Garotas Mágicas escrita por RTM


Capítulo 14
Capítulo 14 - Pacto Mágico




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Pacto Mágico
 

TOK

Uma seta vermelha atingiu o quadro de madeira. Não estava exatamente no centro do alvo, mas bem próximo. Kazumi suspirou e esticou o braço para pegar mais um punhado de dardos da gaveta da escrivaninha. "Até que este jogo não é ruim.", pensou.

TOK

TOK

"É, parece que só amanhã vou poder fazer alguma coisa em relação ao nosso novo trabalho. Talvez eu devesse ler com mais atenção os relatórios que o cliente fez do nosso alvo."

TOK

"Ou talvez as informações que ele deu estivessem erradas... Por que é que apareceram youmas e nenhuma garota mágica? Eu sempre imaginei que as garotas mágicas tivessem um radar mágico ou alguma coisa do tipo pra sentir a presença de youmas."

TUK

Agora havia um ponto vermelho preso na parede, fazendo companhia a muitas outras setas que se espalhavam ao redor do quadro redondo preso na parede. "Realmente não foi uma boa idéia levar Ryo junto, talvez tivesse sido melhor ele ficar escondido em algum lugar..."

TOK

O dardo acertou em cheio o centro do alvo. Kazumi sorriu de satisfação e esticou o braço para pegar mais dardos, mas a gaveta estava vazia. Foi então que alguém bateu à porta.

- Entre. - disse Kazumi, voltando rapidamente à sua cadeira, atrás da escrivaninha.

- Hum... Olá. - disse Ayumi ao abrir a porta.

- Ah, é você. - Kazumi inclinou a cadeira para trás e pôs os pés sobre a mesa. - Seus pais deixaram você sair hoje?

- Sim. - disse Ayumi, corando levemente.

- Hum, sorte sua. - Kazumi deu um sorriso malicioso. - E suponho que você não contou a eles sobre o que aconteceu ontem.

- Eu contei. - Ayumi corou ainda mais. - Quer dizer, eu não contei tudo. Eu só confirmei a história que os policiais contaram.

Kazumi sorriu sarcasticamente, lembrando-se dos acontecimentos do dia anterior. Depois da luta contra os youmas, Kazumi passou meia hora conversando com os policiais. Eles já estavam acostumados a lidar ataques de youmas e iriam iniciar os procedimentos padrões. Primeiro seria feito um exame médico para checar por ferimentos físicos. Obviamente Ryo foi automaticamente reprovado neste teste. Em seguida seria realizada uma entrevista para verificar se houve algum dano mental. Ayumi provavelmente não teria passado neste teste, do jeito que estava paralizada de medo. E finalmente os policiais chamariam uma garota mágica para checar se havia restado algum resíduo maligno dos youmas sobre as vítimas. Mas Kazumi tinha vários contatos dentro do Departamento de Polícia de Tóquio. Três telefonemas foram suficientes para convencer os policiais de que os procedimentos padrões não seriam necessários. Enfim, uma viatura levou Kazumi ao hospital onde Ryo estava seria tratado e outra viatura levou Ayumi para casa.

- Então seus pais realmente acham que você ajudou a derrotar o youma? - perguntou Kazumi.

- Bom, foi a história que você contou aos policiais, não foi?

- É, eu sei. Então você não contou aos seus pais sobre como você falhou miseravelmente em lutar contra os youmas? - Kazumi perguntou provocativamente.

- Eu não tive nenhum treinamento pra isso, tá bom? - disse Ayumi irritada.

- Tá, entendi. Então como você espera poder trabalhar conosco se você nem sabe usar seus poderes?

- Eu... não sei. - Ayumi baixou a cabeça, pra esconder o rosto vermelho.

- Heh. Não precisa ter vergonha disso. - Kazumi levantou-se da cadeira e foi até a parede espetada por dardos. - Ninguém nasce sabendo das coisas. Por que você não pede pro seu mascote te ensinar uns truques?

- Eu não sei onde ele está...

- Mas você não tem um tipo de conexão mágica com ele ou algo do tipo?

- Não sei. Eu nunca tentei usar magia.

- Acho que é uma boa hora pra tentar. - Kazumi disse, devolvendo todos os dardos pra gaveta.

Ayumi balançou a cabeça afirmativamente, pôs a mão dentro do bolso e tirou a varinha. Kazumi notou que o bolso era pequeno demais para guardar a varinha, mas decidiu não perguntar, pois nada era impossível quando se tratava de magia. Uma forte luz cobriu Ayumi e segundos depois ela estava usando o uniforme branco e prateado.

- E então? Você sente a presença dele? - Kazumi perguntou, resistindo ao impulso natural de puxar a arma de dentro da jaqueta.

Ayumi fechou os olhos e respirou fundo. Alguns momentos depois ela abriu os olhos e disse:

- Não sei o que fazer. Eu não senti nada diferente.

- Ah, vamos lá... Deve ter algum truque pra fazer isso.

Kazumi passou a mão pelos seus cabelos, um gesto que sempre fazia quando tentava solucionar um problema. Ela se lembrou dos seus vários encontros com garotas mágicas e seus mascotes. Geralmente eles sempre andavam juntos, mas algumas vezes Kazumi viu as garotas mágicas chamando pelos mascotes. Ela fez um esforço para tentar se lembrar de como elas faziam isso.

- Já sei! Tente usar a varinha pra chamar seu mascote. Segure a varinha e chame pelo nome dele.

Então Ayumi fez o que Kazumi mandou. Ela ergueu a varinha no ar e se concentrou. A ponta da varinha começou a brilhar. Ayumi sentiu o brilho morno da varinha correndo pelo seu braço, chegando até a sua nuca. Então sentiu as palavras saindo involuntariamente da sua boca:

- Tame-kun, pelo pacto selado entre nós e validado pelos Senhores da Magia, eu te invoco.

Um pequeno fio de luz saiu da ponta da varinha e se contorceu no ar. Dando giros e voltas um contorno de luz foi revelando uma forma familiar. Quando o brilho desapareceu, o mascote surgiu na frente de Ayumi.

- Idiota! Por que me chamou aqui? - perguntou o mascote, pulando no ombro da garota mágica.

Kazumi imediatamente percebeu a semelhança. O mascote de Ayumi era exatamente igual ao esquilo mágico que havia a ajudado contra os youmas. Até mesmo a falta de educação era a mesma quando ele continuou a falar:

- Não foi você quem disse que não queria ser garota mágica? Por que não pode me deixar em paz?

- Você não acha que está sendo mal-educado? Devia se apresentar primeiro. - disse Kazumi, erguendo o esquilo no ar, puxando-o pela pele sobre a nuca.

- Ei, me larga! Quem você pensa que é? - o esquilo ficou ainda mais agitado. - Espera. Você é aquela tosca que eu ajudei ontem, não é?

Kazumi tirou uma pistola de dentro da jaqueta e apontou para o focinho do esquilo. Ele pareceu ter compreendido a situação, pois ficou mais calmo e parou de se debater.

- Muito bem. - disse Kazumi, sorrindo. - Seu nome é Tame-kun, certo?

O esquilo balançou a cabeça afirmativamente.

- Meu nome é Kazumi. Eu tenho um débito com você pela ajuda de ontem e é por esta razão que eu ainda não abri um buraco nessa sua cabeça de esquilo, entendeu?

Tame balançou de novo a cabeça e olhou na direção de Ayumi como se pedisse por ajuda.

- Tudo bem. Agora que estamos entendidos, que tal você fazer as pazes com a Ayumi? Afinal, se vocês vão trabalhar juntos, é melhor que sejam amigos, não é? - Kazumi devolveu a pistola para dentro da jaqueta.

Tame pulou de volta no ombro de Ayumi, que parecia um pouco embaraçada com a situação.

- Você disse que vamos trabalhar juntos? - Tame perguntou para Kazumi.

- É claro. Você sumiu sem dar o devido treinamento a ela.

- Mas eu pensei que ela não queria...

- Agora ela quer, não é Ayumi? - Kazumi piscou para Ayumi.

- É. - Ayumi respondeu. - Eu quero saber como usar estes poderes de garota mágica.

- Você que se vire sozinha pra descobrir como usar os poderes. - Tame-kun disse, em tom de desaprovação. - Não vou ensinar você a caçar outras garotas mágicas.

- Se você não liga pra Ayumi, então por que nos ajudou ontem contra aqueles youmas? - Kazumi perguntou, desconfiada.

- Eu não queria, mas fui obrigado a ajudar. - Tame respondeu. - Ela e eu temos uma ligação mágica, sabe? Se ela de repente morrer, vai haver conseqüências pra mim. Eu quero mais é que ela fique bem longe dos problemas e vida sua entediante vida comum.

- Sinto muito, mas isso não vai acontecer. - Kazumi disse. - Ela vai trabalhar conosco e vai continuar se envolvendo em situações perigosas. Se você não quer que ela morra, é melhor que ensine a ela como sobreviver.

Tame-kun suspirou e olhou para Ayumi, que até o momento estava calada e de cabeça baixa. Então ele sussurrou em seu ouvido:

- Tem certeza que quer isso? Você vai usar sua magia pra machucar outras pessoas, sabia disso? Usar a magia dessa forma é um caminho sem volta.

Ayumi respondeu afirmativamente, balançando a cabeça levemente, ainda sem tirar os olhos do chão.

O esquilo parou alguns momentos para pensar. Kazumi cruzou os braços e esperou impacientemente. E então Tame-kun saltou do ombro de Ayumi e permaneceu flutuando no ar.

- Está bem. Vou treiná-la. - disse o esquilo. - Mas já vou avisando que isso terá um preço.

- Ah, é? - Kazumi parecia surpresa. - E quanto teremos que te pagar?

- O preço não será pago a mim. - Tame respondeu. - Quem vai pagar o preço é Ayumi.

- O quê? - Ayumi finalmente conseguiu falar alguma coisa. - O que eu vou ter que pagar?

- Você está escolhendo um caminho diferente do que as garotas mágicas seguem. - Tame disse, em um tom abatido. - Este caminho vai cobrar um preço de você. Eu não sei qual é este preço, pois eu não sei de nenhuma história de alguma garota mágica que escolheu um caminho diferente do normal. Mas eu sei que pra tudo existe um preço a ser pago quando se trata de magia.

Ayumi parecia perturbada. Ela então olhou nervosamente pra Kazumi.

- Ei, é você quem deve decidir. - Kazumi disse.

Então Ayumi abaixou a cabeça e mordeu os lábios. Ela já não tinha certeza se queria continuar trabalhando com Ryo e Kazumi, tudo o que ela sempre quis foi viver uma vida normal. Se ela aceitasse o treinamento, poderia dar adeus à sua vida de estudante comum. Mas por outro lado ela poderia simplesmente pedir para Kazumi acabar com sua vida quando a situação se tornasse insuportável.

Kazumi sentiu a tensão crescer dentro da sala. Parecia que Ayumi teria que tomar uma decisão muito importante. Ela viu a expressão de medo e indecisão estampada no rosto de Ayumi, mas então ela se lembrou de algo:

- Você não precisa fazer isso se não quiser.

- O quê? - Ayumi se assustou com a súbita interrupção que Kazumi causou em seus pensamentos.

- Existe uma maneira de você deixar de ser garota mágica. - Kazumi respondeu.

- Como!?! - Ayumi e Tame-kun exclamaram ao mesmo tempo.

- Eu não te disse antes porque achei que você poderia ser útil trabalhando conosco. - Kazumi corou levemente. - Mas existe uma saída.

- Existe mesmo? - Tame-kun perguntou, parecendo mais surpreso que a própria Ayumi.

- Sim. Na verdade é bem simples. Basta você quebrar a sua varinha.

Ayumi olhou para Kazumi com uma expressão de "você está querendo tirar sarro da minha cara?", mas Kazumi respondeu com um olhar de "é a pura verdade."

- Tame-kun. - Ayumi chamou o mascote. - Você sabia disso?

- Eu nunca ouvi falar sobre isso. - Tame respondeu, parecendo intrigado. - Mas acho que pode funcionar.

- Tá bom, vou tentar. - Ayumi disse com convicção.

Ayumi ergueu a varinha e a segurou com as duas mãos, uma em cada ponta da varinha. Então ela usou toda a força para partir a varinha com o joelho. Faíscas saltavam à medida que a varinha se dobrava contra o joelho de Ayumi. A varinha resistia bravamente à força física, emitindo faíscas em ondas pelo ar, mas finalmente a força venceu e a varinha se partiu em dois. Uma explosão de fagulhas coloridas preencheu o escritório e por alguns momentos foi impossível enxergar qualquer coisa. A nuvem de fagulhas mágicas sumiu lentamente, mas quando desapareceu por completo o escritório parecia exatamente como estava antes.

Kazumi abriu os olhos e olhou para Ayumi. Ela ainda vestia as roupas de garota mágica, porém parecia que a roupa estava se desintegrando lentamente. Quando a roupa finalmente desapareceu, Ayumi parecia ser uma garota completamente normal. Com a única exceção de que ela estava totalmente nua.

Neste momento a porta do escritório se escancarou e Ryo entrou correndo, preocupado:

- O que houve? Que brilho foi aquele?


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