Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 26
Dois Corações


Notas iniciais do capítulo

♡♡ Fic narrada em primeira pessoa na voz de dois corações: o de Félix e o de Niko.
(Trilha sonora: Dois Rios – Skank; Is this love? – Whitesnake; Proud – Heather Small.)
~.~
Antes de Félix se entregar ao amor de Niko, um sentimento maior e inexplicável já habitava em seus corações...
Nunca um toque no braço teve tanto significado...



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Expulso de uma casa, praticamente, expulso da outra... Na verdade, ninguém queria me ver, ninguém queria me ter por perto... – Eu sentia um aperto no peito sempre que pensava nessa verdade. – Quem ia querer depois de tudo que eu fiz?! Até eu não ia me querer... – As lágrimas enchiam meus olhos quando pensava nessa dura verdade. – Quem ia querer falar comigo?... Sim, tem alguém que ainda sente alguma coisa por mim... Não sei nem o quê, mas sente... E que pode me ouvir... Pode me libertar um pouco dessa dor...

Dirigindo até lá... Cheguei! Foi quase que automático afinal, sempre que eu precisava sabia que podia correr para lá! Eu precisava de calor humano, e ele, era a única pessoa que me proporcionava um calor sem igual... Acho que isso se chama afeto... Ou, alguma outra coisa que não sei explicar... Só sei que preciso do seu abraço para sentir esse calor, seus ouvidos para ouvirem minhas súplicas por compreensão, sua voz para me acalmar... Preciso dele! Engraçado... Preciso dele, como nunca precisei de mais ninguém nessa vida! Não entendo porque, mas preciso dele nesse momento! Preciso de você, carneirinho... Será que está em casa?

Bati... Que burro! Por que não toquei a campainha?! Toquei... Pronto! Espero que ele abra! Ouvi passos e esperei que fosse ele... Para me jogar em seus braços pedindo aconchego... Era tudo que eu queria, não sabia por que, mas queria! Mas, não foi ele quem abriu...

– Adriana! Oi, querida! O Niko está? – Contive a decepção por ele não ter aberto a porta e me portei como sempre.

– Não, ele ainda não chegou não seu Félix!

Não sei se ela percebeu, mas minha decepção aumentou, embora eu tenha me comportado o mais indiferente que pude.

– Ah... E será que eu posso esperá-lo, criatura?!

– Claro, seu Félix, entra!

Entrei e me sentei numa poltrona naquela sala escura. Ela ia acender a luz, mas eu pedi para não fazer isso... Disse que queria fazer uma surpresa para quando o carneirinho chegasse... Não deixava de ser verdade, eu realmente fiz... Mas, acho que ficar naquela sala com a luz apagada me dava uma sensação de... Nem sei o quê... Mas, era tão bom... Era como se me sentisse num lar... Não numa casa apenas... Num verdadeiro lar!

Não esperei tanto... Mas o relógio que contava as horas não era o mesmo relógio que contava minha ansiedade para vê-lo... Quando ele vai chegar?

O barulho do carro estacionando interrompeu meus pensamentos e abriu um buraco na minha mente, como um raio de sol que encontra um lugar aberto entre as nuvens para aparecer num dia nublado! Minha cabeça era um dia nublado naquele dia... Já havia sido tempestuoso, com raios e trovões... Mas, agora era apenas um céu nublado... E tudo que eu mais queria era que aquele capaz de trazer o sol para mim chegasse logo!

Fingi que estava lendo uma revista que acabei de pegar na mesinha! Nem sei do que se trata, só peguei e abri numa página qualquer quando o ouvi girando a chave na porta...

– Vem cá, isso são horas de chegar? – Eu tinha que manter a pose para não demonstrar o quanto estava ansioso pela sua chegada.

Ah, mas ele tinha que abrir aquele sorriso lindo e chamar meu nome?! Só sua presença iluminava aquela sala, minha mente, meu dia... Não resisti e sorri na mesma hora, levantando para dar-lhe um abraço e um beijo no rosto... Se bem, que, no meu íntimo, bem que eu queria que aquele beijo não fosse só no rosto...

Expliquei como cheguei e como sempre fiz uma brincadeira...

– ...Não arrombei nenhuma das suas janelas!

Uma piada sempre foi meu modo de afastar as tristezas...

Mas, que homem irresistível! Quando ele me olhou com aqueles olhos verdes lindos, dizendo que estava surpreso, que não havíamos combinado nada... Eu não pude mais ser o engraçado Félix! Eu fui o verdadeiro Félix! Mostrei a minha dor... Revelei que precisava de um pouco de calor humano e ele logo me deu o que eu pedia, me abraçando, me envolvendo naqueles braços quentes... Sentir suas mãos nas minhas costas, me acalentando... Que sensação gostosa! Mesmo assim eu ainda estava tenso, cansado de carregar aquela dor... E ele me levou para sentar... Como ele sabia? Como ele sabia que eu queria sentar ao seu lado, queria que ele me escutasse?... Esse carneirinho deve ter um poder sobrenatural de ler minha mente... Ou... Será que ele vê no mais profundo da minha alma?! Onde nem eu consigo...

Sabia que podia depositar toda a confiança do mundo nele e lhe contei o que mais me doía.

– Sabe Niko, é duro... – Continuar a frase também era duro. – Saber que meu pai não gosta de mim!

Meus olhos estavam novamente tão cheios de lágrimas que já escorriam involuntariamente pelo meu rosto. Ele me olhou com aquele olhar compreensivo, disse que sentia muito... Era a única pessoa que dava espaço para que pudesse me abrir...

Enquanto ele me contava como havia sido com seus pais, como ele havia falado sobre quem era e como havia sido felizmente aceito... Eu me emocionava mais... Era um misto de sentimentos que eu não podia, não conseguia explicar... Estava feliz por ele ter sido feliz... Estava triste, por não ter sido feliz como ele foi...

E eu ainda consegui bancar o bobo fazendo mais uma piadinha... Quando ele disse que seria o terceiro a me expulsar... Nossa! Por um lado, sabia que ele não faria isso, por outro, quase implorei para ele não fazer isso...

Eu sou do tipo que perde o amigo, mas não perde a piada!

E, novamente, ele foi compreensivo comigo como ninguém jamais... Continuou ali, me contando sua história como se eu fosse digno de sua confiança... E, eu me perguntando: Será que sou?

No final da história ele até citou o nome daquela lacraia... Ai, como eu odiei... Ao mesmo tempo, não! Não fazia a menor diferença, por que, naquele momento, o carneirinho estava na minha frente, me falando da vida dele, e até parecia que era todo meu... Ah, como queria que fosse... Como queria que assim fosse, só ele e eu, como estávamos naquele momento... Só que eu me perguntava por quê?! Porque a vontade de estar mais perto dele pulsava dentro de mim?! Que vontade é essa?! Não sei... E me dá aflição não saber...

– Queria tanto que tivesse sido assim comigo... Que tivesse sido aceito assim como eu sou!

Fiquei calado quando ele começou a falar... Falou tão bonito... Uma coisa que bateu no meu coração como um martelo... Mas, não pelo lado que bate enfiando um prego, mas, pelo lado que puxa com força tirando um prego que estava cravado no fundo do meu coração...

Depois, me falou com a voz mais encantadora que eu já ouvi, que muita gente gostava de mim! Ah, eu duvidava! Uma mentira que até pareceu verdade na boca dele... Mas, por mais que eu quisesse que fosse verdade o que ele disse, eu disse a única verdade que eu imaginava...

– Tanta gente não, Niko... Você!

– Eu!

Ele respondeu mesmo isso?! Ele gosta mesmo assim de mim?! Aquela resposta... Aquele silêncio... Aquele toque...

Naquele instante, nem olhei em seus olhos, senti aquele pronome entrar em meus ouvidos, como se ele se entregasse a mim... Não vi mais nada ao meu redor... Minha mão direita estava tocando sua mão... Escorreguei meus dedos em seu punho, sentia cada milímetro daquela pele branca, suave, quente, macia... Seu braço se tornou uma ponte entre nós... Ponte que eu atravessava aos poucos, sentindo sua pele... Os pelos do seu braço se arrepiavam ao meu toque, no entanto, não era visível como cada centímetro do meu corpo estava arrepiado... Eu nunca havia entendido o significado da expressão “borboletas no estômago” até então... Nem sabia o que era sentir o coração quase saindo pela boca, até aquele momento...

Nunca um toque no braço teve tanto significado...

Minha mão voltou tateando aquele braço... Minha vontade, meu instinto, era de puxar aquele braço para que o corpo colado a ele viesse junto, para mais perto de mim, para mim! Então... Quando virei os olhos e avistei aqueles olhos, aquela boca... Meus instintos foram embora... Sobrou uma vontade insana que enchia meus pulmões de vontade de avançar sobre aquela boca, de cobri-la de beijos...

Só que... Eu ainda não entendia por que estava sentindo aquilo... Por que Por que Por que... Isso rondava minha mente... Eu era um homem inteligente que estava confuso em questão de segundos com aquele turbilhão de pensamentos, emoções, sentimentos... Sentimentos... Será que eu os tinha? Mas, quais?!

Expirei retirando todo o ar possível dos pulmões... Já não podia respirar... Apenas o suficiente para lançar algumas palavras que, por hora, me tiraram dali... Antes que eu perdesse a razão de vez olhando para aquele homem a minha frente...

– Acho que vou embora... De São Paulo!

Por que eu tinha que dizer aquilo... Por quê?! Não era o que eu queria... Eu queria ficar ali... Com ele... Embora quisesse também ir embora... Eu queria me matar e viver para ele... Eu, simplesmente, não sabia o que queria...

Aquele olhar confuso que ele lançava para mim me deixava mais confuso ainda...

Uma confusão de palavras veio no momento... Não sabia como explicar... Acho que ele também não sabia o que perguntar... Mas, ele acabou me dizendo uma coisa que apertou meu coração e me doeu como um tapa na cara... Agora eu entendia o porquê da demora em voltar para casa... Um jantar... Um jantar que provavelmente significava alguma coisa para ele ter me dito... Era tudo que eu queria que ele não me dissesse... Aquilo me decepcionou demais... Mas, eu fiquei conformado... Não com o que ele me disse, mas com uma tristeza enorme que se instalara em mim após aquelas palavras, por que eu sentia que essa tristeza eu merecia...

– ... Já viveu tantos anos com aquela lacraia... Eu acho que você tem que ser feliz, Niko...

– Você quer que eu volte a morar com o Eron?

Que pergunta... Claro que não! Eu quero você pra mim... Essa deveria ter sido minha resposta! Mas, eu não me sentia digno, nem em condições de fazer tal pedido! Eu era uma nuvem negra que não poderia pairar nunca sobre aquele sol... Foi esse sentimento que me fez dizer talvez a maior verdade da minha vida...

– Eu quero que você seja feliz! Eu quero muito que você seja feliz!

Era tudo o que eu realmente queria... Que ele fosse imensamente feliz... Fosse com quem fosse... Por que comigo não podia ser... Só que eu queria que fosse comigo... Mas, não podia ser... E eu não sabia dizer por que não... Apenas fiz o que mais queria fazer naquele momento: dar-lhe um abraço apertado, o mais apertado que podia... Sentir o seu corpo colado ao meu... Sentir seu abraço, seus braços, sua respiração... Senti-lo...

Meus olhos procuravam algo para se fixar... Minha cabeça pensava em tanta coisa ao mesmo tempo, que acabava não pensando em nada... Eu só sentia... Ouvia sua respiração... Não sei se ele conseguia sentir as batidas aceleradas do meu coração... Minha respiração já não existia...

Quando o ouvi pronunciar meu nome tão perto de mim senti um calafrio, meu coração gelou... Ele começou a falar quem sabe, quem sabe... Quem sabe o quê... Foi o que eu disse... Antes mesmo de pensar já estava dizendo... Quem sabe?! Nem eu sabia... Quem sabe, uma possibilidade?! De quê?! Nem eu acreditava nas minhas possibilidades...

Comecei a me explicar, falando todas as besteiras que vinham a minha mente... Eu nem percebi que mesmo sem acreditar nas possibilidades, eu já estava recusando uma possibilidade... A possibilidade de ele e eu... De nós dois... Enfim... Nós, não era uma opção... Tudo que eu mais desejava era sua felicidade... E, certamente, a felicidade dele era longe de mim... Eu era nada... Ele era tudo... Tudo para mim!

Foi quando sorriu para mim e me disse que nada do que eu retrucava sem sentido importava... Eu me perguntava: Como ele pode ser assim? Quando tudo parece mais escuro, ele volta a ser sol... Se eu fosse fraco, me jogaria nos braços dele ali mesmo e me deixaria envolver por sua luz... Mas, e depois?! Como eu poderia ficar tranquilo se eu fosse uma nuvem escura a tapar aquele belo sol?! Eu arrumei as mais esfarrapas desculpas para correr dali... Se eu não fosse embora logo, cobriria aquele ser maravilhoso de beijos, de carícias... Havia um desejo quase indomável dentro de mim... Mas, eu já havia aprendido a domar tantas feras dentro de mim, aquilo não seria a exceção... Apesar de que, foi o instinto mais doído de ser controlado...

Eu me levantei sentindo a dor que vinha de dentro da minha alma e transbordava para todo meu corpo... Acho que disse tchau, disse que ia pra casa... Sim, disse tchau repetidas vezes, mas, não para ele, para mim mesmo, para que minha mente se convencesse que era melhor ir... Embora meu corpo e minha alma quisessem ficar...

Não conseguia dizer mais nenhuma palavra... Todas davam nós na garganta... Se eu saísse sem saciar aquela vontade louca de beijá-lo eu enlouqueceria... Então, fiz o máximo que podia... Vendo-o de costas para mim, segurei em seus ombros, me abaixei, e lhe dei um beijo na cabeça, sentindo o perfume daqueles cabelos loiros... Aquele perfume inebriante... Eu poderia ficar para sempre... Mas, tinha que ir... Ajeitei sua camisa em seus ombros... Era o mínimo de cuidado para com ele que podia ter naquele momento, apesar de que queria ficar cuidando daquele carneirinho pelo resto dos meus dias...

Caminhei até a porta, ainda olhei para trás... Por que fui olhar?! Ele não olhou e aquilo me doeu ainda mais... Eu senti, acho que pela primeira vez na vida, uma pontinha de esperança... Esperança de que ele me impedisse de ir embora, me pedisse para voltar, gritasse o que sente por mim... Mas, só obtive o silêncio... Aquele silêncio ensurdecedor... Eu não ouvia mais nada, não enxergava mais nada... Só bati a porta sem olhar de novo para trás, senão não aguentaria...

Entrei no carro e fiz um caminho automático para a casa de mami! Se não fosse um caminho que já fiz tantas vezes, me perderia... Pois, dentro de mim, eu já estava perdido...

Cheguei! Ainda bem que não tinha ninguém para me interromper pelo caminho... E, se tinha, eu não vi, nem ouvi... Subi as escadas, entrei no quarto, fazia tudo automaticamente... Mas, me sentei, e fiz algo que nunca havia feito... ... ...Comecei a pensar com o coração!

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Depois daquele jantar, tudo que eu queria era voltar para casa e para meus filhos... Só assim eu tinha paz... Meus filhos já estavam dormindo àquela hora, mas vê-los me faria feliz... Se bem que, ver outra pessoa também me faria feliz... E, tamanha foi minha surpresa quando, justamente, essa pessoa estava em minha casa me esperando...

Quando ouvi sua voz meu coração disparou... Não tive outra reação além de sorrir e depois perguntar o que ele fazia ali... Na verdade, pouco importa se a gente não combinou nada, o importante é que ele está aqui!

Mesmo vendo que ele estava mal, me senti bem quando ele disse que precisava de calor humano... Ele me procurou para receber esse calor, pensei! E como isso me fazia bem, apesar de que me deixava triste vê-lo assim... Que mais podia fazer além de abraça-lo, acalentá-lo, ouvi-lo e tentar afagar um pouco suas tristezas com todo meu carinho?!... Todo carinho e algo mais que já sentia por ele...

Mesmo tendo chegado cansado eu ficaria a noite inteira a ouvi-lo... Eu sentia alguma coisa mais forte por ele, eu não tinha certeza se já era amor... Mas, eu provaria que aquele sentimento maior existia de todo coração se ele me pedisse...

Mas, eu notei que ele precisava mesmo era de colo, de um ombro amigo para chorar, de braços para abraçá-lo, de ouvidos para compreendê-lo. Levei-o ao sofá e mostrei que ele podia me contar o que fosse, que podia confiar em mim. Então, ele me disse o motivo da dor que estava estampada em seu rosto...

– Sabe Niko, é duro... – Ele deu uma pausa. – Saber que meu pai não gosta de mim!

Eu percebi que aquela pausa foi por que lhe doía expressar essa realidade.

Ele me fez uma pergunta tão fofa... Eu respondi... Contei minha história... Mas, eu podia ver que a cada palavra minha ele dava um meio sorriso e uma lágrima mais minava em seus olhos... Senti pena por ele não ter sido aceito como eu fui... Senti compaixão, pois ele queria ter sido feliz como eu fui... Ah, Félix... Se você soubesse como eu tenho vontade de te dar essa felicidade agora...

Ele estava tão triste na minha frente... Eu queria ser o sol para iluminar o caminho daquele homem, para que ele finalmente encontrasse luz para viver... Viver verdadeiramente... Por que, até então, Félix não tinha vivido, ele apenas existia...

Quando ele me disse o que sentia... Que queria que tivesse sido aceito como é... Foi tão sincero... Eu só podia dizer-lhe a frase mais sincera que veio a minha mente... Sinceramente, acho que acabei dizendo o que ele precisava ouvir...

– A gente não pode mudar o passado... Mas, a gente pode impedir que o nosso passado prejudique o nosso presente... E o nosso futuro! Você nunca vai ser feliz se você ficar aprisionado ao seu passado...

Ele me olhava com aquela expressão de quem precisava de cuidado, de carinho, de proteção... E foi aí que eu falei o que veio, não a minha mente, mas, ao meu coração...

– Tem tanta gente que gosta de você!

Nem sei explicar o que senti, quando ele me descobriu através daquela frase...

– Tanta gente não, Niko... Você!

– Eu!

Respondi de imediato... O ar me faltava... Com um pronome eu me declarei... Queria falar mais, mas, aquele toque no meu braço, que começou sutil e foi se intensificando, me tirou todas as palavras, todos os pensamentos, todo o fôlego... Ele não podia ver como não era só meu braço, mas, meu corpo inteiro que se arrepiava com aquele simples toque...

Nunca um toque no braço teve tanto significado...

Eu olhava em seus olhos tentando enxergar através deles o que ele poderia estar sentindo naquele instante... Será que sentia o mesmo que eu? Será que sentia a mesma vontade que eu tinha de beijá-lo e fazer com que o mundo parasse naquele minuto?!... Eu vi que ele se perdeu por um momento... Por que ele não se perdia de uma vez por todas nos meus braços?!... Por quê?...

Foi quando, então, ele me destruiu por dentro, lançando uma parede invisível entre nós... Como assim ir embora?! Não, ele não pode ir embora... Eu não quero que ele vá... Não vai Félix, fica comigo, por favor!... Eu deveria ter dito isso, deveria ter gritado... Eu teria me ajoelhado, pedido, implorado... Mas, fiquei estático... E me arrependi por isso...

Ele disse um monte de coisas que eu não entendia muito bem, que queria recomeçar a vida em outro lugar, que achava melhor... Melhor?! O melhor seria se ele ficasse comigo! Mas, parecia que ele não sentia o mesmo que eu... Não podia ser... Ele sente algo, eu sei... Eu tinha que falar alguma coisa, qualquer coisa...

– Eu... – Eu te quero... Eu te amo... Acho que foi isso que a voz do meu coração sussurrou... Mas, eu engasguei e falei o que não era necessário... Mas, no meu inconsciente eu queria ver sua reação... – Eu jantei com o Eron... O que você acha?

Ele veio com mais uma piadinha e, por um segundo, tive a esperança de que ele brigasse comigo, sentisse ciúme, se jogasse em meus braços me pedindo para nunca mais olhar na cara do Eron, por que ninguém sentia por mim o que ele sentia... Acho que meus sonhos se confundiram com algum conto de fadas... Porém, ouvi sua voz embargada ao dizer que mesmo que fosse com outro, eu deveria ser feliz...

Eu precisava tirar as dúvidas... As minhas e as dele... Será que era aquilo mesmo que ele queria?... Que eu fosse feliz... Mesmo sem ele?...

– Você quer que eu volte a morar com o Eron?

– Não, não... Eu quero que você seja feliz... – Tive a impressão de que ele me abraçaria... E estava certo. – Eu quero muito que você seja feliz!

Com aquele abraço... Aquele abraço tão apertado, tão quente... Eu quase delirava... Uma febre se instalava em mim com o calor daquele corpo... Agora era eu quem precisava de calor humano... O calor de aquele ser humano grudado em mim... Como eu queria que ele não desgrudasse nunca mais...

Agarrei sua camisa, seus cabelos... Quem sabe... Quem sabe se eu usasse todos os argumentos para convencê-lo que para eu ser feliz eu precisava dele... Tentei... Mas, ele se afastou para desespero do meu coração...

Veio com argumentos esfarrapados... Eu escutava e não ouvia, pois, nada daquilo me importava...

– E se eu te disser que nada disso importa...

Mais uma vez a esperança de que Félix desistisse daquelas ideias e ficasse comigo se instalou em mim... Seus olhos passearam... Os meus fizeram o mesmo... Mas, ele veio novamente com um monte de palavras sem a menor importância para mim...

Eu senti que ele só queria fugir... Eu só não entendia por que ele fugia de mim...

Quando ele me disse tchau e que voltaria para casa, eu não acreditei... Minha esperança só aumentava enquanto ele repousava as mãos em meus ombros... Meu coração quase parou quando senti seu beijo em minha cabeça... Queria virar e beijar sua boca, mas estava paralisado...

Ele caminhou até a porta... Não sei se olhou para trás... Por que não olhei! Por que não olhei? Eu não tive coragem e aquilo me doeu ainda mais... Eu senti que ele parou um instante e uma pontinha de esperança ressurgiu... Esperança de que ele não fosse embora, que voltasse, pedisse para ficar, gritasse o que sente por mim... Mas, só obtive o silêncio... Aquele silêncio destruidor... Eu não ouvia mais nada, não enxergava mais nada... Ele só bateu a porta... Saiu... E o último resquício da minha esperança saiu com ele!

Me decepcionei por que ele não voltou, me decepcionei por que ele não ficou, me decepcionei comigo mesmo por não tê-lo impedido de ir embora... Aquela batida na porta doeu como se tivesse batido forte em minha alma... Não suportei mais as lágrimas que ainda estavam por cair... Suspirei... Doía... Suspirei de novo, agora profundamente...

Não restam mais dúvidas... Depois do que aconteceu havia um misto de sentimentos dentro de nós... E eu estava sofrendo... Sofrendo por ele... Como nunca sofri por ninguém...

Não há nem cinco minutos que ele foi... Consegui levantar... Dei uma olhada nos meus filhos... Um beijinho de boa noite... Voltei para o sofá... Como queria ter dado um beijo de boa noite nele também...

Voltei para a sala... Deitei... Imaginei o que faria, o que diria se ele estivesse aqui... Olhei o relógio... Nem dez minutos passaram... E acho que a palavra era... Saudade!

Ali deitado só me restava pensar no que faria do meu futuro... Se bem que tudo que eu queria era que o Félix fizesse parte do meu futuro... Mas, como ele mesmo disse, eu tinha meus filhos, meu emprego, tinha muita coisa para pensar... Mesmo sabendo disso, eu não conseguia parar de pensar nele... Aquele homem não saia da minha cabeça... E eu precisava pensar... Precisava resolver minha vida... Como pensar, se ele dominava minha mente e meu coração?! Acho que só tinha uma coisa a fazer... Que, na verdade, eu já estava fazendo sem perceber... ... ... Pensar com o coração!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado dessa "análise" desse capítulo que foi inesquecível!

Obrigada a todos pelos quase 3400 acessos! Comentem...



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