrumava uns vasos com flores, enfeites e buquês. Encostei no meio-fio e bati a porta. A senhora virou-se com o susto, afinal, já era tarde da noite, mas, acho que ela viu nos meus olhos que eu não a faria mal algum. Acho que meus olhos estavam apreensivos e um tanto quanto tristes. Ela fez um sinal como que perguntando o que eu queria, respondi com um sinal pedindo para que ela abrisse a porta. Ela apontou para uma plaquinha que dizia “fechado”. Acho que minha expressão foi como a de uma criança decepcionada por não a terem deixado comer um doce. Ela notou, sorriu e abriu meia porta.

– O que você quer rapaz?

– É... Eu queria comprar flores... Desculpa a hora...

– Deve ser para alguém especial para vir a uma hora dessas, meu filho! Eu estou só arrumando a lojinha, só vai abrir amanhã...

– Por favor... É para alguém muito especial mesmo para mim! Tem que ser agora!

Acho que a senhora ouviu minha voz como um pedido carente. Deixou-me entrar e escolher um dos belos arranjos de flores. Olhei ao redor em dúvida, até que avistei um que me pareceu bem ao estilo do carneirinho. Lindo, exótico, único. Era assim que eu o via... O buquê... E o carneirinho também! Paguei e voltei ao carro com o coração ainda dolorido, mas, ao ver meu próprio reflexo no retrovisor eu estava sorrindo! Não entendi o porquê daquele sorriso bobo em minha face... Seria pela simples ansiedade de vê-lo aquela noite?

–--

Quando a campainha tocou o jantar já estava pronto, mal podia esperar... Abri...

– Flores?!

Tamanha foi minha alegria ao abrir aquela porta e me deparar com Félix ali parado com aquele belíssimo buquê, olhando para mim, que quase não consegui pronunciar uma simples palavra.

–--

– Pra você!

Quando o entreguei aquele singelo enfeite, notei que tinha acertado na escolha. Realmente, as flores ficaram lindas nas mãos dele. E o verde dos galhos contrastavam com o verde dos seus olhos.

–--

Demorou um pouco para cair a minha ficha de que ele estava mesmo ali, que havia levado flores para mim...

–--

– Então... Não vai me convidar para entrar?

–--

Félix me acordou daquele transe que ele mesmo havia me deixado. Rapidamente, sorri por ter ficado ali parado com cara de bobo e dei passagem para ele entrar. Ao passar por mim pude ouvi-lo dar um suspiro como se sem querer...

–--

Eu entrei e ao passar por Niko rocei de leve meu braço no dele... Foi sem querer, mas não pude conter um suspiro descuidado...

–--

– É... Vem Félix, o jantar já está pronto, vou por a mesa...

–--

Antes que ele saísse correndo para a cozinha segurei em seu braço...

– Carneirinho, eu... Te agradeço demais!

–--

Eu o senti segurar meu braço me impedindo de ir... Confesso que imaginei num segundo que ele me puxava, se declarava e me beijava, mas foi só minha imaginação... Ele apenas me agradeceu... Mesmo assim, eu estava extremamente satisfeito por ele estar em minha casa...

– Imagina, Félix! Eu... Faria um jantar e muito mais para você...

Minha resposta rendeu alguns segundos de silêncio, até que ele sorriu e soltou meu braço...

–--

– Vai, vai pôr o jantar carneirinho!

Foi tudo que eu consegui falar depois daquela resposta dele... Mas, confesso que, por um segundo, pensei em puxá-lo, dizer o que sentia de uma vez por todas e beijá-lo... Mas, não tinha coragem suficiente para isso.

Enquanto via o carneirinho pra lá e pra cá servindo o jantar eu me perguntava como eu, um Félix que já teve tanta coragem para fazer tantas coisas, quando estava perto daquele homem me transformava em um covarde. Como eu, um homem tão inteligente, quando estava perto do carneirinho me transformava num idiota que não sabia como explicar o que eu mesmo sentia.

Ele acabou bem antes de mim... Eu queria comer devagar para aproveitar mais tempo ao lado do carneirinho e longe do meu pai... Quando ele acabou ficou olhando para mim... Será que queria que eu falasse alguma coisa? Eu até queria falar... Só não sabia bem o quê!

–--

Félix sentou à mesa enquanto eu trazia as coisas da cozinha. Fiz isso mais rápido do que quando tinha que servir no restaurante cheio. Eu tinha pressa e ele parecia mais calmo que nunca. Enfim, servi e sentei também para jantar com ele. O jantar corria silencioso, apenas poucas palavras banais foram trocadas entre nós. E eu, ansioso, acabei bem antes dele. Fiquei o observando comendo. Era incrível como ele gostava de tudo que eu fazia.

–--

Acabei e levantei elogiando tudo que ele fez, como sempre. Porém, apesar de satisfeito, eu continuava triste.

– Eu é que não devo ter sido uma boa companhia!

Eu estava convicto que do jeito que estava eu não era uma boa companhia para ninguém.

Comecei a confessar meus pesares...

– Fui lá buscar meu pai, tirei ele daquela casa horrorosa... Ele e o filhinho dele... Das mãos daquela mulher e, mesmo assim... Até agora... Nenhum gesto, Niko, nenhuma palavra de agradecimento...

Eu sentia que podia falar qualquer coisa, passar horas me lamentando, que o Niko estava lá me ouvindo. Ele continuava tirando a mesa, sem deixar de me dar atenção. Contei o que mais me doía e ele foi para perto de mim...

– Acredita que hoje ele disse que ainda ama a Aline?!

Sua resposta me surpreendeu...

–--

Ele me contava e eu podia sentir o sofrimento em suas palavras. Era muito bom sentir que Félix confiava em mim. Ao se mostrar indignado com os sentimentos do pai, eu apenas disse o que achei conveniente...

– Acredito Félix! Sentimento não tem explicação... A gente não escolhe quem a gente ama! Às vezes a gente tá com uma pessoa que a gente sabe que é a pessoa errada, até mesmo uma bandida, aliás, eu tenho certeza que seu pai sabe que ela é uma bandida... Só que no íntimo ele não quer admitir, por que o sentimento é mais forte! Entendeu?!

–--

Suas palavras me convenciam aos poucos... Eu ainda não entendia muito bem o que era aquele sentimento de que ele falava, aliás, não entendia de jeito nenhum... Por isso, lhe perguntei:

– Como um sentimento pode ser assim tão forte? Cegar a pessoa?!

E ele virou para mim e me olhou nos olhos, fazendo uma pergunta que eu não sabia a resposta.

–--

– Você nunca teve um sentimento assim, Félix?

Respondi sua pergunta com outra pergunta. Talvez fosse algo idiota, mas eu precisava saber! E como estava apreensivo pela resposta!

–--

Pensei... E descobri que não tinha muito que dizer. O carneirinho sabia da minha vida, sabia que eu nunca amei ninguém.

– Não, não dessa maneira, Niko!

Fiquei procurando as palavras, mas ele já sabia de tudo que eu lhe contaria a seguir. Ele só não sabia que no meu “dessa maneira” eu não me referia somente a meu pai, mas a mim também. Eu nunca havia sentido algo DESSA MANEIRA como o que eu sentia quando estava com ele.

–--

Sua resposta acalmou minha apreensão e eu suspirei aliviado e, talvez, esperançoso. Se Félix nunca tinha amado ninguém dessa maneira, eu podia ter o mínimo de esperança de que o primeiro alguém fosse eu! Todo mundo ama uma vez na vida. Com Félix não seria diferente... Então, por que não eu?!

–--

– Sabe, eu achei que eu amava a Edith, mas nunca com essa intensidade...

Continuei... Como ele sempre me fazia rir no final, dessa vez não foi diferente... Ele só disse a verdade!

–--

– Bi... Nem poderia né?!

Eu tinha que falar num tom divertido para quebrar aquele clima pesado e triste que havia no olhar de Félix. Consegui fazê-lo rir, mas, eu mesmo retornei ao clima pesado, pois tinha que saber outra coisa...

– E nem... Nem com aquele Anjinho?

–--

Quando ele me perguntou sobre o Anjinho eu busquei seu olhar. Seu olhar esverdeado me pedia para ser mais sincero do que jamais fui.

– Carneirinho, o Anjinho... Ele foi um oásis na minha vida!

Ele sorriu quando eu disse isso. Eu reconheci aquele tipo de sorriso. Era o mesmo que eu dava quando um plano saía errado. Aquele tipo de sorriso com um suspiro de raiva e conformidade. Ele desviou o olhar... Eu precisava continuar sendo sincero...

– Mas se você me perguntar dele, eu vou pensar só... No corpo dele!

Quase pude ouvir seus dentes trincarem. Ele levantou-se e saiu de perto de mim. Claro que ele não tem o corpo como o do Anjinho, mas, ele era ainda mais bonito! E ele tinha algo que me fazia tão bem... Melhor que nunca... Acho que era algo ao qual nunca dei a devida importância. Era a alma!

–--

Ah! Quando o Félix me falou daquele jeito do Anjinho eu não aguentei em trincar os dentes de raiva, de ciúme. Saí de perto dele por que senão pularia em seu pescoço dizendo: O corpo, o corpo... Grande coisa o corpo daquele Anjinho, se eu vivesse dezesseis horas por dia dentro de uma academia ficaria muito melhor que ele, tá!

Queria que o Félix soubesse que o que eu tinha para ele era algo muito, mas muito mais importante que um corpo bonito... Era minha alma!

–--

– Acho que a gente tá falando de mais do que isso né?!

Aproximei-me dele e quase podia sentir aquilo de que estava prestes a falar: sua alma. A cada passo senti meu coração bater num ritmo de uma música de suspense, enquanto, ao mesmo tempo na minha cabeça passava um filme romântico... Ou seria ao contrário?... Sei lá... Só tive uma certeza naquele momento: era chegada a hora de chamá-lo a olhar nos meus olhos e abrir meu coração de um jeito como jamais fiz.

– Ei! A gente tá falando de alma! Não é?! Sei lá...

Respirei e vi seus olhos fitarem os meus.

– Então essa conversa chega a você... A nós dois!

–--

Ele me chamou tão suavemente. Ouvi. Fitei seus olhos surpreso sem crer no que ele me dizia... Como me dizia. Quase me faltou o ar para perguntar:

– Nós dois?!

Ele tinha falado mesmo NÓS DOIS, ou teria sido fruto da minha imaginação? Não! Era real! Ele estava na minha frente se declarando para mim...

–--

Ele me pediu uma confirmação. Eu engoli seco, já mal conseguia respirar e minhas pernas estavam bambas. Mesmo assim, parecia que o mundo havia parado ao nosso redor naquele instante. Eu lhe dei mais que palavras... Entreguei em suas mãos tudo que guardava no fundo do meu coração.

– Niko... Quando eu penso em você... – As palavras falharam um momento, parecia que meu coração já tocava minhas cordas vocais. – Eu sinto que... Quando eu tenho que chorar, é você quem eu tenho que procurar! Quando eu preciso de alguém, é você quem me acolhe, quem me dá carinho! Quando eu penso em você eu sinto... Ai, uma coisa que, eu não sei, não consigo nem explicar...

Eu me sentia melhor a cada palavra que saía da minha boca e nunca havia sido assim. Naquele instante, porém, éramos só ele e eu... E meu coração falando por mim!

–--

Eu sentia uma emoção imensa a cada palavra. Tudo o que Félix me dizia era tão simples e tão lindo! Sim, era eu quem o acolhia, quem o dava carinho... Quem ele procurava quando precisava de alguém para chorar... Mas, eu seria mais! Eu seria a pessoa que compartilharia com ele todos os momentos bons e ruins da vida se ele quisesse! O que ele sentia por mim e o que eu sentia por ele, não era para ser explicado, era apenas para ser vivido!

– Não tenta explicar não, Félix! – Eu já o havia dito antes, mas tinha que repetir, principalmente depois das coisas maravilhosas que ele me disse. – Sentimento não tem explicação... É assim mesmo... Só existe!

–--

Eu sei carneirinho... Eu sei que esse sentimento eu talvez nunca consiga explicar com palavras... Talvez seja inexplicável... Mas, ele existe! E, já que não podia ser com palavras, eu pretendia demonstrar fosse como fosse!

– Tô aqui dando voltas e voltas... – E continuaria se não tivesse tirado coragem nem sei de onde para continuar. – Posso te fazer uma pergunta?

–--

Nem sei dizer se pensei em algo, mas, fosse qual fosse sua pergunta a resposta seria SIM!

– Claro... Todas as que você quiser!

–--

Respirei! Mas, o ar não veio... Só o desejo de lhe pedir:

– Eu posso dormir aqui hoje?

...


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Notas finais do capítulo

continua...



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