Light, O Amor Nunca Morre escrita por Nynna Days


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Oi, amores. Hoje é quinta. Dia de novo capitulo. E putz, esse capítulo vai surpreender no final.



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“Pode repetir mais uma vez o que disse?”, Nicolas pediu coçando o cabelo escuro e me encarando como se eu fosse louca. “Só para ter certeza que os CDs do AC/DC que eu escutava na adolescência não afetaram minha audição agora.”

“Você escutava AC/DC?”, Mellany perguntou sorrindo.

Nicolas também sorriu.

“Também tive minha fase rebelde.”, ele voltou a me encarar, estreitando os olhos azuis. “Mas, não vamos mudar de assunto.”, ele deu um passo a frente, me fazendo recuasse. “Você tem certeza do que está me pedindo?”

Olhei para Mellany e, mesmo por baixo da frieza que tentava demonstrar na frente do irmão, conseguia exalar a preocupação com a possibilidade de negação do irmão ao meu pedido. Continuei séria e pisquei com força, sentindo os meus olhos clareando até ficarem cinza. Vi as sobrancelhas de Nicolas se juntando, formando uma pequena ruga entre os olhos enquanto ele franzia o cenho.

“Tenho, Nicolas.”, seu nome fez minha língua formigar e meus pelos se arrepiarem, mas me mantive firme. “Quero cuidar de Mellany enquanto você estiver fora.”, pisquei novamente, sentindo meus olhos voltando á cor natural.

Ele se virou para a irmã e não disse nada por alguns instantes. Quase conseguia escutar as engrenagens funcionando em seu cérebro. Mellany fez a sua melhor expressão de inocente e piscou algumas vezes, enquanto se balançava. Nicolas bufou, talvez não vendo opção melhor. Ele tinha coisas á resolver e não queria deixar a irmã sozinha. Eu estava oferendo uma solução imediata.

“Ok.”, ele levantou as mãos, como estivesse se rendendo. Então aquele habitual e desconcertante sorriso surgiu em seus lábios. “Você que está se jogando pros cachorros.”, ele deu de ombros e deu um leve tapa em meu braço. “Eu ligarei para Erin e direi que iremos ao cartório marcar a data amanhã.”, se virou para a irmã. “Pode mostrar o quarto para Caliel?”

“O que?”

Ele me encarou e viu que eu estava confusa. Eram muitas informações de uma vez. Nicolas iria marcar a data de casamento amanhã? Meu estômago se apertou e o vento que balançou levemente os meus cabelos, tornaram o buraco em meu peito ainda mais torturante. A dor estava me deixando perdida. Mas lutei para manter o foco de tudo.

Porém... dormir ali?

Eu nem ao menos dormia.

“Desculpe, Caliel.”, Nicolas deu um sorriso sem graça e começou a mexer os pés, enquanto os encarava. “É que confio mais em Mellany quando está em um lugar que conheço.”, abriu os braços, gesticulando. “Aqui.”

“Tudo bem.”, passei a mão pelos cabelos, mostrando meu desconforto. Respirei fundo e forcei uma expressão feliz. Afinal, não era isso que os humanos sempre faziam? “Só tenho que pegar algumas roupas em casa e já me instalo aqui.”

****************************

“Padre”

Padre Joseph me viu e se levantou prontamente do sofá, fazendo o sinal da cruz logo em seguida. Fiz a minha melhor expressão angelical. Sabia que era isso que ele esperava de um anjo. Percebi que estava lendo a bíblia. Talvez se preparando para a missa de amanhã. Me sentei ao seu lado e peguei sua mão. Parecendo ver a minha apreensão se ajeitou.

“Algo está te incomodando, Anjo Caliel?”

Pensei em negar. Pensei em talvez mudar de assunto e mentir. Pensei até em ignorar e sair andando. Mas eu não conseguia mais esconder tudo aquilo que estava acontecendo. E, por um segundo cheguei bem perto de chorar.

Por todos aqueles anos que o sofrimento me consumiu e derrubou tantas penas. Por todas as vezes que as lembranças me fizeram de recém, me fazendo desejar um futuro que nunca poderia existir. Por saber o quão perto ele estava e o quão longe eu deveria me manter. Eu não tinha medo do futuro. Tinha medo do que aconteceria comigo se a dor me dominasse completamente.

Comparado com a de anos atrás, era apenas uma dor latente. Estava se escondendo no fundo de meu peito, apenas esperando o momento exato para crescer e tomar conta da minha essência, até que eu me tornasse uma alma, sem motivo para existir. E que minhas asas fossem apenas um simples objeto para lembrar á todos os humanos nossa identidade. Eu era o anjo mais humano e mais imperfeito. E quanto mais subia de cargo, mais isso ficava evidente.

“Padre.”, minha voz falhou por conta da minha garganta seca. Engoli em seco. Seus olhos castanhos se arregalaram. “Eu não sei o que fazer.”

Levantei o meu rosto, impedindo que as lágrimas caíssem. Mas a atmosfera já estava mudando, deixando o ar rarefeito nos envolvesse, provando que gesto não estava funcionando. Eu estava desabando no meu próprio desfiladeiro emocional. Era apenas fechar os olhos e perceber que estava sendo punida novamente, que não poderia fazer nada. Que aquilo sempre foi uma batalha perdida. E que o céu sempre tinha o que queria. E eles queriam anjos perfeitos.

Uma Sub Arcanjo perfeita.

“Anjo.”, Padre sussurrou, assombrado pela minha expressão de dor. Deitei minha cabeça em seu ombro, tentando acalmar minha respiração. Estava soluçando cada vez mais alto por conta das lágrimas contidas. “Deveria seguir o que sua alma, sente.”

Fechei os meus olhos, tentando me concentrar em fazer exatamente o que Joseph disse. Senti minha aura – sempre brilhante – com alguns pontos escuros, evidenciando a minha dúvida. Mas aqueles pontos eram o que estava me deixando atada á aquele humano. Tinha uma parte de mim que queria a chance de ter uma vida ao lado dele.

A quão estúpida aquela possibilidade parecia. Nicolas nem sabia o que eu era. Quem eu era. Quem eu fui. Passei a mão em meu rosto e agradeci que Aliel estava com seus amigos humanos, caso contrário ela estaria com tanta dúvida quanto eu estava agora. Respirei fundo, levantou-me do sofá. As dúvidas e a dor teriam que ficar para segundo plano.

Eu tinha uma missão e estava focada em cumpri-la por quanto tempo precisasse. Mesmo que soasse como uma desculpa para ficar mais perto de Nicolas. Escutei os passos do padre me seguindo enquanto eu ia até o quarto que dividia com Aliel e arrumava uma pequena bolsa com uma muda de roupa e um pijama que nunca usei.

“Irei passar uma noite fora, Padre.”, me justifiquei ainda sem encará-lo. “Não sei se chegarei á tempo para a sua missa. Me desculpe.”

Senti a mão dele em meu ombro e parei o meu movimento. Todos os meus membros estava tensos, expressando o que eu sentia por dentro. Mantive os olhos na pequena cama de solteiro intocada. A janela em frente estava aberta e o vento fez com alguns fios loiros saíssem do meu rosto. A poucos passos atrás estava um pequeno armário de madeira. As paredes eram brancas e impessoais.

“Não precisa se desculpar, Caliel.”, ele disse falando meu nome de forma singular – sem título – pela primeira vez. Sua voz estava séria e baixa. “Você tem que fazer o que achar certo.”

Isso me fez encará-lo.

“O que eu acho certo ou o que os céus acham certo, Padre?”, murmurei e suspirei, cansada. Olhei para a bolsa e a fechei, colocando-a em meu ombro direito. “Estarei de volta logo, Padre. Diga á Aliel que amanhã eu ligo.”

Sem esperar, eu saí do quarto. Não o escutei me seguindo e suspirei aliviada por isso. Andei até a parte de trás da casa e tirei meu casaco, tencionando as costas. A maciez de minhas asas me acolheu e me senti mais leve. Mais aliviada. Como se fosse a única coisa que fizesse sentido e fosse constante em minha vida. E sem hesitar, eu voei o mais alto possível.

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Can you imagine, no love, pride, deep fried chicken

Your best friend always stickin up for you

even when I know you're wrong

Can you imagine no first dance

Freeze dried romance

5 hour phone conversation

The best soy latte' that you ever had and... Me?

Parei no batente da porta de Mellany e a escutei. Ela estava de costas para mim, mexendo no computador de fones de ouvido. Sua voz estava soando até o meu quarto, que logo ao lado. Nunca a imaginei cantando. Nem algo que tivesse sentido. Mas ela estava digitando rapidamente enquanto as notas saindo de sua boca com a maior facilidade do mundo, tomando conta do ambiente.

But tell me did the wind sweep you off your feet?

Did you finally get the chance to dance along the light of day

And head back toward the milky way?

Tell me did you fall for a shooting star

One without a permanent scar?

And did you miss me while you were looking for yourself

Ela suspirou e desligou a música. Apenas quando tirou os fones de ouvido que reparou que estava sendo observada. Ela deu um salto de onde estava e me encarou com os olhos arregalados. Parecia que eu a havia pego em seu maior segredo. Mas aquilo era um dom. Sua voz era potente e doce ao mesmo tempo. Faria muitos anjos a invejarem.

“Você está me observando?”, Mellany disse voltando á sua usual pose auto defensiva. E aquilo incluía agredir as pessoas verbalmente. Apenas levantei uma sobrancelha. “Não deveria ter visto isso.”, ela coçou os cabelos cacheados e balançou a cabeça. “Realmente não deveria.”

Ignorei seus comentários.

“Você tem talento, Mellany.”, me desencostei, mas mantendo a distância. Não queria invadir ainda mais o território dela. “Já vi muitas pessoas que são famosas e não tem metade da sua voz.”

“Aposto que essas cantoras têm pessoas que a apoiam”, ela murmurou mal-humorada. Então suspirou. Era um pouco confuso vê-la sem aquela maquiagem pesada e de pijama cor de rosa. “Nunca cantei na frente de nenhum de meus parentes. Estou montando uma banda, sabe? Com Harper e um pessoal.”

“Austin também?”

Ela negou.

“Ele acha que é besteira.”, ela fez uma careta como se estivesse considerando aquilo. “Nunca toco nesse assunto perto dele. E Nicolas está focado em seu casamento, no trabalho e em me sustentar. Então, não é como se tivéssemos muito tempo para conversar. Eu adoraria contar, mas...”, deu de ombros. “Não é algo importante.”

Entrei em seu quarto e a encarei, séria. Era incrível como Mellany se abria com sinceridade. Precisava apenas de um pequeno gatilho e ela deixava tudo o que a estava atormentando sair. Então esse era o verdadeiro motivo para toda aquela quebra de regras e movimentos rebeldes? Ela queria a atenção do irmão. Queria contar de seus sonhos. E o único jeito de ter a atenção dele era sendo a irmã problemática.

“Fazer o que você ama é importante, Mellany.”, toquei em seu ombro. “Quando Nicolas voltar de viagem, conte como se sente e o que você gosta. Tenho certeza que ele irá escutar com mais prazer do que escutaria a diretora da sua escola falando de suas bebedeiras.”

Ela balançou a cabeça devagar, concordando comigo. Então se sentou na cama, suspirando baixo e olhando para a janela. A janela que eu fiquei tanto tempo sentada a observando. Esperei que ela colocasse todos os pensamentos no lugar. Pensei em como era possível que Nicolas não tivesse notado que sua irmã cantava ao quarto ao lado. Ainda mais tomando aquela quantidade excessiva de cafeína.

“Vou falar com ele.”, Mellany decidiu, me despertando dos meus pensamentos longínquos. “Assim que ele voltar. E que Deus me ajude, ele irá me escutar.”

Eu sorri.

“Ele irá ajudar, Mellany.”

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O barulho de algo caindo no chão, seguido por um xingamento atraiu enquanto eu fechava a porta do quarto de Mellany. A deixei dormindo, depois de tanto conversar sobre... nada. Ela só queria falar sobre banalidades da adolescência. Da banda. De Austin. Ela queria alguém para compartilhar tudo aquilo. E eu percebi o quanto uma figura feminina estava fazendo falta ela. Talvez fosse isso que Nicolas quisesse proporcional á ela, casando-se com Erin.

Desci as escadas com curiosidade. O vestido branco e longo que eu estava para dormir fluía ao meu redor, fazendo tudo parecer mais majestoso. Por isso que eu gostava tanto da moda humana. Puxei o pano macio para que não atrapalhasse os meus passos silenciosos. Meu cabelo era uma confusão ondulada que quase escondia o meu rosto. Tive que tirar algumas mechas do para que pudesse ver o meu caminho.

Encontrei Nicolas na cozinha com uma xícara na mão e um bule á sua frente na bancada de granito. Ele parecia pensativo e cansado. Olhava para frente, como se estivesse procurando respostar. Seu corpo estava curvado para que os cotovelos ficassem pousados na bancada e ele pudesse levar a xícara com facilidade até a boca.

Mas, meus olhos não estavam totalmente focados em seus movimentos. Seu torso nu parecia brilha embaixo na luz precária da cozinha totalmente branca. A pele dourada fez com que meus dedos coçassem para tocá-la, como se atraísse feito imã. Usava apenas uma calça de moletom que ficava solta na cintura fina em comparação aos ombros largos. Os pés descalços no chão frio me causaram arrepio. Porém não se chegaram perto ao tremor que tomou conta de meu corpo quando ele me encarou.

Seu abdômen exposto e sarado me fez questionar quando ele tinha tempo para malhar no meio da loucura que era a sua vida. Embaixo do seu umbigo tinha um leve caminho de pelos que terminavam no cós de sua calça. Senti minhas bochechas esquentando e subi meus olhos para o seu rosto.

Grande erro.

Seus olhos estavam escuros, quase abandonando totalmente a tonalidade acinzentada. Os cabelos negros e lisos caíam nos ombros nus, quase me convidando para afastá-lo de seus lábios provocadores. Minhas mãos apertaram o suave pano do vestido com força enquanto eu tentava recuperar a sanidade.

Eu estava tentando libertá-lo, mas ele estava dificultando meu trabalho.

“Caliel?”, ele perguntou como se não tivesse certeza que era eu. Talvez estivesse me confundindo com uma estátua de tão estática que eu estava. “O que está fazendo parada aí? Venha tomar uma xícara de chá. Acabei de fazer.”, ele deu um meio sorriso.

Meu anjo querubim ou minha redenção.

Tive que limpar a garganta duas vezes antes de responder. E mesmo fazendo isso, minha voz ainda falhou. Apenas assenti me posicionando em frente á ele, do outro lado do balcão. Ainda sorrindo, ele pegou outra xícara e encheu-a, me entregando. O gosto doce da camomila me atingiu como um raio, fazendo os tremores diminuírem consideravelmente.

“Eu te acordei?”, ele perguntou.

Balancei a cabeça, tomando mais um gole.

“Estava com Mellany.”, esclareci. Ergueu uma sobrancelha, mostrando estar surpreso. Isso me fez sorrir. “Ela gosta de conversar, sabe? E não me chamou de nada muito ofensivo.”, dei de ombros. “Estamos conseguindo nos entender depois daquele início desastroso.”, nós rimos, relembrando. “E você?”

Nicolas passou a língua pelos lábios lentamente, fazendo com que todos os meus membros se esquentassem. Segurei a respiração por um segundo, evitando que ela se descontrolasse. Era quase inaceitável que esse humano tivesse tanto controle sobre mim. Mas não era uma coisa que acontecia de um dia para o outro. Era realmente de outra vida.

“Posso te confessar uma coisa?”, ele murmurou e olhou para os lados, parecendo querer se certificar que estávamos sozinhos. Eu assenti, soltando o ar lentamente. Ele abaixou os olhos para as grandes mãos. “Não sei se é realmente isso o que eu quero.”, suspirou. “Casamento é um grande passo. Eu queria esperar mais um pouco. Ainda mais com esses sonhos me perturbando...”

Isso me alertou. Durante a conversa com Daniel, ele tinha comentado que alguns Quase-Anjos recobravam a memória gradualmente. Bastava que eles vissem alguma coisa familiar ou tocasse em algo que já tivesse tocado antes. Ou escutasse ou cheirasse algo semelhante. Qualquer coisa que o lembrasse de que já havia sido alguém antes do dia atual. E, bem, eu era algo que Dareel havia olhado, tocado, cheirado e escutado. Então, isso deveria ter causado alguma coisa em Nicolas.

Ele passou as mãos pelos cabelos e eu observei com atenção como os fios teimosos escapavam delas. Hesitou e estalou a língua. Tomei mais um gole do chá, esperando que ele acalmasse meu coração ansioso. Por fora, tentava manter a expressão mais neutra possível. Por fim ele suspirou e me encarou. Seu olhar fez com que os pelos da minha nuca se arrepiassem.

“São sonhos estranhos.”, ele começou devagar e suas mãos brincavam com xícara enquanto ele procurava as melhores palavras para se expressar. “Parecem ser outra época. Cada sonho parece ser um momento diferente. Mas sempre com a mesma mulher.”

“Mulher?”, a apreensão fez minha voz sair esganiçada. Apertei a xícara com tanta força que escutei a porcelana rachar debaixo de meus dedos. Aliviei o toque e respirei fundo, tentando controlar o meu coração. “Como é essa mulher?”

Ele coçou os cabelos e fez uma careta, como se aquilo o incomodasse. Mas deu de ombros e se inclinou ainda mais na minha direção. Seu hálito doce invadiu minha boca, fazendo com que minha língua pinicasse. Todos os meus ossos congelaram em contraste aos meus membros superaquecidos.

“Não sei ao certo.”, ele desviou os olhos. “São apenas flashes. Eu queria vê-la de perto, mas não consigo. Só sei que é loira. Cabelo longo e cacheado. Olhos azuis. Lábios vermelhos e convidativos. Acho que no meu sonho, era apenas nisso que eu prestava atenção. Ah, e sua risada. Mesmo sendo um sonho, acordo satisfeito só por ter escutado sua risada. Ela faz com que meu dia seja bom, mesmo se Mellany aprontar algo.”

Minhas pernas tremeram. Tive que fechar os olhos e rezar para que o meu lado humano não quisesse se manifestar em forma de vômito. Criador, por que isso está acontecendo comigo? Logo agora que eu decidi deixa-lo ter uma vida humana e longa. Feliz ao lado da noiva. Estou dando a volta apenas para cometer o mesmo erro novamente.

“E esses sonhos, de um tempo para cá, se tornaram mais constantes e mais intensos.”, ele continuou ainda sem me olhar. “Tem vezes que eu acordo com raiva, triste e vazio. Apenas queria saber o seu nome. Ficar com ela. Queria que tudo fosse real. Porque, incrivelmente, me sinto mais completo quando estou dormindo e me imagino pegando sua mão enquanto caminhamos por entre um campo de rosas.”

Foi o máximo para mim. Dei um passo para trás, minha respiração alterada. Meus olhos marejados. Meu coração batia com tanta velocidade que qualquer um poderia escutá-lo. Segurei o soluço, mas meus movimentos súbitos foram o suficiente para atrair a atenção de Nicolas para mim. Passei a mão por meus cabelos loiros, balançando a cabeça. Não poderia ser. Ele lembrava. A dor em meu peito se tornou tão persistente, que tive que segurar um grito.

Não estava mais aguentando mais ficar no mesmo lugar que ele e saber que só lembrava as coisas boas. Essas memórias deveriam mostrar o fim da nossa história. Não o começo. Não os momentos que mais me atormentavam. Continuei balançando a cabeça. Nem percebi Nicolas se aproximando. Apenas quando ele me segurou pelos antebraços e me encarou preocupado.

“Caliel, está tudo bem?”, ele arfou ao ver meus olhos marejados. “O que aconteceu?”

“Eu não aguento mais, Nicolas.”, solucei.

Tentei me livrar de seu toque, mas ele se tornou mais possessivo ainda. Eu não queria ceder, mas quando dei por mim estava derretendo em seu abraço quente. Suas mãos acariciaram as minhas costas e eu pousei as minhas em seu peito, sentindo como a sua pele fazia os meus dedos formigarem. Senti seu cheiro invadindo todos os meus sentidos e me envolvendo. Eu estava caindo em minha própria armadilha.

Nicolas deu um passo para trás, me vendo respirar com força e observou meu peito subindo e descendo. Seus olhos se mantiveram nos meus por um segundo. Então desviaram para os meus cabelos desalinhados. Para finalmente pousarem em meus lábios. Eu vi todas as peças se juntando lentamente em sua mente, até o momento em que ele arfou.

“Não pode ser.”

Sem querer escutar mais qualquer palavra que me fizesse perder o controle, caminhei rapidamente para longe dele. Longe da dor. Mas, mal cheguei ao batente da cozinha quando senti suas mãos em meu braço novamente. O que aconteceu em seguida foi tão rápido, que mesmo minha mente angelical não conseguiu registrar.

Só me dei conta do que realmente estava acontecendo quando senti os lábios quente de Nicolas se pressionando contra os meus. Nossos olhos se fecharam automaticamente e ele pôs minhas mãos em seus ombros. As suas se mantiveram em minhas costas por um curto segundo antes de agarrarem possessivamente minha cintura.

Era como se fogo estivesse sendo espalhado por minha pele. E, ao invés de me afastar, eu clamava por mais. Resistindo aos meus instintos e desejos mais profundos e profanos, deixei que sua língua explorasse minha boca com a experiência que nenhum anjo estava autorizado á ter. Segurei seus cabelos e fiquei na ponta do pé. Estava completamente entregue aquele humano.

Meu coração tinha perdido totalmente o compasso e sua velocidade habitual. Meus órgãos estavam brigando para tomarem seus lugares usuais. E meus pulmões estavam esquecidos no fundo de minha mente. Tudo o que importava era o corpo de Nicolas pressionado no meu e como sua boca era doce. E como se coração batia com uma velocidade semelhante á minha.

“Ás vezes me pergunto se o Sol tem inveja por seus cabelos serem mais brilhante que ele.”, Dareel disse sorrindo.

Estávamos deitados na grama, vendo o por do sol e aproveitando o único dia, sozinhos e longe de toda a loucura angelical. Observei a bagunça que tínhamos feito com o piquenique e sorri. Parecíamos crianças mal educadas, fugindo dos pais. Virei-me para meu amado com, tentando expressar minha alegria através do meu sorriso.

“Me pergunto se a Mãe Natureza te emprestou o verde das árvores para por em seus olhos.”, eu disse.

“Boa resposta, Caliel.”, ele riu. Então bateu no espaço ao seu lado. “Venha, deite-se aqui. Quero que escute o coração que você roubou. Mas não se inquiete. Não pretendo pedi-lo de volta.”

Ainda sorrindo, me esgueirei até deitar a cabeça em seu peito. Escutar o seu coração e saber que ele batia mais forte por mim era o que me dava razão para existir. E era o que fazia a minha decisão de abandonar as asas algo mais concreto. Eu viveria, não existiria. Queria me tornar inimiga dos anos e aliadas dos sentimentos. Queria saber que poderia ficar com Dareel, não importando quantos anos tivessem se passado.

O que importava era que seu coração batesse.

Afastamo-nos e eu tentei colocar todos os meus pensamentos no lugar, enquanto os meus órgãos voltavam a fazer suas usuais funções em um ritmo seguro. Coloquei minha mão em meu coração antes de encará-lo, arfante. Tanto pelo beijo, quanto por tudo que o acompanhou.

Imagens. Era tudo o que eu tinha. Ou melhor, lembranças. Não poderia ser verdade, mas ali estavam as provas. Meu coração acreditava, faltava o meu cérebro concordar. Com receio, o encarei e o vi parado a alguns passos, com os olhos estreitos e respirando com tanta força quanto eu. Então me fez a pergunta que mais me aterrorizou e mais me confortou.

“Quem é você?”


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Notas finais do capítulo

Beijoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo.

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