A Revolução dos Vampiros - Versão Antiga escrita por Goldfield


Capítulo 10
Capítulo 9




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Capítulo 9

Corrida contra o tempo.

Parecia que um furacão havia passado pelo centro de São Paulo. As ruas estavam todas reviradas, com latas de lixo derrubadas, carros tombados e corpos aqui e ali. O interior das construções também era desolador: portas derrubadas, janelas em cacos, móveis e eletrodomésticos quebrados... Um verdadeiro pandemônio.

Na Mercedes preta de Basílio, este e sua namorada Natália riam nos assentos da frente, enquanto no banco de trás estava Luíza, amarrada e amordaçada. A jovem se debatia, tentando em vão se libertar, enquanto a namorada de Basílio perguntava:

–         Para onde vamos agora que temos a garota, amor?

–         Para uma igreja, fazer o sacrifício – respondeu o vampiro. – Acho que conheço um bom lugar, onde também poderemos encontrar o coração...

–         Onde?

–         Mosteiro de São Bento!

–         Não, eu não acredito!

Tomado por inesperada e insuperável fúria, Fernando chutou a mesinha da sala do apartamento com violência. Depois cobriu o rosto com as mãos, tentando chorar para se aliviar, mas não conseguia. Primeiro a morte do pai, e agora aquilo.

–         Eu devia ter ficado aqui! – berrou o estudante. – Não devia tê-la deixado sozinha!

–         Se quiser culpar alguém, culpe a mim – disse Jorge, se aproximando cabisbaixo. – Não consegui fazer nada para deter Basílio!

–         A culpa não é sua, é apenas minha...

Todos compreendiam como era grande a dor dentro de Fernando. O único alheio a tudo aquilo parecia ser Alfredo, que perguntou a Gabriel:

–         Então um radical chamado Yuri queria trair o Basílio e foi morto por ele aqui na sala?

–         Exato – respondeu o monge. – Os próprios radicais estão brigando entre si!

–         E o Vitor estava nessa?

–         É isso aí, esse traidor filho da mãe! – respondeu Jorge.

O falso moderado ainda estava desmaiado, amarrado com cordas aspergidas de água benta. Isabela se aproximou de Jorge e, num sorrisinho, disse:

–         Não se culpe pela Luíza, OK? Nenhum de nós pode com o poder do Basílio! Você foi como um herói tentando reagir!

–         Obrigado, Isabela... Por sorte ele não levou o coração...

Jorge passou a mão pelo bolso da calça, onde estava o poema que fizera. Mas com certeza não era uma boa hora para entregá-lo. A mãe de Fernando ainda não havia voltado, e Juca dormia em seu quarto.

–         Eu falhei com meu amor... – suspirou Fernando, sentado no chão. – Não pude protegê-la, e agora ela vai morrer nas mãos daquele maldito Basílio, assim como meu pai foi morto pelos radicais... Esta cidade não tem mais salvação, ela se transformou num reduto desses vampiros amaldiçoados!

–         Acalme-se, Fernando... – disse Adams. – Deus nos ajudará!

–         Deus? Você acha que Deus, permitindo que todos esses inocentes morram lá fora, nos ajudará a salvar a vida de Luíza?

–         Nunca fale mal de Deus, Fernando! – exclamou Jorge. – Drácula fez isso, e olhe como tudo está hoje! Eu não consegui proteger sua namorada, e agora vou fazer algo para reparar essa situação!

O moderado engatilhou a espingarda e saiu rapidamente do apartamento.

–         Espere, Jorge! – gritou Isabela.

–         Deixe-o! – disse Alfredo. – Ele vai cometer mais uma de suas loucuras!

–         Temos que ir atrás do Basílio, a vida de Luíza e a sobrevivência da raça humana estão em jogo! – exclamou Fernando. – É uma corrida contra o tempo!

–         Ele está certo! – concordou frei Gonçalves. – Mas onde o Basílio pode estar?

–         Talvez Jorge tenha suas suspeitas... – murmurou Adams.

Nisso, Jorge já havia descido pelo elevador e ganhava a rua, caminhando na direção da viatura da PM que Fernando usara para chegar até ali. Este perguntou, da janela do apartamento:

–         Você sabe para onde o Basílio a levou?

–         Mosteiro de São Bento! – respondeu o moderado. – Ele disse que tudo terminaria onde começou, e foi lá que “Manuel Maligno” foi queimado na fogueira há quatrocentos anos! Ele precisa de uma igreja para fazer o sacrifício e deve estar achando que o coração está lá!

–         Vamos com você!

Jorge, Adams e Gabriel entraram na viatura da PM, enquanto Fernando, Alfredo e Isabela acomodavam-se no carro do universitário. Logo os dois veículos partiam na direção do Largo de São Bento, sendo observados por sinistras sombras sobre as construções vizinhas.

O interior do Mosteiro de São Bento estava completamente vazio. Conforme as ordens do abade, todos os monges haviam se trancado em seus dormitórios, rezando para afastar o perigo que desconheciam. Em sua sala, o abade pensava no que seria do Brasil e do mundo se ninguém conseguisse deter aquele levante.

–         Pense! – disse o religioso para si mesmo. – O que São Bento faria?

Pelo menos aquele maldito coração não estava mais no mosteiro, o que não atrairia os vampiros para lá... Pelo menos assim o abade esperava!

Os dois veículos que tentavam chegar antes de Basílio no Mosteiro de São Bento percorriam as desoladoras ruas da cidade, enquanto os gritos alucinados dos radicais ecoavam pelo ar.

–         É, parece que os vampiros nunca mais serão uma sociedade secreta depois disto! – suspirou Isabela. – Teremos que nos mudar para a Transilvânia!

–         Hei, o que é aquilo? – berrou Jorge, que dirigia a viatura da PM, freando bruscamente.

O carro de Fernando, que acompanhava a viatura, obrigatoriamente também teve que frear quando o primeiro carro parou. Logo os ocupantes do segundo veículo perceberam que uma enorme coluna de radicais fechava a rua logo em frente.

–         Droga! – exclamou Adams.

Aos berros, os vampiros começaram a avançar na direção dos dois carros, e Fernando surpreendeu-se ao ver quem os liderava:

–         Mas é o Cordeiro!

De fato, o ex-humano exibia os caninos pontiagudos com enorme voracidade.

–         Vocês vão morrer! – gritou ele.

Quando os ocupantes dos veículos preparavam-se para sair, na iminência que seriam apanhados pelos radicais, algo inesperado ocorreu...

Um helicóptero dos bombeiros deu um breve rasante sobre a rua, despejando grande quantidade de água sobre os radicais. Aqueles que eram atingidos começavam a virar pó, gemendo e gritando, enquanto a coluna se dispersava, mais preocupada em se salvar do que aniquilar a presa.

–         Água benta! – concluiu Adams, num sorriso.

–         Louvado seja Deus! – exclamou Gabriel.

Logo não restava mais nenhum vampiro vivo na rua, todos haviam escapado voando na forma de morcegos ou correndo para as vielas próximas. O piloto do helicóptero disse, através de um megafone:

–         Água benta, estacas, crucifixos e alho funcionam contra os vampiros! Repito: água benta, estacas, crucifixos e alho!

–         Nós sabemos! – gritou Fernando, dando sinal através da janela do carro para que Jorge voltasse a pisar no acelerador, pois não tinham tempo a perder.

Os dois carros desapareceram pela rua, enquanto o helicóptero também se afastava. São Paulo resistia aos radicais, afinal.

A Mercedes preta de Basílio chegou derrapando no Largo de São Bento, freando com violência na frente do mosteiro. O líder dos radicais saiu do veículo com Luíza deitada em seus braços. A jovem, de tanto se debater e por estar exausta, acabara caindo no sono. Natália seguiu o namorado, que exclamou:

–         Aqui estamos! Onde meu antepassado foi morto há quatrocentos anos atrás! Mas eu o vingarei!

O vampiro caminhou até a porta de entrada do mosteiro, que logicamente estava trancada. Basílio colocou Luíza brevemente no chão e, usando toda sua força, arrebentou num chute o trinco da porta, fazendo com que se abrisse de imediato. Colocando a namorada de Fernando novamente nos braços, que parecia estar tendo um pesadelo devido a murmúrios de sua boca, Basílio disse:

–         Vamos, querida Natália! Chegou a hora do sacrifício!

O casal de radicais entrou rindo no mosteiro.

Logo que Dona Ruth entrou no apartamento junto com os pais de Luíza e viu a porta derrubada mais toda aquela bagunça na sala, gritou, histérica:

–         Fernando! Juca!

Ela estava muito nervosa, pois temia pela vida dos filhos, não por causa dos bens materiais quebrados. Logo surgiu o filho caçula, com alho em volta do pescoço.

–         Que houve aqui? – perguntou Dona Ruth. – Onde está seu irmão?

–         Ele foi salvar Luíza das mãos do Basílio, líder dos vampiros malvados!

Com essa resposta, a mãe de Luíza desmaiou, sendo amparada por seu marido. Dona Ruth respirou fundo e pediu a Juca:

–         Explique-me tudo isso aos mínimos detalhes! Já sei dos vampiros e tudo mais, mas que história é essa de Basílio?

Juca começou a contar toda a história.

A viatura da PM, seguida pelo carro de Fernando, parou na frente do Mosteiro de São Bento, onde já estava a Mercedes de Basílio. Todos saíram dos veículos, enquanto Gabriel, vendo o carro do radical e a porta de entrada arrombada, indagou:

–         Será que chegamos tarde demais?

–         Nunca é tarde demais! – exclamou Fernando, entrando com os outros dentro do mosteiro.

Os escuros corredores do mosteiro começaram a ser vencidos pelos heróis. Jorge perguntou a Gabriel:

–         Onde há uma igreja aqui dentro, frei?

–         Há a capela de Nossa Senhora da Assunção!

–         Vamos para lá!

Súbito, uma janela se quebra atrás do grupo. Todos olham para trás, exceto Alfredo, que aproveita a confusão para desaparecer de vista.

O barulho fora provocado por dois radicais, que, num grito sinistro, deixaram mostrar seus caninos anormais. Jorge gritou, correndo com Gabriel e Fernando para a capela:

–         Não temos tempo, cuidem deles!

–         Tome cuidado, Jorge! – pediu Isabela.

–         OK!

Nisso, Adams já havia cegado um dos radicais com o spray de alho, e agora o derrubava com um chute no tórax. O outro, saltando sobre Isabela, teve ainda no ar uma estaca enterrada no peito. O que restava já se levantava do chão e partia novamente para cima de Adams, mas este foi rápido e também lhe cravou uma estaca no coração, fazendo com que virasse pó assim como seu colega.

–         Cadê o Alfredo? – estranhou Isabela.

–         Deve ter ido para a capela com os outros! Vamos, não temos tempo a perder!

Adams, que já tinha visto plantas do mosteiro e sabia onde ficava a capela, começou a correr até ela, seguido pela moderada.

–         É por aqui! – exclamou Gabriel, contornando um corredor.

Porém, logo que fizeram a curva, Gonçalves, Jorge e Fernando se depararam com Natália Voskonov e Cordeiro.

–         Aonde pensam que vão? – riu a vampira.

Jorge atirou uma estaca contra a radical, mas esta a apanhou no ar e lançou-a contra o dono, enquanto Fernando gritava:

–         Cuidado, Jorge!

O moderado conseguiu desviar-se a tempo, enquanto Cordeiro investia sobre os humanos. Gabriel repeliu o velho com um soco, enquanto ele babava em cima de sua roupa, exibindo os dentes mortais. Fernando deu um fim na vida do vampiro, fazendo com que uma estaca atravessasse seu peito.

–         Sinto muito, senhor Cordeiro!

O velho começou a virar pó aos berros, enquanto Natália fugia.

–         Vão atrás dela! – gritou Jorge. – Irei até a capela!

–         Sozinho? – perguntou Fernando. – É perigoso!

–         Não importa! Tenho há tempos umas contas para acertar com o Basílio, acho que chegou a hora!

–         Certo, mas tome cuidado! – disse Gabriel. – É logo por aquela porta! Boa sorte!

Fernando e frei Gonçalves foram atrás de Natália, enquanto Jorge permaneceu imóvel por um instante. Pensou em Isabela, em Luíza, e por fim correu até a entrada da capela.

Adams e Isabela também corriam na direção da capela, por outro caminho, quando se depararam com Alfredo, que fechava o caminho.

–         Que susto, amor! – suspirou Isabela. – Pensei que fosse um radical! Agora, deixe-nos passar! Aconteceu algo com os outros?

–         Desculpe-me, mas não posso deixar que prossigam! – exclamou o suposto moderado, olhos arregalados.

–         Amor, o que está havendo?

–         Ele é um radical, sempre desconfiei! – exclamou o agente do FBI. – Maldito traidor!

–         Isso é verdade? – espantou-se Isabela.

–         Sim, amor! Assim como o Vitor! Estávamos com o Yuri, mas agora que ele está morto podemos fazer a diferença! Venha para nosso lado, amor! Nós somos mais fortes, somos os verdadeiros vampiros! Estando do nosso lado, finalmente terá um lugar neste mundo injusto! Lideraremos os radicais no lugar do Basílio! Venceremos os humanos, a grande praga!

–         Você não entende, Alfredo? Nós vampiros é que somos a praga! Somos fruto do pecado de Drácula!

–         Então é assim? Pois morrerão os dois!

Porém, nesse instante, a ponta de uma estaca brotou no peito de Alfredo, fazendo com que sangue escorresse de sua boca. O corpo do radical veio ao chão, já virando pó, enquanto a imagem do abade do mosteiro surgia na frente dos dois heróis. Fora ele quem os salvara do traidor.

–         Vocês estão bem? – perguntou o religioso.

–         Sim, senhor abade – respondeu Adams.

Mas Isabela não sentia o mesmo. Após tanto tempo amando aquele vampiro, ela descobrira que na verdade não sabia nada sobre ele. Ao mesmo tempo, porém, uma chama de esperança acendeu-se em seu coração, e a moderada exclamou:

–         Vamos ajudar Jorge e os outros, rápido!

Logo que deu o primeiro passo dentro da capela, uma enorme dormência tomou o corpo de Basílio. Sabia que se ficasse ali dentro por muito tempo perderia todos os seus poderes, portanto teria que agir rápido.

Com Luíza ainda dormindo em seus braços, o vampiro começou a caminhar pelo corredor principal na direção do altar. Conforme se aproximava dele a dormência aumentava, e logo se transformou numa incômoda dor em todo o corpo. Era loucura o que estava fazendo, mas era em nome do sucesso do levante.

Chegando ao altar, Basílio deitou Luíza no chão e limpou com as mãos o que havia sobre a mesa, derrubando castiçais e outras peças religiosas no chão com violência, fazendo grande barulho. Em seguida deitou a namorada de Fernando sobre a mesa do altar, livrando-a das cordas e da mordaça, vendo que ela tinha um leve sorriso no rosto. Seu pesadelo devia ter se transformado em agradável sonho.

–         Tão linda... – suspirou Basílio. – Bem que poderia ser uma radical!

E, ainda fitando a beleza da jovem, o vampiro tirou um bonito e ornamentado punhal de metal de baixo da jaqueta.

–         Mas o sacrifício deve ser oferecido!

Ergueu então a arma sobre o peito da jovem, com suor na testa, mas quando ia cravá-la no corpo de Luíza, alguém gritou da entrada da capela:

–         Não!

Basílio virou-se e viu Jorge, lhe apontando a espingarda calibre 12. Com os dentes cerrados de fúria, o moderado disparou contra o radical, enquanto caminhava em sua direção pelo corredor central. E de novo, e de novo...

Assim as balas da arma se esgotaram, e Basílio, imune, gargalhava enquanto os ferimentos provocados pelos tiros desapareciam sob as vestes perfuradas. Ele exclamou:

–         Pensa que pode me vencer assim, moderado imbecil?

–         Eu vou te matar, Basílio! – gritou Jorge, já de frente para o radical no altar, jogando longe a espingarda sem balas.

–         É a última vez que interferirá em meus planos, seu impertinente! – berrou Basílio, mergulhando o punhal na pia de água benta que havia no altar. – Vou acabar com sua linhagem nojenta!

O líder radical, num movimento rápido, agarrou um dos ombros de Jorge fortemente com uma das mãos e, com a outra, ergueu o punhal a poucos centímetros de seu pescoço.

–         Ele está ensopado de água benta! – riu Basílio. – Algum último pedido?

–         Vá se danar!

Jorge, porém, conseguiu libertar-se dando um chute no abdômen do adversário. Basílio reagiu, atacando com o punhal, que atravessou a jaqueta do moderado. E desta vez ele atingiu tecido vivo, fazendo espirrar sangue em seu rosto. O radical, sorrindo, lambeu as gotas rubras que voaram sobre seus lábios e enterrou ainda mais o punhal, enquanto Jorge sorria estranhamente.

–         Morra, seu maldito! – exclamou Basílio.

O moderado, porém, não virou pó. Basílio ainda segurava o punhal, enterrado no que pensava ser o corpo de Jorge, enquanto este começava a rir, e suas risadas em pouco tempo se transformaram em gargalhadas. Intrigado e ao mesmo tempo enfurecido, Basílio livrou o punhal sujo de sangue, enquanto Jorge levantava a jaqueta furada e mostrava ao radical no que ele havia fincado sua arma.

–         Meu Deus! – berrou Basílio, desesperado.

O coração de “Manuel Maligno”, preso através de um suporte de pano ao peito de Jorge, parava aos poucos de bater, ferido em cheio pelo punhal do radical, perdendo sangue sem parar. Em seguida começou a enegrecer, e subitamente transformou-se em pó, que caía sobre a roupa de Jorge e no chão.

–         Parece que você conseguiu estragar tudo, não é, Basílio? – sorriu o moderado, entre gargalhadas.

Basílio, desnorteado, atirou o punhal no chão e cobriu o rosto com as mãos. Sua cabeça começou a doer intensamente, parecia que ia explodir, enquanto um insuportável zumbido tomava sua mente. Com lágrimas de desespero nos olhos, o líder dos radicais sentou-se sobre um dos degraus do altar, enquanto Jorge reanimava Luíza:

–         Você está bem?

–         Mas... O que houve? – indagou a jovem, acordando com um bocejo.

–         Depois eu explico, agora vamos encontrar os outros!

O moderado começou a correr pelo corredor central, puxando Luíza, enquanto, no altar, Basílio se levantava.

Jorge e Luíza deixaram a capela, olhando uma última vez para o radical no altar. Este apanhou o punhal do chão e, imóvel, começou a pensar nas profecias de Drácula:

Se durante a rebelião ela for capturada e então oferecida em sacrifício a mim, com uma adaga fincada em seu coração no altar de uma igreja, simbolizando a derrota daqueles de nossa raça que não me seguem, a revolta se espalhará além dos limites da região onde teve início e os vampiros conquistarão o mundo. Mas se ela não for oferecida em sacrifício dessa exata maneira, o levante ficará restrito apenas à localidade onde começou, e seu comandante será condenado para sempre à vergonha.

Basílio havia colocado tudo a perder. Ele destruíra o coração de seu antepassado, e agora o levante estava condenado ao fracasso. Mas ele não conseguiria suportar a vergonha. Não, a vergonha não! Ele não agüentaria ser apontado como o grande inútil da sociedade dos radicais, aquele que poderia ter mudado tudo para eles e fracassou imbecilmente. Ele já temia aquilo. De certa forma já sabia que algo de mau aconteceria naquela madrugada. Não, ele não suportaria ser apontado por todos os vampiros como um inútil! Era preferível a morte!

Com lágrimas nos olhos de vergonha e tristeza, Basílio mergulhou novamente o punhal na pia de água benta. Com a arma embebida com o líquido, murmurou:

–         Adeus, maldito mundo dos humanos!

E, fechando os olhos, enterrou o punhal em seu peito.

Imediatamente o corpo do radical transformou-se num monte de pó, ao mesmo tempo em que Natália, que vira a cena, corria desesperada até o altar, vinda dos fundos da capela.

–         Não, amor! Não!

Se Basílio se matara, ela também preferia morrer. Também seria apontada como inútil por todos os vampiros, e não suportaria viver longe de seu amor. Apanhando o punhal, ela o mergulhou outra vez na pia de água benta e, gritando, cravou-lhe em seu ventre, seu corpo evaporando ao lado dos restos do amante.

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Continua... 


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