Uma Revelação

O segundo período das aulas havia terminado. Os alunos ruidosamente abandonavam a escola. A classe 4-B do segundo colegial do Colégio Kanagakura estava vazia, exceto por uma única aluna, que estava sentada em sua carteira e lançava um olhar vazio em direção ao quadro negro. A luz morna e preguiçosa do fim da tarde de primavera preenchia a sala de aula e dava a impressão de que a cena havia sido tirada de uma antiga foto, já amarelada pelo tempo.

A mesa da garota estava vazia, todo o material já estava guardado na bolsa, ou melhor dizendo, ainda estava guardado na bolsa, pois durante o dia todo a garota não havia tirado um único caderno de dentro. O barulho dos alunos logo dissipou e o silêncio tomou conta da escola. A porta da sala se abriu lentamente e uma garota de longos cabelos castanhos entrou na sala. Ela carregava uma pasta e alguns livros escolares sob o braço. Então ajeitou os óculos sobre o nariz e disse:

- Kairi, tudo bem com você?

- Hm. - respondeu afirmativamente, com os olhos ainda voltados para o quadro negro.

Lina piscou de surpresa. Há duas semanas nem um único som havia saído da boca de sua amiga. O resmungo definitivamente era um avanço.

- Então vamos?

Kairi se levantou da carteira, pegou sua bolsa e caminhou em direção à saída. Ela era alguns centímetros mais alta que Lina, que por sua vez era a segunda garota mais alta do grupo. Lina observou que os cabelos negros longos e lisos de Kairi davam a impressão de que ela era ainda mais alta. Subitamente Lina sentiu que estava difícil respirar, seu peito parecia estar sendo comprimido de fora para dentro. Então percebeu que ela estava sendo esmagada pela lembrança de Mai. Apesar de todas terem a mesma idade, Mai parecia uma criança do ginásio com aquele corpo pequeno e os grandes olhos azuis. Os mesmos olhos que, naquela noite, há duas semanas, já não tinham mais vida nenhuma. A lembrança do funeral de sua melhor amiga ainda estava presa à sua memória e aquela batalha parecia ter acontecido ainda ontem.

Lina admirava o otimismo de Mai. Sempre que lutavam contra algum inimigo que parecia ser invencível, Mai dizia "Não se preocupe, vai dar tudo certo no final." com um largo sorriso. E então tudo dava certo. Mas não daquela vez. Naquele dia deu tudo errado. Elas estavam vencendo o demônio, faltava muito pouco. Mas então veio a fumaça e os tiros, muitos deles, pareciam vir de todos os lados. Mai estava à frente, tentando organizá-las. Então veio a explosão, o chão rachando e as árvores se curvando. E, finalmente, a dor e a escuridão.

- Hm? - murmurou Kairi.

Lina despertou com a mão de Kairi sobre seu ombro. Aquele indecifrável olhar esmeralda de alguma forma a acalmou e a ajudou a reprimir um soluço. Ela tirou os óculos, limpou os olhos com as costas da mão e recolheu seus livros que haviam caído no chão.

As duas caminharam juntas até a entrada da estação de metrô, onde se despediram. Lina continuou caminhando em direção à sua casa, com os olhos voltados para o chão. Talvez fosse apenas sorte ou talvez algum sentido mágico a tivesse alertado. De qualquer forma, ela parou para olhar um velho jornal dobrado no chão. Estava aberto na seção de classificados e um anúncio imediatamente chamou sua atenção: "Caçadores de Garotas Mágicas".