A Revolução dos Vampiros - Versão Antiga escrita por Goldfield


Capítulo 3
Capítulo 2




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Capítulo 2

São Paulo: capital sul-americana dos vampiros.

Já era meio-dia. A Mercedes preta de Basílio parou num beco deserto, e dentro dela estavam ele, sua namorada Natália Voskonov e o cadáver do pobre Cordeiro, no banco de trás.

–         Vamos almoçar? – indagou Natália, lambendo os beiços.

–         Por que acha que paramos aqui?

E Basílio apanhou o corpo do velho, colocando-o entre os dois assentos da frente do carro.

–         Você ou eu primeiro? – perguntou o vampiro, num sorriso.

–         Os dois ao mesmo tempo! Esse cara é pescoçudo!

E deixaram os caninos crescerem, a pele ficando branca como a neve. Cada um abocanhou de um lado o pescoço de Cordeiro, sugando seu sangue como se fosse uma lata de refrigerante com dois canudinhos.

–         Delicioso esse sangue, não? – exclamou Natália, parando de se alimentar por um instante, limpando os lábios sujos de líquido vermelho.

–         É safra de 1940! – riu Basílio. – A melhor de todas!

E continuaram banqueteando-se.

Jorge estava sentado no terraço de um alto edifício da Avenida Paulista, tentando pensar numa maneira de deter os vampiros radicais. Olhando o confuso tráfego da hora do rush, o pobre moderado conseguia pensar apenas nas pobres almas que pagariam por Drácula ter vendido a sua há quase mil anos.

Após ter saído irritadíssimo do “Clube de Amantes de Música Clássica”, Jorge vagara sem rumo pelas ruas da cidade. Ele vira criancinhas brincando nos parques, namorados apaixonados se beijando nas praças, esportistas felizes fazendo atividades físicas... Todos poderiam, dois dias depois, estarem padecendo nas mãos dos radicais, se transformando mais tarde em seres tão repugnantes quanto eles.

Mas Jorge não queria pensar nisso. Devia haver uma maneira de deter Basílio e sua laia. O coração de “Manuel Maligno” só poderia ser destruído pelo próprio Basílio, que por sinal nunca faria isso, mas outro problema era saber onde em São Paulo esse coração estaria. Qualquer um poderia tê-lo pego em 1605 após a execução de João Manuel, mas ele ainda estava na cidade, segundo as profecias de Drácula. Os moderados teriam que descobrir outra maneira de deter essa terrível ameaça.

Nisso, uma pomba pousou ao lado de Jorge, limpando as penas. O vampiro agarrou a frágil ave e, olhando para os olhos dela por um instante, murmurou:

–         Você será o almoço deste pobre amaldiçoado, pombinha...

E mordeu o pescoço do pássaro.

–         Meu Deus, que coisa! – disse Dona Ruth.

Ela ouvira atônita a história sobre o assassinato do velho Cordeiro, enquanto fazia almoço na cozinha. Fernando ainda estava chocado, mas os carinhos da doce Luíza afastavam os maus pensamentos.

–         Não se preocupe, Nando! – sorriu a jovem. – A polícia vai pegar esses dois!

–         Você gosta tanto de romances policiais, Luíza! – exclamou Ruth, enquanto refogava o arroz. – Ajudaria muito nas investigações!

–         Ora, ficção é uma coisa, mãe, realidade é outra! – disse Fernando.

–         Não necessariamente... – murmurou Luíza.

–         Vá arejar um pouco as idéias, filho!

–         É, amor! Vamos assistir TV!

–         OK...

E Fernando seguiu Luíza até a sala.

–         Sabe, acho que o Jorge está certo...

Nem Alfredo ou Vitor ouviram Isabela, pois a sinfonia de Chopin na vitrola havia tomado completamente o ambiente. Os dois vampiros estavam deitados nos sofás, apreciando a música, enquanto Isabela, sentada na poltrona, raciocinava sobre tudo que estava acontecendo.

Súbito, ela levanta e caminha até a vitrola, desligando-a solenemente. Apenas nesse instante Alfredo e Vitor voltaram ao mundo real, por sinal, furiosos com a amiga:

–         Quem mandou desligar a vitrola? – exclamou Vitor.

–         Vocês têm que me ouvir! – berrou Isabela, olhos arregalados.

–         Então fala, amor! – disse Alfredo.

A vampira tomou fôlego e disse:

–         Nós somos apenas cinco mil moderados contra mais de cem mil radicais, mas nós temos que fazer alguma coisa! Mara deve estar envergonhada de nós, que apenas ficamos o dia inteiro ouvindo música!

–         E o que você quer que nós façamos? – irritou-se Vitor. – Mais da metade dos vampiros do planeta são radicais! Se nós conseguíssemos por muita sorte vencê-los aqui em São Paulo, perderíamos no resto do mundo!

–         Mas e se os humanos nos auxiliarem?

Silêncio sepulcral. O que os moderados mais temiam era entrar em contato com a raça humana.

–         Eles nunca nos ajudariam, Isabela! – exclamou Alfredo. – Os humanos acham que todos os vampiros são maus por causa das histórias do Drácula! Quando a guerra for iniciada pelos radicais, eles também nos perseguirão!

–         Eu não concordo! Acho que nós moderados e os humanos podemos lutar juntos contra os radicais!

–         Ora, Isabela... – murmurou Vitor. – Está sonhando alto demais!

Dessa vez foi Isabela quem deixou furiosa a casa, batendo a porta.

–         E mais um furgão do Hemocentro de São Paulo foi atacado hoje por um grupo de indivíduos armados – disse a bela jornalista na TV. – Desta vez o assalto foi perto da Marginal Pinheiros. O motorista disse que foi abordado por três homens e duas mulheres vestidos inteiramente de preto, armados com pistolas automáticas e espingardas. Eles o obrigaram a descer do furgão e levaram embora o veículo, que estava carregando mais de cinqüenta litros de sangue para o Hospital das Clínicas. A polícia ainda não tem pistas da quadrilha.

Fernando desligou a televisão, chocado.

–         Bandidos vestidos de preto, Luíza! – exclamou o rapaz. – Assim como o casal que matou Cordeiro!

–         Isso é mesmo muito estranho... – murmurou a jovem. – É o quinto roubo de um furgão do hemocentro esta semana. Para que essa quadrilha quer sangue?

–         Isso tudo me assusta!

Nisso, Dona Ruth gritou da cozinha:

–         O almoço está pronto!

–         Já vamos, mãe!

E o casal seguiu até a cozinha, com mil teorias na cabeça. Nesse instante Juca chegou em casa, voltando da escola. Ele sentou-se à mesa para almoçar e quando viu as faces sem expressão do irmão e de Luíza, perguntou sem hesitar:

–         Que houve?

A história da morte de Cordeiro começou a ser narrada mais uma vez.

–         Já está seco!

Realmente, o casal de vampiros sugara todo o sangue do cadáver de Cordeiro, e agora seu corpo estava totalmente ressecado: os ossos podiam ser vistos nitidamente por baixo da pele, e esta havia perdido toda a cor. O pobre comerciante era agora uma embalagem vazia para Basílio e Natália.

–         Que fazemos com o corpo? – perguntou a vampira, com os lábios ligeiramente sujos de sangue.

–         Jogamos fora!

Basílio apanhou o corpo, jogando-o dentro de uma lixeira ao lado do carro.

–         Agora que já almoçamos, vamos dar uma volta no shopping! – exclamou Basílio, limpando a boca com um dos braços.

–         Grande idéia, amor! – sorriu Natália. – Quero comprar umas botas novas!

–         O desejo de Natália Voskonov é uma ordem para mim!

E a Mercedes saiu do beco em alta velocidade.

No refeitório do Mosteiro de São Bento, o tradicional almoço dos monges estava terminando. Os últimos religiosos comiam à mesa, enquanto um outro lia ininterruptamente a “Regra de São Bento” até que o último monge concluísse a refeição.

Logo isso aconteceu, e o monge que lia o livro imediatamente fechou-o, enquanto os últimos religiosos deixavam o refeitório. Um deles, de nome Gabriel Gonçalves, foi chamado por um outro monge até um canto da sala, perguntando:

–         O que você queria me mostrar, frei Gonçalves?

–         Precisa ser agora, frei Ferreira? Queria rezar um pouco!

–         Ora, frei! Estou curioso!

–         Bem, venha comigo até as catacumbas!

E os dois religiosos seguiram até as catacumbas sob o mosteiro, onde, em repartições fechadas nas paredes, estavam os restos mortais de todos os monges que ali viveram nos últimos séculos. Após percorrerem vários túneis, os monges pararam na frente de um armário isolado dos outros, onde havia a inscrição “Manuel Maligno – 1605”.

O frei Gonçalves abriu a gaveta, revelando um coração humano em perfeito estado, que pulsava intensamente. Com um pequeno cronômetro na mão, Gabriel realizou algumas medidas de tempo olhando para o pitoresco órgão e disse ao outro monge:

–         As batidas por minuto aumentaram significativamente nos últimos dias!

–         E o que tem isso, Gabriel? O coração daquele maldito vampiro está pulsando há quatrocentos anos!

–         Mas não com tanta intensidade como agora! Algo errado está acontecendo...

–         Ora, frei...

–         Frei Ferreira, José Mendes escondeu esse coração aqui no mosteiro porque sabia que isso não era comum entre os vampiros, e durante séculos coube a um monge do mosteiro a função de protegê-lo! Há algo muito estranho nisso tudo!

–         Bem, você vai rezar? Eu vou é dormir um pouco...

E frei Ferreira começou a caminhar para fora das catacumbas. Gabriel, após observar o pulsante coração por mais alguns instantes, fechou a gaveta e seguiu o outro monge.

–         Amor, não fique assim...

Ao dizer isso, Luíza beijou levemente os lábios do namorado. Ambos estavam sentados no sofá da sala do apartamento de Fernando, enquanto o relógio na parede já marcava uma hora da tarde.

–         Eu não vou sossegar enquanto não desvendar esse enigma... – murmurou Fernando, com uma das mãos no queixo. – Consigo pensar apenas naqueles malditos sujeitos de preto...

–         Isso está parecendo até “Matrix”! Gente armada vestindo roupa preta!

–         Aquele casal era muito sinistro... Eu senti algo estranho neles...

–         Sentiu?

–         É, Luíza... Não sei explicar direito...

–         Acho que compreendo... Mas eu também estou intrigada! O que essa “gangue de preto” pode estar querendo?

–         Talvez seja como você disse, filhinhos de papai metidos com seitas ocultas... Mas há uma coisa muito estranha nisso tudo, Luíza!

–         O quê?

–         Logo que o cara matou Cordeiro, ele deitou o cadáver num dos ombros e disse que seria o almoço deles!

–         Almoço?

–         Talvez seja uma gangue de canibais! – exclamou Juca, que até o momento ouvira a conversa escondido atrás do sofá.

–         Você não devia estar fazendo o dever de casa, moleque? – irritou-se Fernando.

–         Eu não consegui! Só consigo pensar nessa história macabra! A gente podia fingir que somos agentes do FBI e solucionar esse caso, que nem no “Arquivo X”.

–         Cale a boca, pentelho!

–         Nando... – riu Luíza. – O Juca só tem uma imaginação bem fértil, como eu!

–         É... – murmurou o estudante de Medicina. – Fértil como estrume de vaca!

Aeroporto Internacional de Guarulhos.

Começavam a desembarcar os passageiros do vôo das treze horas vindo de Nova York, EUA. Entre eles estava um homem vestindo casaco marrom sobre uma camisa branca, usando também gravata vermelha, uma calça preta e sapatos. Tinha óculos escuros no rosto, e carregava uma grande mala preta.

Logo uma simpática funcionária do aeroporto se aproximou do indivíduo, perguntando em inglês:

–         Teve um bom vôo, senhor...

–         Adams – respondeu o sinistro sujeito. – Ernest Adams.

–         Fala português?

–         Sim – respondeu Adams na língua do Brasil, com forte sotaque norte-americano. – Estou aqui a negócios!

–         E que tipo de negócio?

–         Como livrar o Brasil dos vampiros do FMI!

E seguiu seu caminho.

Basílio e Natália pareciam os donos do mundo enquanto caminhavam pelos corredores do shopping. Iam esbarrando em quem entrasse no caminho, e ai de quem ousasse reclamar.

Nisso, Basílio avistou um garotinho que estava sentado num banco chupando um pirulito, enquanto sua mão fazia uma ligação num telefone próximo. O vampiro disse à namorada:

–         Veja só, minha querida!

E os dois caminharam na direção do menino, que sorria com o doce na boca. Até que Basílio disfarçadamente tirou o pirulito da mão da criança quando passou ao lado dela, enfiando-o em sua boca sugadora de sangue.

–         Mãe, ele pegou meu pirulito! – choramingou o garoto.

Mas a mulher estava tão ocupada falando ao telefone que nem percebeu. E o casal de vampiros seguiu em frente, Basílio com o pirulito vermelho na boca, até que pararam na frente de uma loja de jogos eletrônicos. O descendente de “Manuel Maligno” perguntou, apontando para dentro do estabelecimento:

–         Aquele ali jogando videogame não é o Yuri?

–         Sim, é ele mesmo! – respondeu Natália.

–         Ele devia estar cuidando daquele serviço dos furgões... Mas espere aí que eu já dou um jeito!

Basílio ajeitou a jaqueta preta, da mesma cor do resto da roupa, e entrou decidido dentro da loja.

Yuri era um sujeito loiro que aparentava dezenove anos, extremamente magro e que também usava roupa preta, assim como Basílio e Natália. Ele estava bem entretido sentado na frente de uma TV jogando videogame, num canto da loja, e era um jogo de terror. Basílio foi se aproximando silenciosamente, com um sorriso no rosto, e quando estava atrás da cadeira onde Yuri se encontrava sentado, exclamou, colocando a mão direita no ombro do rapaz:

–         Cuidado!

O pobre Yuri deu tamanho pulo de susto na cadeira que fez até o controle do videogame escapar de suas mãos, caindo no chão. Ele imediatamente virou-se para Basílio, dizendo:

–         Que brincadeira mais sem graça, chefe!

–         Por Drácula, Yuri! Você é que não tem graça nenhuma! O que está fazendo aqui enquanto deveria estar trabalhando nas ruas?

–         Mas os rapazes já roubaram outro furgão, chefe! Não é o suficiente?

–         Não, seu palerma! Vamos precisar de muito sangue para daqui a dois dias! Você, como radical, devia saber muito bem disso! Está no Livro de Profecias!

–         OK... Posso ao menos jogar este game de terror mais um pouquinho, chefe?

–         Não! Para começar esses jogos nem têm vampiros, e você tem muito trabalho a fazer! Vamos, circulando!

–         Está bem...

E Yuri desligou o videogame, enquanto Natália ria como nunca do lado de fora da loja.

Ernest Adams via São Paulo através do vidro do táxi, pensativo. Ele sabia muito bem no que estava se metendo ao vir para o Brasil. Enquanto o frio taxista o levava até o hotel no centro da cidade, Adams tirou do bolso do casaco o velho exemplar do “Livro de Profecias dos Vampiros”, e começou a ler silenciosamente um trecho que lhe interessava:

Quando se passarem quatrocentos anos após a morte de um descendente meu morto pelos homens e seu coração ainda pulsar, o maior descendente vivo desse vampiro deverá organizar o levante assim que os sinos badalarem meia-noite e a madrugada do dia em que meu descendente morreu tiver início. Assim, exatamente quatrocentos anos após o martírio, meus seguidores organizarão uma rebelião para vingar sua alma, e esse levante terá poder para dominar toda planície e colina. Mas aquele que comandar a revolta, descendente do mártir cujo coração pulsa, terá que primeiramente saciar todos os vampiros que fizerem parte do levante com sangue humano que não seja do dia da rebelião, para assim relembrar as conquistas dos vampiros no passado e poder ter início o massacre. Se ele tiver início sem o ritual do sangue, for usado sangue do dia do levante ou começar sem que todos os vampiros estejam saciados, não obterá sucesso. Nesse dia todo vampiro no mundo deverá usar preto em minha homenagem, e aquele que não usar será amaldiçoado, mais do que já é. Durante o levante, nenhum homem ou mulher que não seja da raça deverá ser poupado, seja criança ou velho. E quando a região onde começar o levante for conquistada, o líder deverá reaver o pulsante coração de seu antepassado e colocá-lo dentro de uma jarra de sangue de humanos mortos durante a rebelião. A partir desse momento, após alguns outros rituais, os vampiros do mundo inteiro que me seguirem poderão se rebelar onde estiverem, e serão vitoriosos. E logo os humanos mortos também se tornarão vampiros, que reinarão na Terra por séculos e séculos. Porém, se o coração por algum motivo parar de pulsar, o levante não terá triunfo.

Jorge caminhava atordoado pela movimentada calçada da rua. Seu relógio de pulso marcava uma e meia da tarde. O tempo parecia não passar.

As pessoas seguiam suas vidas, umas alegremente, outras tristemente. E depois de dois dias a vida de toda essa gente poderia ser paralisada pelos malditos radicais. Por que uma guerra? Não podiam conviver em paz?

Mas grande parte da culpa era dos humanos. Eles não aceitariam se soubessem que seres sugadores de sangue vivem junto deles na sociedade, e os perseguiriam, assim como na época de Drácula. Talvez essa fosse uma das razões da fúria dos radicais: a intolerância dos humanos.

E, de repente, os olhos de Jorge encontraram um rosto que fez com que o vampiro parasse imediatamente de andar. Possuía bonitos contornos e brilhantes olhos azuis, além de uma abundante cabeleira loira. Mas não era apenas por sua beleza que a face causou espanto em Jorge. Aquele rosto era idêntico ao de... Mara Juklinsky!

–         Não pode ser... – murmurou Jorge.

A jovem estava de mãos dadas com um rapaz de sorriso no rosto, e logo se distanciaram. Jorge permaneceu imóvel, por um bom tempo, observando o casal de costas. Aquilo era estranhíssimo e ao mesmo tempo fascinante!

–         Ela é igual à Mara! – exclamou o moderado. – Como pode isso?

E resolveu seguir o casal pela calçada, andando rapidamente de início para alcançá-lo, e depois caminhando disfarçadamente a uma curta distância.

–         Ora, frei Gonçalves! – exclamou o abade, irritado. – O senhor está preocupado pela razão do coração estar batendo mais rápido? Talvez seja sinal que logo parará de bater, assim estaremos livres desse estorvo!

–         Sim, pode ser, mas também pode ser um sinal! Não sei...

–         Bem, tire suas dúvidas! – disse o abade, tirando uma chave da cintura, que foi entregue a Gabriel. – Aqui está a chave da sala secreta da biblioteca. Empurre a última estante da terceira fileira e use-a na fechadura que há na parede. Lá dentro existem documentos antigos, alguns escritos pelo monge José Mendes. Vá até lá e dê uma olhada, era ele quem entendia de vampiros!

–         Eu já ouvi falar dessa sala... Este mosteiro tem mais segredos, senhor abade?

–         Você nem imagina quantos, frei Gonçalves... Agora vá, faça sua pesquisa!

–         Muito obrigado.

E Gabriel deixou a sala.

Basílio e Natália eram quase os únicos na sala de cinema do shopping, que exibia “Meu Namorado é um Vampiro”, filme de enredo pobre e atores sem talento, mas que realmente estava sendo uma sensação na comunidade dos vampiros. O que não agradava os humanos, agradava a eles.

O casal de vampiros comia pipoca coberta por sangue humano (eles sempre levavam uma garrafinha reserva quando estavam em lugares públicos e não podiam sair sugando), divertindo-se com a película. Natália perguntou:

–         O que você está achando desse ator que interpreta o vampiro, amor?

–         Ele tem estilo... Mas falta crueldade, tirania! Parece até um covarde moderado!

–         Hei, parece mesmo!

E riram por um instante.

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Trecho do “Livro de Profecias dos Vampiros”, escrito pelo Conde Drácula:

Uma vítima minha será diferente dos outros de nossa raça, lutando para que nós vampiros convivamos em paz com os humanos. Digo eu, isso é impossível, pois os humanos são de Deus, e nós fomos pelos céus castigados. É a eterna luta entre o bem e o mal, e por isso temos que lutar para prevalecermos sobre a escória dos homens. Eles são intolerantes, nunca aceitariam viver em harmonia conosco, mesmo se os tolerássemos. Queimam-nos em fogueiras e seus cães devoram nossos ossos. Por isso não há possibilidade de paz entre homens e vampiros, é como a águia e a cobra, a cobra e o rato. Nós, mais fortes, devemos prevalecer sobre os mais fracos. Todo aquele que me seguir deve perseguir os vampiros que não seguem minhas palavras, ao invés disso acreditando nos preceitos da vampira traidora. Eu sou o único mestre dos vampiros, e todo aquele vampiro que não me venerar será castigado. Todo vampiro que me tiver como mestre será recompensado com uma longa vida de prazeres e poder, até o dia em que nossa raça dominar o mundo dos homens.

++++++++

Continua... 


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