Broken Girl escrita por Iris


Capítulo 24
Capítulo vinte e quatro: Lirá.


Notas iniciais do capítulo

Estou vivaaaa o/

Primeiro mil perdões por ter simplesmente sumido assim. O motivo: Fim de ano, muita coisa acontecendo e a principal deles foi minha inspiração e criatividade simplesmente serem drenada da minha mente.
Não conseguia escrever nada decente, e sou daquelas que prefere demorar um século para postar algo legal, do que postar qualquer coisa. Então me perdoem, foi sofrível para mim tb....

Esse capítulo não ficou excepcional nem nada, deu um pouco de trabalho para escrever, ~um certo desespero quando não ficava bom de jeito nenhum ~ mas saiu o/

Espero muito que vocês gostem!

Enjoy ^^



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Antes.


As mãos dela estavam manchadas em vermelho. Ela podia sentir as células, o DNA escondido nelas, os glóbulos brancos e vermelhos. Ela sentia tudo. E por alguma razão Lirá não conseguia parar de sentir. O metal de sua adaga escorregou da mão ensanguentada e caiu no piso com um estalido. Josias se virou para olhá-la.

Ele estava agachado escrevendo o segundo número, em sua língua de origem, no peito nu do corpo estirado no piso de uma cozinha organizada e limpa - exceto pelo sangue no chão e na coisa elétrica que ela sabia que se chamava geladeira. As coisas não tinham ocorrido como imaginava.

Josias havia ordenado que ela tirasse a vida do rapaz, talvez queria que ela provasse alguma coisa. Era uma ordem. Ela cumpriria, mas hesitou no último instante. Quando viu nos olhos dele a compreensão e confusão quando a viu no meio de sua sala com a adaga na mão. Tinha tanto medo. Então ele reagiu, fez perguntas, recuou enquanto ela se aproximava e acabou sendo encurralado na organizada cozinha.

Josias apareceu, disse que aquilo era para ser um trabalho rápido, sem hesitação, apenas executar. Um corte na garganta bastava, humanos eram frágeis. Ele repetiu a ordem com mais firmeza. Ela hesitou outra vez e ele acabou que executou em seu lugar. A adaga passou como um raio no pescoço do rapaz. O sangue jorrou, quente e pegajoso e era isso, ele estava morto. Josias podia ter usado seu poder, mas Lirá sabia que o irmão herdara certo fascínio no que era brutal e as vezes perverso. Temos que chamar a atenção. Dissera.

O anjo podia ver o desgosto no rosto de seu irmão. Só por que ela sentia, e sabia que sentia. Havia começado há muito tempo. Como uma coceira sua curiosidade começara, ela observava, escutava e aprendia em silencio. Via o mundo abaixo de suas asas com fascínio. Mesmo a morte, e a dor eram interessantes á seu ponto de vista. Tinha tanta arte. Tantos sons e sensações que ela não conseguia mais ignorar o comichão em sua essência. Queria explorar. Mas tinha medo.

E aí veio a guerra. O Apocalipse havia começado. Humanos escolhidos o haviam iniciado e com isso veio o chamado do céu. Tinham perdido os selos de propósito, alguns anjos se voltaram contra outros, recrutando e tramando a destruição. Lirá conseguiu se manter fora do conflito até aquele momento quando fora recrutada.

_Estou começando a me preocupar com você. – disse Josias se levantando.

_Estou perfeitamente bem, a saúde da...

_Não é disso que estou falando. – cortou Josias.

_Não entendo...

_Hesitou em uma ordem simples. Tem mostrando um comportamento estranho desde que pisamos nesse buraco. – disse com os olhos fixos em Lirá. O rosto era uma máscara inexpressiva com uma lousa em branco. Enquanto ela sempre achou divertido como o ser humano podia expressar emoções com leves contrações das linhas faciais, tristeza, alegria, medo...

_Assassinato não é uma ordem simples. – respondeu em um tom baixo.

_Eu já disse, foi necessário. Eu sinto pelo rapaz, mas tinha que ser assim, essa era a missão dele, estava nos planos Lirá. – apesar de dizer que sentia, Lirá sabia que não.

_Podemos fazer de outro jeito, como estávamos fazendo. Nossa missão não é matar humanos. Isso é... pecado. – Josias inclinou um pouco a cabeça para o lado como se visse uma nova espécie.

_Está começando a falar como uma rebelde. – de suas palavras desgosto e raiva. Lirá abaixou os olhos. _Se continuar assim terei que deletar isso aos superiores ou pior. É isso que quer, se rebelar agora? Se opor contra o plano de Deus como Lúcifer fez? Quer ser como Ana, ou Castiel?

_É aí que está meu irmão, o plano nunca foi esse. Deveríamos amar essas criaturas feita pelo nosso Pai. Deveríamos olhar por elas, aprender com elas. – era a primeira vez que Lirá contestava alguma ação de seu superior Josias, a primeira vez que experimentava o desafio, a expectativa do que aquilo poderia significar. _Isso não é oque eu o nosso pai quer, talvez por isso ele se foi... Estamos fazendo alguma coisa errada...

_A única coisa errada aqui é aquela criatura que ainda respira. Aqueles irmãos que trouxeram destruição ao nosso lar. Eles mataram, capturaram os nossos. Se aliaram a demônios... É eles que quer proteger? – Lirá sentia seus olhos ficarem úmidos. Não era algo que ela havia experimentado. Era diferente de tudo. Anjos não choram.

_Isso... isso não é o que eu... o que eu sinto... bem aqui. – ela apontou para seu coração. _Tudo está tão diferente... Eu... não sei o que fazer. – ela sentia a euforia no peito, a vontade de saber até onde aquele corpo poderia levá-la emocionalmente. Ela nunca seria capaz de chorar e sorrir ao mesmo tempo mas Emma, era esse o nome da mulher que possuía, era um turbilhão cheio de emoções.

O anjo a sua frente a encarou com um olhar estranho e... horrorizado? Ela não sabia dizer. E depois ao corpo no chão com a carne marcada grosseiramente com a ponta da adaga de Josias, as linhas duras e curvilíneas de sua língua nascente. O entalho estava incompleto, faltava alguns números. Então Josias se voltou para ela de novo. E ela viu ódio.

_Eu sinto muito irmã, mas a missão não pode ser comprometida. – ele o olhou confusa.

_Irmão...

Foi rápido o movimento de suas assas, ela as sentiu mover o ar onde ele estava e suspender o de sua volta e então a ferida se abrindo em seu corpo de carne pela Adaga de Josias.


Agora.


Tenha cuidado.

Tenha cuidado, criança.

Era só uma voz no escuro. Um manto escuro onde aquela voz flutuava até mim. Era tão conhecida que meu subconsciente a abraçava sem muita resistência. E eu o entedia. Tomar cuidado, eu tinha de tomar cuidado. Eu tinha...

Num momento estava dormindo no outro acordava. Assim do nada, nenhum movimento suave de pálpebras, só a consciência abrindo caminho entre os sonhos e me devolvendo a realidade. Foi automático. Mas mesmo assim podia ouvir aquela voz ecoar no canto escuro da minha mente.

Era de novo aquela mensagem. Respirei fundo uma e duas vezes. Estava na cama e não estava sozinha. Dean estava jogado ao meu lado, uma mão na testa e os olhos fechados. Em algum ponto do ontem havia dormido ele me colocou ali. Continuei na cama e encarei o teto, então fechei de novo os olhos.

Se fosse possível eu já acordara tensa, sentindo aquele frio condensado na barriga, como um presságio ruim. O que me levava ao quarto branco, o hospital psiquiátrico...

Naquela época eu não fazia ideia de que era o diabo sussurrando em meu ouvido. E suas mensagens, sua conversa estranha começavam sempre com aquela sensação fria e tensa. Estranho, mas ao mesmo tempo acolhedor, aquilo era a minha conexão com o sobrenatural, ou, naquela época, minha loucura. Eu a sentia chegando como o primeiro sopro de inverno e a acolhia por que significava que não estava sozinha ou morta. Não era reconfortante nem acalorado. Me deixava com frio e com medo. Eu o deixei entrar tantas vezes que sentir aquilo de novo era como a visita de um velho amigo.

O que está vindo ? Formulei a pergunta na mente tentando da forma a ela, tentando enviá-la por qualquer ligação que estivéssemos. A essência de Lúcifer latejava em mim e queria usá-la como um canal, entrar em sua mente como ele fazia com a minha. Mas não tinha nada do outro lado que pudesse me responder.

O que está vindo?! Gritei para meu subconsciente. E só houve o espaço sem qualquer estrela. Um vazio negro e deserto. Abri devagar as pálpebras, me devolvendo ao quarto gelado e a visão contrastante do teto branco.

Me sentei na cama e olhei para Dean. Empurrei o cabelo desgrenhado para o lado e puxei o ar com força. O prendi por alguns segundos e devagar o expulsei dos pulmões sentindo-me melhor com aquela sensação de moleza vertiginosa.

Desse jeito deixei que minha mente se voltasse para problemas reais e presentes, e no momento só tinha um nome na lista: Sam. Saí da cama com cuidado para não acordar Dean. Ainda vestia as roupas de ontem, agora amassadas e tortas no corpo. O relógio na cabeceira marcava 7:03. A casa estava tão silenciosa que dava para ouvir o tique que ele fazia.

Nada de gritos. Isso já era um alívio e tanto. Peguei as primeiras peças que encontrei por cima da mochila; um vestido azul leve e bem confortável, mais o meu velho suéter preto e já largo - a atmosfera estava um pouco fria.

Peguei os sapatos e antes de sair para o banheiro desenrolei o cobertor embolado num dos cantos da cama e coloquei cuidadosamente sobre Dean. Ele precisava se barbear, arrumar o cabelo que espetava para todas as direções, e descansar para fazer desaparecer as sombras abaixo dos olhos. Fiquei tentada a tocá-lo ou deixar um beijo em sua testa, mas me detive, não queria acordá-lo, ele merecia aquilo.

...

Enquanto descia as escadas fazia uma trança meio frouxa no cabelo ainda úmido. Havia passado no quarto e dado uma olhada em Jamie, ele dormia tão profundamente que nem uma banda seria capaz de acordá-lo facilmente.

Quando cheguei ao fim da escada quase topei com a cadeira de Bobby.

_Bom dia, Bobby.

_Espero que seja mesmo um bom dia para variar. – respondeu ele enquanto revirava a página de algum livro no colo. Ele também parecia cansado.

_Alguma coisa nova? – perguntei já com medo de ouvir a resposta. Ao invés de responder ele virou e pegou uns jornais em cima de uma escrivaninha e me entregou.

Sentei na poltrona perto da lareira para ler. Eram Jornais das últimas semanas e estavam recheados de tragédias naturais e outras nem tanto. Pessoas matando pessoas, desaparecimentos misteriosos e outras atrocidades. Aquilo parecia se alastra de maneira alarmante, enquanto as semanas iam avançando mais notícias apareciam feito uma avalanche de coisas ruins.

_Meu Deus. – sussurrei enquanto sentia por tudo aquilo.

_Esse infelizmente saiu de férias. – disse Bobby.

Aquilo parecia tão estranho e horrível, os eventos naturais eram compreensíveis, mas os assassinatos desenfreados eram tão aleatórios e cruéis que não chegavam fazer sentido.

_Acha que isso tudo é obra de Lúcifer ? – perguntei tentando pensar com mais clareza. Bobby deu de ombros.

_Para mim ele parece o único suspeito em potencial. – assenti devagar. Era como um mapa estranho que eu olhava. Tudo por que sentia que o conhecia. Lúcifer era parte de mim, literalmente. Então eu de alguma forma podia enxergar o modo como ele operava, eu... sentia. Ele esteve na minha cabeça tempo o suficiente para eu saber o modo como gostava de operar as coisas. Ele queria destruição e faria direito. E definitivamente.

_Eu não sei, essas mortes, assassinatos, parece coisa de demônios, demônios que querem provar alguma coisa, talvez sejam os rebeldes. Acho que Lúcifer é um pouco mais organizado que isso, se à uma chacina tem normalmente um padrão, como em Cartago. Parece que tudo está... decaindo. – disse começando a colocar a mente para trabalhar.

_E onde fica mesmo a boa noticia? – perguntou Bobby me olhando com o cenho franzido.

_Na verdade não tem... – falei com pesar. _É só que talvez essa seja a razão de Ele demorar tanto para explodir o planeta de vez. Ele é um anjo poderoso, mas precisa de sacrifícios, de um exército disposto morrer por ele. Se está tendo uma revolução no inferno, talvez isso nos dê algum tempo à mais. Mas é claro, isso é só uma suposição.

_ É com certeza alguma coisa. – comentou Bobby largando o livro em uma pilha na mesa atrás.

_Ah, Bobby, não sei mais o que podemos fazer. – reclamei me afundando na poltrona.

_Vamos encontrar uma maneira. Eles sempre encontram. – sabia que Bobby se referia a Sam e Dean.

_Se você diz, confio em sua palavra. – respondi ainda com a voz desanimada.

_E Dean? Conseguiu dormir? – perguntou Bobby vasculhando alguma coisa na escrivaninha ali perto.

_Como um bebê.

_É bom que ele consiga descansar um pouco, o garoto não pregou o olho enquanto Sam não estivesse preste a subir pelas paredes. – é claro que ele não iria dormir sem saber que Sam estava bem. Só queria ter aguentado firme com ele.

_Sempre foi assim, não é? – perguntei com um sorriso leve no rosto, imaginando um pequeno Sam sendo protegido pelo irmão mais velho.

_Dean sempre cuidou do Sam como um gavião, desde de que o moleque usava fraudas. Ajudei a criar aqueles dois e Dean nunca reclamou de ter de olhar pelo irmão. – Sam olhou para a lareira apagada, parecia divagar. _As vezes me preocupo que um não consiga viver sem o outro. – com isso ele levou o meu sorriso.

_E isso é preocupante?

_Dean já foi pelo inferno por Sam. Tenho certeza de que Sam faria o mesmo. Essa vida não é fácil ou segura. E vão ter sempre feitiços, pactos, acordos e eles geralmente nunca acabam bem. Esses meninos estão sempre se sacrificando ou sacrificando alguma coisa para tirar o traseiro do outro do fogo. – entendia o que Bobby queria dizer. Escolhas e consequências. Até onde se podia ir por aquele que ama?

Me sentia mais que nunca uma intrusa. Aquela que tirou o equilíbrio dos dois. Era um pouco tarde para pensar em como seria um pivô em algum conflito entre eles. Era pior que desfazer um casamento.

_Não se preocupe, eles já passaram por muita coisa e ainda estão do jeito que você vê. Vão sobreviver. – disse Bobby como se lesse meus pensamentos. Lhe ofereci um sorriso amargo.

_Não sei como eu vou sobreviver. – murmurei baixo, mas tinha certeza que Bobby ouvira. _Continue cuidado deles, Bobby. – pedi.

_Esse é o plano. – disse afastando a cadeira.

_Bobby, onde está o Sam? – perguntei.

_Pelo quintal. – respondeu Bobby sumindo na cozinha.

Lá fora um vento gelado varria o pátio. Escondi as mãos na manga cumprida do suéter e cruzei os braços. O sol invernal acima cintilava como uma moeda de prata entre as nuvens. O dia seria limpo, mas frio. Depois de andar um pouco entre os carros acabei por encontrar Sam na oficina, sentado na mesa de madeira encarando a paisagem de carros à frente.

Ele parecia bem. Já era um alívio. Quando estava à alguns metros ele finalmente levantou os olhos. Sam se levantou para me receber e acabamos nos encontrando no meio do caminho onde num outro instante estava em seu braços, sendo engolida pelo seu tamanho num abraço apertado.

Meu coração pulava no peito. Eu só fechei os olhos e coloquei minha cabeça em seu peito aspirando seu cheiro. Não podia ignorar o tempo excessivo que permanecia em seus braços, a sensação calorosa no peito, e a vontade de me enroscar ali como um gatinho carente e pedir por carinho. Por que estava carente. E Sam mexia tanto comigo.

E então ele se afastou, um sorriso tímido surgiu no seu rosto. Retribui o sorriso. Coloquei uma mecha do seu cabelo de volta atrás da orelha me demorando um pouco mais para tirar a mão de seu rosto.

_Oi. – o cumprimentei. Sam estava um pouco abatido com uma sombra de barba no rosto e os olhos um pouco fundos.

_Oi. – ele devolveu.

Passei por ele me sentei em cima do capô de algum carro velho estacionado na sombra. Sam se adiantou e sentou a meu lado. Ambos baixamos as costas no para brisa e encaramos a manhã se abrindo num céu límpido e muito azul.

_Como está se sentindo?

_Estou bem. Um pouco zonzo, mas bem. Na verdade... – ele se sentou e olhou para mim. _ Queria me desculpar por ter deixado você naquela rua sozinha com aquela louca. – ele baixou os olhos e os levou para a casa à frente.

_Sam? – perguntei me sentando também.

_Não estava pensando direito, eu só... senti os demônios perto e o Dean... Me desculpe, não queria te deixar na mão daquele jeito.

_Pode parar com isso, Sam. Você salvou o Dean. Se voltasse eu nem sei o que poderia ter acontecido. – ele confirmou com a cabeça inseguro. _Não importa o que aconteça você tem sempre que seguir para seu irmão e não precisa se desculpar por isso.

Sam não disse nada por um tempo, só olhou para mim. Tinha alguma coisa em seu olhar, era como se ele quisesse me contra alguma coisa ou via algo que eu não enxergava.

Desde de que ele se declarou para mim eu não disse nada a respeito. E parecia que eu devia uma resposta, mas ao mesmo tempo achava que seja lá oque eu deveria dizer a ele ficou naquele lugar entre as estrelas. Por que eu simplesmente não sabia o que fazer a seguir. Meu futuro era um muro de neblina.

_Também não queria que visse... aquilo, e me ouvisse. – tinha certo constrangimento em sua voz.

_Tudo bem. Em todo o tempo eu só me preocupava se você estava bem, e se você diz que está é isso que me importa. Não o vejo diferente só por causa do sangue de demônio. Aquilo não foi nem sua culpa, e você me salvou, lembra? Não se preocupe por isso. Não me importo com nada disso. – ele sorriu suavemente e deixou os lábios entre abertos, como se quisesse me falar alguma coisa ou sugerisse o princípio de um beijo.

Meu coração deu um salto com aquela precipitação de estarmos tão perto um do outro. Um passo a frente e desvendaria a segunda opção. Estaria mentindo para mim mesma se dissesse que não queria beijá-lo novamente. Eu queria, seu beijo tinha o poder de aquietar algo em mim, assentar as borboletas no estômago e clarear a mente com a falsa esperança de que tudo ia se encaixar no devido lugar, por que eu me sentia no lugar certo.

Só que nem eu nem ele conseguimos nos mover um para o outro. Uma parede invisível e bem fina nos separava. Remorso, culpa? Não importava. Só que meu coração afoito estava sendo silenciado pela minha razão. Não podíamos por que não era certo. Desejávamos, mas sabíamos que não deveríamos. Pelo menos para mim toda a calmaria e vontade de Sam, de beijá-lo, amá-lo incondicionalmente, de ficar em seus braços vendo o amanhecer, de fotografar seu sorriso. Tudo isso não fazia apagar a chama de Dean.

E eu não fazia ideia o que aquilo significava.

_Ei, os dois, rápido! – gritou Bobby da entrada da casa para nós. Imediatamente eu e Sam pulamos do capô e corremos de volta para a casa.

Quando irrompemos a porta percebemos logo a confusão.

Castiel havia aparecido na sala carregando consigo um corpo. Uma mulher ferida se apoiava em seus braços para não cair. Tinha sangue em seu sobretudo e muito sangue nas roupas dela. Ela ainda estava viva.

_Peguem ela. – pediu Cass. Sam se adiantou e segurou a mulher a colocando no sofá perto. Castiel tirou do sobretudo sua adaga. Fez um corte na palma da mão, o brilho vazou da fenda, ele sujou dois dedos no seu sangue e começou a desenhar um símbolo na janela usando-os como pincel.

_Eu acabei de limpá-las. – resmungou Bobby.

_Hã, Cass, o que está acontecendo? – perguntei, me juntando a Sam para olhar melhor a mulher.

Ela estava com os olhos semi cerrados e trêmulos. Tinha sangue em toda parte, no seu rosto, no cabelo loiro, e principalmente na região abdominal. A camisa estava encharcada e um corte atravessava a parte da frente. Dava para vê um brilho prateado e tênue vindo de algum corte por debaixo dos trapos sujos da camiseta.

_Acho que está na hora de acordar o Dean. – disse Sam correndo para as escadas.

Me ajoelhei perto do sofá e ouvi, ela murmurava alguma coisa. Aproximei meu ouvido de sus lábios. Era Enoquiano, uma frase repetida naquela língua eloquente e complicada como um computador travado. Ainda esperava a explicação de Castiel.

Peguei seu pulso que pendia para o lado para colocá-lo no sofá. Mas no momento em que envolvi os dedos em seu pulso ela abriu abruptamente os olhos. Um movimento veloz junto a um estalo do sofá e ela conseguiu se sentar. A mão que pousava inerte pegou-me pelo pescoço e me empurrou para o chão duro, minha cabeça bateu com força.

E naquele momento parecia que eu olhava através de um véu de água. Minha visão estava turva por um momento. Quando consegui ver direito ela estava sobre mim. Sua mão pegajosa de sangue apertando meu pescoço e seus olhos verdes límpidos como vidro arregalados e ferozes, os lábios repuxados, num rosnado que parecia dor e raiva, revelava seus dentes sujos de sangue.

Minha visão voltou a ficar turva, não conseguia respirar. Segurei seu pulso tentando afastá-la. Houve um movimento atrás de nós. E barulho vindo das escadas. Castiel se aproximou por trás estava perto, mas ela soltou uma das mãos do meu pescoço e lançou para ele. Cass foi jogado para trás com uma lufada de ar, seu corpo atingiu uma prateleira e esta caiu junto com ele jogando livros por toda a parte e um barulho caótico de madeira se quebrando. Ela parecia ver além de mim, como se cega pela raiva.

Com uma mão apenas eu tentava me desvencilhar, coloquei meu joelho entre nós duas e chutei o ferimento em sua barriga conseguindo que ela afrouxasse as mãos. Arfei buscando o ar, mas logo ela estava com as mãos feito garras em mim. Senti meu corpo ser suspenso e depois batendo com força na superfície de madeira da escrivaninha. Os livros abaixo afundando nas minhas costelas. Uma onda de dor passou pelas minhas costas me tirando o ar novamente.

Não tive tempo de pensar em nada ela já estava com seu peso sobre mim novamente, era um corpo pequeno e magro, mas parecia pesar uma tonelada e ela era forte e selvagem. O seu sangue pingava no meu suéter, quente e espesso. Da janela ao lado alguns raios de sol vazavam deixando seus cabelos roçando na minha bochecha e grudados ao sangue no seu rosto com reflexos dourados.

Agarrei seus os fios e tentei livrar-me dela. Dean e Sam vinham para cima de nós, e assim como fez com Cass ela se livrou dos dois. Mais barulho. Só tive um vislumbre dos dois sendo amparados pela parede e caindo com um baque surdo no chão.

Lutei impiedosamente. Meu coração disparava rápido, meus tímpanos se enchiam de meus batimentos enquanto eu debatia meus braços e pernas em movimentos desesperados e aleatórios. Mas algo brilhou em minha mente enfraquecida; Eu também tinha uma arma, eu era a arma. Agarrei seu pulso com força e tentei empurrar para ela aquela coisa dentro de mim. Num momento consegui entrelaça-la à mim.

De forma psíquica, ou física através do toque, não sabia como chamar. Mas como um canal eu abrir caminho em sua luz e a toquei com minhas sombras. Ela gritou, um grito tão forte e agudo, ouvia-se vidros quebrarem a volta. A janela ao nosso lado explodiu jogando os cacos em cima de nós, à luz fraca do sol elas pareciam pingos brilhantes de chuva.

Até que de tanto se debater em cima de mim ela nos jogou de volta ao chão. Uma queda dolorida onde nossos membros se embolavam ainda mais e nossa conexão se espatifou. Ela não mais me segurava, ao invés disso ela recomeçou a falar enoquiano, um sussurro inumano, quase desesperado e enlouquecido. Apertou as mãos na cabeça se encolhendo no canto e continuou a entoar aquilo como eu muito vi em pacientes entregues as suas loucuras, vendo e dizendo coisas que só existiam em suas mentes. Um medo insano e sussurrando nos cantos. Ela não ia mais me machucar.

Mãos fortes agarram-me e me puxaram para longe. Dean me tirava do caminho.

_Sam. – chamou Bobby, e vi quando ele arremessou algo prateado para Sam. Uma adaga.

Sam se colocou acima dela com a adaga dos anjos, como um carrasco pronto para executar a sentença. E pela primeira vez ela falou algo em nossa língua:

_Me perdoe.... Eu sinto muito. Não queria... – disse diretamente para mim. E eu sabia que ela compreendia o que estava para acontecer e seu pedido era tão sincero, eu podia saber. Antes que impedisse Sam uma voz soou acima da minha.

_Sam, não! – gritou Castiel.

_Sam! – devolveu Dean colado em mim. Seu coração batia forte nas minhas costas. Eu conseguia ver a divisão se formando em Sam. Ele estava pronto para matá-la, era só baixar a adaga e tudo acabaria. Os olhos dela encaravam Sam, intensos olhos tão verdes quanto os de Dean. E tinha certa inocência neles. Sam se voltou para mim e eu soube que estava com a decisão. Balancei a cabeça negando e ele recuou.

Castiel abriu passagem entre Sam, entrando no espaço mínimo da escrivaninha e a parede. Ele se agachou e a pegou colocando seu braço em seu ombro a erguendo junto a si. Castiel sussurrou algo em enoquiano em seu ouvido e ela se desfaleceu de vez.

Logo senti um braço envolvendo meus ombros e o rosto transtornado de Dean perguntando se eu estava bem. Gaguejei um sim me levantando com sua ajuda. Ele olhava com um misto de raiva e preocupação meu pescoço sujo pelos dedos ensanguentado daquela mulher. Queria dizer que não era meu sangue, mas minha voz parecia uma lixa.

_Cass, quem é ela? E o que ela está fazendo aqui ? – Dean exigiu saber. Castiel a colocou de volta ao sofá. Dean ainda não havia me soltado, mantinha o braço em volta da minha cintura como se eu ainda precisasse de apoio. Não precisava, estava bem, mas não me afastei.

_Ela é anjo, Lirá. A ouvi rezando para mim pedindo ajuda. Quando a encontrei ela estava mal, bem ferida, mas conseguiu falar algumas coisas. Seu... sistema deve ter sido afetado, por isso atacou. Ela está morrendo, deve ter confundido as coisas. Mas ela é boa. Deve ter uma razão para ela ter vindo até mim. – disse Castiel.

_É, matar todos nós. – respondeu Dean me largando e chegando mais perto do anjo que me atacara.

_Não acredito que essa era a intenção. Pelo menos acho que não agora. Deve ter sido um reflexo. E além disso ela está muito ferida. – Castiel se ajoelhou e colou uma mão em sua testa.

_Sei... – murmurou Dean. _Se conhecem, ela é sua namorada ou coisa assim?

_Não, ela não é... minha namorada. – respondeu Cass sem jeito.

_Tem alguma chance de isso ser só algum acidente doméstico? – Bobby perguntou observando seus ferimentos. Castiel olhou para ele com o cenho franzido.

_Não, não foi nenhum acidente doméstico. Ela foi atacada, por uma arma angelical. – Cass pegou as extremidades da camiseta rasgada dela e com as mãos puxou com força abrindo um rasgo maior.

_Oh, então pelo visto vocês costumavam brincar de médicos em cima das nuvens. – disse Dean em tom malicioso. Cass olhou para ele confuso e Sam o repreendendo.

_ Por que fingiríamos ser médicos no céu? – perguntou Castiel inocente.

_Cass, ignore ele, faça o que tem que fazer. – disse Sam.

Uma fenda atravessava as extremidade da sua barriga. O sangue não parava de minar, e através dele um fraco brilho prata.

Cass arregaçou as mangas do sobretudo e pousou as mãos no corte. Assistimos atentos e confusos enquanto ele irradiava um brilho prateado das palmas e devagarinho o ferimento dela ia se fechando. Como mágica, o corte se regenerou não deixando nenhuma cicatriz. Esperamos, olhando de Lirá a Castiel.

_É isso? – perguntou Sam.

_Não. Eu curei a carne, mas ela ainda está morrendo por dentro. – disse Castiel com um olhar triste para Lirá.

_Ótimo, nada melhor que começar o dia tendo um anjo com hemorragia sobrenatural no seu sofá, panquecas e torradas são para os fracos. – resmungou Dean se afastando. Apesar de alerta seu rosto ainda aparentava sonolência.

_E voTudo bem mesmo? – perguntou Sam só para que eu ouvisse.

_Estou, só um pouco nauseada com tudo isso. – respondi só para ele. Por debaixo de todo o sangue de Lirá tinha um rosto bonito e jovem.

_Ela disse algo para você? – perguntou Sam à Cass.

_Sim. – ele olhou diretamente para mim. _Ela disse seu nome.

_Meu nome? – minha voz saiu aguda e enfraquecida.

_Sim, e disse que deveria alertá-la. Foi por isso que a trouxe aqui.

_Me alertar? Foi algum tipo de jogo doentio, ela queria me avisar antes de tentar me matar? – perguntei na defensiva com todos os olhos voltados para mim.

_Não acho que seja isso. – Castiel foi sucinto.

_É impressionante como as coisas bizarras e loucas ultimamente sempre acabam apontando para você. – disse Dean com um suspiro pesaroso.

_Acredite, ser a garota popular do apocalipse não é tão legal assim. – não dava para ignorar o gelo na espinha nada comparado a dor na garganta.

A mensagem na janela era clara. Tenha cuidado. Era disso que ele estava falando? Um anjo ferido tentando me matar. Não achava que era, era maior. Tinha algum mal vindo. Eu podia sentir na pele arrepiada, e no coração gelado a antecipação daquilo. Havia no estômago um pânico contido. O demônio e o anjo dentro de mim vacilava com medo. Aquilo era só a primeira parte.

_Tem como salvá-la? – perguntou Sam ao meu lado direito. Formávamos um semi circulo em volta de Castiel e Lirá. O anjo estava sentado no sofá ao lado do corpo desmaiado. Ele parecia derrotado e cansado.

_Posso tentar, mas um ferimento desses mexe com um anjo. Pode ser um processo... perigoso. – respondeu olhando-a.

_Então não pode mantê-la aqui, não com o Jamie. – disse olhando pela primeira vez o rol da escada. Ela provavelmente não havia acordado. Mas se acordasse seria difícil explicar todo o sangue, os vidros quebrados, livros espalhados no chão e o que era Lirá. Não queria que ele visse aquilo.

_Quanto tempo vai levar? – perguntou Sam.

_Não posso dizer com precisão.

_Podemos levar o moleque para outro lugar. – sugeriu Dean.

_E que lugar seria esse? – perguntei começando a ficar agitada.

_Não sei, coloca ele em algum hotel deixe tudo lacrado com comida e água....

_Você percebe que ele é uma criança? Não vou fazer isso. – disse com firmeza.

_Ele já tem dez anos, quase onze...

_Está brincando? Não vou largá-lo e esperar que não faça perguntas. Vou levá-lo para algum lugar e vocês podem me ligar quando isso terminar.

_Sabe que isso não é uma boa ideia. – rebateu Dean.

_Por que não? Não precisam de mim aqui.

_Não, mas não podemos deixar você sozinha. – contrapôs irritado, como se aquilo eu deveria já ter entendido a muito tempo. _Esse anjo exterminador deve está fugindo de um outro anjo exterminador pior ainda, e aposto meus poucos trocados que estão atrás de você. Sair do forte agora seria perigoso demais, ainda mais com o moleque.

_Eu vou, Dean. Aqui com esse anjo que tentou me estrangular eu não fico com meu irmão. – disse num tom definitivo. _E pare de chamar ele de moleque. – acrescentei.

_Isabel, nem sabemos quanto tempo isso vai levar...

_Dean, posso cuidar de nós dois. – afirmei em quase petulância.

_Não...

_Chega! Os dois. Parecem um casal de velhos resmungões. – interveio o Bobby silenciando nós dois. Eu e Dean trocamos olhares rendidos mas ainda irritados, ele cruzou os braços e olhou para outro lado, fiz o mesmo. Sam tinha ido se sentar na poltrona perto e eu nem notara, Castiel parecia desconfortável e Bobby emburrado. _Eu tenho alguém que possa ficar com ele.

_Quem? – perguntamos os dois.

_A xerife Mills. Ela é de confiança e já teve um filho. Acho que posso pedir esse favor.

_Teve? – perguntei.

_Uma tragédia. – foi o suficiente para entender.

_Tem certeza que ela pode cuidar dele por mim? – como resposta houve uma batida na porta.

Foi imediato a reação de todos nós, todos se voltaram para a porta alertas. Uma segunda batida.

Dean conseguiu sacar uma arma de algum lugar e fez sinal dizendo que iria atender. Sam e Cass se levantaram e esperaram. Sam parou ao meu lado também apreensivo com a adaga ainda na mão. Dean deu uma olhada em nós, para se certificar que estávamos preparados, encostou o cano da arma na madeira da porta, irrompendo o terceiro toque ele a abriu numa brecha e...

_Hã, oi, boa tarde. – uma voz jovem e masculina. Barulho de papeis. Não dava para ver quem era de onde estávamos. _Isabela... Não, Isabel... Isabel Corand? – dei alguns passos cautelosos para frente quando ouvi meu nome. Estava bem atrás de Dean com Sam a tira colo, e o ouvido colado na porta.

_A seu dispor. – respondeu Dean.

Uma pausa. Silêncio.

_Ah, tanto faz. – um lamento exasperado e entediado. _Assine aqui, por favor.

_Um instante. – Dean fechou a porta. Olhei para ele em busca de informação, ele olhou para mim confuso com um dar de ombros, guardou a arma no cós da calça. Voltou a reabrir a porta saindo.

Ouvi enquanto ele assinava o papel e devolvia a caneta ao homem - garoto? - Uma agradecimento arrastado e passos. E depois Dean voltou a reabrir a porta, mas dessa vez carregando algo em mãos.

_Mas o quê... – começou Sam.

_Isso é para mim? – comecei a esticar as mãos para pegar. Dean o afastou de mim.

_Espera. – disse com um olhar desconfiado.

_O que acha que tem aí? – perguntou Sam.

_Cass. Pode dar uma escaneada angelical? – perguntou Dean claramente querendo se livrar daquilo logo. Castiel foi até ele e pegou a caixa de suas mãos.

Uma linda caixa grande estampada com listras creme e cor de rosa. Uma fita de cetim creme foi passada pelos quatros cantos terminando num laço central para segurar a tampa, que tinha todo um trabalho rendado branco a forrando. Também tinha um cartão preso na tampa que dizia " Para senhorita Corand" Numa letra cursiva e floreada.

Castiel examinou a caixa com ar de especialista, mas parecia não saber muito que estava fazendo.

_Hum, acho que não tem nenhuma energia demoníaca ou angelical aqui. Eu sentiria se fosse o caso, eu acho. – disse deixando a coisa na mesa próxima.

_Ah, você acha. – comentou Dean olhando para caixa como se ela fosse um alienígena.

_Eu vou abrir. – Dean segurou meu pulso antes que eu tocasse o laço.

_Espera! – puxei meu pulso de volta. _Isso não parece suspeito para você? Primeiro o anjo, agora isso.

_Não importa, eu tenho que abrir. – disse e outra vez Dean segurou meu pulso.

_Sam? – pediu ele.

_Cara, eu não sei. – Sam deu de ombros.

_Dean, isso é meu e eu vou abrir. – puxei de novo meu pulso.

_Deixa eu sacudir um pouco primeiro.

_Para quê? Você já segurou e não sabe oque têm dentro, o único jeito de descobrir é abrindo.

_Como pode ser tão teimosa? Depois não diz que eu não avisei se isso derreter a sua cara, ou for algo bizarro e sinistro como... como a cabeça de um elefante. – contrapôs ele franzindo o cenho como se a parti do memento em disse aquilo soasse estranho para ele.

_Isso não faz nenhum sentido, como eu iria te dizer alguma coisa se minha cara estivesse derretida? E, sério? A cabeça de um elefante? Nem caberia nessa caixa.

_É claro que caberia. – rebateu em quase desafio.

_Já estudou geometria alguma vez na sua vida? – Dean pensou um instante.

_Já, espertinha. E eu digo, cabe sim a cabeça de um elefante aí. – disse convicto no que dizia.

_É claro que não, seu...

_Gente!

_O quê?! – dissemos eu e Dean ao mesmo tempo de novo.

_Querem ver ou não o que tem aqui dentro? – perguntou Sam como se falasse com duas crianças birrentas. A caixa estava aberta. Dean e eu nos inclinamos para ver oque eu tinha dentro.

Não era com certeza a cabeça de um elefante. Eram visíveis; pedaços de tecidos e texturas, preto e creme, renda e aplicações brilhantes, entre o papel manteiga cobrindo tudo cuidadosamente. No topo um envelope cor de rosa. O peguei. Abrindo o envelope tinha um cartão creme com margem em fios dourados formando lírios.

Cara Srta. Corand. É com imenso prazer que a convido ( e os acompanhantes Winchester ) para o baile de máscaras anual na mansão Blackhorn. Aguardo ansiosamente sua presença.

Sr. S. Blackhorn.

E depois escrito a mão:

P.s. Espero que goste, foi feito sob medida.

E na parte de trás um endereço e data.

_S. Blackhorn? – perguntou Dean lendo o cartão por cima do meu ombro.

_Sebastian. – deixei o cartão de lado e limpei as mãos no meu suéter. O sangue nela já estava seco, não mancharia nada. Com cuidado desdobrei o papel escorregadio e coloquei minhas mãos no tecido macio que era o tule. Era um vestido. Me perguntava como ele saberia minhas medidas.

Levantei o vestido pelos os ombros. Tinha uma tela transparente na parte de cima e onde fixava as aplicações pretas e brilhantes, elas iam desenhando um decote coração e alças e desciam até a cintura marcada com uma fita preta. Era lindo.

Mais no fundo da caixa encontrei outras duas caixas. Simples, uma retangular pequena e a outra maior, revestidas com cetim preto. Deixei o vestido e peguei a maior dando a outra para Sam. Descartei a tampa e encontrei um par de sapatos. Scarpins pretos de veludo e salto médio. E outro bilhete. " Não ouse aparecer com aqueles coturnos horrorosos. "

_São máscaras. – disse Sam olhando para sua caixa. Dean estava ao seu lado com um olhar estranho. _"Cortesias". – citou lendo outro cartão.

Eram três máscaras. Duas pretas, simples e masculinas. Alguns detalhes aqui e ali, mas bem discretos. A outra me deixou maravilhada. Era dourada. Parecia ter sido talhada a mão no mais delicado ouro. Era elaborada e elegante. Vazada o suficiente para que meu rosto não ficasse tão encoberto, e tinha mais detalhes com pedras que brilhavam furta cor de acordo com a luz. E as fitas para prender eram pretas. Era tão delicada e linda que achei que ia se desfazer na minha mão.

_Isso é sério? – perguntou Dean olhando intrigado para sua máscara.

_Eu nunca fui a um baile. – sussurrei ou meio que pensei alto. Só confirmei que eles tinham ouvido quando os dois olharam para mim.

_Não acho que seja como o baile da escola. – disse Dean em tom manso.

Ele sabia da minha experiência com o primeiro baile da escola. Não era uma boa memória e eu queria empurrá-la para o fundo da mente e não me sentir tocada com todo aquele tule e brilho. Não era mais a garota de 16 anos.

_Provavelmente você tem razão. Isso tudo parece muito estranho. – joguei a máscara de volta na caixa. E baseada na minha experiência com comemorações demoníacas aquilo não poderia acabar bem.

Como se toda aquela manhã não fosse estranha o suficiente Lirá recomeçou a murmurar em Enoquiano. E eu voltei a realidade; sem vestidos maravilhosos e a promessa de um baile. A realidade onde tinha um anjo semi morto no sofá. Sangue por toda a parte e um irmão pequeno dormindo no andar de cima.

_Leve sua paciente para o quarto lá em cima, o terceiro está vazio. E vê se ela fala nossa língua. – disse Bobby. Castiel fez que sim e segurou Lirá, no segundo seguinte os dois haviam sumido deixando só uma mancha de sangue no sofá. _Acho melhor começar a pegar os esfregões. E vocês começam a pensar. A loja de traje de gala fecha às 19. – disse ele olhando aborrecido para todo o sangue e destruição na sala.

Bobby saiu deixando nós três com uma indecisão em mãos.

_Podemos ir. – Sam foi o primeiro a se pronunciar. _Podemos checar do lado de fora. E além do mais esse não é o demônio que pode nos ajudar a conseguir o anel de Peste? – Dean olhou para mim, esperando que eu falasse. Dei de ombros. íamos mesmo à um baile, na mansão de um demônio?

_Certo. Eu só preciso de cinco minutos para comer alguma coisa, três para beber alguma coisa forte e vinte para absorver tudo isso. – Dean se levantou e foi para a cozinha.

_Ah, Dean, temos que arrumar uma roupa. – gritou Sam para Dean.

_Espera aí Sammy, ainda não cheguei nos vinte minutos. – devolveu Dean com a voz embolada. Provavelmente com a boca cheia.

íamos à um baile.


... - ...


Jamie aceitou bem a notícia que iria passar um tempo com a xerife da cidade. É claro, não faltou perguntas. Mas prometi respondê-las quando voltasse. Seria uma viagem longa. Se fossemos rápidos poderíamos chegar em Washington no dia do baile, em três dias.

Queria muito poder ter mais tempo com Jamie. Poder conversar mais, fazer coisas de irmãos. Mas a guerra nunca dava trégua. Enquanto aquilo não acabasse Jamie tinha uma péssima irmã. Talvez fantasiava que éramos heróis derrotando o mal, ou coisa do tipo, mas ele entendia que eu tinha um dever, algo importante que me chamava e eu precisava ir.

Jody pareceu legal, bonita e apesar do rosto aparentar seriedade tinha algo de confiável nela. E o fato de ser xerife animou Jamie um pouco mais. As coisas iam se afunilando pra mim. Jamie era inteligente, sabia que tinha coisas lá fora, coisas más. Mas não conseguia simplesmente chegar na parte em que contava para ele tudo o que tinha de perigo. Que os monstros são reais e que as vezes nem sempre os mocinhos vencem.

Meu coração estava apertado por tê-lo deixado, mas aliviado de não tê-lo no meio daquilo tudo. Faria qualquer coisa para mantê-lo de fora, proteger aquele menino era a minha maior obrigação. E não podia ficar por muito tempo enquanto aquilo não acabasse. Um anjo tentou me estrangular no lugar onde jurei que era seguro, estava lá por mim, eu atraía o perigo. Então era eu que deveria me manter afastada.

Tínhamos acabado de sair de Dakota do Sul e no carro o silêncio prevalecia. Não do tipo acolhedor ou relaxante, era uma tensão muda. Tinha contado para os meninos tudo sobre Sebastian e meu encontro com a velha na rua. Tudo desde oque ela me disse à quando me tocou, as coisas que vi, mesmo até a parte em que a ferir.

E isso foi o que restou, um silêncio mórbido. Dean havia ficado pálido, Sam assombrosamente quieto. Tinham poucas peças ali, o anjo na sala, a mulher naquela rua. Parecia uma rede complexa para nos encontrar. Steve havia me alertado. Tinha começado uma guerra. Tenha cuidado.

Castiel havia ficado de nos ligar se avançasse no caso do anjo. Ela ainda estava mal, mas parecia que iria conseguir. Já ele pela voz parecia cansado e drenado. Um anjo curar outro anjo parecia não ser tão fácil assim.

Não se tinha o que dizer e nem o que esperar. Até mesmo especulações agora pareciam vazias. As coisas sempre arrumava um jeitinho de nos surpreender da pior maneira possível.

Até mesmo o plano em que todos nós saímos vivos. A jaula e as chaves. Como aquilo poderia dar certo?


... - ...

A moça era observada de longe. Ela nem sabia o que a esperava. Estava bem considerando tudo o que aconteceu. Tessa estava bem. Tinha um emprego novo que gostava, amigos que a ajudaram passar por tudo. A garota desaparecida e suspeita era só um fantasma agora. Não era mais a melhor amiga do seu namorado. Ele também se fora.

Tessa soube por um telejornal semanas depois da tragédia. Depois de semanas imaginando as coisas mais absurdas, como Adam fugindo para Europa com Isabel, ela até pensou que tivesse algum herança do pai dela envolvida. Eles estariam na Inglaterra andando de barco e bebendo drinques caros nos pubs de Londres, ela pensou. E ela era a idiota que suportou meses cuidando, dando suporte ao namorado que estava absurdamente arrasado pela amiga desaparecida.

Mas aí ela viu na televisão pequena do seu apartamento a tragédia em Buford. Seu namorado não ligava há dias. E semanas depois ela viu da mesma televisão uma lista de corpos que foram identificados. Um deles era Adam.

Tessa ficara arrasada, mas agora estava bem. Voltava para casa a pé do curso de artes, como as vezes fazia, gostava de caminhar á noite. O tempo em Greeley começava a esfriar. Ela adorava frio.

Tinha virado na rua de seu apartamento, no fim do quarteirão. Ela é claro não fazia ideia de que estava sendo seguida. A rua estava deserta como sempre ficava aquela hora. Tessa usava fones de ouvido e deles a mais recente música da Rihanna invadia sua audição. Ela nem ouviu os passos atrás, tão próximos. Não notou a sombra do homem na parede. Até que ela a tocou no ombro. Ela se virou.

Tessa encontrou um anjo.

... - ...


Um dia de viagem.

_Querem alguma coisa? – perguntou Dean. Tirando a bomba de gasolina do carro. A noite começava e um vendo cortante e frio açoitava o posto, então preferi esperar no carro.

_Trás Doritos e uma coca. Alguns Mm's também, o de amendoim. – pedi da janela.

_Eu quero água, e algumas barras de cereais e também.... – pedia Sam do bando do carona.

_Okay, eu perguntei por educação. Mas vou quebrar esse galho por que sou um ótimo irmão. – disse Dean indo para a loja do posto.

_Espera! – gritei da janela, enquanto abriu a porta. _Preciso ir ao banheiro. – disse a Sam antes de sair e correr de encontro a Dean. Estava realmente frio.

_Não consegue ficar longe. – disse Dean convencido. O empurrei com o ombro, ele sorriu. Meu cabelo voava em todas as direções e minhas mãos mesmo enfiadas no moletom não espantava muito o frio.

_Eu só vou ao banheiro. – respondi.

_É claro. – disse de forma cínica.

_Cala a boca. – Dean entrou na loja com um sorriso sacana no rosto e eu virei para o banheiro nos fundos.

Assim que saí entrei na loja para encontrar Dean. Ele esperava dois caras passar suas compras. Estremeci ao seu lado, aquele trapo chamado de moletom não esquentava muita coisa. Ali perto havia uma pilha de jornais novos e os dos dias anteriores. Nada de estranho se não fosse pelo fato de que a foto ocupando a metade da folha de um dos jornais me atraiu.

Peguei o jornal e olhei chocada para a manchete na primeira página. Um rapaz havia sido assassinado no seu apartamento; garganta cortada. Até aí mais um crime brutal, mas a parte estranha era a foto. O peito nu do rapaz havia sido retalhado por uma série de símbolos. Satanistas? Algo de alguma seita? os especialistas não sabiam. Para mim eram familiares.

Mas oque fez mesmo meu sangue gelar nas veias era o fato de que eu conhecia aquele rapaz.


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Notas finais do capítulo

Então, então... gostaram, odiaram, amaram? Ansiosos para o tal baile misterioso ? Deixe um comentário, ajuda muito! você não tem noção...



Até mais Anjos ;)



XOXO



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