Broken Girl escrita por Iris


Capítulo 13
Capítulo treze: Shakespeare e assassinatos - Parte 1.


Notas iniciais do capítulo

Oláa, como vão? Acho que primeiro tenho que me desculpar pela demora, mas tenho tentado postar os capítulos o mais rápido possível.

Decidi dividir esse capítulo em partes por que ainda não terminei de escrever o final dele (ainda me recuperando emocionalmente da season finale de Supernatural) Então, na quinta ou sexta posto a segunda e última parte.

E devido a um bloqueio em que não consegui escrever nada que preste esse capítulo foi o meu melhor que deu para fazer com ideia para ele, o que é melhor que nada apesar de não ter ficado muito bom hahaha. Espero sinceramente que gostem!!

Enjoy^^



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Antes

“Amor é uma fumaça que se eleva com o vapor dos suspiros; purgado, é o fogo que cintila nos olhos dos amantes; frustrado, é o oceano nutrido das lágrimas desses amantes. O que mais é o amor? A mais discreta das loucuras, fel que sufoca, doçura que preserva.” A menina repassou na sua cabeça uma das suas citações favoritas de Romeu e Julieta.

Sua mão tremia, e a arma estava instável nos dedos coberto com o vermelho vivo do sangue ainda quente, ela estava ajoelhada ao lado do corpo com o sangue sujando suas roupas.

Não recebera o que tinha pedido, em vez disso o amor de sua vida casaria com sua irmã. Não podia esquecer o quanto eles pareciam apaixonados e felizes enquanto ela não conseguia deixar de se sentir insultada pelo brilho do anel no dedo de Juliette.

Eles iam se casar, iam viver o seu conto de fadas. Ela foi enganada, tinha feito a prece errada, não recebera amor, apenas dor. Sua irmã não teria Rick, ele seria seu para sempre, seria seu pela eternidade, ela só precisava apertar o gatilho e se juntar a ele.

A garota apertou com mais força o cano da arma contra o peito, olhou pela uma última vez o seu amado. Rick estava deitado no chão de seu apartamento, o seu sangue cobrindo seu tapete persa que compara numa viagem com Juliette. O buraco na sua camisa não parava de minar com o líquido espesso e escarlate.

Ela fizera a coisa certa, estava convencida disso.

_Vamos ficar juntos para sempre meu amor. Por toda a eternidade.

Naquela madrugada os vizinhos acordaram com o som de um segundo disparo.


Agora



Beatrice - Nebraska.


Ouvi o farfalhar dos lençóis sendo revirados e a cama ranger, Dean havia acordado. Continuei a olhar meu reflexo no espelho. Minha pele estava pálida e minhas olheiras destacaram ainda mais o brilho azul doentio pigmentados em meus olhos, já meu cabelo estava perdendo o brilho e forma.

O que poderia dizer sobre os últimos dias... De uma coisa com certeza é obvio saber, as coisas não melhoraram. A ferida em meu peito ainda latejava forte, nunca pensei que diria isso. Nas melhores noites conseguia dormir algumas horas, outras tive pesadelos horríveis, via Adam morrendo em tantos deles, ele sofria tanto e eu simplesmente corria e não conseguia chegar a tempo, nadava e me afogava no meio do caminho, gritava e não era ouvida.

Essas noites eram acompanhadas de crises de choro, e a única coisa que eu lembrava era de Dean me abraçando forte enquanto chorava em seu peito.

Acordar, tomar banho, tenta comer e dormir. Repetia esse ritual a cada dia sem prestar realmente a atenção no que fazia. Os dias eram cinzas e as noites cada vez mais frias.

Mas com o passar das semanas fui conseguindo engolir em seco o choro. Basicamente minha vida se resumia em dor, uma camada após a outra formando uma pilha onde preferia passar por cima a desmembra-las.

Os passos Dean eram rápidos no quarto e em instantes ouvi as batidas fortes na porta do banheiro, respirei fundo. Dean continuou a bater na porta e começou a chamar meu nome.

Quando abri a porta ele me encarou apreensivo e depois que deu uma boa olhada em mim se aliviou.

_Relaxa, não vou me afogar no chuveiro ou me enforcar com a cortina. – disse passando por ele e indo me sentar a cama para amarrar os coturnos.

_Isso não é engraçado. – replicou Dean, normalmente ele não gostava quando usava humor negro como respostas.

_Não estou rindo. – rebati. Enquanto eu fazia a volta no cadarço lentamente sabia que Dean me observava. _Diz logo.

_Você está bem? – essa vem sendo sua frase favorita nos últimos dias. Dean se culpava por tudo o que vinha acontecendo comigo, e sabia que ele nunca ia se perdoar pelo tapa. Essa questão para mim já estava resolvida, tinha ido longe demais e todos temos nossos limites.

_Não vai parar, não é? – ele balançou a cabeça negativamente com convicção.

_Acho que precisamos conversar sobre o que houve naquela igreja. – Dean assumiu uma postura mais séria. Tudo o que queria no momento era fugir do caminho que aquela conversa iria levar. Ele não se referia a morte de Adam, e sim todo o resto. Dean me faria um monte de perguntas que provavelmente não saberia responder ou não queira responder e aí nós começaríamos tudo de novo. Ele falaria eu responderia e pronto nossos pavios curtos cederia a faísca e estaríamos brigando, para variar.

Não fazia ideia do que tinha acontecido depois que saímos de lá, eu tinha uma leve impressão que Sam e Dean tentavam esconder de mim qualquer informação que saia nos jornais sobre o ocorrido. Era grata por isso, pela primeira vez eu não me importava em saber, não queria saber.

Fiquei alguns segundos olhando para ele, fitando seus olhos verdes cristalinos direcionados a mim, os braços cruzados de modo que faziam seus músculos se evidenciarem. Desfiz o laço do cadarço e retirei o coturno, fiz o mesmo com as meias.

_Dean, tire a roupa.

_O-oque? – gaguejou franzindo o cenho.

_Você me ouviu. – levantei da cama e parei bem a sua frente. _Tire a roupa. – completei pausadamente no seu ouvido.

Dean engoliu em seco e me olhou como se eu tivesse pedido para ele tirar a roupa na frente de uma multidão, depois ele sorriu torto.

_Não, eu... você não parece bem, é... – pela primeira vez o vi sem jeito. Isso quase me fez rir, ao invés disso retirei a camiseta bem devagar.

_Se você não quiser eu posso começar sozinha. – mantive a voz sussurrada. Dean arfou depois sorriu sem graça, um leve rubor coloria suas bochechas. Ele usava todo seu autocontrole para não ceder. Estava bem a sua frente, sem camisa e pedindo por ele, todo seu esforço estava se esvaindo como água. Ele engoliu em seco mais uma vez. _Não estamos ficando mais jovens aqui Dean.

_Isabel, não acho que seja uma... – ele nem conseguia terminar a frase.

_Dean, para de falar e me beija logo.

_Bom se isso vai te fazer se sentir... – coloquei o dedo indicador em seus lábios e em seguida me posicionei nas pontas dos pés e colocando meus lábios entre os seus.

E apenas isso foi o suficiente para fazer todas as correntes que o impediam de me agarrar quebrarem.


... - ...


_Sam, você ouviu o que acabei de dizer? – perguntou Dean. Os dois estavam numa lanchonete próxima ao hotel em que estavam hospedados - Isabel preferiu ficar no quarto alegando que estava sem fome - Sam parecia muito entretido com sua salada, mas tinha ouvido o que Dean estava falando. O irmão mais velho levou o prato de Sam para longe enquanto este ainda comia. Sam colocou a última garfada na boca e jogou o garfo no seu prato roubado ao lado do Burger Bacon com muita batata frita de Dean.

_É, eu ouvi, está reclamando por que uma mulher quis transar com você. – nisso a garçonete tinha acabado de chegar a mesa do rapazes ouvindo claramente o que Sam tinha dito, assim como dois homens sentados perto. A garota lançou um olhar estranho a Dean antes de perguntar:

_Querem mais alguma coisa?

_Não, obrigado. – respondeu Sam, Dean sorriu para ela, pela primeira vez ele não foi correspondido. Quando a garçonete se afastou Dean chutou a canela de Sam em baixo da mesa.

_Ei! – reclamou Sam massageando o local dolorido.

_Fala mais alto, talvez os caras lá atrás não ouviu você. – disse Dean sarcástico se curvando sobre a mesa falando baixinho.

_O que quer que eu diga? – perguntou Sam e depois tomou um gole do suco que esquentava enquanto conversavam.

_Você não acha que ela anda um pouco estranha? Mais que o normal. Sabemos que ela não tem um histórico psicológico excelente em lidar com perdas. Quero dizer... – ele fez um sinal com dedo girando perto da cabeça.

_Ela não é louca! – afirmou Sam reprovando a atitude do irmão.

_Não estou dizendo que ela seja Hannibal Lecter ou algo do tipo, só estou dizendo que é uma atitude... inusitada para alguém que a duas noites estava chorando pela morte do melhor amigo. Ela pulou em cima de mim, literalmente, e cara ela tem jeito com a...

_Dean, não quero ouvir a versão detalhada. – interrompeu Sam fazendo uma careta. Dean sorriu sacana, pegou algumas batatas e enfiou na boca, algumas mastigadas rápidas e continuou.

_Não estou reclamando disso, mas nós só estávamos conversando sobre... filha da mãe.

_O quê? – perguntou Sam tentando achar o detalhe que talvez tivesse perdido.

_Ela me manipulou com sexo por que sabia que eu ia cobrar certas explicações sobre o que houve na igreja. – Dean se recostou na cadeira se sentindo idiota por ter caído na de Isabel com apenas algumas insinuações. _Não acredito que fui usado desse jeito. Sabe com quem ela se daria bem? A nossa querida falecida amiga Bella. – Sam suspirou achando que o irmão estava exagerando. Dean distraidamente pegou uma garfada da salada de Sam e levou a boca, mastigou duas vez, percebeu que tinha pego a refeição errada e involuntariamente cuspiu de volta para prato.

_Cara. – reclamou Sam irritado com o irmão. _Você é nojento.

_Como consegue comer isso? Tem gosto de capim. – Dean pegou um guardanapo e limpou a boca, empurrou o prato para Sam, o mais novo empurrou de volta fazendo os pratos na mesa baterem com um estalico.

_Como você sabe que gosto capim tem? – retrucou Sam.

_Quantos anos você tem, doze? Parece com uma responda dessas. – rebateu Dean.

_Cala a boca.

_Você cala a boca. – disse Dean de um jeito que parecia que na verdade era ele o garoto de doze anos. Os dois se recostaram na cadeira, cruzaram os braços virando o rosto. Nem ele nem Sam tinham terminado de comer.

O caçula foi o mais maduro e quebrando o silêncio.

_Talvez ela esteja tentando superar a dor de ter perdido alguém que era importante para ela. Isabel está um pouco confusa, é de se esperar pelo tudo que passou. Algumas pessoas encaram o luto de maneiras diferentes, buscam alivio através de alguma coisa, uns acham na bebida outros no sexo. Dê um tempo a ela. – Dean encontrou algo direcionado a ele mesmo que sem querer. Ele tinha consciência que muitas vezes encontrou alivio para dor de uma perda no fundo de uma garrafa.

_Obrigado, Oprah. – disse em tom amigável. Sam sorriu.

_Você tem razão, estou preocupado demais com meu drama doméstico quando deveria me preocupar com o elefante branco do apocalipse no quarto. – e foi assim que o almoço agradável se tornou mais carregado. _Algum problema novo para adicionar a lista de problemas insolucionáveis do fim dos tempos?

_Você diz além de ainda não termos achado um jeito de parar Satã, ou termos anjos querendo nossos corpos ou cabeça e claro a garota que carrega uma bomba nuclear no peito ?

_Parece pior quando você diz. – Sam suspirou.

_Sinto como se estivéssemos perdendo tempo, deveríamos fazer alguma. – se manifestou Sam cheio de frustração.

_Uma coisa de cada vez Sammy, primeiro temos que lidar com Projeto Alice lá em cima. – agora Dean estava visivelmente mais sério. _Acho que Cass tem razão. – completou.

_O que quer dizer ? – perguntou Sam se inclinando sobre a mesa e apoiando os cotovelos nelas, ele parecia tão assombrado quanto Dean.

_Você viu o que ela fez, acho que devemos encontrar uma maneira de para-la ou bloquear esse... poder. Isso é grande demais para nós. Tenho certeza que se qualquer um dos lados a pegarem... – Dean deixou a frase no ar. Não precisava ser dito o que realmente pensava. Sam concordou mesmo sentindo um calafrio subir a espinha.

_Como pretende fazer isso? – perguntou Sam.

_Não faço ideia. – admitiu Dean. Os dois guardaram seus pensamentos em silêncio, Sam ocasionalmente bebia de seu suco e Dean terminava seu hambúrguer.

_Vamos nessa, não posso deixar ela muito tempo sozinha. – disse Dean enfiando o último pedaço na boca e deixando alguns dólares na mesa.

Os dois atravessaram a rua a caminho do hotel.

_Talvez isso possa melhorar as coisas. – Sam tirou do bolso da jaqueta um jornal amassado. Dean pegou o jornal e olhou a capa recheada com tragédias cotidianas, anúncios e fofocas.

_Puxa, obrigado um jornal de ontem vai ajudar muito, como não pensei nisso antes. – Sam bufou impaciente.

_Olhe a última página. – Dean obedeceu e olhou a última página. Nela havia algumas novidades sobre cultura e uma lista de filmes que estrava aquela semana.

_Cinema? Está falando sério, o mundo está desabando e você quer ir ao cinema? – questionou Dean com o cenho franzido ao que o irmão caçula queria propor.

_É, o mundo não vai se incendiar durante em duas horas. Eu sei que as coisas andam meio pesadas entre vocês dois e com tudo o que aconteceu, talvez seja bom para Isabel sair um pouco. Fazer alguma coisa normal para variar. Afastar ela um pouco daquele quarto, e...

_E de mim. – completou Dean.

_Não foi o que quis dizer, só que achei que seria... legal. – disse Sam sincero. Dean pensou um pouco, com certeza não estava no clima para fazer coisas "normais" como qualquer casal normal.

_Eu não sei, acho que não. Eu passo.

_Tudo bem, eu posso leva-la.

Não tinha intenção de fazer daquilo uma situação constrangedora, afinal não era nada de mais e ao ser ver seria uma coisa totalmente inocente. Só duas pessoas saindo juntas, mas ele já se sentia desconfortável.

Os dois haviam concordado em tirar pelo menos duas semanas de "folga", esperar a poeira baixar - o caso em Buford tinha rendido grandes notas nos jornais. Nem a policia ou as pessoas envolvidas sabia explicar o ocorrido. Basicamente ficavam em um lugar por três noites e depois pegavam a estrada, se manter em movimento fora um dos conselhos de Castiel, e eles não poderia concordar mais. Por ele estava tudo bem, tinha gastado esse tempo para poder analisar certas coisas, tentar encontrar um possível plano para impedir Lúcifer ou pelo menos prever seu próximo grande passo - ele sabia que viria - e encontrar paz para si mesmo, como aconselhara Isabel. Já Dean estava começando a subir pelas paredes.

_Então seria um encontro? – perguntou Dean.

_Não é um encontro.

_Soa como um.

_Eu só achei que seria interessante sair um pouco. Não sei se lembra, mas Isabel não foi criada como nós, ela teve uma vida difícil mais normal. Pensei que trazer um pouco dessa normalidade de volta seria bom. Eu posso leva-la se não for um problema para você. – estavam quase na entrada do hotel.

_Você quer minha permissão ou coisa do tipo? Cara, não é comigo que você tem que falar. – Dean na verdade não sabia muito bem que pensar, tinha que admitir que era uma boa ideia, o clima naquele quarto de hotel entre ele e Isabel estava bem carregado e sufocante. E ele sabia que de algum jeito Sam fazia bem a ela, e Isabel confiava nele. Não tinha notado essa aproximação até o dia em que a igreja desabou em cima do melhor amigo dela, e Isabel chorou no peito do irmão e não no dele.

E lá estava ele de novo, preso no seu drama doméstico, quase nem se reconhecia.

_Então, para você tudo bem? – perguntou Sam quando cruzaram o terreno do hotel. Começaram subir as escadas para o quarto no prédio baixo e cumprido.

_É claro, mas antes eu quero saber quais são suas reais intenções mocinho. – brincou Dean numa tentativa de descontrair e mascarar seu desconforto. Sam o ignorou.

_E o que você vai fazer hoje a noite?

_Eu? bem, vai ser um típico sábado a noite de Dean Winchester. Eu vou encher a cara e assistir a casa erótica no pay per view. – Dean sorriu maroto para o irmão. Sam ignorou.

_Você é nojento. – foi o que disse, para lá de acostumado com os costumes do irmão mais velho.

_Você já disse isso Sammy. – Dean abriu a porta do quarto e a deixou aberta para que Sam passasse.

Isabel estava sentada na cama com pernas dobradas cercada por fotos em todo o colchão. Eram suas últimas revelações, tinha aproveitado que os meninos havia ido almoçar e foi buscar as fotos que mandou revelar no dia anterior.

Ela levantou os olhos quando os meninos entraram, sorriu para Sam, que correspondeu com o mesmo gesto.

_Como está o braço? – perguntou ela.

_Melhor. – respondeu Sam.

_Eu vou tomar um banho. – anunciou Dean lançando um olhar para os dois antes de pegar as coisas entrar no banheiro fechando a porta atrás de si fazendo a madeira velha ranger nas dobradiças.


... - ...


O cheiro de pipoca estava impregnado no ar. O aroma doce e salgado era convidativo e há muito tempo esquecido por mim. Estávamos ali, os dois sem saber muito bem o que fazer, estávamos completamente fora do nosso habitat natural. Eram muitas luzes, muitas pessoas, muitas risadas.

Confesso que estranhei quando Sam me propôs a saída, hesitei em aceitar, mas lá no fundo eu precisava mesmo respirar um ar puro. Precisava deixar de lado a dor que me sufocava toda noite e não me deixava dormir. E saber que Dean parecia não se importar me incentivou ainda mais - ele acenou para nós da cama vidrado na tv com uma garrafa de cerveja na mão e na outra um pedaço de torta - e esse era o homem por quem me deixei amar.

O mais estranho era que a muito tempo não fazia algo como aquilo, não era um encontro, mas eu iria ver pessoas e elas iriam me ver, sabia que parecia uma adolescente caipira indo ao primeiro encontro, e era assim que eu me sentia. Não me prendi muito ao que vestir, se pensasse demais ficaria no hotel vendo Dean ficar bêbado. Vestia um vestido simples, curiosamente o mesmo vestido que usava quando encontrei Dean naquele maldito bar, por cima um trench coat preto, o clima estava bem frio lá fora. Nos pés as usuais botas. Resolvi prender o cabelo num rabo de cavalo já que não conseguia doma-lo.

_Tudo bem, nós parecemos dois bichinhos de cativeiro na selva pela primeira vez. – Sam concordou, parecia que finalmente tinha consciência de aquilo era uma péssima ideia. _Vamos lá, são só adolescentes, eles não mordem.

_Tem certeza? – ele indicou com a cabeça um canto perto. Dois adolescente praticamente engolia a cabeça um do outro. Fiz uma careta.

_Vamos. – coloquei mãos nos ombros de Sam e o guiei para fila.

_Então, o que quer ver?

_Olha, tem uma sessão especial Massacre da Serra Elétrica daqui a quinze minutos. – apontei para o quadro de horário acima dos caixas.

_Nada disso, lembre, hoje é a noite de folga, sem sangue, sem mortes. Vamos ver um filme clichê, e miseravelmente previsível sobre a Jennifer Aniston se apaixonando pela milésima vez. – disse Sam se dirigindo ao caixa para comprar os ingressos.

_Achei que nunca iria ouvir essas palavras vinda da boca de um cara. – falei com um sorriso se iniciando no rosto. Sentia meus ânimos se animarem.

_Você não ouviu. – Sam se esforçava para parecer muito sério, o que fez meu sorriso se alargar.

Ele comprou os ingressos - usando um cartão falso - e depois fomos para a fila da pipoca.

_A pipoca é por minha conta. Lembra, isso não é um encontro. – disse com um sorriso provocador, Sam levantou as mãos em falsas rendições. Peguei o meu cartão do bolso do casaco. Sam examinou o nome escrito nele.

_Tudo bem, Effy Scully.

_Foi coisa do Dean. E qual é, quem se chama Effy?

Depois daí entramos no breu de uma sala de cinema, não numa cidade fantasma, ou fábrica abandonada. Estávamos seguros, pelo menos gostava de pensar que sim. O que podia dar errado naquele passeio?


... - ...


O terceiro gole desceu com mais facilidade. Dean bateu o copo no balcão acompanhando o som da bateria na música dos Rolling Stones.

Depois que a cerveja acabou e não sobrou nem as migalhas da torta Dean ficou entediado. As quatros paredes pareciam se fechar em volta dele e sua mente só pensava em que o irmão e Isabel estaria fazendo naquele momento, até os gemidos e os corpos se contorcendo na tv passaram despercebidos. Quando não aguentou mais pegou as chaves e saiu a procura do bar mais perto. Assim encontrou naquele pardieiro chamado Joe's bar.

O bar estava fervilhando, rock clássico estourando no velho jukebox, fumaça de cigarro acima como névoa, o tilintar de garrafas de cerveja nas mãos de homens parrudos com braços tatuados vestindo jaqueta de couro, no fundo uma mesa de sinuca a pleno vapor.

Apesar do cheiro de gordura impregnado nas paredes, o balcão grudento e a morena peituda praticamente no seu colo, ele se sentia bem. Bêbado o suficiente para esquecer Sam e Isabel, Miguel no seu corpo, demônios e anjos, mas desperto o suficiente para não deixar que lhe roubassem a chave do Impala.

Dean bateu no balcão e a loira sorriu novamente para ele enchendo seu copo com o seu melhor whisky, que não era nem de longe o melhor que tomara. Dean pegou o copinho e virou tudo na boca.

_Parece tão sozinho, não gostaria de uma companhia? – perguntou a morena ao seu lado no seu ouvido. Era evidente o que a morena fazia para ganhar a vida.

_Desculpa... – ele apertou os olhos para enxergar o nome escrito num pingente em seu pescoço. _Kristal, mas eu não preciso pagar por isso. – a morena não pareceu ofendida, confirmando o palpite de Dean. Seus lábios um pouco carnudos demais para seu rosto brilhava com um gloss rosa, Dean podia até sentir o cheiro adocicado do produto.

_Quem falou em pagar? – respondeu ela sedutoramente. A sombra brilhante preta e prateada chamava atenção para seus olhos castanhos, os cílios carregados pareciam pesar. Essa Dean com certeza dispensaria.

Antes que pudesse responder a provocação a garota atrás do balcão falou por ele.

_Kristal, eu tenho certeza que os caras ali atrás estão se sentindo mais sozinhos, por que não vai lá fazer companhia a eles. – a loira não fazia um pedido.

_Mas, eu e o...

_Dean. – respondeu, mas olhava para a bar tender.

_Dean, nós estamos nos divertindo...

_Vai, Kristal. – ordenou a loira com impaciência. Kristal olhou para Dean em busca de objeções, ele continuou com a mesma expressão.

_Tudo bem, não sabe o que perdeu. – disse estreitando os olhos porpurinado para Dean.

_Pode ter certeza, eu sei. – falou Dean, mesmo Kristal já tendo se afastado, rebolando na sua mini saia e salto alto prateado. _Minha heroína tem um nome? – a menina sorriu para ele enquanto enchia outro copo ao lado.

_Jenny. – ela devolveu a garrafa para a prateleira atrás de si, e pegou uma garrafa de cerveja em baixo, abriu com o abridor preso no passador da calça justa e ofereceu garrafa a Dean. _Por conta da casa. Me desculpe pela Kristal, ela as vezes é um pouco... inconveniente.

Dean deu um gole na cerveja.

_Que nada, sua amiga é um encanto. – respondeu sarcástico.

_Ela não é minha amiga. Ela tem um acordo como dono do bar, faz os caras gastarem em bebidas e depois os arrastam para motel ao lado.

_Seu patrão é com certeza é um empreendedor nato. – ela sorriu e pegou a garrafa da mão dele, levou os lábios e tomou um gole.

_Eu estou pensando. – Dean esperou que ela concluísse a frase, isso não aconteceu, parecia que queria criar um suspense. Dean deu continuidade ao joguinho.

_No que está pensando?

_Em quando ele vai perguntar a que horas eu saio? – Dean sorriu torto, sentiu algo se agitar no estômago, não era excitação pelo que poderia está preste a fazer e sim por que bem lá fundo adormecido pelo álcool ele sentia a precipitação de está fazendo algo errado. Por sorte ele não precisou responder de imediato, alguém chamou Jenny no outro lado. Ela deixou a garrafa no balcão e foi atender.

Dean respirou fundo, tamborinou os dedos na mesa, e se surpreendeu consigo mesmo por está um pouco nervoso. Jenny era uma garota bonita, nisso tinha reparado desde que sentou ali, mas algo o incomodava. Culpa? Isso é ridículo, não é como se eu estivesse em um relacionamento sério. Sua consciência respondia a sua indecisão. Mas mesmo assim ele suava, e se sentia pesado mesmo ainda não ter feito nada. Xingou baixo.

_O que disse? – indagou Jenny.

_Hã, é, nada. Não disse nada. – ela olhou para ele em expectativa, esperava que dissesse alguma coisa. Dean limpou a garganta, lutando contra seu lado que insistia em tentar fazer com que as palavras que dissesse seria o que a moça esperava ouvir. _Olha, Jenny, você é uma garota legal...

_Mas, o motivo de você está aqui é uma garota. Eu entendo, estou um pouco envergonhada mais entendo. – Dean sorriu acanhado não se sentindo muito satisfeito com sua decisão, mas mesmo assim sentia que fazia a coisa certa. A garota sorriu para ele e se virou para abastecer o copo de outro cliente.

Dean balançou a cabeça tomando mais um gole da cerveja.

_É interessante a associação que os homens fazem ao álcool e a superação de uma desilusão amorosa. O que tem de mágico em dilatados de alguns grãos, doses de álcool e alguns anos em um barril poeirento? – Dean olhou para a dona da voz. Ele perdeu o ar por um segundo, era como se tudo tivesse perdido a cor perante a ela. A ruiva se destacava de uma maneira única. Ela era bonita a qualquer olhos, pele perfeita e cabelos longos da cor do fogo, olhos perigosamente verdes, simplesmente era difícil parar de olhar. Dean fez o que podia fazer, gaguejou algumas palavras:

_O-o que disse? – ela olhou para ele como alguém olha para um filhotinho de algum animal fofo. O modo como Dean estava entrelaçado aquela mulher era surreal, ela era simplesmente estonteante mesmo na sua simplicidade.

_Oh Dean, vocês, homens, humanos são tão... bonitinhos. Sempre esperando por aquele empurrãozinho. Claro, as vezes são patéticos e covardes, mas... – ela passou as pontas do dedos pela mandíbula de Dean. Ele ficou imóvel, preso naquele olhar penetrante e fervescente. Dean faria tudo por aquela mulher. _Eu gosto disso. – ela parou de tocá-lo, ele não queria que o fizesse.

A mulher deixou a ponta dos dedos circundarem a ponta da garrafa, Dean acompanhou tudo tentando manter a respiração regular. Ele reparou apenas no bracelete feito uma corrente cor de ouro evolvendo o pulso dela até o cotovelo como uma cobra dourada, parecia se mexer, mas ele provavelmente estava sentindo os efeito do álcool.

Pequenos fios rosa, como fumaça controladas se estendeu da ponta dos dedos dela circundou a garrafa e em espiral foi se misturando ao líquido até se dissipar. Dean não sabia o que dizer ou pensar, suas emoções fora inundadas com um fogo que ele não sabia explicar só queria sentir a luxúria e paixão que emanava da moça a seu lado.

_Q-quem é você? – gaguejou outra vez.

_Continue bebendo, isso vai aliviar sua dor. – disse a bela. Assim Dean fez, bebeu a cerveja sem nem prestar a atenção no gesto. A moça sorriu para ele, e Dean deixou escapar um pouco da cerveja da boca, o filete escorreu pelo queixo e pingou no colarinho, mas não importava ele parecer patético, ela estava sorrindo para ele e... oh não, ela estava indo embora.

Dean pegou algumas notas amassadas do bolso e colocou sobre o balcão, ouviu Jenny falar alguma coisa e ele não entender uma palavra.

O Winchester abriu caminho por entre as pessoas seguido o rastro deixado pela moça, ele via o modo como ela tocava as pessoas e elas faiscavam com aquela luz gasosa rosa. Ele sentia quando tocava nelas o poder inebriante da bela que se afastava e ficava cada vez mais difícil alcançar.

Quando chegava perto ele parou, alguém tinha irrompido seu caminho. Kristal, Dean não teve escolha a não ser parar e olhar para ela, seus olhos estavam manchados pelas lágrimas. Dean não sabia o que fazer, se seguia a mulher misteriosa ou ficava e perguntava a Kristal qual era o problema.

_Eu só... só queria ser amada... – ela dizia, sem muito nexo enquanto agarrava a camisa de Dean e lágrimas escorriam de seus olhos. Dean viu o último vestígio do vestido dourado, uma faísca rosa e depois ela desapareceu. _Por favor, me ame, eu preciso...

Dean não podia mais ouvir Kristal, ele tirou as mãos da garota de sua camisa e seguiu rumo a saída.

Quando chegou escancarou a porta, o ar da noite açoitava seu rosto e ele olhava para todos os lados sem entender como ela havia sumido tão rápido. A mulher não estava lá, nem na esquina perto. Dean parou e como se alguém soprasse uma resposta pra uma pergunta inexistente ele sabia para onde teria que ir. Tinha que voltar para ela.


... - ...


O ar estava gelado e uma leve brisa fria corria entre nossos corpos deixando minha pele arrepiada e me fazendo apertar mais forte o casaco ao corpo. Tínhamos acabados de sair do cinema, concordamos em fugir da massa de adolescentes felizes e casais apaixonados e decidido caminhar pelas ruas silenciosas e fria de Nebraska.

O céu estava cinzento e não se vi uma estrela, a lua se esforçava para aparecer mas logo se escondia por trás das nuvens carregadas. As ruas em que seguíamos estavam praticamente vazias, com exceção de um ou dois pedestres passando de cabeça baixa mantendo-se as sombras. Sob nossos pés o afasto úmido pela chuva recente. Parecia o cenário perfeito para um filme de suspense.

Me lembrava muito as ruelas de Oxford á aquela hora. Todo o clima deixava uma sensação de nostálgica. Sam caminhava a meu lado perdidos em pensamentos.

_Uma libra pelo seus pensamentos. – o empurrei de leve com meu ombro. Ele só sorriu saindo seja lá de onde sua cabeça estava.

_Não tem nada que valha a pena acredite. – disse simplesmente. Resolvi não insistir. Então um leve sorriso se espalhou pelo seu rosto. _O que achou do filme?

_Foi... divertido. – respondi franzindo o cenho pela pergunta.

_Mentirosa. – disse Sam baixo apertando os lábios contendo um sorriso.

_Como é? – perguntei surpresa.

_Você dormiu quase o filme inteiro. – respondeu Sam como uma acusação.

_O quê? Isso é um absurdo, eu não dormi o filme inteiro. – me defendi indignada.

_Eu tenho provas. – Sam tirou do bolso o celular, apertou alguns botões e depois mostrou para mim a tela. Nela havia uma foto minha, um pouco escura por causa da iluminação da sala, mas dava para notar que estava com os olhos fechados e claramente dormindo.

_Há qual é, foi quase duas horas de Jennifer Aniston com problemas emocionais tentando decidi se se abre ou não para o misterioso bonitão que apareceu na sua vida de repente. E no último segundo ela perceber que o cara é na verdade seu verdadeiro amor que vai ensina-la a amar novamente. – Sam me acompanhou numa risada.

_Aceito sua justificativa.

_Acho que isso foi o máximo que dormir em semanas. – falei tentando não perecer triste ou amarga e fracassei totalmente nessa função.

Sam olhou para mim percebendo minha súbita mudança de humor. Desviei o olhar para a ponte que se estendia a nossa frente. Coloquei as mãos no bolso do casaco e respirei o ar úmido. Um rio passava tranquilamente por baixo da ponte baixa de pedra. Caminhamos para o meio da ponte, onde me apoie no parapeito e olhei para baixo. O rio seguia feito um véu negro ondulante pelo vento, um cheiro de sujeira, sal e bolor vinha das águas.

_Sobre isso, eu sinto muito pelo o que aconteceu. – disse Sam baixo, mantendo um tom cauteloso dando sinceridade as palavras que disse.

_Eu também. – respondi para o rio. _Eu sinto todos os dias. – completei num sussurro que tinha quase certeza que ele não ouvira.

Mesmo assim sorri, aquelas poucas horas com Sam tinha sido as mais agradáveis em meses tentando seguir em frente, passando por cima dos meus problemas. Sentia que em qualquer quarto em que ficava com Dean carregava como mobília toda carga de tristeza e o peso que nós dividíamos.

_O que foi? – perguntou Sam quando notou meu sorriso.

_Por que está fazendo isso? quero dizer, você é um cara inteligente, bonito e muito interessante e eu vi como a garota do caixa olhava para você. Poderia sair com qualquer garota, não estou falando em namorar, mas sei lá, talvez alguém que possa ser seu encontro de verdade, que termine com ela na sua cama e não na do seu irmão. – era fofo vê-lo ficar sem graça e vermelho.

_Acho que o motivo de você e Dean se darem tão bem e ao mesmo tempo tão mal é por que são tão parecidos.

_Só queremos o seu bem Sammy. – falei com um sorriso cínico. Ele balançou a cabeça e desviou o olhar.

_Faz tanto tempo que nem sei mais como fazer isso.

_Então eu acho que está na hora de um curso básico de paquera da tia Corand. – era difícil falar sério com ele contendo o riso. _Primeira lição: O poder do olhar, olhe para garota por pelo menos cinco segundos e depois desvie, isso mostra que está interessado. Segunda lição: O sorriso. Esse é um de seus pontos forte, sorria e pronto você leva a garota. Terceira lição: Seja confiante. As garotas gostam disso. E com isso você estará pronto para arrasar corações. Um último incentivo: Vai tigre! – Sam só sabia ri e eu também. Adorava o som da sua gargalhada, e por um segundo me perdi nela. _Me desculpe, estou sendo estúpida.

_Não, de jeito nenhum. – Sam passou a mão pelo rosto se recuperando, esperou um tempo até o momento passar para dar uma resposta a minha pergunta. _Tem uma razão para que não deixamos pessoas se aproximarem, as coisas que caçamos ver nisso nossa fraqueza e essas pessoas acabam se machucando para nos atingir. Estou focado no que devo fazer para conter os estragos que causei, em encontrar um jeito de parar Lúcifer, não penso em trazer alguém para isso, não quero que ninguém se machuque por minha causa.

_Você é tão nerd. – falei não perdendo a oportunidade de provocá-lo.

_Parece que estou falando com Dean. – dei um soquinho de forma amigável no seu ombro me mostrando irritada com o comentário mesmo sorrindo, o que suavizou o efeito. _Como ia dizendo, além do mais eu gosto da sua companhia, você é engraçada.

_Deus, não diga isso, você acabou de irritar as milhares de pessoas no mundo que ganham a vida com o humor. – balancei a cabeça e olhei para a paisagem das casas e prédios além do rio. _Eu fiz de novo, estou sendo boba, me desculpe.

_Parar de se desculpar por ser você.

_Sam? – chamei me virando para olha-lo e me surpreendendo quando encontrei seu olhar já em mim. Seus olhos brilhavam como os de gatos na noite cinzenta. _Obrigado por isso. – ele encolheu os ombros, como se aquele agradecimento não cabia a ele ou fosse desnecessário.

_É para isso que serve os amigos. – disse se juntando a mim no parapeito da ponte. O ar frio trouxe um pouco de cor as maçãs de seu rosto. Estávamos próximos o suficiente para sua mão quase encostar na minha, por um momento confuso e muito breve achei que ele pegaria minha mão, mas me forcei a deixar o momento passar e olhar para qualquer outra coisa a não ser seu perfil. Esperava que o frio desse uma desculpa para o rubor nas minhas bochechas. _E como você está?

Fitei seus olhos, não esperava aquela pergunta. Fiz um esforço para não demonstrar a resposta sem nem citar uma palavra. Mas só estava sendo idiota por tentar esconder de Sam a verdade, não fazia sentido, em poucas semanas ele me viu de diferentes maneiras, e eu depositava nele minha sincera confiança. Respirei fundo e disse o que achei que seria mais difícil pronunciar para qualquer um:

_Estou a ponto de explodir. As coisas estão acontecendo tão rápido que eu queria... queria fazer parar para pelo menos eu poder respirar. Por que é assim que eu me sinto, sem ar o suficiente, assustada com a possibilidade de que se eu respirar mais aliviada algo ruim possa acontecer. Parece que tudo conspira para que eu não consiga encontrar um pouco de paz. Como se não deveria estar aqui, andando entre vocês, viva. – engoli em seco, não deixando que os olhos me traíssem ficando úmidos e minha voz se colocasse contra mim se deixando embargar. _Perder Adam foi a pior coisa que poderia me acontecer agora, achei que não suportaria, e quase não suportei, mas aqui estou eu, rindo com você. Mas nada vai me fazer me sentir menos... vazia. Não entendo muitas coisas, não consigo controlar nem a mim mesma, e toda vez que olho no espelho vejo nos meus olhos a responsável por toda dor que causei a mim. Então é, estou ótima.

Sam olhava para mim como se visse algo que eu não enxergava em mim. Estava comovido e eu percebi que tinha falado demais, não queria que sentisse pena de mim, não que demostrasse que sentia, só odiava me expor desse jeito e está sujeita a compaixão de outra pessoa. Pisquei algumas vezes para clarear a vista, limpei as poucas lágrimas do rosto e tentei me manter firme, a temperatura pareceu baixar um grau.

_Eu... – tentou dizer Sam, o cortei.

_Não, por favor não diz nada, não precisa. – Sam se calou respeitando meu pedido. Ficamos em silêncio por um bom tempo, absorvendo as palavras cheia de sentimentos que coloquei entre nós.

Depois de um tempo limpei a garganta, por mais que apreciasse o silêncio tinha que quebra-lo.

_Sam, tem uma outra coisa que eu queria... discutir com você. – disse de forma meio formal. Tinha realmente um motivo importante por trás da minha decisão de sair com Sam. Ele se voltou para mim, a expressão concentrada esperando pelo o que tinha a dizer. Respirei fundo organizando meus pensamentos. _Naquele dia em Buford, quando estava sendo atacada por... o demônio possuindo Adam, notei algo estranho, além de tudo é claro. O que estranhei de verdade foi que ele tentava me matar, não me machucar e me levar para Lúcifer, mas sim me matar. – Sam escutava como cenho franzido concordando comigo, o que me deu mais força para continuar na minha ideia insana. _Então ele disse que talvez o demônio Crowley tivesse razão, que talvez Lúcifer não se importasse com eles, então para quer me deixar viva para ele? Entende onde quero chegar? Aquele ataque não foi algo planejado por Lúcifer.

_É, eu entendo o quer dizer. Eu tive a mesma impressão, é como se eles estivessem... se rebelando. – podia até ver as engrenagens na cabeça de Sam começando a girar junto as minhas.

_Exatamente. E se fizéssemos com que eles acreditassem que estão certo, que Lúcifer não se importa tanto assim com eles. Se colássemos a ideia de que talvez eles pudessem serem livres. Iríamos iniciar...

_Uma guerra. – completou Sam, como se nossos pensamentos tivessem conectados de alguma forma. _Mas como vamos fazer isso, pelo o que disse o demônio tentou matar você, estaríamos apenas dando mais motivos para eles acharem que podem matar você.

_Por isso precisamos de um intermediário. Conhecemos alguém que foi esperto o suficiente para perceber que Lúcifer não é o Deus que pensam. – Sam pensou por poucos instantes, e via de novo aquela expressão assombrada e quase acadêmica de quando Castiel despejou para ele a verdade sobre minha origem.

_Crowley. – concluiu.

_Isso. Ele será nosso principal meio de comunicação.

_Você está falando em se aliar a um demônio?

_Não, estou falando em usar um demônio. E da aos outros algo em que se ocuparem ao invés de quererem nossas cabeças numa badeja pronta para Lúcifer ter sua refeição. – sentia o sangue fluir com a empolgação de um novo plano. E Sam era a pessoa certa com quem podia dividir essas ideias e explorar as melhores opções. _Estou dizendo em colocar um contra o outro, fazer com que se matem enquanto nós nos ocupamos em encontrar um jeito de parar o diabo.

Sam balançou a cabeça passou as mão pelos cabelos e refletiu sobre o que eu disse enquanto encarava o rio a frente.

_Acha mesmo que eles ouviriam você?

_Não. Eu sou só um símbolo, Sam. Demônios são arrogantes demais para parar e pensar que estão sendo manipulados, entrarão nessa dispostos a mostrar quem é o melhor e quem tem a razão. Se pelo menos conseguíssemos conquistar um bom número outros viram e então teríamos um exército. Estou falando de uma barricada para não deixar que Lúcifer nos alcance. Imagine se eles pensarem que tem o que o pai deles mais quer em mãos. – toquei seu braço para que ele olhasse para mim e visse o quão sério falava. _Sam, eu estou contando isso á você por que acho que é a pessoa certa que pode me dizer que isso é loucura ou que é uma boa ideia.

_Poderia ter falado para o Dean. Saber oque ele acha.

_Acha mesmo que ele aceitaria numa boa. Já posso imaginar o que diria. Você bateu com a cabeça? Não vou deixar você fazer isso. É muito arriscado. – fiz a minha melhor imitação de Dean. _Vamos contar a ele, mas preciso de você me dando apoio.

_Não acho que seja um plano ruim, mas... – ele parou de falar, olhava um ponto acima da minha cabeça, franziu a testa, o rosto ficando branco. Me virei e segui seu olhar. Num ponto não muito distante, uma garota se debruçava na extremidade da ponte.

Acompanhei enquanto ela passava a perna sobre o parapeito da ponte. Meus pés pareciam fincados no chão quando entendia o que ela tentava fazer. Sam foi mais rápido processando a informação, começou a correr para para-la.

_Ei, moça, não... – gritou Sam. Continuei olhando enquanto a garota lançava o corpo no rio abaixo.

Finalmente encontrei movimento e comecei a correr. Sam tinha parado e agora se debruçava sobre o parapeito a fim de ver onde o corpo da moça caíra. Me juntei a ele ofegante.

_Ligue 911. Vou descer, não consigo ver daqui. – disse para mim enquanto encontrava onde se segurar nas ferragens da ponte e depois encontrou uma pequena e enferrujada escadinha na extremidade da ponte abaixo das ferragens. Feito isso ele começou a descer o mais rápido possível.

Olhei em volta e não tinha ninguém para testemunhar o que acabara de acontecer.

_Sam, cuidado! – gritei enquanto ele desaparecia na névoa.

_Ligue 911. – gritou de volta, sua voz um pouco distante mais ainda audível.

Despertei do meu torpor e peguei o telefone no bolso do casaco. Disquei o número e depois de dois toque fui atendida. Expliquei com calma a situação e tentei me localizar para fornecer o endereço certo. Eles confirmaram o que disse e pediram para eu manter a calma que mandariam viaturas ao local.

Estava inquieta e com o coração palpitando. Não aguentaria ficar ali parada esperando. Sem pensar muito bem tirei o casaco o colocando no parapeito. Ladrões era minha última preocupação no momento. Fiz como Sam havia feito, encontrei onde me segurar entre os ferros torcidos da ponte e tentar encontrar com a ponta dos pés o degrau.

Quando encontrei fui deslizando as mãos devagar entre as hastes de metal e descendo meu corpo bem desajeitadamente. Sentia a dificuldade daquilo que não vi em Sam. Aos poucos fui descendo, sentindo nos dedos a fuligem e lodo soltar.

Havia uma distância de mais ou menos um metro e meio onde acabava os degraus e a água corria solta a baixo, nas extremidades do rio podia ver um espaço estreito de concreto coberto por lodo e sujeira, o muro de pedra coberto por hera se estendia para rua. A água ondulava abaixo, mas era a parte rasa já que estava na extremidade.

Sem delongas pulei. A água espirrou para meu vestido e logo penetrou nos meus sapatos. Estava tão gelada que me fez arrepiar e me arrepender logo de deixar o casaco no parapeito. Arrastei os pés na corrente rasa da água e me encolhi contra a parede de pedra, tentando manter o equilíbrio me segurando nas plantas crescendo entre as pedras.

_Sam! – chamei. Parei e esperei, não conseguia ver muito a frente. Uma nebrina era mais espessa no nível mais baixo da ponte e a baixa iluminação contribuía para minha falta de visão.

_Aqui! – gritou uma voz perto, a frente. Andei pelo o solo escorregadio, logo encontrei Sam. Ele estava agachado na margem do rio, o corpo da moça estava metade na água e outra metade Sam assegurava-lhe no seu colo. _O que está fazendo aqui? Era para ficar lá em cima esperando o resgate. – falou assim que cheguei e me agachei a seu lado. Na voz o mesmo tom que Dean usava comigo quando fazia algo que ele não aprovava, algo entre impaciência e preocupação.

_Ela está viva? – perguntei ignorando sua desaprovação a minha descida ali. Olhei de perto a mulher. Um longo corte atravessava-lhe a testa começando além da raiz do cabelo. O sangue que escorria do talho era misturado a água do seu corpo molhado deixando sua pele mais limpa e o corte mais aparente.

A maquiagem que cobria seus olhos escorreu e criou uma mancha preta abaixo dos olhos. Ela também não estava vestida apropriadamente para o clima, suas roupas eram curtas e apertadas e em algum ponto ela perdeu um par das sandálias de salto prateadas.

_Não sei, acabei de puxa-la do rio, acho que bateu a cabeça em alguma pedra. – olhei para Sam e constatei que ele estava completamente encharcado, nas pontas do cabelo a água escorria. Antes que continuasse a moça abriu os olhos abruptamente, fazendo eu e Sam arfarem com o susto.

_Você... me ama? – disse a garota numa voz esganiçada. Sangue começou a escorrer da sua narina esquerda, ela revirava os olhos e com um último lampejo de vida algo se acendeu nos seus olhos. Um brilho rosa intenso que no mesmo segundo que apareceu foi embora.

A cor rosa ainda permanecia pregada a minha visão mesmo tendo se apagado. Olhei para Sam tentando confirma que eu não estava vendo coisas. Ele me encarou com os olhos arregalados de surpresa. No peito da moça algo mais brilhava, um pingente com um nome. Kristal, o nome dela era Kristal.

_Acho que temos um caso.



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Notas finais do capítulo

Eae, O que acharam? Gostaram? Algum palpite de quem seja ou o que seja a mulher misteriosa? Deixem Reviews !!!

Até breve anjos :)



XOXO



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