Cadente escrita por Sah


Capítulo 12
Pacto




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Com o nascer do sol foi possível ver claramente o que havia a nossa volta. A casa do lago dos Donan era incrível, não tão grande quanto a casa principal mas com a mesma imponência.

— Vocês querem entrar e tomar um banho? – Annie disse tentando se limpar com as mangas do pijama.

Eu olhei para mim mesma. Havia lama em todos os lugares.

— Acho que seria bom. – eu falei

Bryan era o mais sujo, mas não parecia muito incomodado. Ele tirou a camisa.

Tá ele malhava, isso devia ter me impressionado, mas eu fiquei tentada em ironizar a situação. Quantas garotas da escola não se matariam para ter essa nossa chance? Mas justo eu e a Annie que agora nós o considerávamos uma espécie de irmão.

— Eu preciso lavar essa camisa. – Ele disse descontraído.

— Você precisa lavar bem mais que a camisa. – Afirmei.

Rimos. Nem parecia que havíamos feito o que fizemos.

Acompanhamos Annie até a grande casa.

A casa era trancada com uma senha numérica. Annie a digitou rapidamente.

— Bom dia senhorita Donan — Uma voz metálica e fria saiu de uma caixa de voz

— A casa fala?

— E um sistema de segurança. – Annie disse como se aquilo fosse normal.

— E câmeras? Tudo o que fizemos foi gravado? – Perguntei.

— Não. Nada aqui é filmado, por razões de segurança.

Resolvi não perguntar mais nada.

Annie nos mostrou onde tomar banho. Mas não tínhamos nenhuma roupa para usar depois.

A água quente bateu no meu rosto. Me senti aquecida e qualquer traço de medo foi embora com a água suja. Demorei um pouco mais do que devia. Me enrolei em um roupão felpudo e sai daquele banheiro exagerado.

Annie já estava vestida. Ela usava um vestido escuro de mangas florido. Seu cabelo vermelho estava limpo e seco. Quanto tempo eu demorei?

— Não é muito. Mas acho que serve em você. – Ela me entregou um vestido bem parecido com o dela.

— Eles são bem parecidos. Mas era o único que ainda cabia em mim, não venho aqui desde que minha mãe morreu. – Ela me disse.

— Não tem problema! – Eu falei pegando o vestido da mão dela.

Ao colocar o vestido notei que ele ficou um pouco justo no peito. Olhei para o espelho. Meu Deus, eu não estava muito decente. Não parece, mas eu realmente uso um número de sutiã bem maior que o dela.

Sai do quarto na espreita. Esticando o vestido ao máximo.

— Olivia? – Annie me chamou.

Desci as escadas. E vi Bryan. Ele estava diferente, usava roupas um pouco formais demais. Seu cabelo loiro estava puxado para trás. Ele parecia um modelo de capa de revista.

— Camisas brancas ficam boas em você. – Disse sinceramente.

Ele tentou amassar um pouco a roupa, acho que ele queria ficar mais despojado.

— E roupas justas também ficam bem em você.

Um calor subiu pela minha face. E eu fiquei muito vermelha.

— Não tenho opção. – Falei um pouco exaltada.

— Não ficou ruim. Você parece que vai para uma igreja. – Ele apontou para Annie.

— Já você. Acho que vai seduzir algum viúvo rico.

Me senti ultrajada. Mas mesmo assim tive vontade de rir. Nós tínhamos mesmo feito tudo aquilo? Eu não me sentia mal, estar com esses dois aquecia o meu coração.

–-- Espere um momento. — Annie subiu as escadas, depois de uns segundos ela trouxe um casaco.

— E do meu pai, mas acho que você pode querê-lo.

Eu peguei o casaco na hora e o coloquei. Mesmo estando totalmente fora de moda, eu me senti bem mais á vontade.

— Certo o que faremos agora? - Perguntei.

— Eu? Eu vou para casa. Estou morrendo de sono. – Bryan falou bocejando.

— Eu vou chamar o meu motorista. – Annie disse mais acanhada.

— Acho que se eu chamar a minha mãe, ela irá querer explicações. E não estou com saco para aguentá-la. – Me surpreendi com o que eu disse.

Me sentei no enorme sofá de couro que deixava a sala mais aconchegante possível.

Notei que Annie havia ligado a lareira. O ambiente estava perfeito que eu nem notei quando cai no sono.

Havia fogo em toda a parte. Meus pés estavam queimando. O cheiro de carne queimada me deixou nauseada. Eu olhei para as minhas roupas. Elas estavam em pedaços. O negro da fuligem estava impregnado na minha pele. E ao toca-la. Pedaços de pele queimada se dissolviam e deixavam para trás somente a carne viva. A dor não veio. Pisquei e eu estava do lado de fora. Minhas roupas haviam voltado e minha pele estava normal. Olhei ao meu redor um carro destruído queimava na minha frente. De lá eu podia ouvir gritos de agonia. Parecia a minha voz, gritando para que aquele inferno terminasse logo.

Uma pressão no meu braço me fez acordar.

— Olivia. Temos que ir. —Era a voz de Annie.

Abri os meus olhos e a vi.

— Já são 16h. – Bryan disse despreocupado.

— Olivia, acabamos adormecendo.

— 16H!!

Meu coração acelerou. Eu não sabia que desculpa dar para ela. Mas minha mãe iria me matar.

— Temos que ir agora! — Disse pegando Bryan e Annie pelo braço.

Em menos de um minuto Annie havia fechado a casa. Bryan iria deixa-la na rua da casa principal, e depois ele me levaria para enfrentar a minha mãe.

— Ninguém além de nós vai saber o que houve hoje. Aquilo enterrado será um segredo que só nós três compartilharemos. – Bryan disse de um jeito um pouco sombrio.

— Isso é uma profecia? – Disse curiosa.

— Pode-se dizer que sim.

— Você me assusta um pouco falando assim. – Annie falou.

— Eu te assusto? É você que cria os monstros e eu que te assusto?

Annie se afundou mais no estofado do carro.

— Bryan! Para com isso! – Eu disse o repreendendo.

— Ela que começou. – Ele disse um pouco mais baixo.

— Olha, nós não podemos brigar. Sei que não somos tão íntimos assim. Mas eu sinto que eu terei só vocês para me apoiar.

— Olivia? – Bryan disse de um jeito estranho.

— O que?

— No futuro quando você precisar. Eu e Annie realmente iremos te apoiar. Por isso confie na gente. Ok?

Eu realmente não sabia o que ele havia visto. O olhar dele de repende ficou duro.

— Ok. – Eu confirmei.

Deixamos Annie a algumas quadras da casa dela.

Ao aproximar do meu prédio, vimos uma movimentação estranha. dois carros de policia estavam estacionados na frente do meu prédio. Será que alguma coisa aconteceu?

Bryan se aproximou.

— Você está encrencada.

— Isso tudo é por minha causa?

— Não, eles também estão procurando a Annie.

— E você?

— Ninguém perderia tempo me procurando. – Ele falou um pouco triste.

— Se qualquer coisa acontecer com você, pode ter certeza eu irei te procurar.

Ele sorriu.

— Isso é uma promessa?

— Sim, isso é uma promessa.

Não vi quando ele se aproximou do carro. Com força ele abriu a porta e me puxou para fora. Era o Aaron.

Ele parecia muito preocupado.

— Olivia! Onde você estava?

Seu olhar de preocupação se transformou quando ele notou o Bryan.

— Ele. Sempre ele.

Aaron deu a volta.

Bryan saiu do carro.

— Por que eu ainda fico surpreso? Sempre você Bryan Smith. Parece que você não aprende.

Bryan riu.

— O que eu não aprendo?

Aaron olhava para ele furioso, suspirou alto e disse:

— Vá embora, antes que eu te bata aqui mesmo.

— Me bater? Não me faça rir mais. Nós dois sabemos que você nunca faria isso.—Bryan voltou para o carro.

— Olivia, se precisar de mim. Você sabe o meu número – Bryan disse antes de dar partida e ir embora.

Quando ele foi, eu olhei diretamente para o Aaron. Eu estava tentando evitá-lo a todo custo.

— Você não vai me dizer onde vocês estavam? – Ele estava me tratando como uma criança.

— Acho que não devo satisfações para você. A única pessoa a quem terei que me explicar e a minha mãe.

— Deve sim. Você me deve por todos os nossos anos de amizade. Por toda a minha consideração.

Eu fui em direção a minha casa. Eu o deixei falando sozinho.

—Liv, o que aconteceu com você?

Essa pergunta me apertou o coração.

— Temos que conversar Liv. Não faça a nossa amizade acabar assim.

Lágrimas já caiam no meu rosto.

Subi as escadas secando minha lágrimas, a porta da minha casa estava aberta.

Lá dentro minha mãe parecia nervosa enquanto conversava com dois policiais.

Quando ela me viu, seus olhos se arregalaram. Ela veio até mim um pouco atrapalhada, e me abraçou tão forte que eu perdi o ar.

–-- Me desculpe por não ter te avisado. É que acabei perdendo a noção do tempo.

Minha mãe se desculpou com os dois policiais. Ela pegou o telefone e ligou para Mark. Ele estava vindo.

— Não me deixe tão preocupada, achei que tinha te perdido de novo.

Ela não gritou, nem reclamou e nem me perguntou onde eu estava e isso me fez ficar mais culpada.

— Aaron também estava ajudando a te procurar.

— Eu sei, eu o encontrei quando cheguei.

Ela me olhou com ternura. Um tipo de olhar que só vi quando eu acordei.

Mark chegou em poucos minutos. Acho que ele estava perto.

Quando ele entrou ele foi à minha direção e me abraçou.

Eles me olharam como se tivessem que me contar algo.

— Olivia, desde que você acordou, estamos adiando. Mas depois desse seu desaparecimento repentino temos que te contar.

Me contar? Eu lembro que quando eu sai do hospital eles iam me contar alguma coisa, mas eu acabei me esquecendo disso.

— O que é? – Perguntei com interesse.

— Há algumas semanas antes de você acordar. Mark me pediu em casamento e eu aceitei.

O que ela disse? O Mark pediu ela em que?

— O que você disse?

— Olivia, eu e a sua mãe vamos nos casar. E iremos viver todos juntos.


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