A data do casamento tinha sido marcada. Dentro de 2 semanas ia casar-me com um rapaz mimado e desinteressante. Depois de o conhecer senti que estava a caminhar a passos largos em direção ao abismo. Não havia química alguma, apenas a dor que sentia no peito. O Nuno já devia saber do casamento. Meu deus, espero que ele não cometa nenhuma loucura.

Pedi a uma das minhas empregadas mais fieis para lhe entregar uma carta. Será que ela a recebeu? Na carta dizia que o amava do fundo do meu coração. Pedia para ele acreditar em mim e para esperar, que apesar da notícia de me ir casar, eu tinha um plano para ficar com ele.

Cerca de dois dias depois recebi a resposta dele:

Meu querido amor,

Recebi a tua carta. Nem imaginas como fiquei destroçado ao saber do teu casamento. Não aguento mais esta distância, estou a ficar destroçado por dentro. Cada dia que passo sem ti perco um pouco do meu coração. Dizes que tens um plano… eu confio em ti e vou esperar, eu vou sempre esperar por ti. Mas por favor, tem cuidado! Teremos sempre o nosso lugar secreto.

O sempre teu,

Nuno

Chorei imenso enquanto lia a carta. Ele também estava a sofrer e isso causava-me uma dor terrível. Mas tinha de continuar, tinha de lutar para poder ficar com ele. Fui tomar banho e preparar a roupa para o dia seguinte. Em breve ia casar-me e não ia ser com o meu verdadeiro amor. A dor só aumentava a cada dia, mas as imagens do tempo que tínhamos passados juntos davam-me forças para continuar, davam-me forças para não desistir de lutar pelo meu verdadeiro amor.

Os dias foram passando, lentamente. E assim, chegou o dia do meu casamento. Logo pela manhã, o meu quarto foi invadido por várias empregadas que me iam ajudar a preparar.

– Tudo tem de estar perfeito. – disse o meu pai que tinha vindo ver como as coisas estavam a correr. – O jovem com quem vais casar é de boas famílias. É um bom rapaz que te vai fazer feliz.

– Sim, pai. – respondi baixinho, quase um sussurro. Eu tinha a tristeza estampada no rosto.

– E é bom que comeces a sorrir! – gritou. – Não quero uma noiva com cara de enterro! Este é um dia feliz para todos. Vais-te casar e eu vou poder aumentar o meu leque de negócios. Sim, é um dia muito importante. – compôs um pouco as suas roupas. - Despacha-te e lembra-te: é o melhor para todos, inclusive para ti.

Ele saiu do quarto sem intenção de ouvir a minha resposta. Claro, tudo se resumia aos negócios. Mas desta vez ia ser diferente. Não me ia submeter mais aos desejos do meu pai. Já tinha tudo planeado. Quando chega-se a hora de entrar na igreja ia fugir pelas traseira do edifício com a ajuda mesma empregada que entregou a carta ao meu amado.

Depois de estar pronta, sentei-me à frente do espelho a olhar o meu reflexo. Sem dúvida que estava linda, parecia uma princesa. No entanto, os meus olhos não transmitiam qualquer sinal de alegria. Estavam sem qualquer luz, como se aquele corpo não fosse habitado por nenhuma alma, apenas uma boneca de porcelana comandada por terceiros. Tentei fazer o meu melhor sorriso. Sim, teria de bastar.

Respirei fundo e olhei uma última vez para o meu quarto. Apesar de ter vivido momentos felizes, todo o quarto estava marcado com a tristeza. Se as paredes falassem contariam a história de uma jovem rapariga que nunca teve liberdade, que sempre se submeteu aos desejos egoístas do seu pai. Mas claro que ninguém iria acreditar, pois eu na escola sempre me mostrei feliz, animada e positiva. Pois, se as paredes falassem…

Dirigi-me à porta do quarto e iniciei o meu percurso rumo à tão desejada liberdade.