Garotas Mágicas escrita por RTM


Capítulo 13
Capítulo 13 - Sorria, sorria




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Sorria, sorria

Haviam poucas pessoas sentadas na sala de espera do hospital. Uma fraca luz branca iluminava o ambiente e jogava sombras cinzentas nas paredes e no chão. Kazumi estava de pé, ao lado da máquina de café expresso. A cada cinco minutos ela tirava uma moeda do bolso e enchia mais um copo. A teimosia de Kazumi já havia vencido a insistência das enfermeiras em fazê-la se sentar e descansar. O programa de amenidades que passava na televisão da sala de espera apenas lhe servia para aumentar a impaciência.

Um homem alto de jaleco branco apareceu saindo de um corredor. Ele caminhou da direção de Kazumi. Tinha uma prancheta de anotações sob o braço e óculos redondos. Ajeitando os óculos sobre o nariz ele disse:

- Seu amigo está passando bem. Ele teve alguns arranhões, uma concussão e tivemos que suturar um corte em sua nuca, mas amanhã à tarde ele deverá ter alta.

Kazumi nada respondeu, apenas virou as costas para o médico e saiu da sala de espera, indo na direção da saída do hospital. Na porta de saída ela trombou de ombro com uma garota que entrava no hospital. Kazumi se desculpou mecanicamente e saiu andando apressadamente para pegar um táxi que acabara de chegar. A garota não disse nada, nem sequer pareceu se importar com o incidente, apenas deu uma rápida olhada com seus olhos verdes e em seguida andou até o balcão de informações.

Com muita preguiça o taxista ligou o rádio e se dirigiu para a avenida. Kazumi não pareceu se importar com a lerdeza do trânsito caótico, apenas cruzou os braços e olhou pela janela. Seus olhos acompanhavam a geografia da cidade. Quanto mais se aproximava do centro, mais altos eram os prédios e mais pessoas lotavam as calçadas. Em breve os estudantes também voltariam para casa, o último período de aulas estava acabando. Kazumi teria que voltar na escola Ishida na manhã seguinte se quisesse concluir o serviço. O rádio estava tocando a música "Sorria, Sorria" de Pretty Light Sugar, uma garota mágica que recentemente virou ídolo pop.

Não fique triste assim,
Dê um sorriso pra mim.
Não deixe essa dor
Invadir seu coração.
Segure a minha mão.
E sinta o calor do amor.


Se tivesse alguma coisa jogável por perto Kazumi certamente teria arremessado direto na cabeça do taxista. A música nauseamente doce quase a fez ter vontade de acabar com a raça da Pretty Light Sugar de graça. O pior é que a música havia chegado ao primeiro lugar em todas as rádios do Japão e já não havia nenhum lugar que não tocasse a música. Kazumi suspirou profundamente e tentou se acalmar e não prestar atenção na música, mas os versos pareciam estar abrindo um buraco em seus tímpanos para chegar até seu cérebro, como aquelas músicas chatas que ficam semanas na sua cabeça e não saem até você encontrar uma outra música chata para tomar o lugar.

Enquanto isso, Ryo estava deitado no leito do hospital. O cheiro de produtos de limpeza e álcool hospitalar já estava deixando-o com dor de cabeça. No mesmo quarto haviam outros três pacientes, dois deles estavam dormindo e o outro fazia palavras cruzadas. Não havia nenhuma televisão no quarto, apenas camas, cadeiras e as cortinas que separavam os leitos. Era possível ouvir o zumbido suave do sistema de ar condicionado do hospital. Ryo não podia acreditar em como foi derrotado tão facilmente. Ele podia até fechar os olhos e imaginar o rosto de Kazumi rindo da cara dele. Mas não foi o rosto de Kazumi que ele viu quando abriu os olhos.

Sentada numa cadeira ao lado da cama estava uma garota, de aproximadamente 15 anos, vestindo uniforme colegial. Ela tinha a pele bem clara, longos cabelos lisos e negros que caíam sobre seus ombros e olhos verdes. Era bela, mas diferente da beleza que se encontra em garotas colegiais, ela tinha uma beleza elegante e intimidadora. Ryo se assustou com a aparição repentina e sem aviso e sentou-se na cama.

- Quem é você? O que faz aqui? - Ryo parecia desorientado por ter se levantado tão rápido.

A garota olhava para ele com uma expressão neutra. E então ela falou, com uma voz que dava a entender que ela estava entediada:

- Sou uma das Guardiãs de Tóquio. - disse, em uma voz monotônica.

- O quê? Como?

A garota lhe lançou um olhar que poderia significar tanto "Você é burro ou o quê?" quanto "Você está se sentindo bem?". Foi então que Ryo percebeu a semelhança entre a garota que estava sentada ao lado da cama e uma das garotas mágicas que haviam destruído o escritório. Ryo se sentiu ainda mais desconfortável e imaginou se aquela garota tinha vindo para terminar o serviço do outro dia.

- Como você entrou aqui?? - perguntou Ryo. - Já passou do horário de visitas.

- Magia.

- E o que você quer comigo?

- Não vim matá-lo. - respondeu a garota, ao perceber o olhar desconfiado de Ryo. - Só vim ver como você está.

- Espera... Será que eu entendi direito? Num dia vocês querem me fritar vivo e no outro querem saber da minha saúde?

- Não entenda errado. Nós ainda vemos você e sua parceira como ameaças assassinas que devem ser destruídas.

- Mas então por que essa súbita gentileza? - Ryo disse, parecendo ainda mais desconfiado.

- Vamos monitorar suas ações. - a garota respondeu. - Você e a sua parceira.

- Como assim? Que quer dizer com isso?

- Vamos seguir vocês para ter certeza de que vocês não causarão mal a nenhuma garota mágica.

- Quê?? - Ryo quase saltou da cama. - Vocês vão nos impedir de fazer nosso serviço?

A garota deu um olhar afirmativo. Ryo levou as mãos ao rosto e respirou fundo. Se isto fosse um pesadelo, acabaria assim que ele acordasse. Então ele mordeu a própria língua e sentiu muita dor. Infelizmente não era um pesadelo.

- Estou encarregada de seguir você e sua parceira pelas próximas duas semanas. - a garota disse, sem nenhuma emoção na voz.

- Ah, não... E você vai nos seguir em qualquer lugar? Até no banheiro?

- Vou segui-los apenas durante as suas missões.

- Mas você não tem que ir pra escola, estudar??

- Depois faço reposição.

- Tá... então me faz um favor? - disse Ryo, desanimado. - Me traz um copo de café... ou uma cerveja.


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