Broken Girl escrita por Iris


Capítulo 12
Capítulo doze: Acenda uma luz


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei, eu sei, o capítulo ficou absurdamente enorme, mas tem uma explicação; vou ficar sem computador uma semana ou mais, não vou poder postar ou escrever, só responder comentários pelo celular. Então resolvi fazer esse super capítulo ao invés de dividir em partes para não ficar muito tempo sem postar a continuação. E é isso...

Sobre o capítulo, posso dizer que está recheado de ação (mesmo não sendo muito boa nisso haha), e... ha vocês vão ver, ou melhor ler.
Espero MUITO que gostem!! Boa leitura.

Enjoy^^



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Ping, ping. Fazia o gotejar ali perto. Dean não fazia ideia de onde estava. Era um lugar escuro e úmido, as paredes eram ásperas e bolorentas, uma única porta com abertura em cima onde uma luz amarelada passava dava a Dean um pouco de visão. Havia acordado a quase uma hora, nos primeiro minutos o silêncio recebeu seus gritos e insultos enquanto tentava se soltar da cadeira a qual estava amarrado, depois ele parou quando viu que sua voz só reverberava no vazio e as cordas só machucavam seus pulsos. Sua cabeça doía por conta da coronhada que levou e seu corpo começava a reclamar por está numa posição tão limitada.

Quando enfim se cansou começou a se torturar com os eventos anteriores. Seu pesadelo não era acabar em uma caverna escura e sim perdê-la e perder seu irmão. Sam, ele tinha perdido Sam. A preocupação com seu irmão e com Isabel lhe corroía por dentro. Sem muito o que fazer deixou os pensamentos se perderem.

Ele bateu nela, ela disse que o odiava e ele disse que a amava. Dean via aquilo como era; insano. Um relacionamento inflamado, ele não entendia como as coisas funcionavam entre os dois, não era saudável. Mas como um trem desgovernado era praticamente impossível parar e impedir os estragos. Ela o tinha ferido e muito. Ele havia confiado nela, contado para ela o que o perturbava, algo que deixou uma marca permanente em Dean e Isabel tinha simplesmente jogado aquilo contra ele.

Foi baixo, foi difícil de ouvir e muito mais de controla o que veio em seguida. Nunca tinha perdido o controle daquela maneira, não com uma mulher.

O arrependimento que sentia não poderia nem ser colocado em palavras, cada nervo seu queria voltar no tempo e nunca ter sequer levantado a voz.

Ele disse que amava, foi sincero. Não diria apaixonado, mas algo mais amadurecido, complexo, mesmo com pouco tempo. Aquela palavra com quatro letras era única capaz de achar explicação na teia que ele se encontrava e não se esforçava para se libertar.

E ele não tinha muita certeza do que sentia em relação a sua "transformação",só sabia que no ponto auge de sua raiva ele não viu mais nada além daqueles grandes olhos azuis brilharem no escuro com uma cor doentia, não era humano. Naquele momento não era mais a menina que lhe chamou a atenção no momento em que o Impala a fez parar e olhar para ele, aquela garota toda atrapalhada ajoelhada no chão complicando o trânsito era quem ele poderia entregar sua vida. Agora o difícil era encontra-la por debaixo daquela capa sobrenatural.

O que seria deles a partir dali era uma incógnita.

Dean se retesiou quando ouviu vozes. Apurou os ouvidos e ficou imóvel.

_E o que faremos com a garota? – Dean sabia quem perguntava. Reconheceu a voz de Antony.

_Vamos fazer uma troca, a garota pelo meu filho.

_Acha mesmo que vão nos entregar o Leon, isso se ele ainda...

_Cala essa boca! – vociferou Jhonny.

_Desculpe eu não quis... – pelo visto Jhonny era mesmo quem mandava ali._O que querem com ela?

_Não faço ideia, nem sei quem é essa garota, mas não é coisa boa. – Dean ouviu os passos se afastarem. Seu coração martelou quando ouviu a menção a Isabel.

Por favor, não machuquem a minha garota.


...– ...


Anjos voavam acima da minha cabeça. Corpinhos gorduchos e suas asinhas aplumadas, alguns deles estavam sentado em nuvens fofas feito algodão, outros tinham instrumentos a boca entoando alguma canção que era impossível ser ouvida.

A pintura no teto abobadado foi a primeira coisa que vi quando acordei. A superfície abaixo de mim era macia porém dura em certos pontos, meu corpo amparado pela cama parecia que ia afundar a qualquer momento e ao mesmo tempo sentia-me como se pudesse flutuar.

Pela primeira vez foi um despertar tranquilo, como acordar depois de dormir muita horas sem interrupções. Minha cabeça ainda estava bem grogue. Me esforçava para tentar entender como fui parar ali.

Virei a cabeça no travesseiro e meus olhos anuviados encontraram um rosto. Se estivesse com minha total força e consciência teria gritado ou pulado da cama, mas o que fiz foi retesiar o corpo enquanto reconhecia bem aquela face. Meu coração começou a disparar e a emoção me fez pular da cama desajeitadamente e lançar os braços em volta dele quase o derrubando.

Ele retribuiu o abraço. Como sentia falta de poder toca-lo, mas, mas eu não entendia e nem queria saber o quê ele estava fazendo ali. Não sabia o que pensar. Como uma flor toda empolgação de vê-lo novamente foi murchando, aquilo poderia ser um sonho. Me afastei dele e olhei bem seu rosto, seus olhos castanho piscavam para mim e seu sorriso fácil me recebia. Apertei as mãos no seu ombro, verificando se era sólido e não iria dissolver ao toque.

_Mas como você... Adam, eu senti tanto sua falta... eu... – aos poucos o pesadelo que passei horas antes foi voltando. _Espera como você... eu não... – um arrepio me subiu a espinha. Não, não pode ser.

Adam sorriu para mim, um sorriso que não conhecia. Não podia sufocar o choque quando seus olhos tomaram coloração preta. Dei alguns passos para trás sentindo todos os meus sentidos falharem comigo. Recuei até minhas costas encontrarem o sólido, fui deslizando por ela até minhas mãos encontrarem uma maçaneta. Qualquer coisa que me livrasse daquele pesadelo.

Ele caminhava em minha direção e eu queria me fundir a parede até atravessá-la. Simplesmente era demais para encarar. Mexi freneticamente na maçaneta. Implorei aos deuses que me tirassem dali.

_Calma, achei que ia ficar feliz em me ver. – o encarei sem saber direito que movimento tomar, sem saber direito o que dizer ou o que deveria pensar.

Ele pegou gentilmente meu pulso afastando meus dedos da maçaneta. Meu coração parecia a ponto de falhar.

_Não. – consegui dizer antes de minha voz desfalecer e meus olhos embaçarem.

_Shh, não precisa chorar, não gosto de te ver assim. – as pontas de seus dedos roçaram minhas bochechas, tive que engoli em seco o grito que tentava escapar da garanta.

_Por favor, deixe ele. Eu faço o que você quiser, só por favor... – supliquei deixando a voz se perder nas lágrimas mornas.

Ele sorriu mais uma vez e seus olhos varreram meu corpo de forma minuciosa.

_Ah você vai fazer o que eu quero. – ele fez uma pausa e pensou um pouco. _Acho que vai servir. – disse para si mesmo. Todo o meu chão parecia ter sido retirado debaixo de mim.

_O que fizeram comigo? agora finalmente sentia o efeito da droga ou sei lá, minha vista ficava turva e minha cabeça rodava. Ele se afastou de mim indo para o canto do quarto ficando de frente para um enorme vitral, seu rosto foi banhado por pontos de luzes coloridas lhe dando uma aparência fantasiosa.

_Aquilo, foi um dardo tranquilizante. – à sua frente uma mesinha forrada com uma toalha de linho creme e desenhos em aspirais feitos com linhas douradas na borda. Uma garrafa de vinho no centro, duas taças e dois pratos cobertos com uma tampa de prata tão polida que refletia como um espelho. E ao lado talheres da mesma cor. _O efeito vai passar logo.

_O que fizeram com Sam?E o Dean? – estava a beira da histeria. Ele sorriu como se tivesse captado alguma coisa no que falei que eu não.

_Você perguntou primeiro pelo Sam e não pelo seu Romeu. Interessante. – não achei que era um fato interessante, aquilo não queria dizer nada. _Não se preocupe com isso. – ele pegou uma taça e derramou o liquido vermelho do vinho dentro, levou ao nariz, inalou suavemente o aroma e depois tomou um gole.

O gesto nobre me fez notar suas vestes. Adam vestia um blazer preto por cima de uma camisa branca bem passada e usava jeans escuro e sapatos sociais, seus cabelos estavam perfeitamente penteados. Ele parecia pronto para uma festa. Nunca o vi vestindo roupas tão sérias, com exceção ao enterro da minha família.

Ele fez um gesto com a mão desocupada para que eu olhasse para o meu lado esquerdo. Ao lado da cama uma penteadeira e ao lado desta, num gancho na parede, um lindo vestido cuidadosamente posto em um cabide. Seu tecido de seda cor de pérola reluzia mesmo a pouca luz. Na penteadeira grampos, maquiagem e uma escova de cabelo. Bem no canto, no chão abaixo do vestido, uma sandália de salto com tiras prateadas. Olhei de volta para ele com um ponto de interrogação estampado no rosto assustado.

_Nós vamos jantar. Mandei passarem esse vestido para você e providenciarem todos esses assessórios. Quero vê-la vestida adequadamente. – pisquei, várias vezes, atônica sem a menor ideia do que estava acontecendo.

Era impossível deixar que as lágrimas escorressem silenciosamente pelo meu rosto. Parecia que tinha uma faca pressionadaa traqueia. Adam se sentou e me olhou de sua poltrona esperando. Não conseguia me mexer ou talvez não quisesse.

Adam suspirou. Sua mão foi ao blazer e de lá ele retirou um canivete, o abriu e como se fosse um movimento cotidiano enterrou a lâmina na coxa. Antes de me impedir um grito escapou da minha garganta. O demônio retirou o canivete devagar e limpou a lâmina na manga do blazer, o sangue brotava do ferimento formando uma mancha escura no jeans.

Devagar fui retirando a camiseta que foi presente deleenquanto Adam me observava.

_Você deve está se perguntando a quanto tempo. – comecei a abrir o ziper da calça. _Não muito, mais precisamente algumas semanas depois que você fugiu com o Winchester. O objetivo era atrair você, observar de perto, mas você desligou na minha cara quando liguei. E o que posso dizer? Gostei desse corpo. Acho que me apeguei. Só fiquei um pouco desapontado, imaginei que iria encontrar uma paixão reprimida pela amiguinha, ou pelo menos pensamentos mais... inapropriados. Mas imagina minha surpresa quando descobrir que o nosso Adam é realmente um bom garoto. – ele sorriu como se falasse de um terceiro.

Estava só de lingerie tremendo, não de frio. Ele continuou me observando maliciosamente, se não estive tão aterrorizada teria ficado envergonhada. Adam de repente se moveu como se descongelasse e levantou da cadeira. Meu sangue congelava e meu coração era ouvido nos tímpanos.

_Vou lhe dar um pouco de privacidade. Vou chamar alguém para ajuda-la. – antes de sair ele sorriu para mim e a parte detrás de seus dedos acariciaram de leve meus ombros e desceram perigosamente seguindo o decote do sutiã. Eu parecia uma estatua. No instante em que se afastou e saiu pela porta descongelei e arfei sentindo o desespero invadir meu corpo. Segurei com força a borda da penteadeira para não cair.

Quando estava preste a ter um surto a maçaneta girou, engoli o choro. Quem entrou não foi Adam e sim uma mulher.

_Olá, sou Grace. – se apresentou. Continuei calada. Ela tinha um rosto gentil, jovem também. Os fios espessos do cabelo presos num rabo de cavalo alto a deixava mais nova do que talvez devesse ser.

A princípio achei que o modelo da blusa deixava um volume na parte da frente, mas logo percebi que o volume era provocado pela sua gravidez. Essa provavelmente era mulher de Jonathan.

_O que está acontecendo? – fui logo perguntando.

_Eu estou aqui para lhe ajudar a se vestir. – balancei a cabeça tentando encontrar sentido naquilo. Olhei em volta do quarto, pela primeira vez o analisando. Era pequeno e abafado, parecia estar localizado no alto, numa torre de alguma igreja.

Tinha uma cama, a mesa do outro lado, a penteadeira e um pequeno armário com um bimbo, daqueles bem retro, com estampa floral. As paredes eram de pedras cinzas e bem cuidadas e o vitral também com motivos floreais, eram tantas cores, era tão lindo. Era estranho como a mente amedrontada reparava em detalhes tão insignificantes.

_Por favor, não pode deixar ele fazer isso comigo, você tem que me ajudar. – supliquei tentando aplacar a queimação nos olhos. Meu estômago revirava só de pensar na ideia. Grace parecia genuinamente amedrontada.

_Desculpe, eu não posso... – corri para a porta e girei freneticamente a maçaneta, como antes, nada. Meu medo começou a se inflar e tomar forma. Mesmo sabendo que a porta não abriria continuei tentando. Minhas mãos começaram a tremer, meus dedos ficaram doloridos e minha visão não conseguia enxergar nada nitidamente. _Moça, eu também preciso que me ajudem, por favor, faça o que ele pediu.

Ele era o meu melhor amigo, trancado no próprio corpo. Meu irmão que sem querer eu tinha arrastado para minha vida sangrenta. Faria qualquer coisa por ele, até mesmo me entregar para um demônio. Parei de tentar resistir e engoli qualquer emoção.

Com ajuda de Grace, que não foi muita por conta dos movimentos retardatários devido ao estágio de sua gravidez, nós duas fizemos tudo em silêncio. E no fim ela prendeu meu cabelo com grampos deixando alguns cachos caírem livres, nos lábios coloquei o único batom disposto, um vermelho.

O toque do vestido era tão macio que parecia nuvens, a seda escorregava estrategicamente em alguns lugares, vinha justo do busto a cintura e se abria sutilmente nos quadris até os pés. Apertei o laço em volta do pescoço, o modelo frente única dispensava o uso de sutiã, mas dava um volume bonito no busto.

Ao mesmo tempo em que via meu reflexo no espelho, uma imagem de mim mais bonita, me sentia profundamente triste.

_Pode me dizer se os rapazes, os que vieram comigo, pode me dizer se estão bem? – ela desviou o olhar como se culpasse por alguma coisa.

_Não sei dizer, mas não falaram em matar, pelo menos não um deles.

_Obrigada. – minha voz saiu completamente sem vida. Ela assentiu e foi até a porta. Antes de bater para sair se voltou para mim.

_Me desculpe não poder ajudar. Eu sei que vieram para nos ajudar, mas...

_Mas vocês acharam melhor nos entregar como oferenda para os demônios. – não queria soar raivosa, afinal Grace poderia ser apenas uma vitima, mas era difícil evitar.

_Sabe, Jhonny é um bom homem, ele só está tentando proteger nossa família. – disse Grace como se tentasse convencer a si mesma além de mim.

_Matando outra no lugar. – minha frieza a afastou, ela lembrou que não deveria estar ali conversando com sua refém. Grace se virou para porta mais uma vez.

Fechei os olhos para bloquear as lágrimas teimosas para logo em seguida abri-los novamente quando senti algo gelado ser colocado nas minhas mãos. Era uma pequena adaga de caçador, tinha símbolos desenhados na lâmina além de vários pentagramas no cabo. Aquilo com certeza não era uma adaga comum. Apesar do peso leve na mão sentia que segurava um canhão.

Grace se afastou com um acordo silenciosos entre nós. Ela bateu na porta, três batidas e depois de uma pausa duas, era o código que tinha combinado com Adam. Rapidamente coloquei a adaga na cama em baixo da minha camiseta.

Adam entrou no quarto me virei para olha-lo, ele sorriu satisfeito com o resultado. Se moveu ficando bem perto de mim, pegou minha mão e com a outra devolveu a taça vazia a mesa. Ele me fez girar e parou de frente para o espelho. Sentia sua respiração quente na nuca.

Se quisesse sair dali teria que usar a adaga em um lugar vital, como seu coração ou garganta. Era isso mesmo? Estava cogitando matar meu melhor amigo? Simplesmente estava aturdida com a ideia. Olhava para ele atrás de mim, respirei fundo e tentei ao máximo não me retrair.

Deixei que ele passasse a ponta dos dedos na fica cicatriz na base do meu pescoço e descer, passando pela minha clavícula, ombros e depois passearem lentamente pelo meu seio e parando na cintura. Sua outra mão puxava levemente meu cabelo inclinando minha cabeça para que seus lábios pudessem marcar ali com facilidade.

_Você é linda. – sussurrou no meu ouvido. _Achei que poderíamos jantar primeiro, mas não posso mais esperar. É incrível essa energia fluindo de você, é... irresistível.

Não me movia, enquanto me sentia violada por ele não conseguia me mexer a não ser deixar que ele desatasse devagarinho o laço do vestido, a fita longa caiu sobre as costas. Pelo espelho observava o caminho que as gotas de lágrimas faziam no meu rosto, desciam lentamente e se encontravam na ponta do meu queixo se unindo e escapando para deixarem uma marca no meu vestido.

Ele deixou cair a parte da frente do vestido deixando meus seios a mostra no espelho, se apoderando deles logo em seguida com suas mãos que antes não tinha reparado que eram tão fortes. Apertei os lábios rubros não lhe dando a satisfação de ouvir a reação que meu corpo queria demostrar ao seu toque.

_Ele ainda está vivo? – perguntei. Ele me virou e segurou firme meu queixo, não me deixando alternativa a não ser olhar para aquele rosto que há muito tempo daria tudo para ver novamente.

_Sim, e ele está adorando cada parte disso. – sabia que ele estava mentindo.

Adam ainda estava ali dentro lutando com todas força para se libertar. Ele inclinou seu rosto e seus lábios roçam nos meus. Não movimentei os meus a principio, mas assim que eles tomam movimentos ele me guiou para cama. Devagar me deitei nela com ele por cima.

Adam tirou o blazer, em seguida me apertou contra seu corpo na cama.Seu beijo se tornou mais voraz, respondi a ele, e minhas mãos também.

O cabo era frio ao toque. Era só acertar o lugar e pronto. Podia fazer isso. Tudo bem, ia transar com um demônio no corpo do meu amigo e depois? Eu precisava fazer alguma coisa, era egoísta pensar assim, mas me importava comigo também. Não conseguiria ir adiante.Só precisava parar de pensar tanto e...

Me perdoa. Ajeitei o punho e o levantei para tomar impulso e mover a lâmina para a lateral de sua barriga. Algo aconteceu e eu não conseguir atingi-lo. Adam apertou meu punho no ar e se ergueu para ver a lâmina melhor.

_Ia mesmo matar seu melhor amigo?– ele apertava de tal forma meu punho que não resistir e soltei a adaga na cama. Adam riu. _Posso dizer que estamos surpresos. E onde conseguiu essa adaga?

_Ainda não terminei. Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica pote... – Adam levou a mão a minha garganta antes que eu terminasse o exorcismo. Segurei seus pulsos tentando inutilmente me livrar do aperto.

A cama rangia abaixo de nós, girei o meu corpo com força para o lado e nós dois caímos pela lateral, desabando com um baque surdo no chão. Saí de cima dele e me afastei, não para muito longe.

O demônio pegou a barra do meu vestido e começou a me puxar para si. Tentei encontrar algo em que me agarrar no chão, mas a madeira era lisa como linóleo. Com o pé livre acertei seu rosto e o golpe fez com que soltasse meu vestido.

Engatinhei pelo chão até conseguir ficar de pé. Tratei logo de me cobrir, amarrei de qualquer jeito a parte de cima do vestido e me preparei para seu ataque. Ele levantou devagar sorrindo.

_Quer mesmo fazer isso? – perguntou se aproximando. Não pensei na resposta. Movi o punho para frente o pegando desprevenido. O soco acertou seu nariz, sangue escorreu de sua narina esquerda, ele olhou para mim surpreso, passou as costas da mão abaixo do nariz deixando um rastro de sangue acima da boca.

Meu segundo golpe foi interceptado, Adam segurou meu braço e me jogou com força no chão. Caí a alguns passos dele, por sorte minha cabeça bateu em meu braço não me causando tontura. Me segurei na borda do colchão e consegui ficar de joelhos. E lá estava ela, estiquei o braço na colcha macia e peguei de volta a adaga.

O demônio não se esforçava para me ferir, já tinha feito isso usando o corpo da única pessoa no universo em que eu mais queria o bem. Ele pegou meus ombros e me jogou contra parede. O osso do meu cotovelo bateu com força na pedra fazendo uma dor atravessar todo o meu lado esquerdo.

Bastou um tapa para que a adaga voasse para longe. Dessa vez ele fez pior, agarrou meu cabelo e me arrastou para frente da penteadeira. Encarei meu reflexo por um segundo antes de minha cabeça rachar o espelho em mil partituras. O impacto fez tudo a minha volta girar. Perdi o senso de equilíbrio desabando no chão.

Ele girou meu corpo e colocou o seu por cima. Me debati e gritei para ele se afastar. Adam levou as mãos para debaixo do meu vestindo, subindo pelas minhas coxas. Comecei um agitar de pernas para afasta-los. Devagar começou a desabotoar a fivela do cinto. Fui tomada pelo pânico. Ele pegou a barra do meu vestido, que se acumulou nas laterais dos seus joelhos, e começou a rasgá-la abrindo uma fenda no tecido caro.

_Adam por favor, se você ainda estiver aí, por favor, me ajude. – gritei entre os soluços. Sentia algo quente escorrer da minha testa, meu sangue. _Por favor, Adam... – as calças do demônio foi abaixada revelando uma cueca preta, era evidente o quanto me queria. Ele pegou meu quadril e empurrou contra si. _Adam...

Houve um insight em Adam, assim que seus olhos focaram o meu eu percebi. Ele arfou e jogou o corpo para trás. Seus olhos partiam em todas a direções possíveis.

_Isabel?O que... falava se levantando aos trôpegos, o acompanhei.

_Ei calma, resista só por mais um pouco, não deixe ele vencer. Aconteça o que acontecer não ceda. – ele assentiu rápido demais, assustado demais. _Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas. – a cada palavra seu rosto se retorcia em uma careta. Ele gritava, colocou as mãos na cabeça. O demônio ia e vinha, fazendo Adam se mover pelo quarto numa dança estranha e berrar como se estivesse com o corpo em chamas. _Omnis incursio infernalis adversarii, omnis legio, omnis congregatio et... – parei quando vi que ele ria, seus olhos diabólicos brilhando como petróleo, o cabelo agora desgrenhado e um jeito trôpego de se movimentar. Ele deu alguns passos para trás e fez o que não esperava.

O vitral explodiu em milhares de cacos, como confetes jogados em uma festa, quando o corpo de Adam atravessou a janela. Coloquei as mãos sobre o rosto para me proteger. Quando tudo se aquietou corri para o parapeito e olhei para baixo. Era dia, nublado. O corpo de Adam estava deitado de costas num gramado a alguns poucos metros de distâncias, não se mexia e a única fonte de sangue visível era o ferimento que tinha feito na perna e alguns aranhões.

Sem pensar duas vezes coloquei os sapatos e comecei a bater na porta chamando por Grace. Como ela não atendia peguei um castiçal pesado e bati na maçaneta. Fiz isso por pelo que parecia horas e finalmente a maçaneta cedeu.

Antes de partir tropecei no vestido, agindo rápido procurei a adaga, quando encontrei do outro lado do quarto comecei a rasgar o tecido. Agora o cumprimento desnivelado ia do meio da coxa á acima do joelho. Não importava.

Saí em um corredor estreito e no final dele encontrei uma escada. A escada parecia eterna enquanto descia tão rápido que se tropeçasse a queda seria fatal. No fim corri num outro corredor e dei uma guinada a direita, ao longe uma claridade, que vinha provavelmente de um espaço maior. Meus pés quase derraparam quando adentrei no espaço usado para o altar da igreja. Parei, não por isso e sim por Portia me encarando surpresa assim como eu pelo encontro.

Por um segundo nenhuma de nós se mexeu. Olhamos uma a outra sem saber bem o que fazer. Ela agora usava uma calça preta com fendas rasgadas na coxa e para acompanhar uma camiseta cinza justa demais. De novo, detalhes inúteis em momentos inoportunos.

Então a cena descongelou, Portia sorriu maligna e foi a primeira a dar um passo, ela levou a mão no cós da calça atrás de si e puxou uma arma.

Pulei para cima dela e derrubei a arma em sua mão antes que ela tivesse a chance de aponta-la para mim e disparar. Portia reagiu e levou o punho ao meu rosto. Não doeu, mas o choque me atordoou por alguns segundos, segundos esses que ela soube aproveitar.

Portia conseguiu sacar uma faca do cinto. A lâmina voou a centímetros do meu rosto, desviei a tempo, abaixando e acertando sua barriga com força usando meu ombro. O golpe desestabilizou nós duas, ela se chocou contra o patamar do altar e eu caí em cima dela.

Velas e castiçais caíram com um estardalhaço e rolaram no chão a nossa volta, uma toalha nos cobriu nos deixando no escuro. Não demorei a reagir e tentar arrancar a toalha de altar de nossas cabeças. Me atrapalhei, seu tecido parecia querer me agarrar e não deixar que eu escapasse. Me atrapalhei tanto com aquela estúpida toalha que a única coisa que registrei foi ser arrastada para longe feito um adversário em um jogo de futebol americano. Meu corpo se chocou em uma superfície que estalou a minhas costas e se estilhaçou lançando metade do meu corpo para o vazio.

Uma chuva de cacos de vidro colorido caíram sobre nós e tilintou alto no eco da igreja vazia. Antes que caísse pela janela agarrei os cabelos de Portia. Ela gritou e segurou meus pulsos involuntariamente me trazendo para si.

Recuperando o equilíbrio empurrei sua cabeça para frente tirando a minha do caminho e batendo a dela contra a parede. Ouvi o som nauseante de seu crânio atingindo o sólido, mas ela era mais forte do que tinha pensado.

Seu joelho acertou minha barriga e o ar dos meus pulmões foi obrigado a ser expelido. Me curvei com a mão na barriga caindo de joelhos. O cérebro tonto de Portia contra o meu em falência de oxigênio foi o mais rápido. Ela se colocou em cima de mim, bloqueei um soco dela e ela uma cotovelada minha.

Primeiro ela estava por cima, depois foi eu e ela logo após. Estávamos rolando os degraus do altar entrando na nave da igreja. Nos separamos no processo. Um fato era inegável, estávamos acabadas, mas quanto mais deixava a dor levar a melhor mais vantagens ela teria sobre mim. A única coisa entre você e a morte é você.

Tateei com a mão o chão tentando encontrar o cabo da faca ou o da arma que ela deixou cair, até que tive um estalo; estava deitada sobre pequenas armas letais. Levantei o tronco e olhei Portia a meu lado, ela tinha uma mão sobre a testa, o sangue sujava seus cabelos prateados e ela grunhia de dor.

A centímetros de meus dedos a arma perfeita. Peguei o caco de vidro colorido, as duas terminações mortalmente afiadas como lâminas. Me arrastei até Portia me colocando em cima dela. Ergui o vidro não me importando se machucaria minhas mãos feridas.

Ela me olhava nos olhos, estava ferida, não seria de grande perigo. Seus olhos eram verdes como olivas. Seus olhos eram tão vivos antes de eu enterrar um caco de vidro em seu peito. Ela não gritou, sua boca aberta parecia se esforçar para liberar na atmosfera um grito preso na garganta.

O filho de Deus olhava para nós. No fundo da igreja uma grande escultura de Jesus pregado a cruz assistia um assassinato. Portia gorgolejou, um filete de sangue escapou de sua boca escorrendo pela bochecha e com um último arfar ela se foi para sempre. Passei os dedos sujos com seu sangue de leve em suas pálpebras cobrindo seus olhos. Infelizmente ela não parecia que estava apenas dormindo, pelo contrário.

De repente me senti oprimida pelas imagens sagradas pintadas nas paredes e nos vitrais das janelas grandes que ladeavam a lateral da pequena igreja. Me sentia cada vez mais suja. Soltei o caco no chão, o tilintar parecia agredir meus ouvidos como acusações. Eu matei uma pessoa.

Um grito grave reverberou as colunas da igreja. Procurei a fonte e o encontrei. Preferia está olhando para o próprio Lúcifer do que para Jhonny agora. Fui pega em flagrante. Ainda estava com o corpo morto de sua filha abaixo de mim, seu sangue em minhas mãos. Jonathan parecia que iria explodir em alguma emoção indecifrável e muito ameaçadora.

Suas passadas pesadas fazia o solo ranger enquanto ele avançava para cima de mim feito um trator. Saí de cima de Portia me levantando e já me preparando para correr, foi quando vi o cano do revólver em sua mão. Tive que tomar uma decisão em meio segundo; Correr para os fundos? Não sou mais rápida que uma bala. Voltar para o chão? Aposto tudo nessa. Que gire a roleta da morte.

Mergulhei no chão no exato momento em que a bala atingiu o ponto onde antes minha cabeça estava no meio. Me arrastei para baixo do bancos, minhas mãos estavam escorregadia por conta do sangue e a dor nas costas começa a aparecer, tudo isso contribui para meu desespero.

As balas explodiam do revolver e atingiam pontos próximos a mim. Lascas de madeira eram arrancadas dos assentos acima da minha cabeça. Não sabia exatamente para onde estava indo, só continuava engatinhando entre uma fileira e outra indo de encontro ao atirador. Era uma perseguição de gato e rato, infelizmente eu era o rato.

Os bancos acoplados a minha frente foi arrastado para longe com violência, parei congelada em baixo do anterior. Jhonny aparece no meu campo de visão e não estava acreditando que iria acabar assim, com mais uma vez tendo que encarar o cano de uma arma, e dessa vez não seria um dardo tranquilizante que iria sair dali.

Coloquei os braços por cima da cabeça num ato débil e totalmente desesperado. Apertei os olhos e esperei pelo fim. Vamos lá, seja rápido. Um disparo soou acompanhado de outro barulho de coisas se partindo e um estrondo de peso desabando. Não sentia mais as dores, minha pele estava brilhando e fogo angelical queimava em meu peito.

Foi uma carga pouca, mas o suficiente para arremessar Jhonny por cima dos assentos. Levantei sentindo as energias renovadas. O poder da luz me cansava e exauria, ao mesmo tempo em que me fortalecia. Mas sentia uma sensação estranha toda vez que usava dele, de que talvez fosse grande demais para suportar em meu corpo. Era como conter uma bomba nuclear. Ao contrario de como me sentia com o poder demoníaco, ele parecia um elixir que poderia tomar o quanto quisesse e me sentir invencível...

Jhonny tentou se levantar do meio da desordem, caiu e depois se pôs de pé mais uma vez. Ele parecia um vilão ruim saído dos quadrinhos. Seu corpo grande e sujo com sangue e poeira, no rosto uma máscara odiosa. Ele andava mancando me fitando com olhos surpresos e raivosos. Seus pés afastavam facilmente os destroços de madeiras do caminho e eu continuava congelada onde estava.

O caçador parou e ergueu a arma, que não sei como não se perdeu na queda, ele apontou novamente para mim, dessa vez a mão tremia e o lábio inferior também. Aquele homem perdeu a armadura no momento em que matei sua filha e usei do meu poder para feri-lo. Não tinha mais força ou coragem para tentar desviar da bala ou golpeá-lo. Esperei obediente, a tensão embalada a medo crescendo a cada segundo que ele se demorava.

Sua boca se escancarou soltando um grunhido e seu rosto se contorceu numa expressão de dor. Ele convulsionou as costas e arquejou caindo em seguida, a arma pendia ao lado do corpo, não apresentava ameaça nenhuma. Atrás dele foi revelada a fonte de todas aquelas reações.

Adam estava segurando um pedaço do que parecia ser um cano velho quebrado e enferrujado. Ele olhou para mim com olhos negros. De novo não. Adam pisou no corpo caído e seus passos eram direcionados a mim.

Corri, ou tentei, não cheguei a dar dez passos. Como uma águia pesca um peixe no oceano fui pega pela força invisível e arremessado do outro lado da igreja. Meu corpo se chocou contra a parede e caiu pesado no chão.

A dor lancinante fez uma trilha por cada membro do meu corpo. Por um longo momento fiquei paralisada pela dor. Nesse meio tempo Adam me alcançou e com a ponta do pé empurrou meu corpo para que eu ficasse deitada de costas.

Como uma boneca de pano ele agarrou meu cabelo e me ergueu do chão para me prensar na parede. Uma lágrima de dor brotava nos meus olhos, na boca sentia o gosto do sangue que escorria do nariz. Ele chegou o rosto bem próximo do meu, seu hálito cheirava a álcool por causa do vinho.

_Foi um truque interessante aquele que fez com nosso colaborador Jhonny. E seu amiguinho é mais forte do que pensei. Mas eu também tenho alguns truques na manga. – não esperei para ver. Meti o joelho entre suas pernas e acertei o punho em seu rosto, ele se desestabilizou e se afastou de mim. Ergui a perna e chutei a lateral da sua barriga, ele previu o golpe e segurou meu pé puxando com tudo minha perna me fazendo estabacar no chão de novo.

Não esperei ele me agarrar novamente, recolhi as pernas me enfiei em baixo de um dos bancos. Saindo pelo outro lado levantei e comecei a correr para os fundos da igreja. Adam vinha atrás, só que não corria, parei pulando o corpo de Portia e subindo novamente o altar. Tinha uma porta bem nos fundos, se fosse para ele talvez conseguisse escapar ou ficaria presa.

Mas o demônio ainda possuía Adam, o que deveria fazer? Deixar meu amigo?merda, merda, merda. Grunhir de frustração e tomei coragem para me voltar para Adam. Ergui os punhos pronta para uma luta. O que estava pensando? Nunca teria qualquer chance, mas talvez se Adam visse que estava me machucando poderia resistir e aí eu mandaria o demônio para inferno. E qual eram as chances de isso acontecer de novo? Apenas uma em dois bilhões.

_Uau, você é mais estúpida do que pensei, é adorável na verdade. me mantive firme. Ignorei a dor e limpei o nariz sangrento com a mão também suja com sangue.

Parti para cima dele, meu punho cerrado passou voando acima da sua cabeça, meu joelho acertou a lateral de seu corpo, isso o distraiu e conseguir acertar uma cotovelada em seu nariz. Ele me pegou, me girou e envolveu o ante braço no meu pescoço.

Antes que perdesse o ar usei meu calcanhar para acerta sua canela e meus dentes morderam a carne à minha frente, ele gritou quando senti o sangue amargo na minha boca. Me desculpe Adam. Ele me soltou. Girei o corpo para ficar à sua frente e olhar seu rosto, onde antes tinha divertimento agora era raiva.

Não tive tempo de pensar num próximo ataque, a mão de Adam agarrou meu pescoço e me empurrou contra uma estrutura próxima. Enquanto ele me erguia do chão tentava acerta-lo com os pés e meus punhos batiam em seu peito.

Adam me soltou para as costas da sua mão atingir meu rosto. Não doeu, ou eu não iria sentir na hora por conta da adrenalina correndo solta nas minhas veias. Ele pegou de algum lugar uma faca, a ergueu acima da cabeça e lançou o braço para frente. Por um milésimo de segundo o medo tinha me paralisado e no seguinte consegui bloquear a lâmina a centímetros do meu rosto usando meu ante braço contra o seu.

Meu queixo provavelmente caiu. Arregalei os olhos e me senti fraquejar pela primeira vez. Ele ia me matar, me matar! Até então tinha a certeza de que os demônios não queriam me matar e sim me capturar para Lúcifer. O que mudou?

_Não pode me matar. – disse debilmente. Ele sorriu, estávamos tão próximos que suas palavras foram sopradas para minha boca.

_Se Lúcifer te quer tanto ele pode colar seus pedaços de volta. – meu braço doía e tremia quando ele aplicou mais força para enterrar a faca no meu crânio. Cedi um pouco e a lâmina baixou para minha bochecha a ponta afiada perfurando de leve minha pele deixando um ponto dolorido.

Baixei a cabeça e soquei seu braço, os nós dos meus dedos sentiram ossos e músculos. A faca voou acima da minha cabeça e rasgou a tela do confessionário atrás de mim. Joguei meus braços em volta da sua cintura tentando o derrubar, ele simplesmente pegou a minha cintura e num movimento rápido de braços girou meu corpo em um arco me largando no chão com um baque.

Não sabia se conseguiria aguentar mais uma dessas. Engatinhei no chão tentando encontrar um ponto seguro para ficar de pé. Aos poucos me coloquei de pé e peguei um dos castiçais jogados no chão e segurei firme não tirando os olhos da lâmina da faca.

_Você é mais estúpido do que pensei. Se me matar ele vai matar você. – dei alguns passos para trás.

_O que te faz pensar que estamos fazendo isso por Ele?

_Por que está fazendo isso?

_Por que não? Talvez o demônio Crowley tenha razão, talvez Lúcifer não ligue para nós, quando tudo acabar o que seremos para ele? Meros subalternos? Ele não é o Deus que esperávamos. Nós queremos liberdade. – nesse momento ele avançou com a faca erguida, o castiçal bateu nela produzindo um som metálico.

_Pare! – pedi. Meu quadril bateu em alguma coisa e surpreendentemente ele parou. Não acreditava no que ouvia. _Todos vocês vão morrer, não podem fazer isso. Não sozinhos. Quantos sãos, dez? vinte? Ele vai esmagar todos como baratas, mas... – ele deu um passo a frente, dei um para trás. _Mas eu posso ajudar. Eu quero ajudar.

_E como pretende fazer isso, usando esses seus bracinhos? E por que ajudaria um demônio?– disse com desprezo.

_Você viu o que eu fiz com Jhonny, eu posso fazer mais. Juntos podemos vencê-lo. Eu tenho o sangue de Lilith em minhas veias não sou tão diferente de vocês.

_Se é tão poderosa por que não me mata? –perguntou.

_Não quero machucar meu amigo. – larguei o castiçal de lado. _Mas se quer me matar vai em frente.

Qual o problema comigo? Estava arriscando minha vida em algo que poderia está completamente errada. Levantei o queixo e encarei os olhos de Adam, ele parecia indeciso em que atitude tomar. Estava dividido. E o que tinha falado a pouco fora muito sério, não queria me livrar apenas dele e sim propor um sociedade. Já imaginava o reinado de Lúcifer caindo. Se existiam demônios contra Ele eu poderia ter uma pequena chance, só precisava mostrar que era confiável ou então me matariam por ser o que o diabo quer.

Feito um reflexo de luz num espelho algo brilhava ao meu lado. Presa a uma haste uma bacia de prata, dentro água limpa como cristal e bem no fundo feito uma cobra marinha um terço.

O som da minha risada intrigou Adam.

_O que é tão engraçado?– coloquei as duas mão na bacia não pensando no peso dela. Guiando toda minha força para aquele gesto, ergui a bacia e assistira água fazer seu percurso no ar e quebrar no corpo de Adam.

_Isso. – o efeito foi imediato, a pele começou a chiar e ele começou a berrar. Abaixei para pegar o terço no chão e pulei passando as contas do terço em volta do seu pescoço. Bati o joelho na dobra do seu o forçando a se ajoelhar. Segurando firme o crucifixo em volta de seu pescoço comecei a recitar:

_Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incuriso infernalis adversarii, omnis legio, omnis congredatio et secta diabolica… Ergo… – Adam abriu a boca e de lá a fumaça negra se ergueu, girou no ar depois atravessou uma janela quebrada sumindo em seguida.

Tirei a corrente do pescoço de Adam e me coloquei a sua frente, peguei seu rosto branco e o levantei para olhar em seus olhos. Ele piscou para mim e depois me afastou bruscamente,levantou e correu até a janela quebrada, curvou o corpo e o ouvir vomitar violentamente.

Continuei sentada no chão sentindo cada terminação dolorida. Agora que a adrenalina começava a se esvair sentio impacto de ser jogada na parede, ter o rosto acertado várias vezes, a cabeça batendo contra um espelho, o corpo atravessando um vitral, rolar degraus, ter a ponta de uma faca na bochecha. As vezes pensava que iria desmontar como peças de lego. Mas apesar de tudo estava satisfeita. Meu coração parecia leve para variar.

Matei uma pessoa mas salvei outra. Meu melhor amigo. Toda vez que pensava nessas três palavras me sentia de novo normal. Se era capaz de ter um melhor amigo seria capaz de ser normal.

_Ai meu Deus, o que aconteceu? eu, eu... matei pessoas. Eu matei pessoas! – enxergava o ponto em que Adam iria surtar. Levantei do chão molhado e tentei acalma-lo.

_Não foi você...

_Mas era eu, eu estava lá mas ao mesmo tempo não estava, era como, como...

_Estar preso no próprio corpo. – ofereci para ele as palavras. Adam andava de um lado a outro. Parou e colocou a mão na perna como se sentisse o ferimento pela primeira vez.

_O que eu fiz... – ele me olhou como se finalmente tivesse notado minha presença. Adam caminhou até mim mancando e me apertou nos braços. Pude respirar mais aliviada pela primeira vez desde que pisei em Buford. _O que eu fiz...

_Não foi você. – o repreendi. Lágrimas de alivio rolaram em nossos rostos. Pelo menos uma coisa naquilo tudo foi boa, pudê reencontra-lo. Ele se afastou e me analisou.

_Você está bem? – perguntou carregado de preocupação. Balanceia a cabeça afirmando que sim, mesmo sabendo que fisicamente não estava nada bem. Nos encaramos por um bom tempo e Adam balançou a cabeça confuso. _Por onde andou, o que faz aqui?

_É uma longa história, conto tudo depois, eu prometo.

Adam olhou para a igreja a nossa frente e encontrou os corpo nos chão, o de Portia bem próximo. Não queria que nosso reencontro envolvesse um assassinato, não queria que ele me visse como uma assassina por mais que parecesse uma, coberta de sangue com um vestido branco de seda rasgado.

Um soluço chamou nossa atenção na entrada da igreja. Grace estava ajoelhada ao lado do corpo do marido. Ela chorava com as mãos alisando os cabelos de Jhonny. Me sentia muito mal por ela.

_Escuta preciso que fique aqui com ela, eu tenho que achar uns amigos meus e aí podemos sair daqui. – disse para Adam, ele olhou para mim curioso.

_Desde quando se tornou a Ellen Ripley? – perguntou brincando, mas sabia que ele faria o que pedisse.

No chão próximo ao pé de Adam apareceu uma dádiva. A faca que mata demônios me esperava. Provavelmente era a faca que Portia empunhou.

_Vem. – fomos até Grace, ela se retraiu quando notou Adam. Depois de tranquiliza-la e garantindo que o demônio fora embora Grace se tranquilizou, ou quase isso.

_Grace, se você sabe de alguma coisa, algum detalhe, pode ser que não seja importante, mas qualquer coisa ajudaria. – ela parou de chorar e ajudei a coloca-la de pé.

_Eles falavam em uma fabrica e um galpão abandonado, ou coisa do tipo. – disse ela ainda chorosa.

_Tudo bem, obrigada. – me voltei para Adam. _Leve-a para a sacristia fiquem lá e eu prometo que volto para buscar vocês, mas se eu não voltar daqui há algumas horas tem um carro no começo da estrada, um Impala, peguem ele e fujam.

_Você dirigi um Impala? – perguntou Adam impressionado.

_O que? Não, eu não, é do meu... amigo. Não importa, vão ter que fazer ligação direta...

_Não sei fazer isso. – disse Adam.

_Eu sei. – respondeu Grace.

_Ótimo. Sabe se tem sal aqui?

_Não sei, mas posso verificar.

_Ok, bem você sabe o que fazer se encontrar. – ela assentiu.

Segurei firme a faca na mão e tomei coragem. Levei os dois até a sacristia. Grace entrou e Adam parou a porta.

_É isso que tem feito esse tempo todo, caçado demônios? – seu medo começava a aparecer, sabia que ele tinha muitas perguntas a fazer e quando tivesse tempo iria respondê-las.

_Na verdade é o contrário. Mas é basicamente isso. – ele estava branco como cera. _Enrole alguma coisa na perna para não infeccionar. – não queria ir, mas outras pessoas queridas precisavam de minha ajuda, mesmo uma delas ter me ferido de um jeito inimaginável.

_E eu achando que você fosse alguma espiã da MI6. – sorri para ele.

_Preciso ir. – ele me puxou num abraço e com um último aceno seu comecei a correr pela estrada.

O céu estava com cor de chumbo e o vento que corria era frio. Mas só tinha uma coisa em mente e não ia parar por nada.


...– ...


Finalmente um barulho despertou a atenção de Dean. Antes sozinho agora acompanhado por Marcus e Antony. Como odiava tudo em Antony, até sua voz o incomodava. Os dois falavam agitadamente do lado de fora da cela de Dean, alguma coisa estava errada, pelo tom acalorado Dean diria que alguma coisa não estava saindo como planejado. Ele tentou prestar a atenção.

_Como assim mataram o Leon? – perguntou Antony nervoso.

_Eu vi o que sobrou do corpo dele, nunca vão deixar que sairmos daqui. Jhonny ainda não passou o radio. Nós precisamos ir agora antes que venham buscar o cara. Vão matar todos nós. – alertou Marcus.

Houve uma pausa e depois Dean ouviu trinco da porta estalar, a porta da cela se abriu e a silhueta de Antony entrou em foco.

_Novidades Winchester, a sua pena de morte foi antecipada. – ele puxou do cós da calça uma arma e a apontou para Dean, este ergueu a cabeça e não cedeu nem em uma piscada de olhos. Marcus interveio e segurou o braço de Antony o arrastando para longe.

_O que diabos está fazendo? – perguntou Marcus, Antony o encarou, tinha nos olhos pela primeira vez medo.

Os caçadores não faziam ideia do que estavam fazendo. Estavam atolados de corpos por toda parte. Quando os ataques começaram eles fizeram de tudo para salvar a si próprio e a quem pudesse. E as coisas fora ficando mais escura e mais complicadas, até que Jhonny implorou para os demônios ajuda.

Montaram um grupo e dariam a mão de obra humana necessária. Jhonny poderia conseguir o que eles pedissem, e por esse motivo ainda continuaram vivos. Mas agora não eram mais úteis e como familiares, vizinhos e amigos acabariam mortos.

Antony por mais que fosse um cara durão já tinha chegado ao seu limite. Aquele momento em que percebeu realmente o que estava acontecendo a sua volta, quando o desespero da confirmação de que talvez não aja um final feliz bate a porta. E tudo o que fazem nesse momento é surtar. Confundi o certo com errado, o que deve fazer com o que não deve. E na mente de Antony ele deveria matar Dean, por que? Era a única coisa que ele poderia fazer, afinal tinha ouvido falar que o mesmo era um dos responsáveis por tudo aquilo.

_Eu vou matar esse filho da mãe. Nós vamos morrer aqui cara, não tem volta e eu não vou sozinho, esse cara. – ele apontou o cano da arma para a cabeça de Dean. Antony tinha até aquele olhar de quem não tinha nada a perder. _A culpa é toda dele e do irmãozinho esquisito. Vamos mata-lo e fugir desse inferno. Marcus balançava a cabeça de um lado a outro.

_Cara, eu não sei se...

Antony e Marcus tomaram um susto quando ouviram um barulho de algo estalar e quebrar e em seguida Dean estava no chão. Ele tinha chutado com o calcanhar uma das pernas bambas da cadeira de madeira, isso a fez desmontar sob seu peso.

Antony não teve tempo de reagir, mesmo no chão e ainda amarrado Dean chutou o pulso de Antony fazendo a arma quica na parede e cair fora de alcance de qualquer um dos três. Ele chutou o meio da pernas de Marcus o inutilizando por alguns minutos. Antony ainda atordoado tentou atacar Dean o chutando.

Dean passou a perna por trás da de Antony e puxou o fazendo desabar, agora os dois estavam no chão. Dean se apressou com as cordas frouxas, fazendo força conseguiu se livrar dos membros da cadeira quebrada ainda presos a si. Puxou os pulsos e sentiu as cordas se desenrolarem feito cobras dos pulsos.

Antony já recuperado do choque inicial partiu para cima de Dean. O primeiro golpe acertou o rosto de Dean, este sentiu a dor familiar de ter aquela parte do corpo atingida. Dean usou o cotovelo desferindo-o para o nariz de Antony. Houve um som parecido com o de nozes sendo quebradas e depois um berro de dor. Antony mesmo desnorteado pela dor tentou acertar seu oponente, Dean aproveitou o retardo que a dor provocava e interceptou o golpe segurando punho de Antony a centímetros do rosto empurrando seu peito para frente o fazendo cair para trás.

Mal Dean se recuperou da descarga de adrenalina Marcus vinha com sua arma apontada para ele. Mais uma vez sob a mira de uma arma ele fez o impensado e arriscado, o mais veloz que pode pegou uma das peças da cadeira e bateu com a arma improvisada nas laterais dos joelhos de Marcus. O tiro atingiu um cano fazendo um som metálico, o mesmo cano que gotejava. Água irrompeu em um esguicho tornando o cenário mais úmido. Marcus caiu de joelhos não resistindo o impacto e Dean viu sua brecha para se colocar de pé. Ou pelo menos tentou.

Antony teve a mesma ideia em usar a madeira disponível como arma e acertou a coluna de Dean com uma delas. Dean se desequilibrou no meio do processo em ficar de pé e voltou ao chão agora escorregadio por conta da água. Pela primeira vez sentiu de verdade o corte na barriga.

Dean rolou no chão para encarar seu adversário. Antony lançou a madeira de lado e pegou o que lhe parecia mais atrativo; a arma que Marcus derrubou. O Winchester estava caído ao lado de Marcus que grunhia no chão apertando a parte detrás do joelho. Dean sabia que ele iria atirar, e sabia o que iria fazer para não ser atingindo, parte sua queria que Antony voltasse atrás. Mas não voltou.

Dean não era capaz de se esquivar de balas, mas usando os segundos certos conseguiu puxar o corpo de Marcus para o seu formando um escudo de carne onde a bala se alojou no meio das costas do mais velho. Marcus arfou no seu ouvido, a barba arranhou o rosto de Dean enquanto seu sangue escorria pela boca e caia no colarinho da jaqueta.

Dean jogou o corpo para o lado confiando em que Antony não seria idiota de atirar novamente. E ele não era. Estava com os olhos arregalado como os de uma coruja. Dean rapidamente se colocou de pé. Marcus agonizada no chão, a água gelada deixando seu sangue ralo abaixo do corpo quente. Antony por um momento se perdeu e como um bom caçador não deixou a emoção levar a melhor.

Com os olhos faiscando de raiva ele se voltou para Dean que já esperava aquela reação, tanto que num movimento rápido tirou a arma da mão de Antony e os nós de seus dedos acertaram o queixo do rapaz. O golpe brusco fez o caçador cambalear para trás o Winchester o puxou pelo colarinho antes que caísse e o empurrou sem a menor delicadeza contra a parede.

_Onde está meu irmão e para onde levaram a garota? – rosnou Dean. Sua resposta veio em forma de uma cusparada no rosto. Dean não reagiu de imediato, assentiu como se compreendesse e limpou, sem pressa, com a manga da jaqueta a saliva do rosto.

Como se seu corpo tivesse se reanimado Dean atirou Antony contra a outra parede aplicando uma força extra. Antony se chocou e com o impacto forte seu corpo voltou. Dean o pegou de volta e não percebeu quando Antony desferiu seu joelho justamente onde o ferimento de Dean estava localizado. Dean cambaleou e o outro caçador acertou um soco em seu rosto que fez o gosto de sangue aparecer.

Dean não precisava de muito para conseguir uma vantagem, o nariz de Antony estava ferrado e seu ferimento era superficial. Agora o cara tinha o deixado com raiva. A água caia em Dean deixando sua camisa e seu jeans mais molhados. Antony nem mesmo pensou nas condições do ambientes, se lançou para cima de Dean como um touro numa capa vermelha.

Seu ombro bateu no abdômen do Winchester o jogando contra parede atrás. Por estar envolvido demais com emoções Antony não pensava direito em seus golpes, agia desesperadamente e Dean usou isso. Bastou desviar de um soco e acertar outro bem no nariz de Antony e pronto. Seu oponente gritou mais uma vez atravessando a linha do esguicho fazendo a água lavar seus ferimentos.

Voltaram a posição de antes, só que com Dean mais irritado e Antony sentindo mais dor.

_Você tem três chances. Onde estão? – perguntou Dean sentindo cada palavra arder de raiva.

Antony o encarou e começou uma explosão de gargalhadas, mesmo isso fazendo seu nariz doer ainda mais.

_Seu irmão psicótico e a princesinha a essa altura já fizeram a passagem. Muertos. Não vão levantar mais. Você não entendeu? Estamos todos mortos. olhar para ele, encarar aquele olhar doente e a massa sangrenta que virou seu nariz causava a Dean repulsa.

_Onde eles estão?

_Seu irmão virou comida de crocodilo e a vadiazinha... – ele sorriu debilmente. _Os demônios devem estar comendo ela de todos os jeitos possíveis neste exato momento.

Neste momento Antony havia feito Dean extrapolar seu limite. A raiva o possuía de tal forma que ele mal percebeu quando pegou a arma do chão e pressionou o cano na testa de Antony, que pareceu se deleitar com o gesto.

_Onde eles estão?! – gritou soando com um trovão. Em meio ao riso de nervoso e medo Antony mostrou alguma coragem.

_Vai em frente. Ah, eu adoraria. Vai Winchester, coloca essa bala no meu crânio. Vamos! – gritou de volta. Dean se sentiu tentado a apertar o gatilho, acabar de uma vez por todas com aquele verme. Faria isso se não olhasse para ele e sentisse pena, desprezo e todos os conceitos de um caçador distorcidos. Não era como ele. Por isso girou a arma na mão e acertou a parte de baixo na cabeça de Antony o fazendo desmaiar no ato.

Dean pode respirar mais tranquilo mesmo o coração ainda batendo forte. Ele deixou os corpos para trás e saiu trancando a porta atrás de si.

O lugar era maior do que tinha imaginado. Ele saiu num corredor largo onde tinham portas de ferro como a qual ele era guardado em sua "cela". Dean correu pelo corredor fazendo barulho dos seus passos ecoarem no local vazio.

Quando ia virar o fim do corredor ele ouviu. Primeiro foi um grito e depois chamados. Ele se virou e olhou por entre a abertura da porta dupla á sua frente. Pares de olhos se alternavam para olha-lo junto ao chamados urgentes pedindo por socorro.

Dean não pensou duas vezes e tratou de tentar abrir a tranca. Uma corrente grossa foi envolvida nos puxadores com um cadeado enferrujado unindo–as. Dean pediu para que todos se afastassem. Ele apontou para o cadeado e com um tiro o objeto fora destruído. Os de dentro empurraram as portas e trataram de agradecer e pedir por ajuda.

Dean olhou aquele monte rosto, variações de jovens, crianças, mulheres e homens de idades semelhantes e distintas. Eram no total umas quinze pessoas, humanas achava Dean, esperava que fossem. Ele tentou encontrar no grupo com quem poderia falar.

_Tudo bem, fiquem calmos e façam silencio. Eu vim aqui ajudar, mas preciso que me ajudem também, podem fazer isso? – alguns assentiram outros continuaram o encarando assustados. _Ok, você. – ele apontou para o cara que lhe chamou a atenção.

_Sim, senhor? – militar. O palpite de Dean estava certo. A garoto negro de pelo menos vinte cinco anos parecia o único que saberia como agir em situações como aqueles, talvez seria de grande ajuda até mesmo para Dean.

_Vamos ficar todos juntos, você cobre a frente comigo. dali ele tirou os melhores que pode, homens com alguma resistência física. Um cobrindo a lateral direita outro a esquerda e um atrás.

Assim que o grupo se organizou eles começaram a se movimentar no ambiente escuro e Dean descobriu que estavam num abatedouro. Quando adentraram mais a área principal pode sentir o cheiro pungente de carne apodrecendo por falta de refrigeração. O sangue avermelhado manchando as paredes. Do teto pendiam ganchos ainda com nacos de carne e membros dos animais abatidos. As crianças foram as que mais sentiram aquilo.

Dean só esperava poder tirar todos dali a salvo.


...– ...


Olhava para três demônios de guarda em frente a uma grande construção abandonada, visto que o lado de fora estava parcialmente destruído pelo tempo.

Adentrar a cidade não foi tão difícil como pensei, me esgueirando por alguns prédios e correndo o mais rápido possível foi que encontrei aquele lugar.

Não tinha certeza nem a mínima ideia de que Sam e Dean estivessem ali dentro, mas em todo o meu "passeio" pelo perímetro aquele era o único que apontava atividade demoníaca. Encolhida atrás de uma caminhonete tentei traçar um plano.

Todos me pareciam suicida. Já estava ali a vinte minutos queimando meus neurônios para saber como iria entrar e como iria salvar os meninos sozinha. Foi então que uma ideia me passou pela cabeça, uma ideia tirada de um filme. Quem diria que Constantine mal adaptado para o cinema poderia ser útil.

Olhando a enorme caixa d'água no teto do prédio baixo minha ideia tomou forma. Só precisava pegar um caminho para os fundos, subir até o teto, achar um gerador que funcione e conseguir fogo.

Eu vou morrer nessa cidade.


...– ...


Simplesmente não fazia mais sentido para Sam sua permanência ali, se não iriam mata-lo para que todo aquele circo? Mas as coisa começaram a ficar mais interessante quando Brady discutia com um dos seus sobre o que fazer com Sam. Brady queria ir embora e deixar Sam amarrado ali, partir para outra cidade, o outro queria mata-lo.

Não precisava nem dizer para quem Sam torcia para que ganhasse a discussão. Mas o fator estranho foi a sugestão de mata-lo, desde o inicio aquilo tudo lhe pareceu muito estranho. Normalmente imaginava-se que a abordagem dos demônios fossem pelo grande Sim que Lúcifer queria e não só para tirar uma com Sam. Tinha alguma coisa estranha acontecendo.

Primeiro Crowley o surpreendeu lhe entregando o Colt e dizendo que queria que matassem o diabo, e agora demônios querendo matar Sam mesmo sabendo de sua importância para seu Senhor.

Com princípios de teorias se formando na cabeça de Sam ele se esqueceu momentaneamente das dores no corpo e no latejar da cabeça. Já estava saturado com demônios. A boca estava seca como lixa por falta de água, o estômago frequentemente reclamava e o pior era o sono se mostrando cada vez mais tentador.

A madrugada durara poucas horas, mas lhe pareceram eternidade, parecia seu próprio inferno. Os demônios não variaram muito nos atos anteriores. Conforme o dia foi se anunciando a música fora abaixada e eles trataram de tentar traçar um novo itinerário, como se fossem mochileiros na estrada em busca de um novo destino.

Brady se moveu para direção de Sam e se deteve quando o som de alguma coisa sendo reanimada a energia soou pela fabrica ligando luzes fracas no teto. Todos pararam e prestaram a atenção. Os murmúrios começaram, depois explodindo na audição de todos um barulho alto e estridente. Uma alarme soou e em seguida água irrompeu feito chuva do teto.

As gotas molharam instantaneamente Sam, mas o efeito fora mais efetivo nos demônios. Alguns gritaram, correram para a saída próxima enquanto Brady, com a pele quase em chamas, gritava ordens. Alguns o ignorou e ele mesmo foi tentar resolver o problema.

Sam começou a remexer freneticamente os pulsos para tentar se soltar, a pele estava escorregadia por conta da água, mas as cordas não cederam. Sam sentiu dedos prenderem em seu pulso e logo uma lâmina cortar a corda. As mãos de Sam estavam livres e depois seus pés, ele levantou da cadeira sentindo as costas estalarem e olhou surpreso para quem acabara de salvar sua pele.

_Isabel? Como...

_Fiquei entediada no meu cativeiro e resolvi salvar a donzela em perigo. – ela sorriu torto para ele, ele retribuiu o sorriso nervoso. Isabel lhe deu a faca da Ruby, que ele ficou surpreso em ver. _Agora vamos logo antes que voltem. Isabel pegou seu pulso e o guiou para uma porta nos fundos. Ela o soltou e continuou correndo a sua frente. Entraram em um corredor com outra porta dupla nos fundos. O barulho era mais fraco ali, mas mesmo assim irritante.

Ela passou pela porta e voltou a correr. Passaram por corredores e por salas que pareciam antigos lugares de produção e montagem a de algum produto. Tudo coberto por fuligem, poeira e sujeita acumulada pelo tempo sem uso. Isabel parou quando adentraram um espaço amplo com esteiras cortando o lugar e maquinas grandes em cada ponta delas, ligada a extremidade da paredes opostas. Ela olhou para os lados, parecia confusa e perdida.

Sam reparou no que Isabel estava vestindo.

_O que diabos está vestindo? – indagou ele, ela deu de ombros.

_Achei que deveria vestir algo apropriado a ocasião. – mesmo fazendo piadas ela não conseguia encobrir o nervosismo. _É uma longa história. – completou afinal.

_E como me achou? Cadê o Dean? – Isabel ignorou suas perguntas e começou a caminha de volta para o caminho que tinham percorridos. De repente o barulho do alarme, não tão forte de onde estavam, parou, assim como a chuva de água benta.

_Eles devem ter encontrado o alarme de incêndio. Vamos por aqui. – ela indicou o outro lado.

_Espera, Isabel, o que houve com você? – ele pegou no seu ombro fazendo ela parar e virar. Ela olhou para ele. Sam ainda achava peculiar e ao mesmo tempo atraente o brilho incomum de azul de seus olhos. Isabel o fitava como se tentasse esconder algo, talvez medo, mas não, era outra coisa. Ela estava assustada, não com demônios ou toda a situação. Sam de repente sentiu uma pontada de repulsa e preocupação com o que poderia ter acontecido a Isabel. _O que houve, o que eles fizeram com você? – perguntou mais urgente.

Ela mordeu os lábios tingidos de vermelho, Sam reparou nela mais minuciosamente – o vestido estava rasgado e sujo, o batom borrado em um canto, o cabelo molhado parte preso e parte solto - e encobrindo seu rosto, como uma rachadura num vaso raro e belo, ela tinha uma macha de sangue na testa, um hematoma avermelhado no lado externo do olho esquerdo, um outro no queixo e um ponto vermelho na bochecha pálida feito uma lousa.

Num gesto involuntário ele levou o polegar no ponto vermelho na sua bochecha, ela recuou instintivamente, ele também. Isabel passou a mão no rosto sem a menor delicadeza, o pouco sangue se espalhou na pele, evitava olhar para ele. Era inevitável não se sentir culpado por aquilo.

_Não fizeram nada, é que, como eu disse é uma longa história. Quando sairmos desse inferno eu conto tudo. E também, achei que o Dean estivesse aqui com você. – ele assentiu. Tinha ouvido mais cedo que Dean já estava com eles, era só ir buscar a "mercadoria", mas Jhonny desapareceu com Dean e que talvez ele tentasse uma troca. Os demônios riram com a possibilidade de algum acordo com os caçadores.

Isabel se virou de novo, foi para porta. O local parecia as entranhas de algum monstro mecânico. Tubos de ventilações no teto, um emaranhados de barras de ferro entre ligadas entre os tubos, passarelas de serragem enferrujadas, maquinas. O cheiro de fuligem atiçado pela água era um pouco mais forte no local. Sam supôs que aquele seria o coração da fábrica.

Começaram correr, as botas de Isabel fazendo barulho de sucção no chão e a adrenalina começando a aparecer em Sam, deixando para trás qualquer cansaço ou dor no corpo.

Eles pararam num corredor sem saída com apenas uma porta trancada nos fundos.

_Droga, eu jurava que era por aqui. Vamos voltar e...

_Shh. – sibilou Sam. Ao longe podia se ouvir o som de passos vindos de cima. Isabel e Sam paralisaram. Se saíssem do corredor seriam pegos e se ficassem também. Pelo som, não eram muitos, mas só tinha uma faca. Ele olhou em volta, para a porta trancada ao lado e bem acima uma grade do tudo de ventilação. Se conseguisse abrir...

Enquanto Isabel tentava arrombar a porta Sam conseguiu facilmente retirar a tela de proteção, ele sabia que só tinha passagem para ela.

_Isabel, entre aí, ache a saída e eu te encontro lá fora. – ela olhou para abertura na parede e piscou rapidamente para ele.

_O que? Não, só cabe eu. Não vou larga você aqui. Não é esse o objetivo de resgate, Sam. – ela parecia determinada a não deixa-lo. Sam teria que insistir mais um pouco.

_Você precisa ir, é sua única chance. Vá, eu cuido disso.

_Não, Sam. – respondeu ela com mais firmeza. Ele percebeu que não iria ganhar aquela batalha, ela não ia abandona-lo, mesmo que arriscasse sua vida. _Podemos fazer isso, juntos.

Quando Sam abriu a boca para falar, Isabel o interrompeu.

_Não, esquece isso.

Sam não teve tempo para mais protestos, os sons eram mais audíveis agora. Ele e Isabel saíram do corredor e caminharam cautelosamente se esgueirando pelos cantos. Nas passarelas acima demônios passavam. Parecia ser três, uma deles era a mulher que deu de seu sangue a Sam.

Sam se escondeu atrás de uma das máquinas e logo a frente Isabel se encolheu atrás de outra, apenas uma corrente estendida no chão ligava os dois.

A escada de metal rangeu sob o peso de um deles. O primeiro a descer estava chegando cada vez mais perto.

_Anda Sammy, chega de brincar de pique esconde, vamos, apareça eu sei que você está aí.as palavras de Brady ficaram no ar. O outro demônio estava perto. Sam e Isabel esticaram a corrente e o demônio caiu de cara no chão sujo. Sam enterrou a faca em suas costelas. Os outros correram para alcança-lo. A garota, pegou o cabelo de Sam e forçou sua cabeça a bater na maquina próxima.

Como agulhas pontadas de dor na cabeça fez Sam se atordoar por alguns instantes. O sapato caro e de salto do demônio acertou suas costas, ele caiu para o lado, o rosto entrando em contato com o sangue do demônio morto ali perto.

Sam rolou de costas, ela tentou acertar a ponta do solto em sua garganta, e tentou mesmo, se Sam não tivesse virado o rosto a tempo teria a garganta perfurando pelo salto de um sapato. Foi então que ele ouviu um grito estridente e curto que fez seu sangue gelar.

Isabel estava em perigo, agindo rápido ele cortou o calcanhar do demônio com a faca, ela pulou para longe e ele ficou de joelhos e perfurou sua barriga com a faca. A demônio se iluminou e apagou com rapidez, o corpo caiu por cima do morto no chão. Sam se pôs de pé, e olhou para o lados. Logo encontrou Isabel.

Ela lutava contra Brady, este a arrastava pelos cabelos no chão, enquanto ela tentava se livrar seus punhos. Sam se mexeu, correu para ajudar. O demônio com a mão livre puxou uma alavanca na maquina perto, como se tomasse vida a maquina se reanimou, soltando rangidos, estalos e som inconfundível de rodas dentadas girando rapidamente. Foi quando Sam percebeu que no fim da longa esteira as lâminas girarem incessantemente, quatro no total, e de tamanhos suficiente para retalhar uma pessoa.

Seu coração acelerou no peito. Brady levantou Isabel a força e tentou forçar sua cabeça para uma das lâminas que girava a centímetro de seu rosto. Ela gritou mais uma vez no exato momento em que Sam lançou a faca a nuca do demônio conhecido. Numa rapidez quase imperceptível ele soltou a mão do cabelo de Isabel e interceptou o golpe.

O demônio desferiu um soco no rosto de Sam, que cambaleou para trás atordoado com o golpe, Sam sentiu deus dentes balançarem e rasgarem seu lábio inferior. O gosto de sangue invadiu sua boca. O demônio ainda segurava o pulso de Sam com a faca, girando perigosamente até que Sam não aguentou e a largou. O demônio soltou o pulso de Sam e acertou outro soco, atingindo de raspão o queixo, na sequência chutou a barriga de Sam fazendo ele tropeçar para trás e não cair por conta de uma pilastra que o amparou.

Sam manteve o equilíbrio e partiu para cima do demônio, seu punho acertou seu nariz lhe arrancando sangue, o segundo acertou a garganta, Brady cambaleou mas não caiu. Ele olhou para Sam com fúria estampada no olhar. O demônio usou de sua força sobrenatural para lança-lo contra uma pilastra, fazendo suas costas se chocar fortemente. Sam ainda perturbado pela dor, teve a garganta apertada pela mão do seu adversário.

Sam não conseguia mais respirar, o aperto doía e o pulmão reclamava pela falta de oxigênio. Ele começara a ver pontinhos pretos dançando a sua frente.

_Desiste Sam, já vencemos. E você pensa que é tão especial, tão bonzinho, o bom samaritano Sammy, mas você não é tão diferente de mim. O sangue que corre em suas veias corre nas minhas também. Nos odeia tanto por que odeia o que vê quando se olha no espelho.

Sam não podia descartar totalmente a teoria, mas se recusava a dar a entender que compreendera o que Brady queria dizer e ainda por cima concordava. Isso fez com que ele cobrasse mais da culpa que tentava se esvair.

Sam nem viu quando e onde Isabel pegou uma barra de ferro, só viu quando ela acertou a cabeça do demônio com ela. A cabeça do demônio foi violentamente para o lado, se fosse um humano cairia desmaiado.

Ele largou Sam que não sentindo direito as pernas caiu de joelhos. Arfou aliviando um pouco as pontadas nos pulmões. E no chão viu o demônio se voltar para Isabel, a mão erguida, em seguida o corpo dela foi lançado para trás aterrissando na esteira em movimento. Ele levantou rápido, o desespero lhe dando boas vindas.

Sam se lançou contra Brady para chegar a Isabel, os dois caíram, se arrastou desajeitadamente no chão e ficou de pé. Voltou para baixo quando sentiu uma mão puxar seu calcanhar. Antes do demônio girar seu corpo ele viu que Isabel ainda estava na esteira em movimento, o rosto coberto pelo cabelo enquanto ela puxava alguma parte do vestido. Estava presa, e a poucos metros de ser retalhada em pedaços. Seus olhos encontraram os de Sam, ele viu puro pânico.

Sam com o coração martelando forte no peito tentou se livrar do demônio. Usando o joelho ele acertou uma das costelas. Brady mal sentiu o golpe, por cima de Sam ele tinha uma vantagem. Acertou outro soco em Sam e o segundo foi interceptado pelo próprio que usou o cotovelo, o demônio se abalou um pouco, Sam usou sua força para empurra-lo de cima dele.

Ele conseguiu, Brady rolou para lado, e Sam voltou a se movimentar. A lâmina estava bem a pouco centímetros dele, quando suas mãos iam agarrar o cabo ele viu ela se afastar para longe, como se levada pelo vento, mas Sam sabia o que era. O demônio segurou sua camisa. Ele ouviu ela chamando seu nome, gritando na verdade.

Brady não largava de Sam, ele se colocou em cima dele de novo. Sam encarou seu rosto familiar, seus olhos perturbadores e as veias soltando do pescoço como se ele tivesse realmente se esforçando para prender Sam. Ele sentiu a raiva acumulada de anos passados com aquele cara que não era mais do que um soldadinho de Azazel vigiando seus passos. Se sentiu imensamente idiota por não ter percebido antes, deveria, e ainda assim preferiu se agarrar a raiva contida.

Sam não pensou muito, embalado pelo desespero, pânico e fúria agiu de forma gutural e primitiva. Ele só foi prestar a atenção no que fazia quando sentiu o gosto do sangue do demônio explodir na boca e a carne se prender aos dentes. Brady berrou nos seus ouvido enquanto Sam arrancava-lhe um pedaço do pescoço.

Abalado, os dois, Brady não reagiu, Sam o empurrou para longe cuspiu os restos da boca e depressa se colocou de pé, correu. Correu contra o tempo, mesmo a distancia curta o caminho parecia muito longo. As batidas de seu coração acompanhava o ritmo dos sapados no chão.


...– ...


Foi complicado para Dean conduzir muitos civis praticamente por um campo minado, não arriscaria levar todos para saída da cidade, provavelmente cairiam em outra emboscada. Mas assim como sugeriu Austin - seu parceiro militar - eles seguiram para igreja. Um local que dava certa segurança para todos, mesmo Dean sabendo que o fato de ser solo sagrado não iria impedir demônios de entrarem.

Eles andavam praticamente enfileirado, ninguém ousava dizer alguma coisa. Dean podia ouvir alguns choramingo vindo de crianças e algumas pessoas, mas em geral o grupo era bem comportado. Alguns olhava para ele como se Dean fosse uma espécie de herói, acreditavam que ele iria salvar a todos, alguns o olhava torto, principalmente homens céticos.

Eles estavam perto, de acordo com o antigo Padre. Evitaram a estrada percorriam por plantações e fazendas, cortando terrenos tendo que pular cercas, mas era mais seguro assim. Uma das garotas no grupo se adiantou a frente, parando entre Dean e Austin.

Ela torcia as mãos e alisava o cabelo na tentativa de ficar mais bonita.

_Então Dean, nosso herói tem um sobrenome? – perguntou ela, fazendo um esforço para disfarça o sotaque do interior. Dean percebeu.

_Winchester. – respondeu Dean, mal reparando nos atrativos seios da moça que ela tentava colocar em evidência.

_Winchester. – repetiu ela pausadamente, como se gostasse do nome na boca. _É um nome forte, másculo. Eu sou Julia Morgan.

_É o nome da minha mãe. – se pronunciou Austin. Julia olhou para ele como se o notasse pela primeira vez. Ele percebeu o erro e se atrapalhou ao se corrigir. _Quero dizer ela não se chama Julia Morgan, é claro que não, é só Julia. Bem não é só Julia, ela também tem um sobrenome. É obvio. – Dean riu discretamente. Julia fitava Austin como se seu desempenho atrapalhado só a fizesse se entediar. _Eu me chamo Austin, Austin O'Connor. – se apresentou o garoto com seu melhor sorriso, o que ele julgava ser convidativo e provocador. Ele fez um gesto com a mão para que ela apertasse, Julia apertou e se voltou de novo para Dean.

_Quantas pessoas você já salvou? –perguntou ainda em tom de flerte. Ele pensou um pouco na pergunta, que era uma boa para falar a verdade.

_Não sei, chega um momento que você para de contar, não importa quantos, só de saber que salvei alguém é o que preciso para continuar fazendo o que faço.

_Uau. – suspirou a menina impressionada.

_Nem me fale, quando estava no Vietnam eu via aquelas pessoas indo para casa e saber que eu as salvei, é o melhor presente que alguém poderia ter. – Julia não se impressionou com Austin, ela lhe lançou um olhar como se ele fosse o responsável por Dean não lhe dar a devida atenção.

_Então, existe uma senhora Winchester? – ela enrolava no dedo uma mecha de cabelo. Dean pensou mais uma vez na pergunta. Existia uma senhora Winchester?

_Gostaria que existisse? – perguntou dando uma boa olhada em Julia. Se fosse em outro tempo, outra hora, outro lugar, se nunca tivesse cruzado seu caminho com o de Isabel ele com certeza encararia. Isso o fez pensar que na verdade nunca tinha ficado tanto tempo sem sexo. Ele dava suas escapadas no começo, mas quando as coisas ficaram mais sérias sua última noite com uma mulher foi com Isabel. Por envolver muito sentimento foi uma das suas melhores transas e a mais significativa.

Ela sorriu para ele se alegrando. Mas Dean logo jogou um balde de água fria em sua excitação.

_Na verdade existe sim uma garota. E minha garota está me esperando em algum canto dessa maldita cidade.

Com isso se encerrou o assunto, com isso e com a visão da igreja. Eles estavam nos fundos dela. Dean pediu para que todos parassem. Ele iria verificar primeiro.

Ele foi com cautela á portinha nos fundos. E como o mesmo cuidado a abriu, descobrindo com surpresa que estava destrancada. A porta rangeu quando ele abriu passagem. Parou quando viu uma linha grossa de sal no chão. Sua mente começou a trabalhar e seu coração palpitou com a expectativa do que aquilo significava.

Ele adentrou mais um pouco, lá dentro estava escuro, mas claro o suficiente para ele poder enxergar a sombra de alguém escondido no fim do corredor. A mesma sombra se mexeu, e a próxima coisa que Dean registrou foi a água atingindo seu rosto.

Ele não esperou por mais, sacou a arma e apontou para o garoto visivelmente assustado.

_Quem é você? É caçador? – perguntou, o rapaz fez sinal de rendição largando a bacia no chão.

_Não, eu não sou caçador. Você é? – perguntou olhando amedrontado para Dean dentro da linha de sal. Dean o avaliou bem, ele realmente não parecia um caçador, mas as coisa ali não pareciam o que realmente eram.

_Por favor, não nos machuque. – disse um segunda voz, e outra sombra apareceu para ele. Uma mulher grávida, Dean abaixou a arma.

_Pode ficar calma, não vou machucar vocês. – os dois respiram aliviados.

_Espera, você é um dos caras que a Isabel foi procurar? – perguntou o garoto. Dean ficou tenso. Seu coração se descompassou.

_O que você disse? – Dean não queria parecer ameaçador, mas foi inevitável. _Onde ela estar?

_Ela saiu já faz um tempo, procurando dois caras. Eu estou começando a ficar preocupado, acho que devemos ir atrás...

_Mas quem diabos é você? – interrompeu Dean.

_Adam, amigo dela. – a cabeça de Dean travou.

_Adam? Aquele Adam, o único amigo? O Adam?

_Bom, eu não me referiria como O Adam, mas o que você preferir. – disse Adam com um sorriso torto. Dean continuou sério.

_E como veio parar aqui? – perguntou Dean e depois voltou a trás quando Adam ia começar a falar. _Quer saber, não importa, me conta o que aconteceu com ela.

...

Estavam aglomerados na pequena igreja – depois de Dean e Austin se livrarem dos corpos - o padre rezava ao altar, as pessoas tentavam acalmar uma as outras e todos esperavam uma ordem de Dean. Depois de ouvir o relato de Grace e Adam, ele tentou se manter calmo e pensar direito no que fazer. Se sentia mais pressionado que nunca.

Depois de Grace costurar sua ferida, tirou um tempo sozinho no quarto onde Isabel estava horas antes. O medo veio como soco no estômago quando viu o sangue no espelho rachado, suas roupas no chão e bem no meio de cacos de vidro coloridos ele encontrou um papel rosa, a ponta aparecendo embaixo da cama.

Ele puxou o cartão e leu. Era um cartão de Valentine's Day. Na frente rosa claro estava uma frase clichê da ocasião com anjinhos gorduchos segurando uma faixa, dentro ele leu "Os anjos estão cuidando do nosso amor."

Um sorriso se espalhou pelo rosto. A ironia da frase e o cartão brega era a clara tentativa de Isabel de fazer daquilo uma piada. Na verdade ele nem lembrava da data que a pouco era a sua melhor época para sair em busca de garotas.

Grace e Adam o colocou a pá do que aconteceu naquela igreja, ele quase perdeu as estruturas quando descobriu que o demônio possuindo Adam iria fazer com Isabel.

Guardou o cartão no bolso da jaqueta decidido a não pensar no pior. Desceu e chamou por Austin. Ele tinha um plano.


...– ...


Sam. Gritou ela mais uma vez. Sam chegara a tempo, pouco tempo. Ele avaliou rapidamente a situação. A ponta do vestido de Isabel estava presa na esteira, entre as ferragem que ficava em baixo da lona gasta que cobria toda a extensão. Ele agarrou o vestido substituindo as mãos de Isabel.

Puxou uma vez, nada. Isabel o ajudava, e nada parecia arrancar aquele vestido de lá. Sam olhou para o chão a volta, a procura da faca e se algum coisa afiada. Tudo parecia de repente arredondado. Ele deu alguns passos para acompanhar a esteira. As lâminas crescendo a cada segundo.

Agarrou de novo o tecido escorregadio e puxou usando toda força humanamente possível. Ele tirou um segundo para olhar para ela e recobrar a força. Isabel olhava para ele em pânico explicito, seus olhos brilhavam com a ameaça de lágrimas, como se uma camada de vidro os envolvesse. Ele não podia deixa-la.

Seus dedos podiam sentir as fibras de tecido estalarem enquanto ele puxava tentando aplicar mais força. E estalava o tecido e a lâmina girava, dobrando agora o tamanho. Os pés de Sam se arrastavam no chão tentando retardar o movimento. Ele sentia o medo envolver os dois. Isabel puxava o tecido xingando o vestido enquanto as lágrimas queimavam seus olhos.

E girava, girava, perigosamente, o barulho que emitia parecia zombar dos dois, e sibilava como se ansiasse por uma refeição. Sam soltou de repente o tecido. Isabel o chamou com voz chorosa e estridente. Ele tentava levantar a alavanca ao lado, e até isso trabalhava contra eles.

Ele sentiu os nós dos dedos doerem, mas a alavanca não ia subir e se perdesse mais tempo ali talvez acontece o pior. Então voltou para Isabel, passou os braços em volta da sua cintura a protegendo com o próprio corpo e voltou a puxar a seda.

Seus músculos se tencionaram, ele soltou um rosnado sentindo a força fluir. A primeira lâmina fez um talho no seu ante braço a segunda veio em seguida. O tecido se rompeu. Ele agarrou Isabel e puxou seu corpo, deixando os segundos que previam a amputação de seu braço passarem diante de seus olhos.

Ela caiu por cima dele mal sentindo a queda.

Sam deixou toda a tensão transpirar de seu corpo. Arfou, não percebendo que ainda a segurava contra si. Isabel se moveu, ele retirou o braço em volta da sua cintura. Ela se colocou de joelhos ao seu lado, também respirava forte. Suas mãos tremiam quando pegou gentilmente o braço ferido de Sam.

Seu toque era frio, e seus olhos ainda assustados sondavam as duas fendas sangrenta em seu braço. Sam mal as sentia, a adrenalina ainda corria solta em suas veias e não desacelerava o coração. Ele fitou Sam, as lágrimas marcavam o rosto. Sam levantou as costas do chão permanecendo sentado. Ele não esperava que Isabel envolvesse seus braços em volta dele num abraço apertado.

_Obrigada. – ela sussurrou.

Quando se afastou Sam viu sua expressão cheia de emoções. Eles se entreolharam por alguns segundos. Até que o rosto de Isabel se transformou em algo cômico e ela começou a rir. Uma risada nervosa e ao mesmo tempo aliviada. Não demorou para ele a acompanhar.

Os dois riam sem motivo aparente. Estavam ambos feridos, em grave perigo, mas riam como se alguém tivesse contado a piada mais engraçada que já ouvirá. Aos poucos as lágrimas foram pontuando o rosto de Isabel, mesmo enquanto ela ria. Sam achava aquele evento curioso. Para ele Isabel era combinação de tantas coisas que era impossível defini-la numa personalidade comum.

Como ela conseguiu encontrar humor onde não existia e chorava ao mesmo tempo. Era fascinante e insano. Enfim os dois foram parando aos poucos, relaxados das tensões e liberados da adrenalina. Isabel varreu as lágrimas do rosto. Sam começava a sentir o ferimento. Não era profundo, mas precisaria de cuidados.

_Você está bem? – perguntaram em uníssono.

_Você primeiro. – disse Isabel voltando a examinar o corte.

_Vou sobreviver. – respondeu ele procurando por ferimentos nela. _E você?

_Vou sobreviver. – respondeu ela com sorriso breve atravessando o rosto. _Espere aqui.

Ele acompanhou enquanto Isabel levantava e ia para um canto perto, ela abaixou e tirou de baixo de uma das máquinas a faca da Ruby. Ela cortou ainda mais um pedaço do vestido, tirando da barra uma faixa grosseiramente recortada.

Isabel voltou a se ajoelhar ao lado de Sam e envolveu seu braço ferido na seda que de branca ficou quase inteiramente vermelha. Ela apertou bem o nó e os dois levantaram. Sam ouviu uma riso vindo do outro lado. Brady, ele ainda estava no chão a cabeça repousando sob uma poça do próprio sangue. Isabel devolveu a faca para Sam.

Sam se ajoelhou ao lado de Brady.

_ É Sam, não Sammy. – fez o que queria fazer desde que o encontrou naquela cidade; enterrar a faca em seu coração e deixar para trás aquela história junto com as cinzas de Brady perdidas no inferno.

Feito isso ele e Isabel concordaram que era melhor voltar a correr. Assim fizeram, até que acharam a saída certa sem se preocupar em pensar onde foi parar o resto dos demônios.

Logo quando as pernas não mais aguentavam correr ele pararam num rua deserta próxima e tomaram fôlego para depois rumarem caminhando a caminho da igreja que Isabel mencionou.

Eles eram o mais furtivos possível, se esgueiravam em cada curva e observam se estavam realmente sozinhos, quando a tensão do caminho foi diminuindo se permitiram falar. Isabel lhe contou sobre Adam e por que vestia aquele estúpido vestido. Ele ouvira a tudo horrorizado em imaginar oque o demônio doente pretendia fazer com ela.

Depois de absorver a tudo especularam sobre o possível paradeiro de Dean. Os dois estavam igualmente preocupados e não sabiam o que fazer a respeito. Voltaram a se calar, cada um com preocupações e pensamentos nada felizes em mente.

O silêncio se estendeu por minutos quando de repente Isabel resolveu quebra-lo.

_Eu matei uma pessoa hoje. – ele olhou para ela com o cenho franzido, não se chocara com a revelação só não esperava ouvir aquela confissão. Isabel olhava fixamente a estrada de barro a frente, um olhar distante e que ao mesmo tempo lhe revelava tanta coisa. Ele por exemplo poderia dizer que ela ter contado isso a ele de forma tão repentina era uma prova de confiança. Ela não esperava por uma reação agressiva ou assustada, nem retaliações, era uma confissão feita somente a Sam, para Sam.

Ele a acompanhou em assistir a estrada abaixo do céu nublado. Não disse nada, não sabia o que dizer e sabia que não deveria dizer nada agora, só precisava ouvir.

_Eu poderia ter deixado para lá, ela estava ferida não ia me machucar. Mas mesmo assim eu a matei e o mais assustador é que não me sinto culpada, ela tentou me matar. Não me sinto horrível por matar uma pessoa e sim por não sentir por isso. Acho que Dean está certo, não sou uma boa pessoa. – ele parou e segurou seus ombros a forçando a olhar para ele.

_Olha, eu vejo bondade em você. Vi isso quando arriscou sua vida para salvar a minha, ou quando cuidou da Jo. Você se importa com as pessoas que ama, e isso é bom. Eu sei que nos conhecemos a pouco tempo, mas posso afirmar que você é uma boa pessoa. Ninguém é bom completamente, todo mundo tem sua parcela de maldade, isso nos torna humano. E não estou querendo arranjar desculpas para você, mas disse que ela te atacou, se sentiu ameaçada e reagiu. Não tem nada de errado em autopreservação.

Isabel ouviu as palavras de Sam, as palavras que precisava ouvir e não esperava ouvi-las. Ela mais uma vez sussurrou para ele um obrigado, tão baixo que ele teve que praticamente ler em seus lábios. Ele tirou suas mãos de seus ombros e voltou a olhar a estrada.

Com longos metros percorridos Isabel voltou a falar.

_E você?

_Eu? – perguntou Sam confuso.

_Sam, está praticamente tatuado "culpa" em sua testa. Vai, fala comigo, me deixe dizer algumas frases bonitas que vai levantar sua moral. Aproveite o momento enquanto não tem ninguém querendo nossas cabeças. – e lá estava ela de novo. Sam achava incrível a transição que Isabel fazia, como suas emoções oscilavam. Ia do drama ao humor, do trágico ao cômico, do pesado ao leve. Não seria um caso de bipolaridade, era só seu jeito, uma peculiaridade sua, de certa forma Sam achava divertido acompanhar.

Ele sorriu sem saber direito o por que. Também não sabia por onde começar.

_Bom, eu comecei tudo isso. Confiei na pessoa errada, traí meu irmão e de quebra levei o mundo para o buraco. Os demônios disseram que estavam comemorando, que queriam me agradecer. Pessoas estão morrendo por que fiz escolhas erradas. – ele olhou para os sapatos acumulando poeira. _Pode ditar um livro com frases profundas e bonitas que não vai fazer eu me livrar desse peso. Sam achava mais fácil falar sobre esses sentimentos com Isabel, a mesma confiança que ele aspirava nela era recíproca. Não existia julgamentos entre os dois ou olhares penosos e acusatórios.

_Isso não foi justo, eu te dei uma fácil. Mas eu vou tentar. – ele reparou que seu sotaque aparecia mais acentuado em algumas palavras. _Posso ser completamente franca com você?

_Manda ver. – mesmo tocando num assunto delicado ele não se sentia tão pesado pelo tom da conversa.

_Eu acho que está na hora de você deixar isso para trás. Seguir em frente, sabe? Isabel olhou para ele como se esperasse uma expressão contrariada, quando não viu continuou: _Precisa se livrar desse fardo.

_Não é tão fácil quanto parece. Minhas mãos estão mais sujas do que imagina. Pessoas estão morrendo por minha causa. Não posso negar que sou em parte responsável por isso. – a medida que Sam escavava mais e mais em seus temores e sentimentos a conversa ia ficando mais séria.

_Sam, pessoas morriam antes de você libertar Lúcifer e vão continuar morrendo se conseguimos acabar com ele, nem por isso você é o culpado. Não pode se culpar por tudo de ruim que acontece a sua volta, esse mundo estava ferrado muito antes até de você nascer. Você é só uma vertente de toda essa porcaria. Tudo bem, você ferrou com o mundo, os demônios sabem disso, Dean sabe disso eu sei disso, mas e daí? Você pode escolher ficar se culpando e acordar na madrugada sentindo pena de si mesmo, mas sabe em que isso vai melhorar as coisas? Em absolutamente nada. Não deixe isso apagar a pessoa que você é. Caramba, você acabou de salvar minha vida, e além da minha tenho certeza que salvou outras milhares. Isso deve contar como alguma coisa.

_É diferente, eu precisava fazer aquilo.

_Não, não precisava. Mas você fez e faria de novo por qualquer outro desconhecido. Tem que olhar as coisas boas que fez e que ainda pode fazer. Isso é o que está acontecendo. – ela fez um gesto amplo para a estrada e a cidade por trás das árvores. _Isso está acontecendo agora. Você precisa estar focado, não sentindo-se digno de cadeira elétrica. E o resto, o passado, não importa. Sei que soa um pouco hipócrita da minha parte, mas é o que tento seguir.

_Está dizendo que os fins justificam os meios?

_Não, estou dizendo que as vezes temos que fazer o que tem que ser feito. – finalizou soando sombria. Ele absorveu tudo aquilo em silêncio pensando a respeito. Por mais que foram palavras duras ele podia encontrar algumas verdades e bons conselhos. Isabel saiu de sua capa séria e olhou para ele em expectativa. _E aí, como me saí? Ainda se sente miserável? – Sam não conteve um sorriso.

_Já pensou em ser psicóloga? – brincou ele.

_Já e cheguei a conclusão que provavelmente meus paciente se jogariam do Empire State com minha psicologia barata e nada reconfortante.

Eles pararam quando viram o contorno da igrejinha. Voltaram a correr, preparados e ao mesmo tempo não para qualquer coisa.


... – ...


_Não acredito nisso. – lamentou Austin. Dean e ele estavam agachados atrás de uma árvore. _As garotas praticamente se jogam em cima de você e ainda por cima o grande herói boa pinta dirigi um Impala 67. Isso não é justo.

Dean sorriu como se ele mesmo tivesse montado, soldado e encaixado cada peça daquele carro. Dean gostava cada vez mais do rapaz.

_O mundo nunca foi justo meu caro. Ok, vamos logo antes que escureça.

Os dois correram tentando ser o mais silencioso possível. Dean pegou a chave do bolso e abriu o porta malas. Austin ofegou quando viu tudo o que tinha dentro. Tinha um pequeno arsenal anti–demônios que Dean tinha preparado para caso antes de sair da casa do Bobby.

_Cara...

_Nem pergunta. – Dean pegou uma das espingardas carregada com cartuchos de sal e entregou a Austin. O garoto a pegou com o manejo de quem já vira muitas daquelas na vida. Dean olhou para os lados, mas tudo estava mortalmente silencioso.

_Por que o sal puro, por que não o açúcar por exemplo, está entendendo o que quero dizer? – Dean balançou a cabeça concordando. Austin queria uma resposta acadêmica do por que o sal puro afetava os demônios. Dean até sabia por alto, mas nunca se preocupou em se aprofundar no assunto. Para ele se funcionava para machucar aqueles desgraçados a origem não importava.

_Meu irmão que é o nerd, pode perguntar para ele, aposto que ia adorar explicar para você. – falar de Sam deixava Dean mais apreensivo e nervoso. Não saber o que estavam fazendo com seu irmão estava o matando por dentro.

_Vamos acabar logo com isso. Se qualquer coisa se mexer, atire.

_Sim, senhor. – Austin ficou atento a qualquer movimento perto enquanto Dean começava o processo para trocar o pneu do carro.

Minutos se passaram e ele estava na etapa final quando ouviu Austin o chamar. Olhou para os lados já alarmado, só que Austin não olhava os arredores e sim o céu.

Uma grande massa negra vinha como uma nuvem elétrica em direção a eles.

_Só pode ser brincadeira, o que que é isso, uma convenção do Diabo? – rapidamente ele terminou o trabalho e entrou no carro. Austin parecia paralisado enquanto a nuvem mortal deslizava sob o céu cinza. _Austin! – gritou Dean. Austin se mexeu e entrou no carro, Dean saiu catando pneu torcendo para que chegasse antes da tempestade.


...– ...


Estava inquieta, queria vê-lo. Não sei como seria, mas queria muito saber que estava bem. Andava de um lado a outro esperando. Adam disse que ele iria voltar logo, disse também que não o encontramos no caminho por que ele foi pelos fundos da igreja em direção a estrada e não á cidade. E quanto mais os minutos, de uma hora que não sabia, passava mais nervosa ficava.

Grace cuidava do ferimento de Sam ela era enfermeira na igreja eles estranhamente tinham um quite de primeiros socorros.

_Vai acabar fazendo um buraco no chão desse jeito. – disse Adam quando pela milésima vez fazia uma volta na linha reta que não terminava. _Esse Dean, vocês tem alguma coisa?

Parei de andar e o encarei. Pela minha simples expressão ele sabia minha resposta.

_Ele parece ser um cara legal, considerando que quase colocou uma bala na minha cabeça quando chegou e depois me ameaçou jogar de novo pela janela se não contasse logo o que aconteceu com você. Mas ele me pareceu, assustadoramente, preocupado. – me permiti a um sorrido fraco.

_As coisas não estão nada bem entre nós, e acho que nunca ficarão. – felizmente Adam não pediu detalhes. Por que falar sobre o assunto era a última coisa que queria no momento. Estiquei a mão para Adam, ele a pegou e sorriu entrelaçando nossos dedos. _Estou tão feliz de ver você de novo. Saber que está bem. E eu quero que saiba que eu te amo. O que fez por mim todo esses anos eu nunca vou poder agradecer o suficiente...

_Pode parar aí, está começando a ficar melosa. – brincou.

_Eu estou falando sério seu idiota. – retruquei. Ele balançou a cabeça sorrindo e me puxou para seus braços.

_Eu sei maluquinha. – disse no topo da minha cabeça. Dei um tapa amigável na sua cabeça.

_Não me chame assim, Dumbo. – ele me afastou gentilmente.

_Olhe para mim, eu não tenho mais aquelas orelhas de abano desde o colegial, esquece isso.

_Claro, elas magicamente ficaram assim, perfeitas, durante a puberdade. Confesse, você fez cirurgia quando ficou fora aquele verão com seus pais.– Adam balançou a cabeça, esperava que negasse quando fazia em todas as vezes que o acusava. Mas ele simplesmente sorriu com cara de indignado.

_Como descobriu? A cirurgia foi perfeita, quase não deixou cicatriz. – apenas ri.

_Eu não sabia. Você acabou de me dizer. Eu era criança, achava que o corpo dos meninos se endireitavam na puberdade. – ele riu de mim.

_Não acredito que era tão ingênua.

_E as coisas em Greeley, antes de você... você sabe.

_Estranhas, na verdade nada boas, você sumiu e seu pai... Espalhei cartazes nas cidades próximas atrás de você, e a policia, eles estão procurando por você, eles acham que foi você que matou seu pai e colocou fogo na casa. Considerando seu histórico médico estão bem convencidos disso. – olhei para ele pasma.

_Como assim, estou sendo procurada pela policia da Pensilvânia? – Adam não respondeu. Balancei a cabeça tentando não surtar com isso, me preocupar com um problema de cada vez.

Um barulho de motor de carro chamou nossa atenção e dos demais. Meu coração foi a boca quando abriram a porta da igreja e Dean mais um rapaz entraram correndo, e pela milésima vez meu coração tentou escapar pela boca quando vi a nuvem negra cobrindo o céu lá fora. Fecharam as porta, mas pude sentir toda a energia podre e demoníaca rodear aquele lugar.

Finalmente encontrei Dean no meio da confusão de pessoas ficando inquietas e assustadas. Ele só olhou para mim. Quase me despedacei com a compulsão que insistia em me chamar para ele, mas alguma coisa, talvez minha razão me fez ficar paralisada até que seus olhos se desviasse para um ponto distante de meus olhos. Por um segundo sentir rachaduras se formando em mim para só então notar Sam ali perto. Ele foi até o irmão, os dois se abraçaram apertado e brevemente.

Foi imediato o efeito, parecia que Dean finalmente deixara uma tonelada cair das costas. Depois de trocar algumas palavras com Sam ele finalmente voltou para mim e com ele toda a carga pesada que arrastávamos juntos.

Por mais que a pressão no meu coração se aliviasse por saber que ele estava aparentemente bem e inteiro o seu tapa queimava no meu rosto, como uma marca feita em brasa. Ele parou bem a minha frente. Perto demais. Longe demais. Ficamos ali fitando um a outro. Dean parecia ter uma parede invisível o impedindo de me ter nos braços e eu simplesmente fiquei travada por puro orgulho e amor pprio.

_Você está bem?

_Não graças a você. – ele me lançou um olhar ferido. Era estranho ver em Dean emoções que ele não demonstrava para outras pessoas, como se só eu poderia ser torturada com aquilo, por ter atingindo um ponto que outros não viam. Qual era o meu problema? Abaixei o olhar. Adam pigarreou e disse qualquer coisa que não ouvir direito e depois se afastou. _Me desculpe.

Por alguma razão desconhecida no universo eu simplesmente passei pelo cara que disse me amar e nem olhei para trás.


...– ...


Medo. Essa palavra resumia bem o que todos sentíamos. O plano era simples e perigoso, mas o único. Era deixar eles entrarem e atirar nos que podermos e os que ficassem presos nas armadilhas usaríamos o bom e velho exorcismo. Estava nervosa, soava frio, nunca tinha estado numa situação como aquela, mas a vontade de acertar alguns deles seria quase terapêutico.

Dean e Sam tinham preparado tudo, armas, munição e treinamos com o máximo de rapidez possível alguns homens que não sabia muito bem usar uma arma, como o padre Wilson que ficou chocado com a revelação do apocalipse. Contávamos com pelo menos sete homens que dariam conta do recado. O resto do pessoal ficaria na sacristia fortemente lacrada contra demônios.

Os bancos foram arrastados para fora do caminho e formado uma barricada na entrada. A pequena igreja se transformou num campo de batalha.

_Você fica com os menores na sacristia, não sai de lá até eu dizer que está tudo limpo. – olhei para Dean esperando que tivesse mais alguma coisa para mim além de ficar trancada numa sala sem poder ajudar. Ele começou a dar meia volta, segurei seu braço me colocando a sua frente.

_Qual é Dean, você sabe que sou melhor atiradora do que metade dessas pessoas. – argumentei.

_Eu sei, e é por isso que vai cuidar das crianças. – contrapôs Dean olhando em volta e não para mim.

_Não seria melhor eu ficar aqui, nós temos o Adam que pode cuidar disso e algumas mães...

, mas Adam não é você e está ferido.

_E também não é nenhum inválido. Ele pode cuida disso, além do mais vai estar tudo lacrado.

_Isabel, só faça o que eu mandei fazer, ok? – ele falava sem realmente prestar a atenção em mim, como se eu fosse alguém que ele queria achar uma brecha para se livrar. Como odiava que fizessem isso.

_Não, Dean, pensa melhor nisso eu posso ficar... – ele finalmente prestou a atenção em mim, e me encarou usando sua expressão mais dura e séria.

_Droga, isso não é nada do que tenha enfrentado antes, tem demônios lá fora e muitos, não quero você no fogo cruzado. Preciso que fique segura para poder me concentrar no que estou fazendo. Não é só eu você e o Sam, tem pessoas aqui precisando de nós. Não posso me distrair pensando se você está bem, ou ferida ou precisando de ajuda.

_Não Dean, estou dizendo que posso fazer isso, posso ajudar. Você acha que não sei o que está acontecendo lá fora. Eu vi, eu senti desde o memento que pisei nessa maldita cidade.

_Você não é Xena a princesa guerreira, isso é perigoso, e... – ele passou a mão no cabelo suspirando exasperado. _Estou cansado de brigar com você.

_Isso não é uma briga, é você sendo um idiota machista. – me virei para ir embora e Dean segurou meu braço me impedindo.

_Faça o que pedi. – pediu soando calmo e cansado, não irritado.

_Você sabe a minha resposta. – respondi no mesmo tom.

_Pelo amor de Deus, isso não é um debate sobre igualdade feminina, é sua vida.– ele tentava controlar a paciência, sem sucesso.

_E a dessas pessoas também. Você quer que eu me esconda atrás de você toda vez que a coisa ficar complicada. Eu posso lidar com isso, eu me virei muito bem sem você Dean e agora não será diferente. Então para com essa ladainha de que quer me proteger e coloca uma arma na minha mão para eu fazer que droga tem que ser feito! – algumas pessoas olharam para nós, outras cochicharam. Respirei fundo e baixei o tom da voz. _Dean, eu sei que as coisas estão estranhas entre nós, podemos falar disso depois. Só pare de se importar tanto. – ele olhou para mim surpreso.

_Esta dizendo que não devo me importar com você? – perguntou erguendo as sobrancelhas.

_Você está tão ferrado quanto eu, e sim, estou pedindo para não se importar tanto comigo. Tenta olhar para você de vez enquanto. Por que eu, sinceramente, mal consigo falar com você ou olhar para sua cara, mas eu não estou chorando por isso ou cobrando uma DR. Deixei meus problemas pessoais de lado para me concentrar em ajudar essas pessoas, sugiro que faça o mesmo. Se eu sou quem tira você do foco, não se importe. Consigo sobreviver sem você.

Deixei Dean mais uma vez. Caminhei para onde estava a bolsa com armas, peguei de lá um rifle. Travei e destravei por puro nervosismo.

_Uau. Aquela última foi forte. – disse Sam parando ao meu lado.

_Acha que eu exagerei?

_Só não quero entrar numa discussão com você. – respondeu, caminhamos até a sacristia onde Adam ajudava por as crianças, começando a se agitar, para dentro. O tempo era curto, não sabíamos quando iam atacar.

_Não vai se não agir como um babaca feito seu irmão. – Sam parou na minha frente, olhei para ele, ou seja olhei para cima.

_Pega leve com ele, Dean passou por muita coisa e realmente se preocupa com você. Faça o que ele pediu. – o pedido parecia vir de sua parte, não por que Dean pediu. Suspirei pronta para ceder, pelo menos um pouco.

_Eu vou ficar na torre. – disse a Sam, ele assentiu mais tranquilo. _Boa sorte. – lhe desejei me afastando. Antes de subir fui até Adam.

_Tudo bem por aqui? – perguntei.

_Tudo. ele parecia mais pálido que o normal.

_Tudo bem então, se cuide e não abra aquela porta antes de disserem que é seguro.

_Ok. – trocamos um último olhar antes de seguimos nossos caminhos.

_Isabel? – chamou ele quando estava no pé da escada.

_Cuidado. – assenti.

_Você também. ele sorriu e se virou para sacristia. Mesmo Adam já tendo partido continuei parada pelo repentino aperto no peito. Tudo bem, tudo vai acabar bem. Me obriguei a subir os degraus.

Parei no quarto onde estava para trocar de roupa. No espelho rachado observei os hematomas na minha costela. Estava bem feio, uma vermelhidão arroxeada marcava minha pele como o desenho de um mapa. Engraçado era que eu não sentia dor, talvez o medo e a tensão tenha me anestesiado.

Abaixei rapidamente a blusa quando alguém passou pela porta. Um rapaz que vira entrando com Dean na igreja.

_Oi. – cumprimentou ele sem graça.

_Oi. – respondi. _Austin, não é?

_É, e você deve ser a garota.

_A garota? – arqueei uma sobrancelha.

_Desculpa, é que Dean falou de você. Na verdade ele pediu que subisse e ficasse com você...

Ele se interrompeu quando o som de vidro quebrando soou. Tinha começado. Corri para janela e olhei abaixo, sufoquei um grito. Os demônios pareciam em maior quantidade vista de cima. E como um movimento da maré eles iam tentando adentrar a igreja.

Droga. Estamos todos f...

_Vamos logo. – empurrei Austin para o topo da torre.

Chegando apontamos nossas armas para o enxame abaixo. E os disparos começaram em cima e no interior da igreja. O clima parecia fazer par com o que acontecia em Buford. Um vento forte e frio açoitava meu rosto levando meu cabelo e fazendo um arrepio percorrer minha pele. No céu as nuvens carregadas pareciam que a pouco ia nos castigar com a chuva. Um trovão soou, respirei fundo.

Apertei o gatilho perfurando perfeitamente a testa de um deles, depois outro couro cabeludo. Austin, que já tinha começado, parou e olhou para mim.

_O que foi? – perguntei, atirando novamente nos alvos que se moviam demais na tentativa de penetrar nosso santuário.

_Nada. – disse voltando a mira para outro demônio que tentava atirar uma pedra nos vitrais. _Entendo por que o cara parece louco por você. – não fiz questão de entender o que queria dizer com isso.

Os nossos tiros surtiam um efeito temporário, não matávamos só atrasávamos. Os monstros feitos de carne a e osso como a gente levantavam alguns minutos depois e continuavam. Um grito masculino e gutural cortou os céus. Meu coração esfriou. Endireitei minha postura e não parei de movimentar o dedo.

Outro trovão seguido de um raio e a chuva fria veio nos cumprimentar. A arma trabalhava duro, os cartuchos vazios caiam enfeitando o chão com pequenos tubinhos dourados. Outro grito. E nossos alvos eram reduzidos. Eles entraram. Meu peito martelava tão forte que fiquei momentaneamente surda pelos meus batimentos estourando meus tímpanos.

E tudo só piorou quando Austin foi arrastado por alguma corda invisível para frente. Seu rosto bateu na mureta de proteção e depois na parede atrás, como uma bolinha de ping pong num jogo. Sua arma voou. Foi tudo tão rápido que não tive nem tempo de reagir de imediato. Tentei segurar seu corpo antes que caísse lá em baixo, só que meus dedos deslizaram em sua pele molhada e sua figura foi um borrão passando por mim, caindo no chão que sustentava igreja.

Não contive o grito quando olhei para baixo e vi seu corpo estirado no chão, os braços e pernas em ângulos estranhos. E perto um demônio olhava para mim com um sorriso no rosto. Que desapareceu quando mirei o cano da arma para sua cabeça.

O disparo atingiu a grama perto, o demônio esticou a mão para mim, outra coisa o pegou primeiro. Dean, se lançou contra ele. Seus braços se movimentando rápido quando uma sequencia de socos atingiam o rosto do demônio. Logo em seguida ele enterrou a faca que mata demônios em seu peito.

Mais gritos vindo de baixo. Mais sons de coisas se estilhaçando e quebrando. Dean olhou para cima, fiz sinal para que ele visse que estava tudo bem. Ele voltou para dentro, ou tentou. Algo o pegou pela cintura e o fez voltar ao chão, algo não, um demônio. Isso foi o suficiente para eu agarrar com mais força a arma na minha e mão e correr para as escadas.

Meus sapatos molhados escorregavam, mas não me importava se caísse escada abaixo, só queria chegar lá embaixo. Passei pelo foço da escada e parei quando contemplei tudo a minha volta. Tinha gente para tudo quanto é lado. Tinha corpos no chão, muitos. Sangue manchava as paredes e os grunhidos de dor e morte preenchia cada partículas de ar.

Aqui e ali homens lutavam com o que dava. Membros eram atingidos, ossos quebrados e sangue arrancado. Era uma verdadeira batalha entre homens e demônios. Estava horrorizada. Não era nada que tenha visto nos filmes. Ao vivo as coisas eram diferente. Eu pude sentir cada dor e lamento crescendo ali dentro da casa de Deus.

Mesmo entorpecida tentei caminhar para dentro da briga, a arma em punhos, não pensei, atirei. Só que era difícil definir um alvo. Tentei achar Sam, tarefa difícil. Eram homens e homens e algumas mulheres. E, tinha uma criança no meio daquilo tudo.

Corri até ela desviando e quase tropeçando nos corpos. Abaixei no chão virando o corpinho da garotinha, ela olhou para mim com os arregalados e negros. Bastou um soco seu para me jogar contra uma parede próxima.

Era tudo demais. Ia entra em curto. Foi quando o som a minha volta foi abafado para um eco distante.

Não percebi quando coloquei as mãos na parede. As pontas dos dedos eram conduítes para que a energia fluísse de mim e além. Podia sentir a luz se expandindo.

O chão vibrou, o som reverberou. Não conseguia ouvir, mas parecia gritos, humanos, demoníacos, não sabia dizer. Não conseguia fazer aquilo parar.

Era como segurar uma supernova. Era muito, quase absurdo. Meu corpo frágil era um recipiente muito fraco, se continuasse minhas células iriam explodir, meu cérebro derreter. Por que era assim que me sentia, forte, fraca algo entre essa linha tênue.

Tornei-me um molde para a essência. Um calor espesso, intenso e morno se envolvendo em meus braços, chegando aos meus pulsos e se liberando entre meus dedos.

Era tão magnifico, tão intenso que achei que poderia me engolir. Destruir minha vestes de carne e banhar o universo com nada mais nada menos que aura angelical. Mas, tinha um mas, sabia que algo sombrio e mais amadurecido não iria permitir.

O maravilhoso era sentir que tinha uma conexão com o céu. Se gritasse os anjos me escutaria. Porém o vazio de alguém importante lá em cima era devastador. Então continuei, minha mente sã funcionava em segundo plano, queria ver onde iria. Queria sentir cada demônio queimar.

Poderia encandecer o inferno.

Não consegui a reagir tempo, só ouvi os gritos e depois uma mão pesava sobre minha cabeça. E tudo apagou.


... – ...


Dean permaneceu na grama com as mãos no ouvido mesmo quando o tremor parou ou o som agudo baixou, e mesmo quando a luz branca cessou. Ele só reagiu quando Sam o balançou, ele sentia a cabeça latejar e os ouvidos repetir o som de sinos. Ou Sam estava falando baixo ou ele estava surdo.

Ele ouviu um gemido perto. Austin estava caído no chão ao lado. Se ainda tivesse olhos eles olhariam para Dean. Sentindo o corpo pesar Dean desviou o olhar e se colocou de pé com ajuda de Sam. Isabel.

Lá dentro o horror predominava. Tinha corpos para tudo quanto é lado, alguns sem a cavidade dos olhos, outros com queimaduras tão graves que pareciam ter sido assados num forno de padaria. O mais perturbador era que não eram corpos somente dos que os demônios possuíram e sim das pessoas que tentavam proteger. Todos os seus homens estavam mortos.

Dean se sentiu profundamente abalado e confuso. Era desolador ficar no meio daquilo tudo enquanto a igreja desabava em volta deles.

Ele largou Sam e correu mais a fundo da igreja, tropeçando em corpos, escombros, madeira até que chegou a Isabel inconsciente, que por incrível que pareça estava intacta e perfeitamente ilesa a carnificina a volta. Dean ainda tinha forças para se permite ficar surpreso quando encontrou Castiel.

_Vocês precisam sair daqui agora. disse Castiel. Sam havia chegado, tinha no rosto a mesma reação de Dean.

_O que você fez com ela? – a pergunta veio de Adam atrás deles. Ele parecia bem, exceto pela expressão horrorizada e muito confusa.

_Dean, vocês precisam...

_Castiel, você pode explicar o que aconteceu aqui. O que foi isso, cara? – perguntou Dean. Aos poucos começaram os gritos e choros dos que saíam da sacristia, e a Igreja também parecia manifestar sua dor, ela rangia e sua instabilidade assustava.

_Isso, foi ela. – Castiel parecia tão confuso quanto eles. Adam ajoelhou ao lado de Isabel e tentou reanimar a amiga.

_O que você fez? Ela não acorda. – falou Adam em tom de quase histeria.

_Eu impedi que ela matasse todos vocês. – gritou Cass para ser ouvido no meio da confusão.

_O quê? – perguntou Sam.

_Ela estava transcendendo. – respondeu o anjo.

_Trancen o quê? Fala nossa língua! – Castiel parecia não encontrar as palavras certas.

_Eu nunca vi... Isso é novo até mesmo para mim. Ela matou todos os demônios dentro de um raio de trinta quilômetros. Feriu e matou essas pessoas, isso abriu um sinal para todos os anjos. Se não saírem daqui rápido vão encontra-la e mata-la. – Dean e Sam arfaram, suas mentes dando voltas.

_Cara, ela não está respirando. – gritou Adam. Dean e Sam olharam para baixo e ao mesmo tempo se ajoelharam ao lado de Isabel. Sam pegou o pulso da garota.

_Eu não... Dean, eu não estou sentindo o pulso. – falou Sam sentindo a adrenalina ser transformada em medo.

_O que você fez com ela? rosnou Dean para Castiel.

_Ai meu Deus, Isabel, cara o que está acontecendo? Que droga toda é essa, eu...

_Cala a boca Adam! – vociferou Dean. _Cass?

_Ela não está morta. Seus batimentos só estão fracos. Ela vai acordar. – o anjo agachou perto de Isabel e tentou tocar sua testa. Dean segurou seu pulso. Sam o olhou surpreso.

_Não vamos contar a ela o que fez, isso... – Dean olhou em volta desolado e aturdido. _Não vamos contar que foi ela.

_Isso é mais do que pensei, ela está ficando mais forte e descontrolada. – Castiel se sentia tão perturbado por tudo tanto quanto Sam e Dean. Foi sorte sentir o sinal, como um chamado, e chegado primeiro. O poder que transcendeu dela foi tão intenso e magnífico que ele nem entendia o que era exatamente. Só sentia. Se Isabel continuasse provavelmente os estragos seriam maior. _Dean, ela é perigosa, olha o que fez com essas pessoas...

_Discutimos isso depois, Cass. – cortou Dean.

_E o que devemos fazer? – perguntou Sam. Dean abriu a boca para falar, mas parou quando parte do teto desabou. A poeira subiu deixando um véu branco no ar. Dean rapidamente tomou Isabel no colo.

_Vai para a sacristia e tire as crianças de lá. – Adam o olhou com os olhos quase soltando das orbitas. _Agora! – gritou Dean e o garoto correu, mancando. _Castiel, tenta cuidar dessas pessoas, sei lá, cure elas só não deixe mais morrerem e levem para fora daqui. Sam, você ajuda ele.

_O que vai fazer?

_Tirar ela... – Isabel já acordava em seus braços.


...– ...


Meu coração tentava escapar do peito.

Um rosto conhecido entrou em foco, ele me balançava e falava alguma coisa. Sua boca se mexia e seus feições mostravam preocupação. Não estava desmaiada mais a sensação de não estar consciente era parecida.

Aos poucos outros rostos entraram em foco, também os conhecia. Tudo era muito distante, o som, o toque, o cheiro. Estava no colo de alguém. Começamos a nos movimentar.

Passamos por pessoas, e corpos. Tinha muito corpos no chão. E onde estavam seus olhos? E eles pareciam queimados. O que estava acontecendo?

O ar fresco atingiu meu rosto, a chuva também. A água era fria me fazia tremer e ao mesmo tempo clareava minha mente. Como num turbilhão as coisas começavam fazer sentido.

_Dean, eu quero ir lá, quero ajudar. Dean, me coloca no chão! – falei alto para só então Dean parar. _Me coloca no chão, eu posso andar.

_Não, nós vamos sair daqui agora.

_O quê? Você vai deixar essas pessoas aqui? Olha para lá está tudo desabando. Dean! – dessa vez ele parou e me colocou no chão.

_Precisamos ir agora! Tem anjos vindo para cá, o Castiel disse. – as coisas ainda estavam entrando em meu cérebro lentamente.

_Como... Não vou sair daqui sem... – e lá estava ele. Adam corria guiando algumas crianças para fora. Empurrei Dean para o lado e comecei a correr. Adam me viu e me encontrou com um abraço.

_Você está bem, como... – tentava formular uma pergunta.

_Eu estou bem e você? – nos afastamos e nos avaliando a procura de ferimentos novos. Adam parecia como antes. Nenhum ferimento novo a vista. Da porta da igreja estava Castiel e Sam. Fiquei feliz em vê que Sam também estava bem, seu olho estava um pouco inchado e manchado de sangue, mas respirava e andava.

_Isabel, por favor, nós temos que ir. Temos que chamar uma ambulância para essas pessoas. – falava Dean com urgência.

_Vou verificar se tem alguma coisa vindo. – disse Castiel e depois desapareceu.

Um grito soou lá de cima. E do vitral quebrado no alto um garotinho chamava.

_Droga, eu deixei escapar um. – a mãe do menininho gritava e chorava. Adam não esperou mais, virou para porta e adentrou novamente a igreja.

Olhei em volta, no gramado algumas pessoas se agarravam uma as outras. Eram no mínimo seis pessoas, quatro mulheres e dois homens, sem contar as crianças. Meu estômago revirou e minhas veias gelaram. De acordo com minhas contas eram muito mais que isso, os que ainda lutavam, foi para isso que eu...

Sabe quando esbarramos sem querer numa torre de latinhas no mercado e tudo desmorona aos poucos? Foi assim que a igreja começou a desabar, aos poucos, primeiro o lado direito e depois o esquerdo. O barulho nos assustou. A mãe gritou. E Dean não conseguiu me impedir de correr para dentro da igreja.

O lugar estava tomado por finas partículas de poeira, e logo estava tossindo, mas não me importava, continuei indo. Era como adentrar nas vísceras de algum animal.

Enquanto minha garganta recebia a poeira meu coração ia sendo embalado pelo desespero. Conseguia me enfiar entre vigas e passar por cima de blocos de concretos, arranhar minhas mãos e braços, mas mesmo assim não me importava.

Me arrastei em direção de faixas de luzes da lua - que acabava de se anunciar - se projetando entre as fendas enormes no teto instável acima. A chuva não fazia aliviar em nada a poeira que quase me cegava.

Nada nem ninguém seria capaz de me fazer parar, nem mesmo as vozes que chamavam meu nome. Cheguei ao topo da escada parcialmente destruída.

Não sei como, mas consegui chegar ao topo, as paredes dos quartos não existiam mais, estava tudo praticamente caído e o chão também parecia ceder, várias fendas feito olhos desenhados no chão mostrava o que tinha abaixo do piso de madeira. consegui também encontra-lo. No fim do corredor. Lá estava. Mal consegui fazer minhas pernas funcionarem.

A parte dos fundos do corredor estava aberta, as paredes de pedras caídas e parte da cobertura foi para o espaço deixando no lugar vigas que pareciam dentes se precipitando para frente. E no chão no meio disso tudo estava Adam, Uma grande coluna prendia parte de seu corpo. Era tão confuso que mal entendia em que ele estava preso. Ajoelhei ao lado dele e vi seus olhos encontrarem os meus e outro par também. O meninos olhava para mim, parecia atônico.

_Leve ele... – disse Adam e depois tossiu. O vermelho pontuou seu lábios, levei a mão a boca para impedir o grito de escapar. O menino se contorceu em baixo de Adam e conseguiu sair pelo mínimo espaço entre as vigas. Por algum milagre estava intacto, o sangue que sujava sua camisa parecia vir de Adam. Talvez estivesse em choque ou entrando em pânico, mas não consegui me mexer. _Isabel, o garoto, leve ele. – balancei a cabeça afirmativa.

Respire. Me dei uma ordem. Agora levante e tire esse garotinho daqui. Acatei ambos os comando. Ao invés de levar o garoto pelo caminho que percorri para chegar, fui até uma janela destruída. Lá em baixo a mãe dele chorava, segurei o menininho pelo braços e me debrucei perigosamente na janela. O garoto não chorava nem reclamava, parecia sereno. O invejei por isso.

Quando soltei o garoto um dos homens o pegou. Missão cumprida. Agora era momento em que me desesperava e me jogava de volta ao lado de Adam.

Tentei entender como aquilo funcionava, onde tinha que puxar ou arrastar, mas parei quando vi que uma das pernas de Adam estava presa e provavelmente quebrada. A luz da lua cheia o brilho do sangue era nauseante. Mais mesmo assim puxei qualquer ponta que encontrei, qualquer viga. Praguejei quando percebi que meus músculos eram fracos demais. Eu era fraca demais.

_Calma, eu vou tirar você daí. – disse tentando acalma-lo, mesmo que por dentro de mim morava uma tempestade.

Seus traços sujos passaram de confusão a medo e depois a dolorosa compreensão. Mal conseguia respirar. Um oceano de agonia e medo fora derramado sobre nós dois isolando o caos a volta. Ofegava feito um peixe fora d'água.

Me obriguei a parar de embaçar minhas vista com as lágrimas e me concentrar em tira-lo de lá. Meus músculos rangiam como fazia a igreja. Senti seu toque no meu pulso e quase não o escutei chamar meu nome. Não queria ter que olha-lo e ver aquela estranha compreensão. El entendia algo que me recusava a compreender

_Você precisa ir. Isso vai desabar. Precisa ir embora. Por favor, vai.

_Não, não posso...–o soluço crescendo em minha garganta me impedindo de pronunciar as palavras. Precisava parar para que ele visse que falava sério, não ia deixa-lo. Ele precisava ver que não ia desistir, talvez assim aquela maldita expressão de dor e ao mesmo tempo conformismo sumisse. _Não vou abandonar você. Nunca. Não partir de novo.

Ele balançava a cabeça, implorava para que fosse. O ignorei e continuei puxando. Só parei quando tive companhia. Sam! Ele me ajudava a puxar, mais uma vez tentando soltar alguma presa que me daria liberdade.

A viga subiu, alguns centímetros, que se infiltraram em mim como raios de esperança. Adam estava gritando de dor, pedindo para parar. Sam largou a viga não suportando o peso. Não, não. Dean!

Ele se juntou a nós e aos poucos fracassamos juntos. Ele olhou para mim o irmão, Adam e depois voltou-se para Sam. Eles conversavam por aqueles olhares. Não entendia. Uma fibra do telhado caiu bem perto. E no próximo segundo Dean envolveu seus braços em minha cintura e começou a me arrastar para longe. Instantaneamente gritei e me debati em seus braços. Girei para encontrar seus olhos.

_Por favor. Você tem que ajudar, você pode... Dean, por favor. – ele olhou para mim com um profundo pesar.

_Me desculpe. – mais alguma coisa desabou, o chão tremeu sob nossos pés. _Sam! – chamou. Sam ainda tentava encontrar um jeito de mover os escombros em cima de Adam, parou quando sua mãos escorregaram.

Quando vi que ele se afastava para nos alcançar o pânico explodiu em meu ser. Me lancei para frente. Tinha que chegar até ele, se Dean me deixa-se...

Houve um momento. Uma suspensão do tempo. Adam encontrou meus olhos, estava sorrindo, de verdade, um dos seus sorrisos fácies. Eu te amo. Sussurrou para o ar.

Aquela imagem presa num átomo de segundo foi a última coisa que vi antes de ele ser engolido por uma cratera aberta no chão.

Minha garganta doía. Estava gritando, ou pelo menos achava que sim, era difícil discernir entre os soluços cada vez mais crescentes. Meu chão tinha desabado também. Tudo roía a nossa volta. Dean colocou seu corpo sobre o meu me protegendo enquanto tudo caía.

Ele só não sabia que eu já tinha caído.

A sensação de ser totalmente despedaça cobria-me. Meu peito balançava com os cacos do meu coração. Enquanto eu gritava para o vazio depois que outro engoliu o único fiapo de esperança e força que em que agarrava.

Era impossível colocar em palavras ou ações o que sentia. Mal percebi quando alguma coisa nos tirou de lá, e no segundo depois estava no chão observando as pedras caírem, tão instáveis.

Queria me cobrir delas e nunca mais ter a capacidade de respirar. Quanto mais chorava e soluçava mais me sentia afogar. Se pudesse voar eu tenho certeza que acertaria o céu. Rasgaria e destruiria e iria até contra Deus apenas para poder entender o por que era tão cruel comigo.

Precisava me agarrar a um bote salva vidas que não iria me deixar ir para mais fundo. Me virei e me joguei contra o peito de Sam esperando que ele aliviasse a vontade que tinha de morrer como tudo a minha volta.

Era tanta destruição, tanto choro, tanta morte, tanto sangue, tanta dor. Se existia um Deus onde estava? Por que não acabava com tudo aquilo? Por que ainda mantinha oxigênio em meus pulmões? Sam me abraçava e tentava me consolar enquanto marcava com minhas lágrimas sua camisa já molhada pela chuva.


... - ...


O que aconteceu depois passou por mim como um borrão. Uma sequência de eventos sem importância. Só sabia que agora eu deixava a água quente do chuveiro lavar minhas feridas e tentar amenizar minha dor.

Assim que sair do chuveiro encontrei Dean sentado a beira da cama. Ele já tinha tomado o seu, seu cabelo ainda estava molhado. Assim que me viu ele levantou num sobressalto.

Estávamos sozinhos e completamente sem saber em que direção seguir. Ficamos um de frente para o outro sem dizer uma palavra. A briga, o tapa, a morte de Adam e as palavras ditas e não ditas pairando sobre nós.

Por está perto demais ele tentou tocar em mim, o empurrei para longe, ele não se afastou, nem mesmo quanto acertei um tapa em seu rosto e outros vários golpes em seu peito tentando fazer ele ir para longe de mim. Só que ao mesmo tempo precisava que ele me resgatasse novamente antes de perder minha cabeça. Sentia a fúria rasgar meu peito, era tão devastadora que fugia do meu domínio.

_Você me bateu e depois deixou ele morrer. Como pôde fazer isso, como pôde deixar ele... Você era a pessoa em que eu mais confiava e agora eu não tenho nada. Não tenho casa, não tenho amigos, pais, nem a droga de um emprego eu tenho. – gargalhei mesmo sem humor, sentia o gosto salgado das minha lágrimas. _Eu não consigo fazer isso parar, é como se eu fosse chorar para sempre. Deus, eu... – ele tentou se aproximar, não deixei.

_Isabel, eu...

_Você deixou ele para morrer! Você quebrou meu coração de um jeito que não pode nem imaginar. Mas... – fiz uma pausa para respirar. _Mas mesmo assim eu sei que não posso viver sem você, eu te amo tanto que nem sequer consigo odiar você de verdade. Eu juro que tentei, mas preciso de você. Eu necessito de você mais do que deveria, eu...

_Cala a boca.

De repente Dean agarrou minha cintura e me empurrou para trás. Minhas costas encontraram a porta, minhas mãos agarravam o tecido de sua camisa precisando daquilo do qual me agarrar para não cair, não literalmente, não, cair de volta para ele. Não deixar que o que explodia em mim me embriagasse de tal maneira que seria impossível deixar que ele se afastasse novamente.

Dean me pressionou contra a porta exatamente como Adam sob o efeito da possessão havia feito, a diferença é que não repudiava seu corpo, pelo contrario o chamava para mais perto. Ele segurou meu rosto com as mãos se curvando e pressionando seus lábios nos meus.

Me entreguei completamente, deixando, sem me importar, a raiva e luto se transformar em um louco desejo que parecia envolver nós dois de uma forma insana e dolorosa.

Ele encostou sua a testa a minha ainda com os olhos fechados, inspirando o ar que ele exalava.

_Me perdoa. Nunca mais vou fazer isso de novo, nunca vou... – busquei sua boca para a minha de novo. Minhas roupas pareciam em brasas que só a pele de Dean poderia aplacar o fogo que emanava da minha pele para os tecidos que me cobria. Não precisei pedir, Dean já arrancava minha blusa e eu a dele.

Ainda estava quente demais, mas já era o bastante. Me agarrei nele, sentindo o carimbo que seu corpo fazia no meu. Dean me puxou para cima, envolvi minha pernas em sua cintura. Na altura perfeita ele podia ir mais fundo em minha boca e explorar a área do meu pescoço. Gemi alto quando sentia a pressão que ele fazia no meu pescoço me machucar um pouco.

Estávamos perdidos no nosso delírio. Presos numa explosão perigosa demais para ser contida. Tudo acontecia muito rápido, só agíamos desesperados para que não acabasse, para que a chama produzida pelo combustível da fúria e dor não apagasse.

Desci de seu colo e o empurrei, ele cambaleou para trás e sentou na cama, me coloquei em pé na sua frente. Seu rosto ficava na altura dos meus seios, levantei seu queixo o beijando, experimentando do ponto de vista dele como era nosso beijo. Dean levou as mãos a minha cintura e parou no cós da calça de moletão descendo-a com facilidade.

Sem o menor capricho puxou a peça para baixo, levantei os pés me livrando dela e depois do sutiã. Ele me pegou e colocou na cama. Engatinhei sobre ela para ir para o meio. Nesse meio tempo, Dean agarrou uma extremidade da minha única peça e arrebentou o tecido com facilidade, fez o mesmo com o outro lado.

A próxima coisa que senti foi Dean me invadi sem aviso prévio. Não me contive e deixei um grito curto escapar da minha garganta. E aos poucos tinha a necessidade de ter Dean em mim ser acalmada. Não era bonito ou delicado, movíamos, respirávamos apenas pelo desejo desenfreado.

Devorávamos um ao outro em busca de alívio para nossos corações feridos por nos mesmos. Era egoísta. Um modo grosseiro de pedir por perdão, de reparar o irreparável, de amenizar a dor da perda com o prazer.

O amor não cabia naquele momento, o carinho tinha ido para longe. Dean me possuía com uma fome voraz querendo ser aplacada. Ouvia sua respiração pesada no meu pescoço, seu coração batia contra o meu, seus lábios deixava escapar pedidos de desculpas, e eu respondia entoando a mesma frase.

A dor que sentia não era nada comparado ao prazer intenso demais. Apertei com força o lençol abaixo de mim enquanto Dean apertava com a mesma força minha cintura. Ele ia e vinha rápido demais que as vezes me perdia. Gemi alto quando senti as contrações e meu corpo abrigar o máximo de prazer que suportaria. Dean colocou seu rosto na curvatura do meu pescoço e se entregou ao seu ápice.

...

Quando os corpos quentes se aquietaram Isabel não previa o que viria a seguir. A menina ao seu lado começara a chorar. Dean sentia tanto por ela, a cada soluço, arquejo a cada lágrima derramada ele sentia em dobro as coisas desmoronarem sua volta.

Tinha chegada a limite que não queria ter alcançado. E se todo esse tempo estivesse tentando evitar o inevitável? E se os anjos, Zacarias e até Lúcifer tivesse razão? E por que não poderia o conselho de seu do futuro? Afinal metade do planeta era melhor que nenhum e ele garantiria que pessoas que ele amava ficassem bem. Seria querer demais dizer feliz, mas bem.

Sim. Uma simples palavra poderia salvar aqueles que ele não podia salvar.

E se ao fim a moeda estivesse em suas mão? O que faria?

Ele abraçou forte Isabel e deixou que ela chorasse livremente, afastou os fios de cabelos molhados de seu rosto. Não disse nada, não tinha nada a ser dito, mas a fazer, essa era a questão.

...

A noite parecia não acabar. Não conseguia dormir, não queria. Minha mente era um território obscuro que não queria adentrar sem a plena consciência.

Dean estava sentado na beira da cama ao meu lado, as costas encurvadas como se estivesse rezando, ou realmente estivesse. Nós estávamos apreensivos, com medo, era de se esperar atitudes desesperadas como esta, mesmo que lá no fundo soubéssemos que talvez não estivesse ninguém que possa ouvir.

Sentei na cama, respirei fundo para forçar o ar a entrar corretamente. Enlacei meus braços na cintura de Dean. sabia que as coisas ainda estava complicadas entre nós, talvez nunca voltaria a ser como antes.

_Eu sinto tanto, nunca deveria ter feito o que eu fiz, me sinto um covarde, meu pai me mataria por isso e com razão. Eu perdi o controle. – ele colocou suas mãos sobre a minha e me puxou para mais perto. _Me desculpe. As vezes acho que vou perder a cabeça. As pessoas estão morrendo, a Ellen a Jo, boas pessoas, e eu não estou conseguindo salvá-las. Estou dando tudo de mim e mais, mas as coisas não desaceleram, e penso que talvez não estou dando o suficiente para fazer isso parar e eu não sei mais o que posso fazer. Eu machuquei você. Eu me sinto tão perdido.

Aquele momento, aquelas palavras eram algo que não merecia ouvir. Dean era um homem maravilhoso, mesmo em suas falhas. Não o merecia. Não percebi que derramava as lágrimas silenciosamente. Dean tinha deixado de lado sua armadura e me acompanhava. Nunca o tinha visto chorar, nunca o tinha visto no seu limite. Nunca achei que teria coragem de admitir para mim mesma que o amava. Eu o amo. Essas três palavrinhas tinham um significado tão grande. Eu o amava e talvez nunca poderia retribuir o tanto que Dean sem perceber fazia por mim.

Mesmo eu estando completamente errada ele se abria para mim. Mesmo eu tendo descido tão baixo para atingi-lo ele ainda me mantinha em seus braços. Mesmo tendo quase matados pessoas inocentes ele ainda cuidava de mim. Éramos tão errados. Tão quebrados.

Eu o machuquei também. Não esperava que me perdoasse, e nada que eu dissesse agora iria apagar o que eu disse. O que podia dizer foi:

_Vamos achar um caminho certo. – encostei o rosto na sua pele nua sentindo as contrações que suas costas fazia por conta da respiração. _Me desculpe. – as minhas palavras saíram tão baixas que talvez não fosse nem um sussurro. Dean não respondeu, não esperava que respondesse.


... - ...


Ele estava deitado na grama atrás da igreja, junto ao corpo de sua filha. Estava morrendo, sabia disso. Tinha desmaiado por causa da dor, e iria de novo, só que dessa vez seria definitivamente, foi quando sua vista turva permitiu que visse um homem, ele vestia um sobretudo.

Sua dor se fora, mais a que mais doía ainda estava aberta no peito. Tinha perdido os filhos e Grace sumira naquela noite, levada por uma ambulância que ele não fazia ideia de como conseguiram chamar. A luz voltou a banhar Buford, com ela repórteres que não sabia explicar em palavras a maior tragédia de Wyoming.

Jonathan Hill voltou para sombras a fim de não ser descoberto pelos paramédicos e a imprensa. Se esgueirando entre fazendas ele encontrou quem nunca imaginaria encontrar. Antony não teve a mesma sorte de encontrar o homem de sobretudo e ser curado. Seu rosto estava irreconhecível, mas nos seus olhos Jhonny viu o que precisava.

Agora os dois únicos sobreviventes de seu grupo estavam em uma caminhonete seguindo para longe da cidade morta de Bufurd. Ele falava no telefone enquanto Antony apertava um pano ensanguentado no nariz grunhindo de dor.

_Isso mesmo, ela matou a minha filha a sangue frio e digo para você, ela não é humana, nem caçadora... Sim, com os Winchester... A garota tem mais ou menos um metro e sessenta e cinco, cabelo preto cacheado acima do ombros, olhos azuis, magrela, e também é britânica... Tudo bem, qualquer coisa me liga. E Daniel, eu quero a garota viva. ele desligou o telefone. Falou com um caçador que há muito foi seu parceiro.

_Não vejo a hora de começar a caçar a piranha e aquele Winchester, eu vou arrebentar a cara daquele desgraçado e dar um trato na vadia na frente dele. Eles vão pagar pelo que fizeram com Portia e nossa gente.

_Pode fazer o quiser com ela, só que eu vou mata-la.



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Notas finais do capítulo

Se você chegou até aqui, Parabéns o/ Isso me deixa feliz haha Então? Curtiram? Odiaram? Me deixem Reviews!!! Quero saber oque estão achando.

E um pequeno Bônus: Uma música que me inspirou muito na hora de escrever diversos momentos do capítulo (momentos vistos do ponto de vista da Isabel).

Ellie Goulding 'Dead in The Water' - https://www.youtube.com/watch?v=NDFhp4NJR4g&src_vid=8u-CZ61yAdw&feature=iv&annotation_id=annotation_872419

Oução e digam o que acharam. E se quiserem ouçam também 'Figure 8', a música que considero tema da Isabel para o Dean :)

Ps. Ha, a música Dead in the Water faz parte da trilha sonora de Divergente o filme *-*

Até a próxima anjos.


XOXO



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