Garotas Mágicas escrita por RTM


Capítulo 12
Capítulo 12 - Caçadores caçados




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Caçadores caçados

O dia amanheceu nublado, mas a chuva irritante já havia desistido de castigar a cidade. Kazumi e Ryo estavam em frente à Escola Primária Ishida, vendo as crianças da primeira a quarta série entrarem sonolentas e preguiçosas, carregando as lancheiras na mão e as mochilas nas costas. Logo também chegaram os estudantes de quinta a oitava série, um pouco mais animados. Um tempo depois o sinal tocou e o pátio de entrada ficou vazio. Ryo deixou escapar um longo bocejo e então virou-se na direção de Kazumi:

- Por que temos que vir aqui tão cedo?

- Segundo o relatório do Mashida-san, a garota sempre aparece entre as seis e as onze horas da manhã. Você não leu os papéis?

- Não tive tempo. - respondeu Ryo, bocejando novamente. - Só vi as fotos dela.

- Olá pessoal!

Ayumi apareceu correndo, acenando alegremente. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ela vestia calça e blusa de moletom vermelho. Ela tirou os fones dos ouvidos e guardou junto com o tocador de mp3 dentro do bolso da blusa.

- O que faz aqui? - perguntou Kazumi. - Você não tem aula?

- Tenho, mas pedi pros meus pais ligarem pra escola avisando que eu estava doente.

- E eles fizeram isso sem reclamar? - perguntou Kazumi.

- Sim. - Ayumi deu um sorriso maroto. - Eles sabem que eu me tornei uma garota mágica e me apoiam totalmente. Então eu disse que eu tinha uma missão muito importante hoje e eles me deixaram vir.

- Hum... e você não se sente mal enganando seus pais? - Ryo perguntou, depois de outro bocejo.

- Eu não estou exatamente enganando eles. - disse Ayumi, as bochechas corando levemente. - Eu só não disse que tipo de missão eu ia fazer.

- Mas é isto que eu chamo de enganar. - retrucou Ryo.

- Ora, deixe a pobre garota. - disse Kazumi, colocando a mão sobre o ombro de Ryo. - Uma pequena mentira não vai fazer mal nenhum. Além disso, você mesmo disse que nós poderíamos precisar da ajuda dela nessa missão.

- É mesmo? - perguntou Ayumi, interessada.

- Bom, pode ser um bom teste para as suas habilidades. - respondeu Kazumi. - Não concorda, Ryo?

- É, tá certo. - Ryo suspirou. - Mas, me diz uma coisa. Por que você está vestida assim?

- Ah, é que eu gosto muito de correr de manhã. - Ayumi respondeu sorrindo. - Eu faço parte do time de maratona do colégio.

- Sorte sua. - disse Kazumi, sem empolgação.

- E então... O que vamos fazer? - perguntou Ayumi.

- Vocês duas, esperem aqui. - respondeu Ryo, se afastando - Eu vou comprar alguma coisa pra beber e já volto.

- Ahn... que chato. Vamos ter que ficar aqui esperando até a menina aparecer? - Ayumi parecia desapontada.

- Nem tudo no nosso trabalho envolve ação. - Kazumi respondeu.

Ayumi suspirou, pôs a mão no bolso da blusa e pegou os fones. Então parou e olhou para Kazumi.

- Que foi? - Kazumi perguntou.

- Nada. É que... Posso fazer uma pergunta?

- Vai em frente. - Kazumi cruzou os braços e encostou as costas na parede.

- Por que você virou uma caçadora de garotas mágicas?

- É um emprego legal, pagam bem, muita emoção, essas coisas. - Kazumi respondeu, entretida observando os carros passarem na rua.

- Não é isso. - disse Ayumi. - Eu quero saber o que fez você virar uma caçadora.

- É pessoal. - Kazumi respondeu como se estivesse finalizando a conversa.

Ayumi então olhou pro chão, pensativa. Depois de um tempo voltou-se pra Kazumi:

- E sobre o Ryo?

- Que tem ele?

- Sabe por que ele virou um caçador?

Kazumi abriu a boca para responder, mas então parou. Ela também não sabia porque Ryo tinha escolhido se tornar um caçador de garotas mágicas. Nunca lhe ocorrera perguntar isto a ele. É claro que ele era útil para carregar peso, sabia organizar as coisas muito bem e seus conselhos geralmente eram bons, mas tirando isso, ele não tinha o necessário para ser um caçador. Ele não era um bom atleta, não sabia atirar muito bem e era bonzinho demais.

- Pergunte pra ele quando voltar. - Kazumi respondeu ao notar que Ayumi ainda esperava sua resposta.

- Hum, tá.

Ayumi não parecia muito satisfeita com a resposta. Ela guardou os fones de volta no bolso do moletom voltou a fixar seu olhar em Kazumi.

- Mais alguma pergunta? - Kazumi perguntou, parecendo incomodada.

- Ah... bem... - o rosto de Ayumi ficou levemente corado. - Ryo e você estão... saindo juntos?

"Ora, ora...", Kazumi pensou, "Quem diria que Ryo despertaria esse tipo de interesse em uma adolescente? Vai ser divertido ver a reação dele..."

- Ah, claro que não. - Kazumi respondeu sorrindo. - Nós somos só colegas de trabalho.

Ayumi sorriu, parecendo aliviada com a resposta. Então pôs os fones nos ouvidos e começou a murmurar baixinho uma música que estava ouvindo. Algum tempo depois Ryo voltou e passou um copo de café pra Kazumi e uma lata de refrigerante pra Ayumi. Ele então ergueu uma sobrancelha ao notar o sorriso malicioso no rosto de Kazumi. Ela abriu a boca pra dizer alguma coisa, mas parou na metade. Subitamente seu sorriso sumiu e a pele do rosto empalideceu. Ryo fez menção de virar-se para olhar, mas sentiu uma forte pressão na nuca. Sua visão ficou turva e ele sentiu que seu corpo estava se movendo em direção ao chão contra sua vontade. Ele ouviu Ayumi gritar e tiros sendo disparados. E então o mundo apagou ao seu redor.

Kazumi não esperava que este fosse um trabalho simples, mas nunca imaginaria que algo assim poderia acontecer. Ryo estava totalmente indefeso, caído no chão, Ayumi estava paralisada de medo e não seria capaz de ajudar e os três estavam cercados contra a parede. Na sua frente três youmas haviam materializado do nada. Provavelmente eram da mesma raça, pois eram igualmente feios e mal cheirosos. Eles tinham vários olhos espalhados aleatoriamente pela cabeça mas nenhum nariz, orelha ou boca. A pele deles era verde amarelada e parecia com a casca de uma árvore. Seus braços eram longos e quase chegavam a tocar no chão.

Kazumi disparou vários tiros contra os youmas, mas nenhum deles parecia ter feito qualquer estrago em sua pele dura. Enquanto atirava, Kazumi tentou pensar em alguma estratégia para tirar Ayumi e Ryo dali, mas não conseguiu nada. Ela puxou sua outra pistola do casaco, mas os tiros refletiram inutilmente nos youmas. Subitamente um relâmpago azul nocauteou um dos youmas, jogando os outros dois longe. "Ah, não...", Kazumi pensou, "Que não seja uma garota mágica, por favor!".

E não era. Kazumi olhou para o alto e viu uma criatura pequena e de formato bizarro voando no ar. Demorou alguns segundos para identificar a criatura como um esquilo voador, daqueles que, quando abrem os braços, uma parte da pele se estica como se fosse uma asa delta. Os olhos do esquilo emitiram um brilho azul e então um outro relâmpago atingiu mais um youma.

- Ei ! Idiota! - o esquilo gritou do alto, olhando na direção de Kazumi. - Dá uma ajuda aí!

Kazumi, que estava paralisada de surpresa, voltou a olhar na direção dos youma. Os relâmpagos não pareciam ter tido efeito sobre eles, pois estavam começando a se levantar. Kazumi mirou sua pistola na direção de um deles e atirou. O youma parecia tão surpreso quanto Kazumi, pois ele parou e olhou para o próprio peito, onde um líquido verde vazava de um pequeno buraco feito pela bala. Kazumi se recobrou da surpresa mais rápido que o youma e deu um segundo tiro, que entrou direto na cabeça. Os outros youmas, vendo seu companheiro caindo no chão, correram rapidamente na direção de Kazumi, mas não foram mais rápidos que os tiros disparados pelas duas pistolas.

Depois de se certificar que os três youmas deitados no chão não se levantariam novamente, Kazumi olhou para cima, mas não havia nenhum sinal do esquilo voador falante. Ela então olhou para o lado e viu que Ayumi ainda estava paralisada de medo.

Um minuto depois uma viatura policial chegou no local. A ambulância chegou logo em seguida.


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