Because of You escrita por Lia Galvão


Capítulo 10
Ou eu cometerei o mesmo erro de novo.


Notas iniciais do capítulo

Demorou um bocado, não foi? D: Sei disso e peço desculpas por ter-lhes deixado a merce ainda mais com um final daqueles (principalmente a Laís e a Lana que estão esperando já tem mais de dois meses) mas aqui está. Antes de tudo eu gostaria de dizer que não existe relação nenhuma com religião ou nada do tipo, grande parte das cenas desse capítulo são como eu imagino algumas coisas mas isso não tem relação alguma com nenhuma igreja e, se alguém aqui já leu a série de livros imortais, creio eu que irá se identificar com o lugar citado. Sem mais enrolações, boa leitura :3



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Lily tinha o filho envolvido nos braços e os olhos fechados com força. Quando o vento acelerou indicando que o caminhão já havia passado ela suspirou, aliviada, no entanto ela sentiu uma estranha sensação passar por seu corpo e quando Lucca gritou, ele estava atrás dela e não embalado em seu abraço.

A ruiva abriu os olhos e piscou, tentando entender o que acontecia. Lucca chorava e agora corria na direção de Nick, que também gritava. O caminhão havia freado e seu motorista descia as prestas, digitando desesperado algo no celular e levando este ao ouvido.

–O que está acontecendo? -Lily perguntou aflita, se aproximando dos três, mas nenhum deles pareceu vê-la ali e todos se adiantaram na direção de um corpo que estava há alguns metros dali. A ruiva levou as mãos a boca, apesar de ter conseguido salvar a si e ao filho aquela garota não pareceu ter a mesma sorte.

Ela correu atrás de Nick e Lucca, não queria que o filho visse uma cena daquelas, poderia o deixar traumatizado e, quando estava quase o alcançando para tirá-lo de perto dali, ela a viu. Em torno de uma poça de sangue mas com a expressão de quem estava dormindo estava, ninguém mais ninguém menos do que ela própria.

–Nick. -Ela chamou, começando a perceber o que estava acontecendo. -Nick olhe para mim! -Ela implorou, mas o moreno não o fez, ao invés disso ele caiu de joelhos ao lado do corpo da ruiva, com lágrimas marcando todo seu rosto. -NICOLAS! -Ela gritou, se desesperando, mas não teve tempo de saber se tinha ganhado uma resposta pois, no momento seguinte, uma claridade forte invadiu seus olhos, fazendo-a fechá-los.

***

Tudo aconteceu muito rápido e agora se passavam como flashs na cabeça de Nick. Em um momento Lily estava a seu lado e, no minuto seguinte, estava no chão com sangue em sua volta. Logo o motorista do caminhão apareceu falando ao telefone e, mesmo desesperado, Nick se lembrava de ter suspirado aliviado ao ver que Lily ainda respirava, mesmo que estivesse desacordada. Tinha medo em tocá-la, Lucca berrava ao seu lado e o moreno nunca se sentiu tão perdido, minutos que mais se pareceram horas se passaram até uma ambulância aparecer, como o motorista garantia que aconteceria.

Eles tiveram cuidado ao colocá-la na maca e Nick havia entrado em um estado de choque enquanto Lucca ainda chorava durante todo o trajeto ao hospital. Agora já haviam se passado horas desde que levaram Lily correndo para uma sala, Lucca chorara até dormir e o moreno tentava colocar seus pensamentos no lugar. Sabia que precisava entrar em contato com a família da ruiva mas não conseguia fazer isso, pelo menos não até saber o que estava acontecendo, e se…? Não. Ele não podia ao menos cogitar aquela ideia. Lily, sua Lily, ficaria bem, ele tinha certeza disso. Ele esperava por isso.

Quando o médico entrou na sala de espera o moreno levantou de sobressalto e se apressou na direção dele, a expressão do homem não era a das mais animadoras e isso assustava o moreno de uma maneira que ele não conseguiria explicar, se o pedissem.

–Como ela está? Onde ela está? Já posso vê-la? -Disparou contra o doutor quando se aproximou o suficiente dele e este suspirou.

–Senhor Mason… -Ele começou cauteloso, como se estivesse andando em um campo minado. -Primeiramente o senhor tem que entender que foi um acidente muito grave e qualquer coisa que conseguíssemos já seria uma grande vitória. -Ele parou por um momento e encarou Nick, naquele momento o moreno soube que deveria esperar pelo pior.

***

O canto insistente dos pássaros estava a incomodando. Tudo que ela queria era dormir, mas as aves não estavam dispostas a cooperar. Um suspiro e então Lily abriu os olhos, a imensidão azul que suas íris enxergavam fez com que ela sorrisse, se sentindo feliz e leve. Apesar de enxergar apenas o céu sem nuvens, a ruiva podia sentir a ponta da grama roçar em sua pele e a brisa suave tocando seu rosto, o barulho insistente dos pássaros era um grande indício que havia algo além do céu azul que enxergava e então a ruiva girou a cabeça para o lado, enxergando uma casa simples ao longe e uma árvore aonde ela identificava um balanço. A ruiva não sentia nenhum tipo de pressa, na verdade sentia que tinha todo tempo do mundo, e foi por isso que ela se sentou lentamente, olhando ao seu redor e sentindo-se sorrir ao ver vários Lírios contornavam seu corpo, quando deitada. Além da casa, da árvore e dos lírios, Lily não conseguia avistar mais nada no horizonte em nenhuma das direções que olhava.

Depois de um tempo olhando a sua volta a ruiva finalmente se levantou, trajava uma simples camisola branca de seda, seus cabelos estavam soltos e caiam por suas costas e seus pés estavam descalços. Ela sentia um tipo de paz incrível, uma serenidade que há muito esquecera o que era. Com cuidado para não pisar nas flores ela deixou seu contorno e começou a caminhar na direção da árvore. A casa lhe lembrava vagamente o lugar onde passara sua infância e adolescência assim como o carvalho que havia nos fundos desta. Em poucos passos ela se aproximou de seu destino e observou calada cada galho da árvore, enquanto explorava as cordas do balanço de madeira com as mãos.

Ela exitou por um breve momento antes de suspirar e se sentar no balanço, sem dar nenhum impulso no entanto. Assim que se acomodou no velho brinquedo a brisa pareceu ficar um pouco mais forte e Lily fechou os olhos, contemplando aquela incrível sensação e o forte cheiro de lírios. O vento suavizou mais uma vez, porém a ruiva manteve os olhos fechados, até sentir um toque delicado em seu ombro.

Lily não se assustou, na verdade ela parecia esperar por isso em seu íntimo. A garota girou a cabeça e se deparou com uma mulher que conhecia muito bem através de fotos. A ruiva tinha um sorriso tão bonito nos lábios que fez Lily também querer sorrir. Seus olhos eram desvalorizados quanto a descrição, não deveriam existir palavras para descrever o brilho que as íris esverdeadas da mulher emitiam, era como se seus olhos guardassem um segredo e convidasse a todos para tentar descobrir. Ela alargou o sorriso ao tocar o rosto de Lily.

–Olá, minha querida.

–Olá, vovó. -Lily disse para Lily.

Longos minutos se passaram enquanto os olhos castanhos da Lily mais nova encaravam as orbes esmeralda da avó.

–Eu estou morta? -As palavras de Luna eram serenas e soavam como se fosse um simples comentário sobre o tempo, era como se ela já tivesse aceitado aquela condição.

Sua avó suspirou pesadamente e acariciou a face da ruiva mais nova mais uma vez antes de responder. -Não exatamente. -Ela disse pensativa.

–Como assim não exatamente? Ou eu estou morta ou eu não estou. -A mais nova disse como óbvio e rodou duas vezes no balanço, sem pressa para receber a resposta.

–É complicado, querida. -Ela começou mas quando Lily a olhou ambas sorriram. -Mas creio que temos tempo.

***

–Ela quebrou várias costelas e fraturou a coluna. A situação dela não é nada boa mas o mais preocupante foi a pancada na cabeça. Ela não respondeu a nenhum dos procedimentos, os exames estão a caminho mas as possibilidades do crânio ter sido atingido são grandes. -Ele parou por um momento e suspirou. -Senhor Mason vamos frisar que nossa equipe está fazendo de tudo para que..

–Pelo amor de Deus! -Nick interrompeu o médico e levou as mãos a cabeça em uma tentativa de se acalmar. -O senhor pode não ter percebido, mas se não falar logo o que aconteceu o próximo a ser internado aqui serei eu. -Ele disse se segurando para não gritar e resolveu descarregar um pouco de seu nervosismo no chão, o chutando e se arrependendo amargamente disso no segundo seguinte.

–Ela está em coma. -Agora o médico fora rápido e preciso e, talvez, Nick preferia quando ele estava enrolando para falar.

O moreno pareceu aturdido por um momento. O chão abaixo de si desapareceu e ele sentiu uma leve tonteira, tendo a sorte de encontrar uma cadeira por perto e cair sentado sobre esta, com as mãos na cabeça.

Aquilo era uma coisa boa, certo? Pelo menos ela não havia morrido… O rapaz passou as mãos pelo rosto e depois bagunçou os cabelos, um suspirou ecoou e seus olhos logo se focaram ao outro lado da sala, onde Lucca estava deitado em um dos bancos, dormindo.

–Eu sei que e confuso, mas de certa maneira é uma coisa boa. Pensando pelo lado positivo, além do fato de ela não estar morta, também é pouco provável que ela esteja sentindo grande parte das dores. -O médico parou por um momento esperando por uma reação do moreno, como esta não veio ele prosseguiu. -Mas o estado dela ainda é preocupante. Ela se encontra em estado vegetativo e as probabilidades de morte são grandes, mas torno a repetir que nossa equipe estará fazendo o possível para que isso não aconteça. No momento o que o senhor pode e deve fazer é recorrer a sua fé e ter pensamentos positivos.

***

As ruivas caminhavam lado a lado pelo jardim de lírios, era como se o tempo ali não passasse. O sol permanecia em um poente que dividia o céu em tons de azul, laranja e roxo e esse fato intrigava Lily.

–Nunca escurece aqui? -A ruiva mais nova perguntou após algum tempo de caminhada silenciosa.

–Só se você quiser. -Lily respondeu e ao perceber a expressão da neta explicou. -Estamos em um tipo de realidade paralela, Li, você controla a maioria das coisas aqui.

–Então você só está aqui porque eu quero?

–Não exatamente, como eu disse só a maioria das coisas. Mas ficaria feliz em saber que me quer aqui. -Ela sorriu para a neta e parou a caminhada. -Tente.

–Como? -Luna também freara os próprios pés mas ergueu os olhos visivelmente confusos para a avó.

–Feche os olhos e pense em algo que você quer. Qualquer coisa. -Ela sugeriu e assim Lily o fez. Os olhos se fecharam por alguns segundos e, ao serem novamente abertos, a ruiva mais nova sorriu perante as estrelas que brilhavam fortes no céu e a cachoeira que havia aparecido a poucos metros dali. Sua avó sorriu parecendo aprovar a escolha e se sentou na grama, esperando que a garota se juntasse a ela.

A vista era demasiada incrível, o barulho das águas caindo unido ao silêncio ímpar do respirar de ambas as ruivas tornava aquele um momento difícil de ser quebrado, um momento difícil de se quebrar.

–Então… -A mais nova disse em um sussurro após muito observar o que sua mente havia produzido. -Como eu posso estar mais ou menos morta? -Perguntou ainda em tom baixo e virando sua atenção para a avó, mesmo que relutante.

–Bem, Lily… -A de mesmo nome começou, também desviando a atenção da paisagem. -Talvez não seja tão difícil quanto disse antes. -Ela deu de ombros de maneira simples e sorriu. -Minha querida, saiba que não estou aqui para lhe julgar e muito menos que foi de minha vontade que você viesse parar aqui, porque a verdade é que só estou aqui para lhe ajudar. -Ela começou como se estivesse avaliando o terreno, mesmo sabendo que nada demais aconteceria.

–Você errou, Lily. E isso é totalmente normal e compreensivo. Mas você ia cometer o mesmo erro outra vez. E quando o fizesse, iria fazer de novo, e de novo, e de novo. -Ela suspirou e encarou a neta com ternura. -Você estava perdendo a própria cabeça, Lily, e precisava de um tempo para colocá-la no lugar. Para refletir sobre seus atos e sobre o que está acontecendo contigo ultimamente. -Ela suspirou outra vez mas desta desviou o olhar para o horizonte. -Você está em coma profundo, Lily. E é por isto que está mais ou menos morta. -Ela voltou a encarar a neta que, pela primeira vez desde que chegara ali, expunha uma expressão de surpresa ou talvez medo. -Você ainda não está especificamente morta, mas os riscos quanto a isso são grandes. Eu não tenho ideia do que irá acontecer, sei apenas que você deve aproveitar isso aqui como uma oportunidade para… pensar. E que você não deve demorar muito.

***

Lily estava no balanço e girava de um lado para o outro neste. Desde que a avó lhe dissera que ela estava em coma a ruiva mais nova não teve nenhum tipo de reação. Um longo tempo se passou até que elas retornassem e, mesmo assim, nada disseram durante o trajeto ou quando chegaram.

Agora sua avó estava dentro de casa preparando um chá e Luna estava no quintal. sem saber o que fazer, o que pensar. As estrelas começavam a desaparecer no horizonte e o céu noturno dava lugar aos primeiros raios de luz do dia, apesar de tudo a ruiva não podia deixar de sorrir com a vista.

O sol que já surgia trouxe consigo uma leve brisa com cheiro de lírios, a qual Lily já começava a se familiarizar e adorar cada vez mais. Fechando os olhos para aproveitar o vento a tocando e sentir aquela sensação de renovação que sentia ao o fazer, ela sorriu, deixando que a brisa levasse todas as preocupações ara longe, mas não por muito tempo.

Enquanto ainda aproveitava a sensação única que tinha sempre que aquilo acontecia, um choro distante mas ao mesmo tempo próximo a despertou. A ruiva que, sem perceber, balançava e “voava” junto ao vento, voltou a terra e seus olhos castanhos se abriram em busca do choro.

Seu instinto inicial fora olhar na direção da casa, mas sua avó estava com a expressão serena enquanto regava algumas flores e isto a deixou intrigada. O choro continuou e o olhar de Lily fora atraído para frente, deixando-a completamente surpresa ao se deparar com uma espécie de televisão no ar que mostrava sua prima Rose chorando ao lado de uma cama de hospital.

Quem estava na cama era impossível de decifrar mas, quando Rose tocou o ombro da pessoa e Lily pode sentir o toque em si, ela soube que sua prima chorava perante sua cama. A mão direita de Lily, quase inconscientemente, se colocou sobre o ombro que a prima havia tocado e, nesse instante, Lily não conseguiu prestar atenção em mais nada a não ser na imagem a sua frente.

***

Já havia um tempo que ela estava ali, tempo demais e esta era uma opinião unanime, mas mesmo assim ninguém perdia a esperança. Por todo aquele tempo Rose teve medo, ela não sabia como agir ou até mesmo o que fazer, lembrava-se do dia em que voltava para casa, ainda se recuperando do choque de ter perdido seu primeiro filho e foi recebida com a pancada de que sua prima estava em coma.

Seus tios pareciam inconsoláveis, Nick parecia perdido e Lucca…. ah, o pobre Lucca. Tão pequeno e inocente, era óbvio que não entendia o que estava acontecendo e ninguém respondia suas perguntas. A ruiva se lembrou do que Scorpius a dissera alguns dias atrás, Lucca era seu filho, dele e de Lily. Um remorso tomou conta de si, por culpa dela a criança crescera sem um pai e agora estava prestes a perder a mãe, quem saberia responder se ela sobreviveria?

Scorpius estava desconcertado, ele queria brigar com Lily, gritar com ela e descarregar sobre a ruiva toda a angustia que sentia desde que descobrira que, por seis anos, teve um filho ao qual nem mesmo sabia a existência. Mas como fazer isso se Lily estava deitada em uma cama de hospital, respirando com a ajuda de aparelhos e não demonstrando nenhum sinal de vida a não ser pelo fraco pulsar de seu coração?

Rose teve vontade de visitar a prima, saber como ela estava, mas de onde ela tiraria coragem para isso? Precisava ser forte naquele momento para ajudar Scorpius e também a Lucca, que precisaria da ajuda de todos na família.

Só agora, meses depois, a ruiva reunira coragem o suficiente para ultrapassar aquela porta. Assim que seus olhos encontraram o corpo de Lily praticamente sem vida eles se encheram de lágrimas e um suspiro escapara de sua garganta. Por que tudo tinha que ser tão complicado, afinal?

Rose se sentou ao lado da cama em que a prima estava e a tocou gentilmente no ombro, o que pareceu aumentar sua vontade de chorar e outro soluço ecoou pelo quarto frio e sem cor.

–Eu sinto muito, Lils. -Ela começou e observou o rosto da prima por um momento. -Eu sinto muito por tudo. -Outro soluço e agora Rose possuía o rosto entre as mãos. -Você sabe, você era como uma irmã para mim, eu nunca quis te machucar, nunca quis magoá-la, nunca quis seu mal e eu falhei. -As lágrimas corriam pelo rosto da ruiva em cataratas, suas mãos tremiam e, sempre que seus olhos encontravam o rosto desacordado de Lily, mais lágrimas rolavam por ali. -Se eu pudesse voltar no tempo, ah, eu faria tudo diferente, tudo para que no final você não me odiasse, para que você fosse feliz.

Ela olhou para o alto e respirou fundo. -Desde que descobri que você veio parar aqui eu não consigo deixar de pensar que a culpa tenha sido minha, talvez isso seja bobagem, eu sei, mas talvez, só talvez, se eu não tivesse a forçado me ouvir…. -Ela mordeu os lábios e segurou uma das mãos de Lily entre as suas. -Talvez se oito anos atrás eu tivesse feito aquilo com você… Ah, Lily. -Ela enxugou uma parte do rosto antes de permitir que mais lágrimas rolassem. -Eu quero que você saiba que eu amo o Scorpius, e que eu sempre amei, mas que se eu tivesse que desistir dele para te ver feliz, ou então para ver você… viva outra vez… Se você estiver escutando isso, Lily, tudo que eu te peço é para que me perdoe, se você achar que é possível.

***

Lily sentiu o toque da prima mais uma vez quando esta lhe tocou o rosto e quando o fez, a imagem começara a dissipar.

–Não! Rose! Volta aqui -Ela pediu e pulou do balanço em uma tentativa frustrada de alcançar a imagem da prima.

–Lily, está tudo bem? -Sua avó apareceu na janela que dava para o balanço e a garota a encarou.

–Não! -Ela disse ao mesmo tempo em que começava a sentir o ar fugindo de seus pulmões e seus olhos se encherem de lágrimas. -Eu não deveria ter feito isso com ela, não deveria tê-la tratado daquele jeito.

–Querida? -Lily havia deixado a casa e agora caminhava rapidamente na direção da neta.

–Eu fui egoísta, será possível que durante todos esses anos eu só pensei em como eu estava sofrendo e não em como eles poderiam estar? Oh vovó… -Os olhos castanhos da ruiva transbordavam em lágrimas e ela buscou conforto no acolhedor colo de de sua avó, que a abraçou com força e suspirou.

–Lily.. -Ela começou mas exitou, sem saber ao certo o que dizer. -Você era só uma criança, minha querida. Foi um choque para você descobrir aquilo. E sim. -Ela pareceu ler os pensamentos da neta e usou o polegar para tirar algumas lágrimas do caminho. -Você teve tempo o suficiente para esquecer aquilo, mas … aquela cena, o sentimento de traição, eles estavam marcando presença, te impedindo de superar, de perdoar. -O abraço da avó pareceu ter acalmado Lily que agora deixava algumas poucas lágrimas rolarem. -Eu entendo seus motivos, você estava assustada, com medo, mas no momento que você fugiu, você provocou tudo isso, Lily. -A garota encarara a avó que tornou a enxugar suas lágrimas com o polegar.

–Você está dizendo que a culpa é minha? -Ela perguntou a um passo da indignação e Lily suspirou.

–Sim, é exatamente isso que estou dizendo. -A voz da mais velha agora tinha um tom um pouco mais severo. -Não estou te culpando, entenda isso. Você era uma criança e você errou, mas você só está aqui porque você ia cometer o mesmo erro, Lily, só que agora você não é mais uma criança. Você não pode continuar fugindo.

Lily se desvincilhou do abraço da avó e passou a mão nervosamente pelo cabelo. -Mas se eu ficar.. -Ela parou a própria frase e respirou fundo. -Se eu sobreviver, eu não sei se consigo lhe dar com o que está acontecendo lá, vovó. Eu não quero perder meu filho, eu não sei se tenho coragem de olhar para Rose e Scorpius depois de tudo. -As lágrimas ameaçavam a voltar mas agora Lily se sentia um pouco mais fraca.

–As coisas estão diferentes por lá, Lily. Seu tempo está acabando, eu não posso mais ficar, faça a escolha certa, minha querida, não cometa mais erros. -Uma luz começou a envolver o corpo da mais velha, um simples sorriso fora tudo que ela deu como despedida e antes que Lily pudesse fazer qualquer coisa, ela havia partido e agora a garota se encontrava em um lugar escuro.

Ela não tinha certeza se flutuava, mas não existia chão sobre seus pés e, aos seu redor, tudo que se enxergava no horizonte era um breu infinito. Ela tentou chamar por alguém, por algo, mas sua voz não estava ali. Seus olhos percorreram o escuro, tentando encontrar alguma coisa no meio do nada mas, apenas quando ela tentou falar de novo, que um ponto luminoso se fez presente.

Lily não precisou se mover para alcançar a luz pois esta vinha em sua direção e, quando se aproximou o suficiente, explodiu em uma infinidade de imagens que se projetavam por todos os lados. Eram como pequenos flahsbacks, um filme de toda sua vida. Ela podia ver o dia em que aprendera a andar, o dia em que dissera a primeira palavra, os onze longos anos de espera para poder ir a Hogwarts, todos os momentos importantes, os pequenos ou grandes estavam por ali.

As imagens passavam rapidamente mas, apesar disso, Lily conseguia absorvê-las com precisão, sua vida inteira passava diante de seus olhos e uma sensação de serenidade e calma se apossou da ruiva, como se ela não estivesse mais ali. As imagens continuaram passando, sua primeira detenção, o dia em que descobriu gostar de Scorpius, o dia em que este a pedira em namoro, a traição e então, desvalorizando praticamente todas as outras imagens, o dia em que Lucca nascera. Uma luz forte brilhou não muito longe dali e Lily se deixou levar, mas então o filme focara na primeira vez em que Lily vira o rosto do filho. Como ele estaria? Quem estava cuidando dele? O caminhão havia o atingido no acidente?

A sensação de calma e serenidade se fora, Lily agora parecia se afogar no meio do nada, a luz e os flashs de lembranças desapareceram e então, após minutos agonizantes caindo sem encontrar um chão, tudo se apagou.


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Notas finais do capítulo

E aí? Nas cenas em que ambas as Lily estavam presentes eu juro que fiz o possível para deixar o menos confuso que eu consegui, mas é um tanto complicado quando as duas tem o mesmo nome e a mesma cor de cabelo então, se eu não consegui, me desculpem. Espero que tenham gostado e... reviews?