Because of You escrita por Lia Galvão


Capítulo 13
Nós ficaremos sãos e salvos


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu demorei. E como demorei! Eu peço do fundo do coração desculpas, mas sei que nem se eu enchesse isso daqui com essa palavra seria o suficiente. Espero que possam me perdoar e que entendam meu problema para conseguir terminar este capítulo, assim como esta fic. Sim, esse é o último. Sei que esperavam por um capítulo quilometrico, mas isso é tudo, pessoal e vou parar de enrolar vocês aqui e deixar que leiam.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/475746/chapter/13

Scorpius estava parado ao lado de fora do quarto há cerca de dez minutos, encarava a ruiva sem ter ideia do que fazer e ainda não havia criado coragem o suficiente para atravessar a porta. Lily estava dormindo, o médico exigira que ela descansasse um pouco antes de retomar as atividades já que seu dia havia sido longo. O loiro se perguntava se fora assim que ela aparentou estar quando em coma, já que durante todo aquele tempo ele nunca foi visitá-la. Não por não querer, mas por, assim como agora, não saber como agir, e acabava aproveitando o artificio de não ser da família para não visitá-la.

Apesar de que não havia como negar que nos primeiros meses ele não tinha vontade alguma de vê-la. Estava com raiva por ela ter o privado de saber sobre o filho e tudo que desejava fazer era segurá-la pelos ombros e a sacudir, gritando que ela não tinha direito de fazer o que fez, por mais errado que ele estivesse. Mas então a raiva deu lugar a preocupação, sabia por terceiros que Lily não reagia a nada e o tempo foi apenas aumentando, mas ainda existia um traço de mágoa que, por mais preocupado que estivesse, o impedia de visitá-la.

Mas agora ele não podia mais evitar, não devia. Lily merecia saber a completa verdade, sabia que corria o risco de a ruiva voltar a odiá-lo, mas preferia que fosse assim, desde que Lily não culpasse Rose por um erro que fora dele e a esposa parasse de sofrer pelo desprezo da prima. Reunindo a coragem necessária, o loiro entrou no quarto, ao mesmo tempo em que Lily despertava.

–Scorpius. -Ela tinha a voz arrastada pelo fato de ter acabado de acordar, mas sorriu para loiro.

–É.. oi. -Ele tentou forçar um sorriso mas estava nervoso demais pra isso.

–Sente. -Ela indicou a poltrona ao lado da cama enquanto se acomodava na cama. -A que devo a honra da sua visita as… -Ela fez uma pausa encarando o relógio pendurado na parede. -Três da manhã?

Scorpius imitou o movimento de Lily, se chocando ao perceber que estava realmente tarde e então sentou-se, passando a mão pelos fios loiros e balançando a perna, a procura de palavras.

–Acho que… temos alguns assuntos pendentes. - Ele enfim disse, encarando os sapatos.

–Seria ótimo se eu me lembrasse quais assuntos são. -Ela brincou e Socpius riu nervosamente, a encarando.

–Lily, no dia que você foi me contar sobre a gravidez, você se deparou com uma cena que se eu pudesse voltar no tempo e mudar, eu faria, mas não posso.

–Do que está falando? -Lily passou a o encarar com mais curiosidade, Rose havia dito que antes que ela contasse sobre a gravidez para Scorpius, este havia marcado um encontro com ela para informar que não poderia mais ficar com ela, pois amava Rose. Por isso ela havia fugido sem lhe contar sobre o bebê.

–Estou falando que eu agi errado ao ter estado com Rose antes de resolver as coisas com você, apesar de não ter passado de um beijo. E eu entendo se me odiar por isso, mas não odeie Rose, a culpa não foi dela, ela queria fazer o certo eu quem insisti, por favor…

–Scorpius… não foi essa a história que me contaram. - Lily informou um tanto descontente e o loiro suspirou.

–Eu sei. E é por isso que estou aqui, porque hora ou outra você poderia e iria descobrir a verdade e então recomeçaríamos aquele ciclo de maneira ainda pior.

–Então Rose mentiu para mim e você vem até aqui para me dizer isso e pedir para que eu não a odeie?

–Basicamente. -Ele confessou e percebeu o quão estúpido parecia quando dito em voz alta, mas Lily merecia saber a verdade. -Mas ela não mentiu por egoísmo, Lily. Ela mentiu porque te ama, porque a verdade só trouxe sofrimento e porque você merecia viver.

–Ela não teria mentido se me amasse!

–Pelo contrário! Lily, desde aquele dia muitas coisas ruins aconteceram contigo, tudo por minha culpa, ela queria te privar disso e poder ter a irmã de volta!

–Coisas ruins tipo o quê?

–Tipo você estar nessa cama, tipo você não se lembrar de um terço da sua vida. -Ele respirou fundo. -Você só sofreu aquele acidente porque havia fugido ao me contar que Lucca era meu filho e porque ele acabou descobrindo isso e você teve que se jogar no lugar dele na frente de um caminhão. Ela nunca faria nada para te magoar, Lily.

A ruiva não demonstrou nenhum tipo de reação por um longo tempo, até respirar fundo e se afundar na cama, puxando os cobertores até o pescoço.

–Você deveria ir para casa, Malfoy. Sua esposa e filha devem estar precisando de você.

Scorpius concordou, sabendo que aquele era o modo que ela tinha de dizer que precisava de um tempo e se levantou, caminhando para fora do quarto.

–Ah, Lily! -Ele chamou se virando e a ruiva o olhou sem muita vontade. -Tem esse cara, que você não lembra dele, mas que eu posso te garantir que ninguém vai amá-la mais do que ele. -Scorpius a encarou por mais um momento e conseguiu lhe lançar um sorriso. -Boa noite. -Disse antes de de partir e Lily suspirou, anotando mentalmente para que perguntasse quem era o tal cara.

***

A ruiva tentou de diversas maneiras manter os olhos fechados. Todas as técnicas que ela conhecia, de contar carneirinhos até mudar de posição na cama, mas absolutamente nada parecia conseguir tirar seus pensamentos das últimas palavras ditas por Scorpius. Ela estava tão confusa e as pessoas que deveriam estar ali para ajudá-la a acabar com isso aparentemente apenas a confundiam mais e mais.

Sentou-se mais uma vez na cama encarando o relógio que agora marcava 5 horas e 47 minutos e bateu com a cabeça no travesseiro. Havia chamado por uma enfermeira há algum tempo e essa dissera que Lily só poderia receber visitas a partir das 10 da manhã, DEZ DA MANHÃ! Ela não aguentaria esperar isso tudo. Sua cabeça parecia querer explodir de tantas perguntas sem resposta, ela simplesmente odiava a situação na qual se encontrava.

E foi então que ela decidiu que não precisaria esperar quatro horas até que alguém chegasse e lhe explicasse algumas coisas. Tornou a sentar-se na cama, mas dessa vez se livrara das cobertas e calçou os pés com as pantufas nunca usadas que a aguardavam ao pé da cama, retirou o tubo das narinas e aguardou por um minuto, levantando-se assim que percebeu que conseguia respirar.

Assim que saiu do quarto seguiu para a esquerda, onde uma placa vermelha indicava que era a saída mas já havia imaginado que não seria tão fácil quando ouviu passos apressados atrás de si.

– Senhorita Potter? Aonde a senhorita está indo?

– No banheiro.

– Senhorita, o banheiro fica para o outro lado, permita-me…

– O banheiro da minha casa. - Lily disse retirando educadamente o braço da enfermeira de seu ombro.

– Temo não poder permitir que faça isso.

– Ainda bem que eu não pedi permissão, certo? - Lily sorriu e voltou a caminhar, ainda com a enfermeira na sua cola.

– Senhorita, por favor não me obrigue a chamar os seguranças. Vamos voltar para o seu quarto e lá você pode me dizer o que está acontecendo. -A ruiva freou os pés e encarou a enfermeira, que parecia aliviada com a decisão da mulher.

– Você quer saber o que está acontecendo? - Ela perguntou rindo. - Bem, pelo que parece eu dormi mais do que uma pessoa normal dorme, muito mais, tipo, muito mais mesmo! Um ano e sete meses, pelo que me contaram. E como se isso não bastasse, quando eu acordei eu descobri que eu tinha 26 anos, não 17 como eu imaginava, dá pra imaginar uma coisa dessas? Claro, não contando o fato de que eu tenho um filho também. SURPRESA! Então, se você descobrir o que está acontecendo, me conte! Porque eu também quero.

A tal ponto as lágrimas já corriam pelo rosto da ruiva e a enfermeira respirou fundo.

–Eu sei que é complicado..

– Você já perdeu a memória? Ótimo, então você não sabe. -Lily a cortou enxugando as lágrimas com as costas da mão. -Eu só preciso de respostas. -Fungou abaixando a cabeça.

–Sim, eu não sei, mas eu entendo. Senhorita Lily, eu vejo casos como o seu todos os dias, você precisa manter a calma. Com certeza a senhorita precisa de respostas, mas agora você precisa descansar, amanhã você pode tê-las.
–Não! Será que não percebe que eu já perdi tempo demais?! Uma exceção! Só isso que te peço, por favor, abra uma exceção.

–Sinto muito senhorita Lily, mas se eu fizesse isso seria a segunda exceção apenas esta noite. -A ruiva a encarou.

–Você poderia me informar qual foi a primeira?

–O senhor Malfoy... Ele disse que era pai do seu filho e pediu tanto que eu acabei cedendo..

Lily riu desacreditada.

–O senhor M..? Olha, deixa eu te dizer uma coisa, você sabe quem o senhor Malfoy é? O senhor Malfoy é, sim, o pai do meu filho, pai este que me traiu com minha própria prima enquanto eu estava grávida! Pai este que por ter feito isso me deixou, aos 17 anos, criar um filho sozinha. Pai este que me fez parar aqui e perder anos preciosos da minha vida porque tudo que eu queria era proteger o meu filho! Pai este que... -A ruiva parou, sua respiração estava acelerada, um nó apertava sua garganta, as lágrimas ardiam seus olhos. -Eu quero Mellody aqui em, no máximo, meia hora. Do contrário avisarei os seus superiores que você permitiu a entrada de Scorpius fora do horário de visita e que só estou desse jeito por causa dele. - Com essas palavras Lily virou-se e caminhou furiosa de volta para o quarto.

***

Mellody entrou no quarto respirando rápido para recobrar o fôlego, os cabelos despenteados, os olhos atentos, de robe e pantufas. Lily encarou a amiga e teve vontade de rir, mas seu conflito interno a impedia de o fazer.

— O que aconteceu? — A loira perguntou respirando fundo e observando a ruiva.

– Bola. — Lily disse e sorriu, brincando com os dedos das mãos. Mell a encarou e quando abriu boca para perguntar o que ela tinha, a amiga continuou. — A primeira palavra de Lucca. Estávamos nos mudando para a casa nova e uns garotos estavam jogando futebol lá em frente, ele apontou para eles e disse “Bóa”. — Ela riu, os olhos se enchendo de lágrimas com a lembrança.

Mellody sentou ao lado da cama, analisava a amiga e sorria encantada com as palavras, não pelo fato em si, havia ouvido esta história há anos, mas porquê Lily se lembrava, ninguém havia contado isso para ela.

– O que mais? — Perguntou afim de incentivá-la a se lembrar de mais. A ruiva perdeu o olhar na parede, ainda brincando com os dedos.

– Quando ele tinha quatro anos ele estava brincando na sala e queria muito um brinquedo que estava em cima da televisão, mas eu estava ocupada e não podia pegar para ele então quando eu o ouvi gargalhando fui ver o que ele estava fazendo e o brinquedo estava voando em sua direção. Foi sua primeira demonstração de magia.

– Lily! — As lágrimas agora estavam nos olhos da loira e ela abraçou a amiga. — Você lembra! — Gritou em êxtase com o fato e a amiga lhe ofereceu um sorriso melancólico, balançando a cabeça em negativa.

– Coisas... pequenos momentos... apenas coisas sobre o Lucca. — Disse com a voz fraca pelo choro que segurava. — Não que eu esteja reclamando, lembrar do meu filho deveria ser o suficiente para mim mas é que.... é tão difícil. — Ela soluçou, jogando a cabeça para trás e respirando fundo. — Scorpius esteve aqui, ele falou sobre um cara que me ama, mas eu não tenho idéia de quem pode ser ele. Eu preciso da sua ajuda Mell. Eu preciso lembrar. — Implorou e desistiu de resistir ao choro.

Mell suspirou, segurando a mão da amiga e com a outra enxugando as lágrimas que escorriam. Era difícil vê-la assim, principalmente depois de tudo pelo que Lily passou, mas ela estava viva e, se estava lembrando de algumas coisas em breve lembraria de tudo, certo?

–Oh Lily... eu não sei como poderia te ajudar. — Confessou se odiando por esse pequeno fato. — Mas você está avançando, pode demorar um tempo mas você está recuperando a memória!

– Eu não quero perder mais tempo Mellody! — Gritou, suspirando em seguida e murmurando desculpas. — Somos bruxas! Tem que ter algum jeito. — Sussurrou destacando o “tem”

Mellody suspirou e mordeu o lábio, havia pensado em algo no dia anterior, mas a idéia foi facilmente descartada, se Lily não tinha memórias, como poderiam resgatá-las? Mas agora que ela lembrava de fragmentos, isso indicava que suas lembranças ainda estavam lá, certo?

– Preste bem atenção por quê isso não tem garantia, ok? — Ela começou e Lily atentou-se a ela, não esperava que Mellody realmente pudesse ter uma solução, só precisava do consolo da amiga. — Nós precisaríamos esperar você sair daqui e provavelmente é deixar a tarefa para o seu pai ou irmãos. Preste atenção Lily, pode ser que funcione mas pode ser que não.

– Fala logo! — Mell suspirou e penteou os cabelos com os dedos.

– Eu pensei em legilimência. De que custaria tentar, afinal? — Forçou um sorrizinho e viu o rosto de Lily se iluminar.

– Você. É. Brilhante! — Lily gritou se jogando na amiga, meio rindo meio chorando.

– Mas não é certo! — Alertou mais uma vez, apesar de saber que era em vão e retribuiu o abraço. — Não posso ficar por muito tempo fora do horário, era só isso que te preocupava?

– Ótima piada, mas acho que você conseguiu me dar o que eu precisava para dormir mais um pouco.

– Eu volto depois do almoço, descanse, ainda terá uma longa semana pela frente. — Ela sorriu e beijou a testa da ruiva, deixando-a dormir.

***

Um grito chegou aos ouvidos de Lily e ela abriu os olhos, atenta, sentando-se na cama a procura do som. O garoto surgiu em sua linha de visão, bem maior e parecido com Scorpius do que se lembrava, mas com o mesmo sorriso que não conseguira esquecer.

Lucca correu em sua direção e ela o abraçou, apertando-o com força contra seu corpo, sentindo o cheiro de seu shampoo de melancia e tentando suprir com um simples abraço uma saudade que ela duvidava conseguir deixar de sentir. Ele retribuía na mesma intensidade e, naquele momento, nada mais importava, nenhuma perda de memória, nenhum tempo perdido, apenas o fato de que ele estava ali.

– Eu senti sua falta mamãe. — Confessou o que tinha vontade de dizer desde o dia em que o informaram que ela iria viajar, gostava de passar o tempo com o pai, era uma nova experiência para ele, mas sentia falta dos beijos, abraços, mimos e até mesmo das broncas de Lily. Desde que ela fora “viajar” não tivera um só dia ao qual Lucca não sentira sua falta.

– E eu a sua querido, tanto. Mas agora eu vou te prender comigo para sempre, você nunca mais vai sair daqui. — Prometeu enchendo-o de beijos e cócegas.

– Nem para ir na escola? — Perguntou rindo e tentando se livrar das garras da mãe.

– Quem precisa ir a escola? Bobagem! Vai ficar 24 horas por dia comigo. — Afirmou voltando a abraçá-lo forte.

– Mas mãe! Eu vou para hogwarts em breve. — Protestou em um sussurro e Lily o afastou, analisando o rosto do filho e captando cada traço, tentando comparar com suas vagas lembranças o quanto ele havia mudado.

–O quê? Hogwarts? Já? Por quanto tempo eu dormi?

– Você tem um humor negro terrível ! — Albus invadiu o quarto balançando a cabeça e trazendo consigo um bocado de cadernos. Lily ergueu os ombros e acomodou o filho em seu colo.

– Já derrubei lágrimas demais por isso, hora da brincadeira.

– Do que estão falando? — Lucca perguntou alternando o olhar entre a mãe e o tio, que balançou a cabeça em negativa, alarmando Lily.

– Nada querido, o que é isso? — Perguntou indicando os cadernos que Albus carregava.

–Isso... -Albus começou mas não foi muito longe.

–São os diários que eu fiz pra você!- Lucca gritou, contente com seu próprio trabalho.

–Diários? - Lily perguntou esticando uma mão para pegar um dos cadernos.

–Desde o dia que você foi... viajar ele tem os feito. Inicialmente pedia pra Alice escrever...

–Mas depois eu fiz tudo sozinho. -Afirmou orgulhoso e Lily sorriu, selecionando uma página aleatória.

–"Mamãe, hoje eu não fui a aula. Tio Scorpius, quero dizer, papai me levou ao parque. Tia Rose não foi, ela estava no médico. Eu não consegui entrar na montanha-russa, falaram que eu era muito baixinho e papai me levou embora quando eu consegui diminuir a linha de altura.
Tia Rose disse que eu vou ganhar uma irmãzinha, ela e papai ficaram muito felizes, mas você não tinha dito que eu nunca teria um irmão? Tia Alice está falando que já tá tarde então eu vou dormir, saudades de você, quando você volta?" - Ela alargou o sorriso e beijou o topo da cabeça do garoto. -Prometo que lerei tudo.

–Ham Ham. - Lily, Lucca e Albus ergueram o olhar para a porta, Nick estava parado meio desconfortável na soleira e evitando olhar para a ruiva. -Você tem que se arrumar Lucca, você sabe, aula...

–O quê ? Não, de jeito nenhum, ele ficará aqui comigo. -Afirmou convicta disso e encarou o moreno cautelosamente, conhecia ele de algum lugar, mas de onde?

–Mãe, não! -Lucca protestou meio receoso. -Eu quero ficar com você, mas é que hoje vai ter a excursão pra roda gigante... -Concluiu meio tímido e essa palavra despertou algo em Lily.

Em sua mente surgiu a imagem da roda gigante e de Lucca afirmando que queria ir com ela, logo em seguida ela corria pelas ruas de Londres chamando pelo filho, tentando encontrá-lo.

–Não, de jeito nenhum que você vai nesse negócio. Já te perdi uma vez, não vou correr o risco novamente. -Afirmou puxando-o para perto antes que ele descesse e Albus a encarou.

–Você lembra disso? -Perguntou maravilhado e surpreso e Lily sorriu afirmando.

–E do que mais? -Nick perguntou a encarando pela primeira vez desde que chegara e seus olhos se encontraram.

–Pequenas coisas, momentos.. a maioria envolvendo Lucca... eu lembro de você também. -Concluiu analisando-o.

–Vo-você lembra? -Os olhos do moreno voltaram a vida depois de todo aquele tempo, algo se ascendeu dentro dele como se a capacidade de viver houvesse lhe sido garantida outra vez.

–Sim, você estava aqui quando eu acordei, certo? -Perguntou sorrindo e toda a animação e esperança que preencheram Nicolas foram embora, o que não passou despercebido por ela.

–É , certo. -Ele disse quase com irônia e desviou o olhar para o menino. -Vamos Lucca, vai se atrasar..

–Ele não va..

–Lily? Você precisa resolver mais uma bateria de coisas, se é que me entende.. deixe-o ir, ele está falando dessa excursão há meses. -Disse com um tom que indicava que ele não aguentava mais ouvir falar sobre isso.

Lily suspirou, cedendo, mas enchendo o filho de beijos antes de deixá-lo ir.

–Prometa-me que vai tomar cuidado, ok? E que vem pra cá assim que voltar pra casa! -Pediu e ele concordou, a abraçando e correndo na direção de Nick. -Ah e você... -Olhou para Albus em busca de ajuda e ele moveu os lábios em resposta, com certo pesar. -Nick.. teria como você vir aqui depois de mandá-lo para aula? -Perguntou mordendo o lábio inferior e Nicolas riu sem humor.

–Por que não? -Foi sua resposta antes de deixar o quarto com Lucca em seu encalço.

***

Nas duas horas seguintes Lily fora arrastada pelos corredores do hospital para fazer todo o tipo de exame, além de ter ficado meia hora respondendo perguntas estupidas sobre quem eram seus pais e onde ela havia nascido. Aquilo parecia que iria demorar e ela não via a hora de sair daquele hospital para poder testar a teoria de Mell.

Respirou aliviada quando foi liberada para voltar para o quarto e sorriu de lado ao encontrar Nicolas sentado em um canto extremo do quarto, porém perdido demais em seus pensamentos.

–Olá. -Saudou chamando sua atenção e sentando-se na poltrona ao lado da dele.

–Hum, oi. -Disse sem lhe dar total atenção e Lily pigarreou.

–Você deve estar se perguntando porquê eu te chamei aqui.. -Arriscou mas não obteve resposta, mordendo o lábio antes de continuar. -As coisas estão um pouco confusas para mim sabe? Muito confusas, na verdade... -A melancolia era evidente em sua voz e ela tentava com aquelas palavras se desculpar por algo que ela suspeitava dever pedir desculpas. -Você já acordou sem saber dos últimos nove anos da sua vida? Não é nada legal. -Riu da sua própria desgraça e pousou as mãos nos joelhos. -Só me ajude a entender, por que você estava aqui quando acordei? E por que está cuidando de Lucca?

Nicolas suspirou, ainda encarava os pés e não sabia direito o que falar. "Tome cuidado e não fale nada que a possa deixar desconcertada" fora a recomendação do médico. Respirou fundo e molhou os lábios ao escolher as palavras e disse:

–É uma longa história Lily. Tentarei resumí-la da melhor maneira. Eu sou Nicolas Mason, você me conheceu no seu segundo dia no vilarejo e nos tornamos grandes amigos desde então. Eu quem te acompanhei quando Lucca nasceu, quase desmaiei na época, não lidava muito bem com sangue, mas isso fez com que eu criasse um vínculo com o garoto, por isso venho cuidando dele desde que você... bem. E sou seu amigo, ou era, estive aqui todos estes 587 dias que esteve internada, esperando você abrir os olhos. -Suspirou, preparando para acreditar em sua própria mentira. -Porquê você é minha melhor amiga, senti-me culpado quando o acidente aconteceu, se não fosse por mim você teria entrado no carro e partido. -Balançou a cabeça em negativa e calou-se, não por não saber mais o que falar, mas por não querer continuar omitindo sua angústia de ela não saber quem ele era.

–E? - A ruiva pressionou, o encarando apesar de ele ainda manter os olhos em um ponto fixo do chão.

–E isso é tudo.

–Você está mentindo. -Disse, somente, conseguindo sua atenção. -Está escondendo alguma coisa, eu vi como ficou quando eu disse que lembrava de você e sua reação em seguida, eu sinto muito por não lembrar da maneira como você esperava, mas eu quero fazer isso, só preciso de ajuda!

Nicolas a observou com atenção, em todo esse tempo ela não mudara nada; Ainda tinha os mesmos grandes olhos castanhos, mas estes estavam mais confusos do que frios, as mesmas bochechas coradas que apenas deixavam seu sorriso mais lindo, a mesma voz... ainda era a mesma Lily, ele só precisava trazê-la de volta, mas como?

Os olhos da ruiva o analisavam a procura de respostas enquanto ele apenas a encarava, vendo o quanto Lily ela ainda era.

–Nicolas eu...

–Que se dane. - Disse, enfim, segurando o rosto da ruiva em mãos e a beijando.

Os olhos da ruiva se arregalaram, Lily pensou em protestar mas a sensação que teve assim que seus lábios tocaram os de Nicolas a desarmaram. Sua cabeça rodava, flashes de memória a bombardeavam o que impediu que ela reagisse ao beijo. Nicolas pressionou sua boca contra a dela por mais um instante, antes de encostar sua testa na da ruiva e encará-la nos olhos.

–Por favor Lily, lembre-se. Lembre-se de mim. -Pediu mas a ruiva estava ainda mais confusa do que há segundos atrás e nada disse. Ele aguardou por mais um tempo e riu ao ver que ela nem mesmo piscara, levantando-se de uma só vez e deixando o quarto.

***

Lily permaneceu daquele mesmo jeito pelos vários minutos que se passaram, absorvendo toda a informação que chegara para ela, tentando entender e adaptar-se àquilo que era sua realidade.

Uma voz ao longe chamou seu nome e, lentamente, ela encarou a porta. Seus olhos estavam perdidos porém ao visualizar a ruiva parada na porta ela foi puxada para o presente.

–Veio para contar mais mentiras? -Perguntou de forma ríspida, levantando-se e caminhando na direção da cama.

Rose suspirou, sabia que Scorpius tinha feito o certo, mas já imaginara que aquela seria a reação da prima, por isso ficou tão ressentida com o marido, aproximou-se para se desculpar mas Lily não lhe deu tempo para isso.

–Eu me lembrei, sabe Rose? De tudo. Absolutamente tudo. É tanta informação que eu demorei para voltar a realidade. Mas sabe o que me chateia? Mais do que você ter feito aquilo comigo anos atrás? O fato de você ter tido a oportunidade de me contar a verdade e não o ter feito. O fato de, quando eu mais precisava de você, quando eu precisava saber para eliminar um mínimo da confusão na qual eu estava, você mentiu.

–Lily eu...-A ruiva começou com a voz abalada e pigarreou antes de continuar. Sabia que havia errado ao mentir mas até qual ponto aquilo seria um erro? -Eu sei que não tem desculpas para isso e que eu não deveria ter mudado o fim da história, mas tente me entender!

–Entender você?

–Lily por favor, deixe-me terminar. -Pediu e aproximou-se da cama, sentando na beirada desta. -Você sempre foi como uma irmã para mim

–Irmãs não...

–Lily! Eu sei que eu errei, mais de uma vez, mas eu só disse aquilo por não querer te ver sofrer, porquê eu vi o mal que um erro meu te causou e eu não queria isso para você outra vez. Se você achar que isso é possível eu peço para que me perdoe. -Os olhos da ruiva estavam cheios de lágrimas que transmitiam sinceridade e Lily desviou o olhar.

Havia se lembrado de tudo aquilo que a prima estava falando e sabia que realmente sofrera com seu erro. Lily era rancorosa, não estava acostumada a perdoar com tanta facilidade mas era como se uma vozinha ecoasse em sua mente dizendo que ela tinha que o fazer, que ela só havia perdido a memória para começar de novo e não havia melhor maneira de recomeçar senão perdoando.

Lembrou-se então de quando eram pequenas, sempre uma ao lado da outra, sempre se apoiando em qualquer ocasião... valia a pena perder isso por orgulho, ou ainda pior, por causa de um garoto?

Lily suspirou e voltou a encarar a prima, que a observava esperançosa.

–Eu a perdoô, Rose. -Disse e sorriu ao sentir que um grande peso havia sido tirado de suas costas. Rose arfou, como se estivesse prendendo a respiração enquanto esperava a resposta e permitiu que as lágrimas caíssem.

As ruivas se abraçaram, decidindo deixar para trás tudo aquilo que as separou nos últimos anos e permaneceram naquele abraço por longos minutos.

–O que está te incomodando? -Lily perguntou assim que se afastaram, analisando a prima.

–O quê? -Rose perguntou enxufando as lágrimas.

–Tem alguma coisa estranha... o que é? -Rose observou a prima e respirou fundo, como ela poderia saber?

–É uma longa história. -Afirmou tentando deixar aquilo de lado.

–Acho que agora que eu lembrei eu tenho um tempo sobrando... -Ela sorriu e a ruiva encarou os pés.

–Sabe Lily, nós pensamos que por sermos bruxos estamos livres de muitas coisas do mundo trouxa, mas isso é mentira... nós ainda somos humanos. Temos os mesmos sentimentos, somos atingidos pelo mesmo mal... -Começou, as lágrimas retornando. Desde que descobrira aquilo não contou para ninguém e nem pretendia fazer isso mas Lily a havia perdoado e se ela fosse contar para alguém seria para ela. -Três meses atrás eu vim te visitar e quando eu estava indo embora eu desmaiei. Como já estava no hospital os médicos trataram de mim e fizeram alguns exames e, bem, os resultados não foram muito animadores... -Lily a encarava apreensiva, quase como se pudesse prever o que aconteceria.

"-Eles encontraram um tumor no meu fígado. Estava ali há mais tempo mas a gravidez conseguira o esconder... disseram que foi um milagre Carina ter nascido, ainda mais forte e saudável. Foi um choque, sabe? Quando perguntei sobre o tratamento... -Ela parou tomando fôlego e preparando-se para dizer isso em voz alta pela primeira vez. -Eles disseram que o câncer estava em um estágio avançado, que se tivesse sido descoberto antes teria tratamento ou até mesmo cura, mas ele havia evoluído para um nível no qual nada poderiam fazer. -As lágrimas molhavam as bochechas da ruiva que buscava apoio no aperto de mão da prima.

–O que isso quer dizer, Rose? -Lily perguntou mas não tinha certeza se queria ouvir a resposta.

–Quer dizer que, atualizando as contas, eu tenho três meses de vida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Okay, okay. Larguem essa faca! Eu sei! Isso não se faz! Mas ... a culpa é da miss hook, vocês podem encontrá-la nos comentários. Foi ela quem me fez fazer isso. Mas eu não sou uma escritora tão perversa assim, pelos deuses! Já estou providenciando o epílogo, aconselho não me matarem agora ou a história terminaria assim, ninguém quer isso, certo?
Comentem por favor para eu saber que não me abandonaram e saber também o que acharam, afinal tudo se resolveu não é? cof cof