A Revolução dos Vampiros - Versão Antiga escrita por Goldfield


Capítulo 5
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/4750/chapter/5

Capítulo 4

Aproxima-se o dia dos vampiros.

Em seu pequeno e apertado dormitório no mosteiro, frei Gabriel Gonçalves havia tirado seu traje de monge e o colocado dentro de uma mala marrom, onde também colocara outras roupas, alguns livros, entre eles a Bíblia, algum dinheiro e seus objetos de higiene pessoal. Vestia agora uma camiseta azul e calça jeans, além de bonitos sapatos. Após raciocinar por um instante, ele arrancou da parede o crucifixo de madeira que havia sobre sua cama e também o guardou na mala. Gabriel também pegou uma garrafa de vidro vazia e botou-a junto com as outras coisas.

Gonçalves então fechou a mala e deu uma última olhada no dormitório, saindo em seguida. O monge percorreu discretamente os corredores do mosteiro até a bonita capela, um grande acervo de arte barroca, e se aproximou de uma pia com água benta, que ficava perto do altar. Gabriel então abriu a mala e encheu daquela água a garrafa de vidro, que depois de cheia foi novamente guardada.

Gabriel saiu da capela, sem antes se ajoelhar e fazer o Sinal da Cruz. Seguiu então, sem ser visto, para fora do mosteiro, coisa que não fazia há sete anos.

Após alguns passos fora do local, Gonçalves virou-se na direção da construção e disse, fitando-a:

–         Adeus, mosteiro, por enquanto!

E, um tanto inseguro, começou a percorrer o Largo de São Bento, na direção da estação de metrô.

–         Tudo isso me assusta!

Fernando disse isso enquanto abraçava a namorada, ambos sentados no sofá da sala do apartamento, tentando se distrair com a novela na TV. Mas eles não conseguiam pensar em outra coisa a não ser na morte de Cordeiro e como o corpo havia sido encontrado.

–         Eu só tinha visto isso em filmes... – suspirou Luíza. – O sangue dele foi drenado por buracos que parecem de dentes! E aquela história dos roubos de furgões do hemocentro...

–         Sei o que você quer dizer! Podem ter sido vampiros, não?

Houve um breve instante de silêncio, até que Luíza respondeu:

–         Não é bem assim... Talvez seja uma gangue de maníacos que quer fazer com que todos pensem que são vampiros... Mas vampiros de verdade não existem! Eles são reais apenas nos livros e filmes!

Ambos estavam extremamente confusos. Aquilo tudo não fazia sentido, ou melhor, fazia, mas não podia ser real. Vampiros não existiam!

Dona Ruth estava lendo um livro em seu quarto e Juca já dormia. O pai de Fernando só chegaria de madrugada. O estudante universitário, então, olhou para a namorada e disse, num sorriso:

–         Que acha se a gente fizer um pouquinho de amor?

–         Não sei, estou meio tensa...

–         Ora, é para aliviar a tensão!

E se beijaram, e se beijaram de novo, de novo e de novo...

–         Calma, amor!

Ignorando o apelo de Natália, Basílio deu um chute na mesa em seu escritório, enquanto na pista de dança os vampiros agitavam como antes.

–         Quem era aquele sujeitinho insolente que ousou levantar um crucifixo para nós? – indagou o líder dos radicais, indignado. – Quem ele pensa que é?

–         Olhe, meu amorzinho, ele apenas teve muita sorte!

Natália beijou seus lábios, conseguindo tranqüilizar o vampiro.

–         Deixe estar... – murmurou Basílio. – Depois de amanhã eu serei como um deus!

E beijaram-se novamente.

–         Por onde vocês estiveram? – indagou Vitor, esticado na poltrona, logo que os três moderados entraram pela porta.

–         Fazendo algo contra os radicais, o que por sinal você não fez! – irritou-se Jorge.

–         Nós encontramos uma sósia de Mara Juklinsky! – disse Isabela.

–         Quê? – espantou-se Vitor.

–         E fomos parar na boate do Basílio! – exclamou Alfredo.

–         E eu os salvei – disse Ernest Adams, o último a entrar no recinto.

–         Quem é esse cara?

–         O nome dele é Ernest Adams, Vitor, é humano e vai nos ajudar a combater os radicais! – respondeu Isabela. – É um agente do FBI perito em vampiros!

–         Vocês sabem mesmo se divertir! – riu Vitor. – Saem por aí e se metem em encrenca na boate do Basílio, encontram uma sósia de Juklinsky... Mas como é essa história?

–         Eu vi essa moça por acaso, em Perdizes! – explicou Jorge. – Ela é idêntica a Mara nesse quadro, Vitor!

E todos fitaram a pintura por um instante. Jorge e Isabela, que haviam visto a tal Luíza, puderam confirmar suas impressões. Era mesmo idêntica.

–         Estou com fome... – murmurou Alfredo.

–         Eu arranjei um ratinho e botei lá na geladeira... – disse Vitor.

–         Sério? – indagou Isabela, também faminta.

–         Podem se servir!

Alfredo, Isabela e Jorge seguiram até a cozinha, deixando Adams sozinho com Vitor.

–         E então? – perguntou o agente do FBI. – O que vocês ficam fazendo aqui o dia inteiro?

–         Ouvindo música clássica, lendo livros...

–         Interessante...

–         Você veio para o Brasil ajudar-nos a deter os radicais?

–         Sim, essa é minha meta!

–         Quer um conselho? Deixe esta cidade o mais rápido que puder, ou terá dois furos no pescoço!

E o vampiro levantou-se para ir ao banheiro.

O vagão de metrô no qual Gabriel viajava estava praticamente vazio. Fora ele havia apenas dois passageiros: um casal de namorados jovens e vestindo preto do pescoço aos pés.

Eles começaram a olhar fixamente para o monge, após um demorado beijo. Gonçalves estranhou mesmo foi quando eles começaram a passar a língua pelos lábios.

O pobre religioso já estava tremendo quando o casal levantou e começou a caminhar em sua direção. Gabriel disfarçadamente foi abrindo a mala marrom, os namorados chegando perto...

E, de repente, a pele dos dois ficou totalmente pálida, e eles abriram a boca, exibindo caninos grandes e pontiagudos. As suspeitas de Gonçalves se confirmavam: eram vampiros.

O monge, que já havia aberto a mala, tirou de dentro dela bem no momento em que ia ser atacado pelos vampiros o crucifixo de madeira, estendendo-o na direção dos inimigos. Estes imediatamente recuaram, gemendo, enquanto Gabriel exclamava, de dentes cerrados:

–         Eis o Lenho da Cruz, do qual pendeu a salvação do mundo, seus malditos vampiros!

E ambos os radicais soltaram um imenso berro, transformando-se em morcegos que rapidamente voaram para fora do vagão.

Gonçalves voltou a sentar, ofegante, com o coração aos pulos. Tivera seu primeiro encontro com os vampiros conspiradores. Afinal de contas, o que estava acontecendo com a cidade de São Paulo?

Isabela voltou para a sala carregando um monte de livros escritos por vampiros moderados, desde William Shakespeare até Isaac Asimov. Estava disposta a encontrar num deles uma explicação para a assombrosa semelhança entre Mara Juklinsky e Luíza.

–         Vocês estão ficando paranóicos ou é impressão minha? – zombou Vitor. – Talvez essa tal Luíza seja parecida com Mara por pura e simples coincidência! Essas coisas acontecem, sabiam?

–         Mas ela é parecida demais! – disse Jorge, apanhando um dos livros, que foram colocados por Isabela sobre um sofá.  – Só vendo para acreditar!

–         Eu não vi, mas acredito na minha namorada! – exclamou Alfredo. – Ela e o Jorge não podem estar brincando com uma coisa tão séria!

–         Então há uma sósia de Mara Juklinsky na cidade... – murmurou Adams, olhando para o quadro da matriarca dos vampiros moderados. – Isso é muito estranho... Vocês já leram o “Livro de Profecias dos Vampiros”?

Silêncio mortal. Os quatro moderados olharam fixamente para a cara de Adams, espantados.

–         Você está louco, cara? – exclamou Jorge. – Isso é livro dos radicais, escrito pelo Drácula! Os moderados têm uma regra que proíbe até que nós tenhamos esse livro em casa!

–         Pois acho que vocês deveriam ler para entender certas coisas...

E o agente do FBI tirou um livro do casaco, que fez os quatro vampiros recuarem para trás quando leram o título.

–         Livro de Profecias dos Vampiros! – espantou-se Isabela.

–         Tira isso daqui, cara! – berrou Vitor, que parecia o mais atordoado.

–         Calma! É só um livro! Este exemplar foi dado para mim por um reverendo amigo meu em Boston, e encontrado no século XVIII no cadáver de um soldado britânico durante a Guerra de Independência. Eu comecei a lê-lo há pouco tempo, por curiosidade, e foi através dele que descobri que haverá um levante nesta cidade! Talvez possamos encontrar alguma profecia sobre uma sósia de Mara Juklinsky nele, não?

Os vampiros, já mais tranqüilos, concordaram com gestos da cabeça. Afinal de contas, era só um livro. Eles não precisavam concordar com os preceitos de Drácula.

Isabela timidamente apanhou o livro das mãos de Adams, e começou a folheá-lo. Os demais moderados a observavam, ainda um pouco apreensivos.

–         Qual parte fala sobre o levante? – perguntou a vampira.

–         Quase todo o capítulo nove! – respondeu Adams.

Após virar mais algumas páginas, Isabela encontrou o dito capítulo, e começou a explorar as linhas em busca de algo sobre o que procurava. De repente, ela exclama:

–         Hei, achei!

E leu em voz alta o trecho:

Um dos sinais que meus seguidores poderão ter para saber onde haverá um levante e quando, é que nessa região, próximo do dia em que a morte de meu descendente fizer quatrocentos anos, haverá uma jovem que será a reencarnação de minha primeira vítima, a vampira traidora, e será idêntica a ela na forma física, tendo, na época em que houver o levante, a mesma idade de minha vítima quando a ataquei: vinte e um anos. E ela se juntará a um humano para tentar desvendar uma morte cometida por meus seguidores, exatamente dois dias antes da rebelião. Quando esses sinais começarem a ocorrer, o triunfo estará próximo, e onde eles ocorrerem, será o local da revolta.

–         É isso! – gritou Jorge. – Eu ouvi essa Luíza conversando com o namorado dela sobre um assassinato provavelmente cometido por radicais, e eles estavam tentando investigar!

–         Estou começando a acreditar em vocês... – murmurou Vitor, abraçando uma almofada.

–         Preciso procurar mais pistas! – exclamou Isabela, voltando a folhear o livro, enquanto o relógio na parede marcava dez horas da noite.

++++++++

Começa uma nova manhã na cidade de São Paulo. O dia é 10 de agosto de 2005.

Fernando acorda com Luíza dormindo graciosamente sobre seu corpo no sofá. Ele delicadamente consegue sair de baixo dela, sem que ela acorde, e dirige-se para a cozinha, onde Dona Ruth já preparava o café.

–         Dormiram bem? – perguntou ela.

–         Sim, a não ser por meu pesadelo com o cadáver seco do Cordeiro...

–         Vá se trocar, pois a faculdade não espera!

–         É mesmo!

O estudante correu para o quarto, enquanto Dona Ruth fitava a doce Luíza dormindo no sofá, com um sorrisinho no rosto.

–         Parece um anjinho!

E voltou a preparar o café da manhã.

Enquanto isso, no centro da cidade, no escritório da boate Bloody Dance, ocorria uma cena parecida, só que mais sinistra: Basílio acorda com o gracioso corpo de Natália sobre o seu, dentro do caixão! Ele beija os lábios da amada, que imediatamente acorda e sai de cima do namorado, permitindo que ele também saia da “cama”.

–         Dormiu bem? – perguntou a vampira.

–         Deu para descansar!

Lá embaixo, na pista de dança, o vampiro Yuri limpava a sujeira da noite anterior com uma vassoura. Basílio, após despreguiçar-se, saiu do escritório e disse ao subordinado, de pé sobre a estrutura de ferro do andar superior:

–         Yuri, deixe tudo limpo e verifique os estoques de sangue. Quero que até a noite você e os outros roubem mais sete furgões!

–         Não vai ser fácil, chefe! Agora a polícia os está escoltando!

–         E você tem medo de polícia, Yuri? Nós somos vampiros, e radicais! Daqui a vinte e quatro horas esta cidade será nossa!

–         Está bem! Vou ver o que posso fazer!

–         É assim que se fala!

Basílio voltou para dentro do escritório, enquanto Yuri terminava de varrer.

Isabela havia adormecido com o livro dos radicais no colo, junto com os demais moderados. Apenas Adams ficara acordado a noite inteira, examinando os livros escritos por moderados. Mas não havia nenhum tipo de profecia neles. Era apenas arte de vampiros feita para humanos.

Logo Alfredo acordou, bocejando. Ao ver Adams lendo “Rei Lear”, de Shakespeare, o moderado perguntou:

–         Qual é, cara? Você não dormiu?

–         Eu não preciso dormir! – respondeu o agente do FBI, sem tirar os olhos do livro.

–         Encontrou mais alguma profecia?

–         Nada útil.

O vampiro levantou-se e caminhou até o banheiro, enquanto Isabela despertava. Ao ver o livro em seu colo, ela disse, num sorrisinho:

–         Acho que acabei dormindo enquanto lia...

–         Não faz mal. Acho que já temos todas as profecias necessárias!

Após a afirmação de Adams, Isabela levantou-se e murmurou:

–         Quem diria que eu, uma moderada, estaria lendo o livro do Drácula...

–         A vida dá muitas voltas!

A vampira, então, também seguiu para o banheiro.

Gabriel acordara atordoado na cama do quarto de hotel, após uma noite cheia de pesadelos com vampiros. Após o encontro com dois radicais no metrô durante a noite anterior, quando havia deixado o mosteiro, não conseguia pensar em outra coisa a não ser proteger os inocentes de São Paulo, que estariam indefesos à mercê dos vampiros.

O monge sentou-se na cama, bocejou e disse, fazendo o Sinal da Cruz:

–         Obrigado por mais um dia de vida, Senhor Jesus!

Olhou em seguida para a mala marrom aberta sobre uma cadeira, com o crucifixo e a garrafa de água benta.

–         Aguardem-me, seres malignos!

E seguiu até o banheiro.

Como no dia anterior, Fernando dirigia no seu carro até a faculdade. Mas desta vez pegou outro caminho, pois não queria passar na frente da loja de Cordeiro.

O ruído do motor se confundia com os sons da rua, enquanto vampiros povoavam a mente do estudante. Em silêncio, ele tentava encontrar respostas para aquele tenebroso mistério, mas as explicações não eram lógicas. Existiriam mesmo vampiros, ainda mais em São Paulo?

No “Clube de Amantes de Música Clássica”, todos já estavam acordados. Isabela folheava novamente o “Livro de Profecias dos Vampiros”, tentando encontrar mais alguma profecia importante, enquanto Jorge olhava para o quadro de Mara Juklinsky e Ernest Adams ainda lia as obras de arte feitas por moderados. Alfredo e Vitor haviam saído para providenciar o café da manhã.

–         Como Mara era bela... – suspirou Jorge, fitando a pintura. – Foi uma pobre vítima de Drácula...

–         E temos que deter os radicais, ou jovens mais belas que ela passarão pelo mesmo! – disse Adams.

–         Hei, olhem isto! – exclamou Isabela.

–         Que foi? – indagou Jorge, aproximando-se.

E Isabela leu em voz alta o trecho do livro:

Como havia dito, um dos sinais da proximidade do levante será a jovem idêntica fisicamente a vampira traidora. Se durante a rebelião ela for capturada e então oferecida em sacrifício a mim, com uma adaga fincada em seu coração no altar de uma igreja, simbolizando a derrota daqueles de nossa raça que não me seguem, a revolta se espalhará além dos limites da região onde teve início e os vampiros conquistarão o mundo. Mas se ela não for oferecida em sacrifício dessa exata maneira, o levante ficará restrito apenas à localidade onde começou, e seu comandante será condenado para sempre à vergonha.

–         É isso! – exclamou Jorge. – Essa Luíza é a chave de tudo!

–         Nós temos que protegê-la! – disse Isabela. – Se ela não for morta, os vampiros não conseguirão dominar o mundo! Jorge, leve-nos até aquele prédio de apartamentos! A chave do carro do Alfredo está aqui, ele não vai se incomodar se nós o usarmos!

–         OK, então vamos! – disse Adams, levantando-se do sofá. – Essa tal Luíza deve ficar sob nossa proteção!

E deixaram rapidamente a casa.

A Mercedes preta de Basílio seguia imponente pela Marginal Tietê, com o descendente de “Manuel Maligno” e sua namorada Natália Voskonov aproveitando aquela manhã de sol. No rádio rock pesado, banda norte-americana de vampiros radicais.

–         Que foi, querido? – perguntou Natália. – Parece preocupado!

–         É por causa da sósia... – murmurou Basílio. – Será que a encontraremos?

–         Ora, todos do grupo saberão identificá-la durante o levante. Eles então a capturarão e o sacrifício será oferecido. Não há problema, amor!

–         Assim espero...

–         Você avisou seus pais que vai ficar aqui até o almoço, Luíza? – perguntou Dona Ruth, descascando batatas.

–         Sim, eu já avisei! Mas se houver algum problema...

–         Não há problema algum, querida! Assim nós poderemos conversar um pouco...

–         A senhora está assistindo à novela das oito?

–         Estou! Que megera aquela atriz, não?

–         Nem me fale!

–         Você viu aquele capítulo quando ela...

E a conversa seguiu animada.

O conversível vermelho pára na frente do prédio de apartamentos em Perdizes, e os moderados Jorge e Isabela, acompanhados pelo agente Adams, saltam para fora do veículo.

Os três se dirigem até a portaria, onde encontram um funcionário de meia-idade e face serena, lendo uma revista esportiva.

–         Estamos procurando uma jovem chamada Luíza! – foi logo dizendo Isabela. – Loira, olhos azuis...

–         Quem são vocês, afinal? – perguntou o intrigado porteiro. – Já vi você e esse rapaz com camiseta do Che Guevara perambulando por aqui ontem à noite! O que querem?

–         Apenas encontrar essa tal Luíza! – respondeu Jorge, ficando impaciente. – É muito importante! A vida dela corre perigo!

–         Sinto muito, mas não posso informar nada!

Vendo que o porteiro não lhes forneceria as informações necessárias por bem, Adams sacou uma pistola calibre 45 e, apontando-a para o funcionário do prédio, exclamou:

–         Senhor, eu não quero atirar, mas é muito importante que nos forneça informações sobre essa Luíza! Toda esta cidade está correndo um risco muito grande, e precisamos saber se ela mora aí ou não!

–         Está bem! – berrou o pobre porteiro, com os braços para o alto. – Se essa Luíza tiver cabelo loiro e olhos azuis como disseram, ela é namorada do Fernando Souza, que mora no quinto andar, apartamento trinta e sete! Creio que ela esteja lá!

–         Muito obrigado! – sorriu Adams, guardando a arma. – E nem pense em chamar a polícia!

Seguiu então junto com os vampiros para dentro do prédio.

–         Que poder de persuasão! – exclamou Jorge.

Ernest apenas riu.

–         Qual o prato preferido do Nando, Dona Ruth? – perguntou Luíza, auxiliando a sogra na cozinha.

–         Ele gosta muito de lasanha!

–         Lasanha? Nossa, eu nem posso ouvir falar nisso!

–         Por quê?

–         Engorda muito!

–         Minha filha, com esse seu corpinho você vai longe!

As duas riram. Nesse instante a porta do apartamento foi aberta, e Dona Ruth exclamou:

–         Querido! Já é você? Aconteceu alguma coisa no trabalho?

–         Ah, o que é isso? – gritou Luíza.

A mãe de Fernando virou-se e viu que um sujeito armado acompanhado por um casal havia invadido a cozinha. O indivíduo com a arma em mãos disse, olhando para Luíza fixamente:

–         Você se chama Luíza?

–         Sim. Por quê?

–         É esta mesmo? – perguntou Adams a Jorge e Isabela.

–         Sim, é ela! – respondeu o vampiro.

–         OK. Você vem conosco!

–         Nunca! – berrou a namorada de Fernando.

Mas Adams apontou a pistola, não dando outra opção para Luíza.

–         Se é dinheiro o que querem, podem levar tudo, mas deixem-nos em paz! – implorou Dona Ruth.

–         Olhe, isto não é um seqüestro, OK? – disse Jorge, tentando em vão acalmar os ânimos.

–         Senhorita Luíza, sua vida estará em perigo se não vier conosco! – exclamou o agente do FBI, mostrando as credenciais. – Acredite em nós! Sou do FBI! Contaremos tudo no caminho!

–         FBI? – estranhou Dona Ruth. – Que é isso, meu Deus?

–         Vou ter que ir com eles, Dona Ruth... – suspirou Luíza.

–         Ela estará de volta o mais breve possível! – assegurou Adams. – Vamos?

E os três invasores escoltaram Luíza até o corredor.

–         O que vocês vão fazer com ela? – perguntou Dona Ruth, desesperada. – O que ela fez de errado?

–         Nada! – respondeu Adams. – A questão é o que ela evitará que aconteça de errado!

A porta do apartamento, então, foi fechada pelo federal norte-americano, enquanto a desnorteada Dona Ruth, extremamente confusa, não sabia se chorava ou ligava para o marido no posto da PM.

O grupo desceu de volta até o térreo, passando pelo também confuso porteiro e entrando no conversível, que partiu imediatamente. O céu estava bem nublado e não demoraria a chover. Luíza perguntou:

–         Para onde vocês estão me levando? Você é mesmo do FBI?

–         Senhorita, saiba que é a reencarnação de uma princesa da Transilvânia que viveu no século XV! – disse Adams.

–         Quê?

–         Contaremos tudo no caminho até nosso esconderijo – disse Isabela. – É melhor prestar bastante atenção, não é uma história muito aceitável de primeira!

++++++++

Trecho do “Livro de Profecias dos Vampiros”, escrito pelo Conde Drácula:

Todo vampiro deverá apenas se saciar com sangue humano, pois assim estará aumentando o número daqueles de nossa raça. Todos os vampiros deverão seguir apenas a mim como mestre e senhor, e as palavras deste livro deverão ser lidas todos os dias, além de nunca desrespeitadas. Aquele vampiro que ousar seguir a traidores será perseguido e ridicularizado para sempre, e sugará apenas sangue de roedores e pássaros, pois não será digno do verdadeiro banquete.

++++++++

Continua... 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!