Cadente escrita por Sah


Capítulo 10
Aberração




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Annie não disse nada, apenas sorriu e confirmou. Acho que me exaltei e a deixei sem jeito. Não é todo dia que eu vou à casa de um bilionário. Isso significa que ela é bilionária. Mas por que ela sempre escondeu isso? Ela poderia ter sido muito popular.

— Me desculpa por fingir que o motorista era o meu pai. É que as pessoas não costumam agir como elas mesmas depois que eu conto quem é meu pai.

— Ah eu entendo.

Na verdade eu não entendo nada, isso deve ser um problema de rico.

— Annie, obrigada por me deixar vir aqui hoje. Eu não sabia para onde correr.

— Não precisa agradecer – Ela me diz com um sorriso sincero.

— Eu quero te explicar o que aconteceu...

— Espera, vamos até o meu quarto.

— Ah, ok.

Sim nós usamos um elevador para ir até o quarto dela. Chegando lá eu não pude acreditar, o quarto dela era maravilhoso, nenhum que eu havia visto chegava perto disso. A cama era um king size de princesa, eu realmente queria pular nela, havia várias prateleiras de livros e a decoração era indescritível. Havia uma escada que dava para um lugar que eu nem imaginava, e uma espécie de sala com uma super TV dava ao lugar um pouco de modernidade.

Eu entrei meio deslumbrada, acho que ela percebeu que eu não conseguia parar de olhar para tudo.

— Quer beber alguma coisa? – Ela me perguntou e me tirou do transe.

— AH, não precisa se incomodar.

— Eu também estou com sede, vou pedir um suco para nós, pode ser?

— Claro.

Nos sentamos e eu já comecei a falar.

— Eu estou aqui para me esconder do Aaron.

— Ele descobriu?

— Você também sabe?

— Acho que todo mundo que já cruzou com você e ele vê como você o olha.

Isso me fez ficar muito vermelha, e eu achava que conseguia disfarçar muito bem.

— Na verdade o que está me perturbando foi o jeito que ele descobriu.

— Alguém contou para ele?

— Eu não sei, eu acho que não. Ele me abraçou e soube de tudo, assim como mágica.

Eu a encarei ela não parecia surpresa.

— Você não parece muito surpresa.

— É que essa foi a coisa menos estranho que aconteceu desde que acordamos.

— Como assim menos estranha.

— Eu achei que eu estava louca. Mas sabe a Amber? Eu a vi pegando fogo.

— Pegando fogo?

— Sim literalmente, ela parecia estar sendo engolida por labaredas.

— Annie acho que você está vendo coisas.

— Eu também não acreditei. Mas depois eu vi a Tiffany brilhando.

O que ela estava me dizendo era absurdo. Mas eu sentia que ela estava falando a verdade. Eu me sentia diferente perto dela. Não era a angustia que eu estava sentindo desde que eu acordei. Era como se eu só pudesse confiar nela. E eu também me sentia assim com o Bryan.

Deve ter um motivo para isso. Por que parece que o mundo todo está contra mim. E só os dois estão do meu lado.

— Eu acredito em você.

— Você acredita?

— Sim, eu tenho essa sensação de que eu posso confiar em você.

— Eu também tenho essa sensação. – Ela disse meio acanhada.

— E além disso também aconteceu uma coisa inacreditável. Samantha agora pode falar.

— Nossa! Isso é uma boa noticia não é?

— Seria se eu soubesse o que houve. Você também sente que tem alguma coisa acontecendo? Esses exames e todo esse segredo.

— Sim. Eu tenho certeza que tem coisas estranhas acontecendo.

Ela pareceu guardar um segredo, eu não iria perguntar nada, ela já estava me ajudando muito.

Uma moça vestida de empregada francesa apareceu e nos serviu um suco que eu nunca havia tomado.

— Espero que você goste de suco de pitaia.

Eu bebi com gosto. Eu nem conhecia essa tal de pitaia, mas esse nome era exótico o bastante para ser caro.

Depois que terminamos, Annie me mostrou o seu quarto. A escada dava a um closet cheio de roupas. Eu nunca poderia imaginar que aquela pessoa antissocial fosse tão divertida. Provei diversas roupas. Apesar de ser mais alta que ela, quase todas as roupas que eu provei serviram. Eu não me sentia tão a vontade e feliz há tempos.

Meu mundo caiu quando minha mãe veio me buscar. Eu realmente não queria ir. E não é só por causa das coisas incríveis que Annie tinha, somente companhia dela já me deixa relaxada.

— Essa sua amiga mora nessa casa? – Minha mãe disse quando me viu.

— Sim, ela é uma Donan.

— Dos empreendimentos Donan?

— Sim. Eu também fiquei impressionada.

O olhar dela se suavizou.

— Aaron ficou te esperando por muito tempo. Quase tive que expulsá-lo de casa.

Meu coração gelou.

— Mas ele foi embora?

— Sim, ele disse que fala com você amanhã. Quando você estiver mais calma. O que aconteceu com vocês? Ele não quis me dizer!

— E não sou eu que vou. Me desculpa mãe, mas eu não to preparada para falar qualquer coisa sobre isso.

— Um dia você vai ter que me contar.

Um dia talvez, eu pensei.

Eu fui dormir sem jantar, aquele suco de pitaia me satisfez.

Eu sonhei com um lugar que eu não conhecia. Eu estava em uma estação de trem vazia. Era velha e antiga, a madeira do chão rangia quando eu pisava. Eu me assustei quando eu vi um vulto correndo para a plataforma, eu o segui e dei de cara comigo mesma, pelo menos eu achei que era eu. Ela parecia comigo mas o seu olhar era frio, e o sorriso era assustador. Ouvi o barulho do trem e quando ele estava quase chegando, eu fui empurrada por mim mesma.

Acordei suada. O telefone estava tocando, olhei para o despertador e eram 2h35. Quem ligaria essa hora? Pensei no Aaron.

— Ele não seria louco seria?

Ainda bem que minha mãe tem um sono pesado. Fui até a sala e hesitei antes de pegar o telefone.

— Alô?

— Olivia?! É você?

A voz estava aflita, mas eu logo reconheci.

— Annie? Está tudo bem?

— Me desculpa. Eu não sabia mais para quem ligar! Eu preciso de ajuda!

Ela estava chorando. O que é que pode ter acontecido em tão pouco tempo.

— Annie! Se acalme e me conte o que aconteceu.

Ela não parava de chorar.

— Você quer que eu vá ai?

— Você viria? – Ela segurou um soluço

— Sim. Eu dou um jeito. Não faça nada! Eu estou indo.

E eu desliguei o telefone.

Como é que eu vou até a casa dela? Eu não vou acordar minha mãe. Alguma coisa me diz que isso deve ficar entre nós. Eu não tenho dinheiro o suficiente para um taxi.

Quem normalmente seria a minha saída é o Aaron, mas eu nunca ligaria para ele, depois de tudo o que aconteceu.

Pensei no Bryan. Não custa tentar, se ele não atender de primeira eu desisto. Mas será que eu tinha o telefone dele?

Me arrumei em um instante. E fui procurar em uma caixa de recados, tenho certeza que Sarah me mandou um bilhete com o celular dele. Dito e feito e telefone estava lá. Disquei e esperei chamar.

— Alô?

Ele atendeu de primeira.

— Oi, Bryan!

— Olivia?

Ele me reconheceu.

— Sim é ela.

— Já estou indo te pegar.

—Mas eu não disse nada!

— Não se preocupe, eu sei que você precisa de carona até a casa da Annie. E eu vou te ajudar, estou curioso para saber o motivo.

— Como você sabe disso?

— Não dá tempo de explicar, nós temos que ir já.

Eu não consegui compreender como ele sabia de tudo isso, mas com tantas coisas acontecendo eu acho que esse será o menor dos meus problemas.

Em menos de 10 minutos ele chegou. Sai de casa com cuidado para não acordar minha mãe.

O cabelo loiro dele estava desgrenhado. A roupa amassada. Ele apenas acordou e saiu.

— Esse é o endereço dela. – Falei mostrando uma anotação.

— Não preciso, eu sei onde ela mora.

E fomos rápido, não havia transito e ninguém nas ruas. Já eram três da manhã.

Ao chegarmos eu me lembrei do portão e da distancia até a casa. Será que Annie estava nos esperando?

Mas ao nos aproximarmos o portão abriu. E Bryan entrou com o carro.

— Fui surpreendido. Quanto dinheiro a família dela tem?

— Eu não tenho ideia.

A casa estava escura. Bryan desligou os faróis a se aproximar. Descemos e a moça que antes usava uma roupa de empregada francesa, estava de pijama e nos esperava.

— Um alivio que você chegaram. A senhorita Annie não deixa ninguém se aproximar do quarto.

Deve ser grave.

— Você tem ideia do que aconteceu? – Perguntei

— Não, ainda bem que o senhor não está no país. Se ele estivesse em casa provavelmente ela não pediria ajuda.

A empregada nos levou até a porta do quarto. Bryan parecia impressionado com tudo o que via. Não era ele que sabia de tudo.

Bati na porta

— Annie? Sou eu a Olivia. O Bryan também está aqui! Você pode abrir.

Ele entreabriu a porta.

— Francesca, se afaste, por favor.

— Mas senhorita!

Annie estava com os olhos vermelhos e os cabelos desgrenhados.

— Eu trouxe o Bryan, eu realmente não tinha como vir.

— Você vai nos deixar entrar? -- Falou Bryan sem modos.

Assim Annie abriu a porta, nos deixou entrar e fechou imediatamente.

— O que aconteceu Annie?

Ela nos levou até o banheiro.

— Entrem .

E entramos o que eu vi lá foi a coisa mais assustadora que eu já tinha visto.

Uma mulher estava caída no chão, no meio do grande banheiro. Ela tinha os cabelos como os de Annie, vermelhos, os olhos eram vidrados e verdes como também os de Annie. A pele era pálida e meio plastificada. O assustador era a falta de detalhes humanos. Era como se fosse uma boneca humana. Ela não respirava e nem se mexia.

— O que é isso?

— Era para ser a minha mãe! Disse Annie recuperando a postura.


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