Garotas Mágicas escrita por RTM


Capítulo 10
Capítulo 10 - Doce Ironia




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Doce Ironia
 

- Ai ! Droga... - Kazumi se agachou passando a mão sobre a cabeça. - Um pedaço do reboco do teto acabou de cair na minha cabeça.

- É, parece que temos perda total aqui. - respondeu Ryo, olhando melancolicamente para o que restava do escritório.

Por todos os lados só havia destruição. Todos os móveis estavam espalhados desordenadamente em pequenos fragmentos pelo chão. As janelas tinham os vidros rachados e quebrados e era um milagre que os suportes das janelas ainda estivessem inteiros. Nenhuma parede havia sido derrubada, mas haviam vários buracos e grandes pedaços de reboco faltando. Por sorte nada havia pegado fogo durante a confusão. Estranhamente, a porta foi a única parte do escritório que parecia intacta. Não havia nem uma única rachadura na parte de vidro fosco onde se lia "Kazumi & Ryo - Caçadores de Garotas Mágicas". Talvez isto pudesse significar algo positivo, mas para Kazumi este havia sido o pior dia de sua vida.

- Ei, olha aqui! - a voz de Ryo vinha do outro lado de um monte de escombros.

Kazumi caminhou até onde Ryo estava e então viu que nem tudo havia sido perdido. O armário oculto onde as armas eram guardadas ainda estava intacto. Infelizmente a porta escondida estava bloqueada por um enorme armário de madeira que havia caído no chão. Usando uma perna de uma mesa como alavanca, Ryo conseguiu afastar o armário o suficiente para abrir a porta oculta.

- Ah, se elas estivessem aqui agora... - disse Kazumi, tirando um rifle de dentro do armário oculto, embutido na parede.

- Calma. - disse Ryo, ajudando a tirar as armas de dentro. - Temos muita sorte de ainda estarmos vivos. Além disso, com armas ou sem armas, elas estariam em completa vantagem contra a gente.

Kazumi suspirou. Ryo geralmente tinha razão. Ela se ajoelhou e tirou os últimos pentes de munição do fundo do armário. Ryo saiu para buscar alguma coisa onde guardar as armas. Apesar de toda a destruição ao seu redor, ela não podia deixar de sentir uma sensação de alívio no peito. Então sentou-se no chão e resolveu revisar mentalmente tudo o que havia acontecido. O grupo de garotas mágicas chamado Guardiãs Mágicas de Tóquio achava que ela e Ryo tinham eliminado seus companheiros. Kazumi não tinha a memória excelente de Ryo, mas ela se lembrava claramente de que no último mês eles não haviam realizado nenhum trabalho além da Doce Princesa Kawaii e do recente desastre que resultou do encontro com Pretty Angel Rose. Isto só poderia significar que a concorrência estava começando a aparecer em Tóquio e também que, quem quer que fosse este novo caçador, era incompetente o suficiente para deixar o serviço incompleto. E agora ela e Ryo tiveram que pagar pela incompetência de algum novato.

A porta se abriu e então Ryo apareceu com sacos pretos na mão. Kazumi se levantou e o ajudou a pôr as armas dentro dos sacos.

- Chame um táxi, vamos levar as armas pro meu apartamento. - disse Kazumi.

- Tem certeza que é seguro? - Ryo falou em um tom de voz baixo, como se tivesse medo de que as paredes ouvissem.

- Claro que sim. - respondeu Kazumi. - Por quê?

- É que aquelas garotas mágicas podem estar escondidas em algum lugar por aí, esperando pra nos seguir e então...

- Não se preocupe. Elas já foram embora. - assegurou Kazumi. - Se tivermos sorte elas nunca mais vão voltar para nos incomodar.

Ryo tinha uma expressão de dúvida no rosto, mas como Kazumi parecia bem segura de que não havia problema, ele saiu da sala e desceu o prédio para chamar o táxi. Enquanto isso Kazumi permaneceu na sala, com o olhar perdido entre os escombros. Ela ainda não havia contado a Ryo sobre seu encontro com a Sailor Tehuty, pois ela sentia que precisava de um tempo para entender o que acontecera. Até onde Ryo sabia, as garotas mágicas simplesmente desistiram de matá-los e resolveram ir embora de repente. Mas Kazumi sabia um pouco mais...

Então ela lembrou-se de algo importante e pôs a mão dentro do bolso da calça. Sua mão puxou um colar com um pequeno cristal roxo em forma de losango incrustado em um disco metálico que parecia com uma moeda prateada. Ela segurou a corrente, ergueu na sua frente e olhou atentamente para o cristal. Apesar de não ser nenhuma especialista em jóias, o cristal parecia ter um bom valor. Além disso seu brilho não era normal, o que sugeria que havia magia envolvida. Talvez até servisse para pagar por todo o estrago que fora causado ao escritório. Mas Kazumi desistiu da idéia e resolveu guardá-lo de volta em seu bolso. Aquele colar lhe foi entregue pela Sailor Tehuty, que lhe jogara o colar e dissera "Guarde, será útil no futuro." antes de teleportar Kazumi para fora do prédio. Por que uma garota mágica lhe daria um presente? "Só se não for um presente.", pensou Kazumi. E então ela se lembrou do curto diálogo que teve com Tehuty. A garota mágica havia lhe garantido que as Guardiãs de Tóquio não voltariam mais para atacá-los. E além disso aquela garota parecia ter um grande poder mágico, o suficiente para fazer o tempo quase parar ao seu redor. Kazumi fez uma nota mental: nunca tentar atacar uma garota mágica antes de pesquisar sobre seus poderes.

Kazumi ainda estava olhando para os escombros quando Ryo voltou:

- Em uns 15 minutos o táxi vai chegar.

- Heim? Ah tá, tudo bem. - disse Kazumi, ainda distraída.

Ryo levantou uma sobrancelha e se aproximou de Kazumi. Ele olhava para ela como se tentasse ler sua mente.

- Está tudo bem mesmo?

- Ah, desculpa. Eu estava pensando em... nessa destruição do nosso escritório. Vai custar caro arrumar tudo. - Kazumi respondeu rapidamente, percebendo a preocupação de Ryo.

- Ah, isso... - disse Ryo mais aliviado. - Não se preocupe tanto. Tenho certeza de que logo vai aparecer algum bom trabalho pra gente.

Então Ryo ergueu dois sacos pretos do chão, se virou na direção da porta e então ficou de pé, parado. Kazumi percebeu e o chamou:

- Ryo, o que houv...

A porta estava aberta e na entrada estava parada uma garota que parecia ser uma adolescente. Ela vestia um uniforme colegial normal, com saia pregada que descia até as canelas. Seu cabelo era castanho e longo e as franjas cobriam dois olhos verdes. Tudo nela era completamente normal, exceto pela varinha brilhando em sua mão direita.

Ryo derrubou os sacos no chão, que caíram com um pesado som metálico. Kazumi suspirou profundamente, tirou Ryo do meio do caminho e caminhou cuidadosamente até a garota.

- Eu... ahn... - a garota parecia estar pensando no que dizer. - Então... ahn... você é a Kazumi?

Kazumi balançou a cabeça afirmativamente, ela teria que ser cuidadosa, já que acabara de ter uma experiência não muito boa com as Guardiãs de Tóquio:

- E você, quem é?

- Ahn... meu nome é Ayumi Aizawa. - a garota parecia nervosa e amedrontada.

Kazumi achou estranho que a garota estivesse se apresentando com o nome real. Por acaso isto era algum tipo de pegadinha?

- Muito bem...ahn... Ayumi-chan. - Kazumi percebeu que a garota estava olhando apreensivamente para o cenário apocalíptico que havia dentro do escritório. - Não repare na bagunça, nós estamos remodelando nosso escritório e jogando o lixo pra fora. Pra que você veio nos procurar?

- Eu... Eu preciso de uma ajuda. Eu soube que vocês lidam com garotas mágicas.

Kazumi deu um outro suspiro:

- Normalmente trabalhamos com hora marcada. Você realmente sabe que tipo de trabalho nós fazemos?

- Ahãm.

"Oh não.", Kazumi pensou. "Por favor, que não seja outra dessas garotas mágicas que tem problemas de triângulo amoroso. Eu já tive problemas demais ano passado quando uma garota mágica me pediu para eliminar uma rival que estava 'destinada a viver para sempre' com um rapaz. No final deu certo, a garota alvo morreu, assim como todo o grupo mágico dela, mas o rapaz entrou em depressão, se matou e minha cliente resolveu também fazer o mesmo e eu acabei sem o pagamento..."

- Muito bem... preciso de detalhes. - disse Kazumi com um olhar exasperado.

- Hm... aconteceu há dois meses. - a garota segurava a varinha desajeitadamente. - Eu estava aula de educação física quando um youma apareceu na rua ao lado da quadra. Então uma garota mágica apareceu e eu fui assistir a luta...

"Xii... Ela deve ser maluca. Ninguém mais assiste lutas de garotas mágicas, elas já se tornaram muito comuns e quase sempre observadores incautos são pegos no fogo cruzado." Kazumi pensou.

- Mas então um raio perdido da garota mágica me acertou.

"Ahá! Sempre algum inocente tem que pagar pela incompetência das garotas mágicas.", Kazumi sentiu um pingo de pena da garota.

- Eu pensei que tinha morrido, mas daí eu abri os olhos e vi que estava num lugar totalmente diferente. Era tudo escuro e o cheiro era insuportável, mas dava pra ver que tinha alguns youmas lá. Então eu gritei e uma luz surgiu no meio do nada e me cobriu. Então aconteceu isso...

A garota ergueu a varinha no ar. Instintivamente Kazumi recuou alguns passos, quase tropeçando em alguns pedaços de cadeira. Uma forte luz irradiou da ponta da varinha e envolveu a garota. Quando a luz sumiu a garota havia se transformado. Ainda continuava com o mesmo rosto, mas seu corpo parecia ter curvas mais acentuadas, ela parecia mais alta e tinha uma tiara prateada na cabeça. O uniforme mudou de cor para branco e prateado e a saia encolheu até virar uma mini-saia pregada. A garota fez algumas tentativas frustadas de puxar a mini-saia mais para baixo para esconder as pernas mas depois desviou o olhar para o chão, com o rosto vermelho.

- Então quer dizer que você virou uma garota mágica? - Kazumi parecia estupefata.

- Sim... mas eu não queria isso! Sério! Eu... Eu não sirvo pra ser uma garota mágica. Toda essa história de lutar pelo amor e blábláblá não me convence.

Kazumi respirou fundo. Isso seria complicado, muito complicado. E talvez perigoso.

- Escuta... ahn... Ayumi. Você sabe como é que nós cuidamos dos problemas de garotas mágicas? - Kazumi perguntou, puxando a pistola de dentro do casaco.

Ayumi balançou a cabeça afirmativamente:

- Está bom pra mim. - disse, fechando os olhos.

Kazumi olhou para Ryo. Ele parecia tão perplexo e chocado quanto ela, seus olhos estavam arregalados e seu queixo estava caído.

- Muito bem. - disse Kazumi. - Então você quer que eu te mate?

- Eu não quero continuar vivendo assim. - Ayumi respondeu. - Eu não quero lutar pela bondade e pelo amor, quero ser uma pessoa comum e viver uma vida comum. Eu amo filmes violentos, adoro artes marciais e se alguém me ofende, eu revido com um soco no meio da cara. Não quero ser uma garota mágica!

Kazumi recolheu seu queixo de volta e se recompôs:

- Olha, se existissem mais pessoas como você, meu trabalho seria muito mais fácil. - Kazumi apontou a pistola para a testa de Ayumi.

Neste momento Ryo se recobrou do choque e correu na direção de Kazumi para tentar impedi-la.

- Mas... - Kazumi continuou, sinalizando para Ryo não se aproximar - ...por outro lado, meu trabalho não seria necessário se toda garota mágica começasse a se matar por aí.

Kazumi baixou a pistola e a devolveu para dentro da jaqueta.

- Então... você não vai me matar? - perguntou Ayumi. - Por quê?

- Eu não faço trabalhos de graça. - disse Kazumi. - A taxa é de setecentos mil yens, pagos em espécie e adiantado.

- Setecentos mil?? - Ayumi empalideceu. - M-mas eu... Eu só tenho duzentos mil.

Ryo imediatamente compreendeu o plano e se adiantou:

- É uma pena. Garota, nós somos profissionais. Não podemos te matar até que você tenha pago o dinheiro. É nosso ganha-pão, entende?

- Eu nunca vou conseguir todo esse dinheiro!

- Bom, então foi um prazer te conhecer, mas não há nada que possamos fazer. Até mais. - disse Kazumi, indicando a saída para Ayumi.

- E-espera... - Ayumi parecia desesperada. - Não tem nenhuma outra maneira de pagar?

- Trabalhe pra gente. - disse Ryo.

Kazumi imediatamente olhou para Ryo como se perguntasse "Ficou totalmente insano?". Ryo respondeu com um olhar de "Não é uma boa idéia?".

- Eu não tinha pensado nisso... Então eu vou ter que... matar garotas mágicas? - perguntou Ayumi, surpresa.

- Bom, tecnicamente falando, sim. - respondeu Kazumi. Talvez fosse mesmo uma boa idéia...

- Tudo bem então. - Ayumi pareceu determinada. - Eu vou trabalhar pra vocês.

Kazumi não pôde deixar de sorrir da ironia dessa situação.


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